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RESPOSTAS DOS MORADORES

4.1.1. Resultados do pré-teste dos mapas afetivos

A aplicação do pré-teste do mapa afetivo serviu como primeira aproximação ao problema, pois seus resultados foram úteis na elaboração do instrumento final dos mapas como também na elaboração das perguntas sobre sentimentos do questionário do Survey (Apêndice 2).

Os respondentes foram estagiários e servidores da Prefeitura de Maracanaú que residiam na cidade. Os resultados foram relevantes e, como o instrumento final repetia as questões principais do pré-teste, entendemos ser importante relatar também os resultados dessa fase. Os resultados do pré-teste foram semelhantes ao da fase final, repetindo-se em sua grande maioria a imagem de “destruição” das calçadas.

Os resultados dos dados de identificação dos respondentes do pré-teste estão descritos na Tabela 11.

Variáveis de Identificação Total de respondentes 12

Sexo Masculino 06

Feminino 06

Idade

<20 anos 01

De 20 a 29 anos 09

De 30 a 39 anos 02

Escolaridade

Nível médio completo 02

Nível superior incompleto 04

Nível superior completo 06

Tabela 11

Resultados dos dados de identificação dos respondentes do pré-teste dos Mapas Afetivos.

Para o total de 12 respondentes obtivemos representação de metade em ambos os sexos. Quanto à idade a predominância esteve na faixa dos 20 aos 29 anos (nove respondentes). A grande maioria dos respondentes possuía nível de escolaridade superior, completo ou incompleto (dez), tendo em vista que foram escolhidos entre estagiários e funcionários da Prefeitura de Maracanaú. Seis bairros de regiões diferentes estão representados na amostra.

Do total de respondentes, sete tinham entre 16 e 25 anos de moradia na cidade.

173 Após análise, os resultados dos mapas afetivos apontaram para a associação das calçadas da cidade a dois tipos de sentido ou imagem: a mais fortemente utilizada foi a imagem de destruição, presente em nove mapas, seguida da imagem de contraste, presente em três mapas. Um dos mapas apontava para um sentido de insegurança nas calçadas, mas não relacionada à violência e sim à possibilidade de ser atropelado por não poder caminhar sobre elas. Esse sentido foi incluído na categoria destruição.

A figura 32 mostra dois dos nove desenhos que foram associados à imagem de destruição.

Figura 32

Representações de imagens de destruição das calçadas associadas aos instrumentos de coleta nº 6 e 4

Para o instrumento de coleta de dados nº 6, à esquerda da figura 32 o mapa afetivo revelou o que segue:

Identificação Estrutura Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido Nº 6, Sexo:

174 No mapa afetivo exemplificado anteriormente, são transcritas as próprias palavras usadas pelo sujeito, nos itens significado, qualidade, sentimento e metáfora.

O sentido é atribuído pela pesquisadora a partir da análise conjunta das respostas, sendo o indicador do afeto global expresso pelo sujeito. No caso nº6 o mapa aponta para uma imagem de destruição, esse seria, portanto, o principal indicador afetivo do sujeito pesquisado com relação às calçadas de Maracanaú.

O instrumento nº 4, no lado direito da figura 32, reproduz um desenho metafórico, pois representa uma escada que é comparada às calçadas da cidade.

As qualidades e sentimentos juntos definem o principal indicador ou imagem. No caso do mapa nº6 as palavras como inutilidade, inacessibilidade, ignorância, desconhecimento, associadas ao sentimento de desrespeito levam a uma imagem de destruição. O mapa n°4 também destaca os sentimentos de insatisfação, descontentamento, indignação, desrespeito, humilhação e vergonha, o que também conduz à interpretação de um sentido de destruição.

A imagem de contraste está representada na figura 33 e seu significado está expresso no mapa afetivo nº10 da tabela 13, a seguir. A respondente desenha uma calçada bem estruturada e agradável, entretanto cita outras em que essa realidade não ocorre. Ela relata uma imagem de contraste para as calçadas da cidade em geral: algumas boas e outras ruins. Outra ideia a ser destacada é que a respondente não desenha a calçada diante das casas e sim a calçada de logradouros públicos como as que estão nos canteiros centrais das avenidas. Na sua opinião estas devem servir para uso público como lazer, esporte, recreação e descanso.

175

Figura 33

Representação da imagem de contraste das calçadas associada ao Instrumento de coleta nº 10.

Identificação Estrutura Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido Nº 10, Sexo:

A imagem de contraste surge novamente quando outro respondente afirma que as calçadas são “difíceis para caminhar e boas para conversar”. O hábito de conversar nas calçadas ao final do dia ainda está muito presente nas periferias das grandes cidades e nas cidades do interior. É uma forma de participar da vida pública, de socialização entre vizinhos ou de olhar as crianças enquanto brincam na rua. A calçada diante da casa assume uma

176 função de sala de estar provisória, onde se convidam os parentes ou vizinhos para comentar o cotidiano. Esta percepção pode reforçar a ideia de que a calçada é um espaço privado e uma extensão da casa, tanto que esse aspecto positivo está associado à calçada diante das casas e não às dos logradouros públicos, para onde se pode “convidar os familiares e amigos a sentar e conversar”.

A Tabela 14 condensa os resultados obtidos nos 12 mapas, descrevendo as qualidades, sentimentos e metáforas utilizadas pelos respondentes e que nos permitiu atribuir o sentido de destruição ou contraste.

IMAGEM/

SENTIDO Qualidades das Calçadas Sentimentos associados às calçadas

Resultado condensado das respostas aos mapas afetivos do pré-teste

Nos mapas que apontam para uma imagem de destruição, na maioria das vezes, a metáfora ressalta a semelhança física das calçadas com uma escada, tendo em vista sua irregularidade e construção desnivelada. Outra

177 metáfora associada à destruição é a comparação das calçadas com feiras livres, onde predomina o comércio ambulante, o que gera sentimentos de dúvida se esse espaço pode ser utilizado pelas pessoas que necessitam trabalhar na informalidade para sobreviver ou se ele deveria servir ao pedestre que fica impedido de caminhar.

A imagem de destruição das calçadas está ancorada em três aspectos principais: 1) em sua estrutura sem padronização, desnivelada, com rampas e obstáculos o que provoca desconforto e perigo de acidentes ao pedestre comum e aos deficientes; 2) pelo mau uso dos cidadãos através da ocupação dos espaços pelo comércio ambulante e 3) pelo descuido do governo com a limpeza e fiscalização.

Interessante ressaltar que a dúvida sobre a possibilidade de ocupação das calçadas por ambulantes está inserida na discussão sobre o uso público ou privado dos espaços da cidade. A ocupação por este tipo de atividade é intensa nos canteiros centrais das principais avenidas e nas praças e isso se atribui à condição de pobreza da população, que diante da falta de oportunidade só teria este meio de sobrevivência. Assim, existe a indignação, a raiva, o sentimento de desrespeito, mas também a aceitação, a passividade e a acomodação a esta situação como se fosse inevitável.

A segunda imagem descreve uma ideia de contraste. Os três respondentes incluídos nessa categoria reconheceram a estrutura ruim das calçadas, mas indicaram que possuem características positivas quando 1) servem para conversar (calçadas diante das casas), 2) quando possibilitam a realização de atividades físicas, de lazer e descanso (logradouro público) e 3) quando o poder público intervém com sua função de fiscalização e controle dos espaços públicos.

Das oito imagens ou sentidos propostos por Bonfim (2003), agradabilidade, pertencimento, atração, insegurança, contraste, destruição, movimento e caixa de surpresas, somente dois apareceram nessa etapa, demonstrando uma uniformidade das representações em torno da ideia de destruição, com algumas poucas características positivas.

178 4.1.2. Resultados do instrumento final dos mapas afetivos.

Nessa segunda fase obtivemos mais 14 mapas afetivos, os resultados dos dados de identificação dos respondentes estão descritos na tabela 15.

Variáveis de

Resultados dos dados de identificação dos respondentes dos Mapas Afetivos associados ao instrumento final.

Nessa fase o teste foi aplicado em funcionários de uma empresa do distrito industrial, selecionados por serem moradores da cidade. Obtivemos representação de três bairros mais próximos à empresa: Jereissati, Timbó e Pajuçara. Como já explicitado, os dois primeiros são conjuntos habitacionais e representam o modelo de expansão induzido, já a Pajuçara é um bairro de urbanização espontânea, sem o rigor do traçado dos conjuntos habitacionais.

Para o total de catorze respondentes obtivemos representação majoritária do sexo masculino. Quanto à idade a predominância esteve na faixa dos 20 aos 29 anos (nove respondentes). A grande maioria dos respondentes possuía nível de escolaridade fundamental e média (nove respondentes), os níveis mais comuns entre a classe operária. Do total de respondentes, oito têm entre 16 e 25 anos de moradia na cidade, coincidindo com a faixa majoritária do pré-teste e com a época de expansão dos conjuntos habitacionais e distritos industriais.

179 Os resultados dos mapas afetivos apontam para a associação das calçadas a três tipos de imagens: destruição, agradabilidade e contraste.

Além das duas imagens presentes na fase anterior, surge agora a imagem de agradabilidade da calçada. A imagem mais frequente foi a de destruição: nove respondentes se utilizam dessa imagem para representar as calçadas da cidade. Em segundo lugar surge a agradabilidade, em três mapas afetivos e em terceiro a imagem de contraste, em dois mapas.

A seguir apresentamos exemplos de imagens e seus respectivos mapas surgidos na fase final de aplicação dos mapas afetivos.

Figura 34

Representação de imagem de destruição das calçadas associada ao Instrumento de coleta nº 1

180

Identificação Estrutura Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido Sexo:

Mapa Afetivo do Instrumento de Coleta nº1

Figura 35

Representações de imagens de agradabilidade das calçadas associada aos instrumentos de coleta nº 13 (a esquerda) e nº 14 (a direita).

181

Identificação Estrutura Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido N° 13

Mapa Afetivo do Instrumento de Coleta nº13

Identificação Estrutura Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido N° 14

Representação de imagem de contraste das calçadas associada ao instrumento de coleta nº 2.

182

Identificação Estrutura Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido Nº 2

Mapa Afetivo do Instrumento de Coleta nº2

A tabela 20 a seguir, faz o apanhado de todas as palavras utilizadas pelos catorze respondentes do instrumento de coleta final para descrever as qualidades, sentimentos e metáforas que representam as calçadas e estão agrupadas por imagem/sentido gerador, conforme sua frequência de aparecimento: 1º destruição, 2º agradabilidade e 3º contraste.

183

IMAGEM/SENTIDO Qualidades das Calçadas Sentimentos

associados às calçadas

Resultado condensado dos mapas afetivos da fase final

184 Após análise dos mapas percebe-se que a imagem de destruição se apoia nos mesmos aspectos da primeira fase: 1) Estrutura inadequada (inapropriada para o pedestre e deficientes físicos, falta de planejamento e padronização, não respeitam as normas de recuo); 2) Mau uso por parte do cidadão (com carros estacionados, árvores plantadas no meio da calçada e entulhos de obras); 3) Além do descuido por parte do poder público (sujas, poluídas, sem sinalização).

Note-se que na fase anterior o mau uso por parte do cidadão contemplava somente o uso por parte do comércio ambulante, aqui aparecem os diferentes obstáculos colocados na calçada pelo proprietário da casa, como o uso da calçada para estacionamento, depósito de entulhos e plantio de árvores obstruindo a passagem de pedestres.

A agradabilidade aparece em três mapas. Os mapas que foram interpretados como descrevendo uma imagem de agradabilidade apontam algumas características negativas que poderiam levar a uma classificação de contraste. Classificamos como agradabilidade porque a grande maioria das qualidades, sentimentos e metáforas estão relacionadas à características e visões positivas das calçadas.

Os sentimentos expressos estão associados à “algo bom, tranquilidade, liberdade e bem estar” (Tabela 20). Entretanto percebe-se que a agradabilidade está associada à calçada da própria casa, aos caminhos que faz diariamente ou aos espaços de lazer. Apesar do reconhecimento de que

“algumas calçadas não foram construídas e que algumas são sujas”, o que os mapas deixam transparecer é que são “outras calçadas, uma minoria” que é assim. A calçada suja ou mal construída é a do “outro”. Já as calçadas percorridas, conhecidas e usadas por estes respondentes são muito agradáveis, principalmente quando é a calçada da própria casa, que significa

“algo que se pode ter em nossa casa de bom”. A expressão informa sobre outro aspecto importante: a calçada tomada como bem privado, nesse caso como uma estrutura pertencente à casa, algo de bom na casa.

A imagem de contraste reconhece a existência de calçadas com boa estrutura e com estrutura ruim. Na primeira fase os aspectos positivos da ideia de contraste estavam relacionados a três possibilidades: poder conversar nas calçadas, realizar atividades de lazer e quando o poder público intervém. Aqui

185 surge um quarto aspecto positivo: algumas calçadas têm boa estrutura. Há o reconhecimento de que algumas calçadas que são cimentadas e alinhadas ao paralelepípedo são boas para andar, sentar e têm uma aparência organizada.

Agrupando e classificando todos os dados coletados, na tabela 21 apresentamos os resultados gerais encontrados nas duas fases de aplicação dos mapas afetivos para o total de vinte e seis respondentes e as análises dos resultados.

Variáveis de Identificação Total de sujeitos 26

Sexo

1. Estrutura Física das calçadas: desniveladas, esburacadas, mal construídas, sem padronização, sem recuo.

2. Mau uso por parte da população: uso por ambulantes, como estacionamento para carros, depósito de entulhos, árvores plantadas.

3. Descuido por parte do poder público: Sujeira, poluição, sem

Reconhecem a destruição, mas apontam aspectos positivos das calçadas:

1. Servem para Conversar (calçada diante da casa)

2. Possibilitam realizar atividades físicas, de lazer e descanso (Calçadas de logradouros públicos).

3. São boas quando o poder público intervém.

4. Algumas têm boa estrutura física.

3° lugar (03 respondentes) Imagem de Agradabilidade

Associada à/ aos:

1. Calçada da própria casa (relativo ao indivíduo)

2. Caminhos que percorre diariamente (relativo ao indivíduo) 3. Espaços de logradouros públicos (relativo ao poder público) Ausência de agradabilidade associada à alteridade.

Tabela 21

Resultado Geral dos Mapas Afetivos

186 A maioria dos respondentes (dezoito), descreveu uma imagem e um sentimento de destruição associados às calçadas, relacionada a três aspectos: estrutura física ruim, mau uso por parte da população e descuido por parte do poder público.

Elas são percebidas como inadequadas para caminhar, porém encontram outros usos para a calçada, que servem para conversar, descansar, realizar atividades físicas e de recreação. Há uma clara distinção entre a calçada da casa e a calçada dos logradouros públicos. A calçada da casa serve para conversar e dos logradouros públicos para atividades de lazer, mas nenhuma serve para a caminhada, ou seja, para sua função primordial de passeio. Os respondentes reconhecem que é impossível caminhar pela calçada, principalmente, devido à sua estrutura irregular, como também pela frequente ocupação inadequada por parte da população.

O poder público é citado como corresponsável pela destruição, mas quando age, produz lugares agradáveis e assim os respondentes reconhecem a existência de boas calçadas e calçadas ruins, o que gera uma imagem de contraste. A calçada é boa quando permite a realização de uma atividade agradável, como sentar-se, no caso da calçada de casa ou quando permite o lazer como as calçadas dos logradouros públicos. Sendo ruim quando não permite a caminhada e a estadia.

A agradabilidade das calçadas está associada ao indivíduo, quando é a calçada da própria casa ou quando são as calçadas conhecidas, dos lugares frequentados diariamente. Entretanto, não existe referência de agradabilidade às calçadas das casas de “outros desconhecidos”. Nesse caso os melhores espaços são os ligados ao próprio indivíduo ou associados ao poder público.