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Caracterização da freguesia de Quarteira

DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL E DE QUARTEIRA

ORÇAMENTO MUNICIPAL DE SBA

7.3. Caracterização da freguesia de Quarteira

No parágrafo anterior fizemos uma breve comparação para melhor se entender a op-

ção da autora pelo modelo de S. Brás, para partir para uma eventual proposta de aplicação

de OP em Quarteira.

Antes de se encetar a esquematização dessa hipótese, é preciso tentar compreender

as especificidades da freguesia, nas suas diversas vertentes: população, trabalho, educação,

saúde, etc.

a) População

As freguesias de Quarteira (16.129 habitantes) e São Clemente (14.406) eram, em

2001, as mais habitadas do concelho de Loulé, sendo as freguesias de Ameixial (604) e de

Querença (788), as menos povoadas, no mesmo ano de referência.

População residente no concelho de Loulé, por freguesia (1991 e 2001)

Figura 18 – População residente, por freguesias, no concelho de Loulé (Como se pode comprovar

através deste gráfico, A freguesia de Quarteira é a que apresenta um crescimento mais acentuado, sen- do já a freguesia mais populosa do concelho, segundo o INE, Censos de 1991 e 2001 (CML, 2007).

Segundo o Diagnóstico Selectivo para a «Estratégia e Sustentabilidade do concelho

de Loulé» (2007), verificava-se em 2001, na área do município, uma variação positiva da

população de 2001 em comparação a 1991 (Figura 15) sendo esta variação mais acentuada

nas freguesias de Quarteira (57%) e de Almancil (46,4%), enquanto houve um decréscimo

de habitantes nas freguesias do Ameixial (-32,3%) e Salir (-10,7%).

Variação da População Residente no Concelho de Loulé, por freguesias (1991 e 2001)

Figura 19 – Variação da população residente no concelho de Loulé (em que é possível comprovar que

Quarteira, seguida da de Almancil, é a freguesia que apresenta maior variação positiva) (CML, 2007).

b) Educação

Quarteira, a nível de equipamento educativo, dispõe dos seguintes estabelecimentos:

Infantários públicos – 4; escolas de ensino primário privadas – 1; escolas de ensino primá-

rio públicas – 4; escola EB2,3+ES privada – 1; escolas EB2,3 e escolas de ensino secundá-

rio públicas – 3.

No que toca a estabelecimentos de educação pré-escolar, os jardins-de-infância de

Quarteira têm uma taxa de ocupação de 100%, ou seja, encontram-se na sua capacidade

c) Saúde

No âmbito do Serviço Nacional de Saúde (SNS) o Centro de Saúde de Loulé é a única es-

trutura para atendimento e prestação de cuidados primários à população. Este Centro de

Saúde tem uma extensão em Quarteira que, no entanto, só atende até à meia-noite.

d) Apoio à primeira infância

Na área de apoio à primeira infância (0 a 3 anos) na freguesia existem apenas 2 cre-

ches/infantários «oficiais», completamente lotados. Isto provocou um número indetermina-

do de creches clandestinas ou semi-clandestinas.

Conforme informação prestada pela directora da Fundação António Aleixo, frequentam

a valência de creche 65 crianças (lotação máxima subsidiada). Relativamente ao infantário do

Centro paroquial, o número de crianças extravasa esse limite, ou seja, embora os apoios sejam

fixados para 65 crianças, aquela valência, face acolhe 90 crianças dos 4 aos 6 anos de idade.

e) Serviços de apoio a idosos

Serviços de Apoio a Idosos em Quarteira

População Residente com + de 65 anos Centros de dia Apoio domiciliário Lar de Idosos Capacidade

total dos serv. de apoio capacidade capacidade capacidade

1 10 1 33 1 37 80 279

Tabela 07 - Serviços de apoio a idosos em Quarteira (onde se prefigura a insuficiência de estruturas de

apoio, na freguesia - Fontes: Números fornecidos pelas próprias instituições; e pela CM Loulé, (2007)

Há ainda que referir a existência de um refeitório social que desenvolve a sua acção,

f) Habitação

Num período de dez anos, a região do Algarve registou um crescimento acentuado

de oferta: de 211.289 alojamentos em 1991, passou para 276.093 em 2001. Quarteira foi

uma das freguesias algarvias que mais crescimento registou esse incremento. Uma questão

preocupante tem passado pelo elevado custo das habitações, pela falta de habitações soci-

ais e pela incapacidade dos jovens adquirirem casa.

Figura 20 – Ortofotomapa do casco urbano

antigo de Quarteira.

Figura 21 - O casco antigo, predominantemente

habitacional, apresenta grandes problemas.

Em menos de duas décadas Quarteira passou de uma típica aldeia de pescadores a

uma urbe internacionalmente conhecida através do turismo. O parque habitacional reflecte

claramente essa mudança.

Alojamento Familiar

segundo o tipo de alojamento e forma de ocupação, em 2001 (%)

Alojamento Familiar Alojamentos Ocupados Alojamen-

tos vagos Clássico (moradia) abarracado Outro (colectivo) residência habitual uso sazonal / secundária 46,67 35,00 32,09 26,28 68,04 32,51

Tabela 08 - Alojamento familiar em Quarteira segundo tipo e forma de ocupação em 2001. 30

30

Podem levantar-se algumas dúvidas sobre o que será considerado “abarracado” e os números parecem exagerados. Mas a fonte é insuspeita: «Estratégia e sustentabilidade do concelho de Loulé» (CML, 2007).

Figura 22 - Aspecto de uma avenida da área de

construções modernas

Figura 23 – Ortofotomapa da área de

construções mais recentes de Quarteira

O ortofotomapa da figura acima localiza a primeira zona de expansão de Quarteira

caracterizada por edificação em altura que, predominantemente, é ocupada como segunda

habitação.

g) Criminalidade / clima de insegurança

São vários os factores de insegurança, particularmente na cidade, entre os quais se

destaca os consequentes da toxicodependência. Por outro lado, o desemprego, a insuficiente

integração dos imigrantes na comunidade, a lentidão das decisões e o descrédito por parte dos

tribunais também favorecem o aumento da criminalidade e, consequentemente, geram uma

maior instabilidade social e um clima de insegurança. Não existe um plano de reinserção so-

cial nem acções de sensibilização, que incluam e integrem as minorias (Anexo 31).

h) Trabalho

Analisando a distribuição da população do Concelho por sectores de actividade, em

2001, conclui-se que o concelho de Loulé, apresenta um claro predomínio/dependência da

Figura 24 – Gráficos comparativos da evolução dos sectores de actividade entre 1991 e 2001 - segundo o

INE, Censos de 1991 e 2001 (CML, 2007).

A indústria hoteleira tem vindo a ser um dos grandes motores da dinâmica da eco-

nomia, perfazendo importante percentagem de todas as actividades da freguesia. A activi-

dade turística é um elemento explicativo do aumento do sector terciário (Estratégia e sus-

tentabilidade do concelho de Loulé» (2007).

i) Tipologia de emprego

Em todo o concelho, enquanto o sector primário representava, em 2007, - de novo

segundo o documento atrás citado - 6% do emprego e o secundário representava 23%, o

sector terciário abrangia 71% da população activa.

Não existem, neste momento, dados precisos sobre Quarteira, mas é do conheci-

mento geral que a dinâmica empresarial se encontra centrada na área dos serviços (Figura

23). O principal empregador é o sector do turismo, sendo também responsável pelo empre-

go de tipo sazonal. Assim, por um lado, a progressiva mobilidade profissional, que se fez

sentir com a transferência de muita mão-de-obra do sector primário para o terciário; por

outro lado, a desvalorização do sector da agricultura, fez com que os indivíduos optassem

vimento e sujeitas a elevada procura, resultando esta transferência numa mão de obra me-

nos qualificada, com menos habilitações e formação profissional.

O sector primário, actualmente, é pouco mais que residual, e circunscrito às zonas

limítrofes de Passis, Fonte Santa, Quatro Estradas e Pereiras de Quarteira.

j) Sazonalidade do emprego

Sendo o turismo, como já se disse, o grande vector de emprego, predomina o hábito

de trabalhar apenas na época balnear, vivendo-se, por vezes, o resto do ano com os subsí-

dios de desemprego. Muitos indivíduos, ao invés de apostarem no seu percurso escolar,

preferem procurar empregos sazonais que lhes proporcionam benefícios monetários razoá-

veis, mesmo possuindo poucas habilitações – segundo a entrevista ao Presidente da Junta

Freguesia de Quarteira (Anexo 37).

k) Tipologia da população relativamente à residência Cidade mista: dormitório, turística e tradicional

Em consequência de tudo o que atrás ficou exposto, verifica-se uma certa estratifi-

cação da população relativamente às áreas de residência. Assim, regista-se uma tendência

para que os habitantes com raízes familiares mais profundas em Quarteira se concentrem no

casco antigo da cidade, à volta da chamada «Igrejinha velha» enquanto a população que

utiliza Quarteira como «cidade-dormitório» (consoante a já citada entrevista do Presidente

da JFQ) tem tendência para habitar a zona de construção mais moderna, aquela que aqui se

designará como «das avenidas novas» - a mesma que é ocupada pelas pessoas que têm aqui

Figura 25 – Ortofotomapa da zona tu-

rística de Vilamoura

Figura 26 – Foto de zona residencial de

luxo no empreendimento de Vilamoura.

Já os dois maiores empreendimentos turísticos – Vilamoura e Vila Sol – são ocupa-

dos, prioritariamente, pelo turismo e também por segundas habitações. Estas destacam-se

particularmente pela qualidade, luxo e, nalguns casos pela opulência e ostentação.

l) Tradição associativa

A freguesia de Quarteira possui um património associativo considerável, traduzido

pela existência de bastantes colectividades da freguesia. Isto (e actividades como a realiza-

ção das Marchas Populares), atesta a latência de um espírito cooperativo e social.

É este mesmo espírito que não é reconhecido nas entrevistas tanto do presidente da Jun-

ta de Freguesia como na do vice-presidente da Câmara Municipal de Loulé (anexos 26 e 37).

É preciso porém, registar que essa mesma Câmara reconhece, na «Estratégia de

sustentabilidade do concelho de Loulé», na sua análise sobre a natureza dos processos de

Os processos de decisão no concelho de Loulé, à semelhança do que acon- tece no resto do País, são caracterizados por serem processos de natureza fechada, hierárquica, baseados em abordagens top-down e em que a parti- cipação é insuficiente, existindo apenas em fases tardias do processo. Face a problemas complexos, a utilização deste tipo de participação gera invari- avelmente conflitos, distanciamento do cidadão relativamente à decisão e dificuldades de implementação. No concelho verifica-se que a audiência pública continua a ser o método de participação mais utilizado. Este méto- do tem no entanto graves limitações. Apesar das limitações dos mecanis- mos de participação existentes, verifica-se que os cidadãos do concelho são fortemente participativos quando estão em causa os seus interesses directos (CML, 2007: 103).

Quando é a própria autarquia (2007) que reconhece as “limitações dos mecanismos de participação existentes”, seria de esperar que ela própria fosse motor dinamizador desses mecanismos, estimulando a participação dos cidadãos, atraindo-os a fases mais próximas da

fase de decisão, para que tal participação se não verificasse apenas “em fases tardias do processo”. Nesta linguagem em que, num lado se refere o “distanciamento do cidadão rela- tivamente à decisão e dificuldades de implementação” e, mais adiante, se enaltece que “os cidadãos do concelho são fortemente participativos quando estão em causa os seus interes-

ses”, pode encontrar-se a razão por que o vice-presidente da Câmara entende serem sufici- entes as actuais formas de participação dos cidadãos na gestão do município.

Aliás, se a proposição expressa que “os cidadãos do concelho são fortemente parti- cipativos quando estão em causa os seus interesses”, no caso da implementação de um

eventual processo de OP, isso significará que, se os cidadãos não participarem… é porque não terão sido suficientemente estimulados e esclarecidos para que percebam que o que