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RESPOSTAS DOS MORADORES

4.2.1. Caracterização da amostra

Participaram desta fase de pesquisa 1204 sujeitos, sendo 61,35%

(n=738) do sexo feminino e 38,65% (n=465) do sexo masculino, faltando a identificação de um sujeito. Constata-se pelo resultado acima, que a maioria dos transeuntes entrevistados é do sexo feminino. Esse resultado pode estar relacionado ao horário em que foram aplicados os questionários, nos períodos da manhã e à tarde, quando as calçadas geralmente são mais trafegadas por mulheres que, por conta dos afazeres domésticos, têm que sair para fazer alguma compra nas proximidades da casa, buscar filhos na escola etc. É importante ressaltar que a opção metodológica, comentada no capítulo anterior, de realizar as entrevistas em áreas mistas ou residenciais, diante das casas, pode ter levado, igualmente, a obter uma amostra predominantemente feminina. O espaço público das calçadas diante das casas é diurnamente, portanto, mais trafegado por mulheres.

A média de idade dos participantes (Figura 37) foi de 31,43; δ=14,99, sendo que a predominância de participação recaiu sobre aqueles com idade inferior a 30 anos (24,8% + 29,3% = 54,10%). Resultado semelhante foi divulgado pelo Censo Populacional em 201032 na amostra coletada em domicílios para a população total do Município de Maracanaú, onde consta percentual de 56,29% para população com idade até 29 anos. Assim, a população transeunte de Maracanaú é prioritariamente jovem. Os idosos a partir de 60 anos somam 5,5% do total de transeuntes, o que poderia ser

32 Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) - Censo Demográfico 2010.

190 explicado pela dificuldade que é trafegar por calçadas não acessíveis, o que limitaria a presença de idosos e deficientes no espaço público.

Figura 37

Gráfico do percentual de transeuntes das calçadas de Maracanaú, conforme idade. Dez. de 2009.

Quanto à escolaridade, os participantes foram categorizados conforme a classificação oficial da formação educacional no Brasil: ensino fundamental (EF), ensino médio (EM) e ensino superior (ES). No tratamento dos dados incluímos as opções: “completo”, para o sujeito que tivesse concluído o grau de escolaridade ou “incompleto”, caso ainda estivesse em formação ou abandonado os estudos. Duas outras opções apareceram durante a coleta de dados: analfabeto, para a pessoa que não reconhece as letras e não sabe escrever seu nome (05 sujeitos) e alfabetizado, para aquela que reconhece as letras, lê o suficiente para poder se movimentar na cidade e escreve seu nome (15 sujeitos).

O nível de escolaridade está normalmente associado ao tipo de trabalho realizado ou função (operário, gerência ou comando), o que influencia igualmente o nível de renda. No caso de Maracanaú, segundo o IBGE, a

191 população possuía, em 2010, um rendimento nominal médio mensal familiar33 de R$ 544,84 (quinhentos e quarenta e quatro reais e oitenta e quatro centavos), equivalente, à época, ao salário mínimo nacional, valor recebido pela classe operária, correspondendo a cerca de 20034.

O nível de renda pode igualmente ser relacionado à utilização do espaço público, que no Brasil é prioritariamente usado pelas classes populares, inclusive como opção de lazer. Na figura 38 estão explicitados os percentuais de escolaridade da amostra.

Figura 38

Gráfico do percentual de transeuntes das calçadas de Maracanaú, conforme escolaridade. Dez. de 2009.

As calçadas de Maracanaú são transitadas por transeuntes que possuem, em sua maioria, ensino médio completo (EMC=46,7%), o que corrobora com a percepção de uma cidade que abriga principalmente uma classe operária, vocação com a qual foi gerada sua expansão. O baixo percentual de pessoas com nível superior pode estar associado ao fato da pesquisa ter sido realizada no espaço público e no horário de trabalho.

Entretanto pelo nível de renda da população divulgado pelo IBGE, não pode ser esperado um percentual de escolaridade muito superior ao encontrado com os transeuntes. Corroborando com a ideia de cidade operária, os dados do

33 Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2010.

34 O salário mínimo em 2014 está no valor de R$ 724,00 que corresponde, atualmente, a cerca de 240 €.

192 IBGE informam que 52,06% da população em idade ativa ocupa posição de empregado com carteira de trabalho assinada e 25,01% são empregados sem carteira assinada, perfazendo um total de 77,07% que trabalham como empregados. Os demais ocupam posição de funcionários públicos (2,84%), empregadores (1,60%) e trabalhadores por conta própria (18,49%), ou seja, pequenos empresários e trabalhadores autônomos, o que explica a crescente dinamicidade do comércio e serviços na cidade.

Maracanaú é uma cidade receptora de populações que vieram habitar os conjuntos habitacionais construídos a partir da década de 1980. Assim, numa pesquisa em que se pretende avaliar a influência do apego ao lugar, apropriação e simbolismo do espaço, é importante saber qual a origem dos moradores da cidade. O percentual de transeuntes nascidos em Maracanaú (26,99%) é muito inferior ao de não nascidos (73,01%). Essa diferença percentual expressa a realidade atual da cidade que abriga pessoas de várias cidades do próprio estado e de outras regiões do país.

Figura 39

Gráfico do percentual de transeuntes das calçadas de Maracanaú, conforme local de procedência. Dez.

de 2009.

A procedência dos moradores é bastante diversa (Figura 39), entretanto a grande maioria (54,7%) veio de municípios da Região Metropolitana de

193 Fortaleza – RMF. As demais macrorregiões do Estado do Ceará (Litoral Leste, Sobral-Ibiapaba, Sertão dos Inhamuns, Sertão Central, Baturité, Litoral Leste-Jaguaribe e Cariri-Centro Sul) participaram com 35,8% de aporte populacional e outros estados de quatro diferentes regiões do Brasil (Centro-oeste, Nordeste, Norte e Sudeste) com 9,5%. Só não tivemos representantes dos estados do sul do Brasil. A grande diversidade da origem populacional dos moradores de Maracanaú poderia sugerir uma cidade “sem identidade de lugar”. Entretanto em estudo anterior (Mourão & Cavalcante, 2006) foi possível constatar que o apego e a identidade vêm se construindo com os anos de moradia. Portanto o fator primordial para a construção da identidade de lugar parece não ser a origem, mas o tempo de residência e os laços formados a partir da vivência na cidade.

Os dados referentes ao tempo de residência na cidade (Figura 40) demonstram que a maior parte dos sujeitos questionados vive na cidade entre 16 e 25 anos (para dados coletados em 2009). Esse período corresponde igualmente ao forte momento de implantação de conjuntos habitacionais no Município (1984 a 1993).

Figura 40

Gráfico do percentual de transeuntes das calçadas de Maracanaú, conforme tempo que vive em Maracanaú. Dez. de 2009.

Buscamos informações sobre o tempo de moradia no bairro atual (Figura 41), os resultados seguem a mesma tendência do tempo de moradia na cidade.

194 O que pode significar que as pessoas vieram morar em Maracanaú porque conseguiram comprar a casa e se estabilizar na cidade, o que diminuiu a mobilidade da população mais antiga.

Figura 41

Gráfico do percentual de transeuntes das calçadas de Maracanaú, conforme tempo que vive no Bairro.

Dez. de 2009.

Entretanto é importante ressaltar que a taxa de ocupação da cidade continua crescendo e a mobilidade entre bairros também, comprovados pela taxa de 16,03% de sujeitos que vivem no seu atual bairro de moradia no período compreendido entre 0 a 5 anos. Percebe-se igualmente o decréscimo dos percentuais dos outros períodos de tempo de residência no bairro (16 a 20 anos=21,66%; 21 a 25 anos=21,18%) se comparados ao gráfico de tempo de residência na cidade (16 a 20 anos=24,42%; 21 a 25 anos= 23,26%). O que pode significar mudanças entre bairros.

Resumo dos resultados

Na caracterização da amostra, temos uma maioria de mulheres transeuntes, que pode ter sido resultado da pesquisa diurna realizada nas áreas residenciais da cidade, e de sujeitos jovens, com idade inferior a 30 anos, o que está de acordo com os dados do IBGE para a população total de

195 Maracanaú. O nível de escolaridade predominante é ensino médio completo, o que corresponde ao nível de formação da classe operária, vocação inicial para a ocupação da cidade. Os moradores vieram principalmente da Região Metropolitana de Fortaleza, no momento em que a cidade desocupava terrenos nobres da capital e deslocava moradores para as periferias. Isso ocorreu no período entre 16 e 25 anos (contados de 2009, época da coleta de dados), o que corresponde ao momento de crescimento da cidade com a construção dos grandes conjuntos habitacionais. Entretanto, a cidade continua a crescer em população, assim como a mobilidade entre bairros, o que configura sua atual dinâmica urbana. A instalação de equipamentos de compras e lazer como shoppings, tem influenciado na especulação imobiliária, que cresce e cobra valores elevados pelos imóveis próximos à centralidade urbana. A “cidade dormitório” citada por alguns em trabalho anterior (Mourão & Cavalcante, 2006) não existe mais de fato. A cidade torna-se cada vez mais autônoma em relação à metrópole central, construindo sua própria vida urbana.