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O processo de elaboração do instrumento de coleta de dados. dados

3.4. Procedimento Metodológico

3.4.1. Mapas afetivos

3.4.2.1. O processo de elaboração do instrumento de coleta de dados. dados

Em seguida à aplicação do pré-teste do mapa afetivo foi iniciada a construção do questionário a ser aplicado à população mais ampla. A elaboração deste instrumento de investigação envolveu muitas etapas e cuidados relatados a seguir.

Foram elaborados sete modelos de questionário até chegar à versão final. A preocupação inicial era elaborar um questionário que captasse a percepção do morador sobre a estrutura e o uso das calçadas, ou seja, seu aspecto sócio físico. Buscando superar questões simplesmente perceptivas ou cognitivas, foram inseridas perguntas com conteúdo subjetivo, relativas ao sentimento sobre as calçadas, sugeridas a partir do pré-teste dos mapas afetivos. Além de perguntas específicas sobre “calçadas”, procurou-se perguntar sobre a relação do morador com a cidade, com o bairro e com a vizinhança. Estas últimas foram adaptadas a partir de questionários utilizados em dois estudos do departamento de Psicologia Social da Universidade de Barcelona: 1) Estudo sobre a forma de vida na cidade de Barcelona; 2) Estudo sobre percepção de insegurança no espaço público (Valera & Carro, 2007).

A primeira versão do questionário foi apresentada a funcionários da Prefeitura de Maracanaú e foi solicitado que fizessem observações sobre seu conteúdo. As observações versaram principalmente sobre o cuidado com a elaboração de perguntas em linguagem acessível ao nível educacional da população. A segunda versão, modificada em poucas palavras foi apresentada ao orientador, que sugeriu uma escala maior. A primeira escala variava de 1 a 4, com zero relacionado a “não sabe ou não responde”, portanto com o total de cinco escores.

Na terceira versão, a escala anterior foi substituída por outra com sete escores e após uma análise mais apurada da relação entre as perguntas e os objetivos, o questionário foi dividido em blocos por assunto: A) Afetividade e

146 Simbolismo e B) Ponto de vista. Esta versão não foi aplicada e depois de algum tempo de maturação foi elaborada a quarta versão.

Nessa versão, além de escalas Likert de sete escores, foram incluídas questões onde o respondente poderia dar notas para aspectos relacionados à estrutura e à dinâmica do espaço. Os blocos também mudaram recebendo outra classificação: A) Satisfação Residencial; B) Percepções Gerais e C) Calçadas do Lugar de Moradia.

Na quinta versão foram acrescentadas perguntas e melhorada a redação de outras. Durante o tempo em que o questionário foi “maturado” houve igualmente uma maior apropriação do tema de investigação por parte da pesquisadora, através de leituras que influenciaram na elaboração de novas perguntas sobre aspectos que ainda não haviam sido contemplados, tendo a responsabilidade de buscar “captar a percepção e o sentimento” do entrevistado.

Nesse momento, contando com a colaboração de um metodólogo, especializado na elaboração de questionários e tratamento de dados quantitativos, foi realizada uma análise conjunta e elaborada a sexta versão do questionário. Essa versão foi dividida em três blocos com sub-blocos que buscavam organizar as questões relacionando-as por temas: Bloco A.

Satisfação residencial, simbolismo do espaço e coesão social, com sub-blocos de perguntas “sobre a cidade”, “sobre o bairro em que você mora” e “sobre os moradores”. Bloco B. Percepções Gerais, com sub-blocos de perguntas “sobre o uso apropriado para as calçadas” e “sobre a responsabilidade de manutenção das calçadas”. Bloco C. Calçadas do lugar de moradia, com sub-blocos de perguntas: “percepções sobre estrutura e dinâmica”, “sentimentos sobre as calçadas” e “uso pessoal das calçadas”. As escalas continuavam com sete escores, mas com numeração diferenciada, agora de 0 a 5, e um escore extra (o número 9) associado a “não sei”. Foi feita uma avaliação semântica das palavras associadas aos números tendo em vista a linguagem regional e o nível educacional dos respondentes. A avaliação também levou em conta uma hipótese de que culturalmente associamos o zero a um valor nulo, a algo que realmente não interessa ou não importa. Iniciar a escala por zero seria, portanto, mais compreensível e facilitaria as respostas extremas, dando mais

147 sutileza às intermediárias. A utilização do zero absoluto também facilitou a análise estatística e compreensão das respostas.

A sexta versão do questionário foi testada durante uma reunião do Conselho Gestor da revisão do Plano Diretor Municipal. O grupo respondente era composto por moradores e funcionários da Prefeitura, todos envolvidos com o desenvolvimento urbano do município, portanto pessoas acostumadas a discutir as questões tratadas no questionário.

A pesquisadora principal realizou a aplicação coletiva do questionário, explicando que o estudo seria realizado com população em geral com o intuito que coletar dados sobre a relação dos moradores com a cidade e com o espaço público representado pelas calçadas. Solicitou a colaboração dos presentes na resposta ao questionário e na análise da adequação das perguntas e possíveis sugestões de aperfeiçoamento do instrumento.

Na análise das respostas e sugestões, os participantes, em sua maioria, compreenderam bem as questões e avaliaram positivamente o instrumento. As ressalvas estavam relacionadas a algumas palavras associadas aos números da escala Likert que poderiam expressar o mesmo sentido, como por exemplo, entre “um pouco” e “suficiente” e entre “muito” e “bastante”. Na busca de tornar mais claras as palavras associadas aos números da escala Likert, as palavras consideradas confusas foram substituídas por três expressões regionais bastante usuais: “de jeito nenhum”, associada ao zero; “mais ou menos” com um sentido de regular, associada ao número dois e “com toda certeza”, associada ao número cinco.

Outra dificuldade surgiu no sub-bloco “sentimentos sobre as calçadas”, que estava organizado numa escala crescente de 1 a 5, posicionados nos dois extremos sentimentos opostos, como “insatisfeito” e “satisfeito”. O rompimento com o padrão anterior causou certa confusão nos respondentes. Este teste com questionário autoaplicável foi seguido de outro com questionários respondidos com a ajuda do aplicador. Nesse caso não houve problema nas respostas desse sub-bloco específico. Entretanto na sétima versão do questionário, a escala foi modificada de 1 a 5 para 0 a 5, sendo então 0, 1 e 2 mais associados ao sentimento negativo da escala e 3, 4 e 5 mais relacionados ao sentimento positivo da escala, seguindo o mesmo padrão da escala Likert

148 em que os números menores estão associados aos valores mais negativos e os números maiores aos valores mais positivos.

Com a sétima versão do questionário elaborada passou-se a planejar a aplicação diretamente com a população, como também o treinamento dos pesquisadores colaboradores.

Os pesquisadores eram estagiários bolsistas da Prefeitura de Maracanaú, lotados no setor responsável pela revisão do Plano Diretor Participativo. Todos universitários da área de Ciências Humanas, no total de sete bolsistas participaram das entrevistas. A capacitação inicial envolveu a abordagem do morador, que ocorreria no espaço público. Eles deveriam se apresentar, explicar o objetivo do estudo e perguntar se o morador gostaria de responder ao questionário. Obtido o consentimento iniciariam com a coleta dos dados do respondente e em seguida das perguntas específicas. Eles deveriam enfatizar o objetivo de cada bloco de perguntas e ter cuidado na entonação de voz ao dar as opções de respostas para não chamar a atenção para alguma resposta específica. Depois de explicitados os cuidados necessários eles foram a campo. Esse primeiro contato serviu como teste de desempenho e análise das dificuldades encontradas como também de pré-teste do questionário diretamente com a população.

Em reunião de análise da experiência de campo, os bolsistas puderam falar das dificuldades dos respondentes em compreender algumas perguntas específicas, tendo em vista a elaboração longa de algumas frases e a interpretação de algumas palavras, o que permitiu a adequação de algumas perguntas ou seu desdobramento em frases menores. Percebemos que, para os moradores, existiam pelo menos dois tipos de calçada: a calçada diante das casas e as calçadas das praças e canteiros centrais das avenidas, estas últimas chamadas por “calçadão”, tendo em vista serem mais largas.

Essa percepção semântica serviu para especificar melhor as frases do questionário quando se tratava de calçada de praças e canteiros centrais ou calçada diante das casas. Quando se queria falar das calçadas de uma forma geral foram utilizadas expressões como “qualquer calçada”, “todas as calçadas”

e quando se queria saber especificamente sobre a calçada diante da casa esta era especificada, como também as calçadas das praças e calçadões foram

149 expressamente nomeadas. Assim foi elaborada a oitava e última versão do questionário que passou a ser aplicada de forma definitiva (Apêndice 2).