Concentração e desconcentração são aspectos que dizem respeito à forma de organi-
zar qualquer pessoa colectiva pública. Se, porém, considerarmos a organização de várias
pessoas colectivas públicas, ao mesmo tempo, a concentração e a desconcentração assu-
mem as formas de centralização e descentralização.
Na administração pública, um sistema centralizado é aquele em que todas as fun-
ções administrativas do país são da competência do Estado Central; ou seja, não existem
outras pessoas colectivas incumbidas do exercício das funções administrativas.
Ao contrário, a descentralização consiste num sistema em que a função administra-
tiva não é unicamente cometida ao Estado Central mas é-o também da responsabilidade das
Administrações territoriais.
Se é certo que a centralização comporta algumas vantagens, já que assegura melhor a
homogeneidade da acção, tanto política como administrativa, e permite melhor coordenação
da função administrativa garantindo assim a unidade do Estado, comporta também inconve-
nientes, de que não será o menor o gigantismo do poder central com a consequente falta de
eficácia da administração administrativa e elevados custos financeiros. Por outro lado, a cen-
tralização sufoca as autonomias regionais ou municipais, não respeitando usos, tradições,
hábitos e liberdades locais, o que torna a administração insensível aos problemas locais. Em
contraponto, a descentralização é um garante desses usos, costumes e liberdades, constitui
uma certa limitação do poder político e abre portas à participação dos cidadãos na tomada de
decisões – o que vai de encontro aos objectivos do estado moderno previsto na CRP art.º 2º.
trativa pois que acaba por gerar alguma descoordenação no exercício da função administrati-
va e pode acarretar vícios através dos agentes nem sempre bem preparados para exercer os
poderes da administração.
Poder-se-á, então, sintetizar: a organização administrativa pode assumir dois aspectos,
segundo a forma de organização dos serviços públicos considerando a estrutura vertical de
competências entre os diversos degraus da hierarquia: concentrada ou desconcentrada.
2.3.1. Administração concentrada vs. Administração desconcentrada
A administração concentrada será aquela em que o superior hierárquico de topo é o
único órgão competente para tomar decisões, restando aos degraus inferiores as competên-
cias de planificação, preparação e execução dessas mesmas tarefas.
Ao contrário, a administração desconcentrada é aquela em que o poder de decisão é
repartido entre os escalões superiores e outros órgãos subalternos que no entanto, continu-
am sujeitos à direcção e orientação do degrau hierárquico imediatamente superior. Com
esta desconcentração visa-se alcançar um importante grau de descongestionamento de
competências que, numa concentração das mesmas, estavam reservadas unicamente ao su-
perior hierárquico máximo.
Na prática, porém, poderemos verificar que não existem sistemas de administração
2.3.2. Descentralização administrativa
A nossa CRP no artigo 267º/2, consagra um sistema de desconcentração administra-
tiva com a qual se pretende aumentar a eficácia dos serviços públicos; e nos artigos 6º/1e
268/2, estabelece que o “Estado é unitário e respeita, na sua organização, os princípios da autonomia das autarquias locais e da descentralização democrática da administração públi-
ca”.
Isto significa que constitucionalmente o nosso sistema administrativo se rege por
um sistema descentralizado.
A descentralização administrativa pressupõe duas pessoas jurídicas distintas: o Estado
Central e a entidade responsável pelo serviço em quem aquele outorga essa atribuição.
Por aquilo que ficou anteriormente expresso, podemos resumir as vantagens da des-
centralização da seguinte forma:
a) As decisões são tomadas mais rapidamente pelos interessados e pelos próprios
executores da acção;
b) Aqueles que tomam as decisões são aqueles que possuem mais e melhores in-
formações sobre as situações;
c) Existe maior participação no processo de decisão o que promove a motivação e
faz elevar a confiança entre os diversos agentes.
É nestes pressupostos que, hoje, assenta a acção do Poder Local, na perspectiva de
uma maior proximidade dos decisores políticos e cidadãos. Com efeito, as autarquias têm
Simultaneamente, as novas dinâmicas sociais, sobretudo as que são resultantes da
sociedade da informação e das novas tecnologias, estão a obrigar a alterações nas práticas
administrativas.
Os cidadãos estão cada vez mais informados e, consequentemente, mais exigentes.
À medida que vão rejeitando uma posição passiva na definição das políticas públicas, valo-
rizam a transparência e a verdade e, cada vez mais, querem participar nos processos de de-
cisão, em que a questão da confiança aqui é fundamental.
Esta realidade impõe a implementação dum sistema de inovação e governação aber-
ta, marcado por tolerância, imparcialidade, igualdade, eficiência e eficácia, mas, acima de
tudo, pela transparência e pelo respeito por aquilo que for acordado.
2.4. Federalismo
Federalismo é um sistema político em que organizações políticas (estados, regiões8,
províncias, p.e.) ou grupos se unem para formar um sistema central, porém possuem auto-
nomia para definir assuntos de diversas naturezas como, por exemplo, criação de leis, defi-
nição de políticas públicas, criação e arrecadação de impostos, etc.
O federalismo tout court significará, deste modo, a associação de pessoas e/ou insti-
tuições “por consentimento mútuo e com propósitos específicos, sem sacrifício das identi- dades individuais (Harman, 1992: 337).
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Pode definir-se região por uma área geográfica que forme uma unidade distinta em relação a características específicas (geográficas, étnicas, históricas, económicas, ecológicas, etc.) e que podem ser delimitadas em diversas escalas de acordo com as necessidades do estudo.
Na União Europeia, o território está dividido em NUTS (Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins Estatísticos), que tendem a substituir algumas das subdivisões tradicionais dos territórios nacionais.
Quando um território goza de autonomia local, isso pressupõe que o poder pode ser
compartilhado ao nível local. Mas esses territórios com autonomia trabalharão sempre em
parceria com o governo nacional. Estamos ainda a falar de federalismo.
O federalismo garante e protege não só a capacidade da tomada de decisões nas co-
munidades locais (onde os resultados são sentidos de forma mais imediata) mas também o
poderá garantir essa capacidade em níveis mais altos da governação. Por outras palavras:
poderemos dizer que o federalismo promove e incentiva as responsabilidades do governo
para com as pessoas e incentiva os cidadãos a participar, com responsabilidade cívica, per-
mitindo que os governos locais elaborem e administrem as leis locais. O federalismo políti-
co tem na sua base, entre outros, “os princípios de subsidiariedade, de autonomia e de par- ticipação, que permitem ultrapassar o Estado simultaneamente por cima e por baixo ... (Al-
ves, 2008:55).
Porém, se os governos locais podem e devem satisfazer as necessidades locais, há
aspectos da governação que terão de ser da exclusiva competência do governo nacional,
como são os casos da defesa e dos negócios estrangeiros.
2.4.1. Federalismo orçamental
Segundo Pereira, Afonso, Arcanjo e Santos (2007), a descentralização financeira ou
federalismo orçamental, analisam “quer do ponto de vista normativo quer positivo, as atri- buições e competências de diferentes níveis de governo (ou da administração), assim como
No entanto, os autores chamam a atenção para a diferença entre os termos utilizados
“na literatura anglo-saxónica (federalismo orçamental, governos) e os utilizados na literatu- ra “continental” francesa, portuguesa (descentralização financeira, administrações) não é inócua e traduz-se em visões distintas das entidades do sector público”.
São ainda os mesmos autores que consideram que “qualquer Estado contemporâneo
é mais ou menos descentralizado, isto é, tem uma estrutura “vertical” associada a níveis territoriais cada vez mais pequenos (regiões, municípios) – e em relação a essa estrutura é
necessário definir quais as atribuições, competências e recursos que devem ser afectados a
cada nível de governo e quais as transferências entre os vários níveis.
De acordo com a opinião dos mesmos, ou seja, utilizando a terminologia da literatu-
ra anglo-saxónica, o federalismo orçamental está relacionado com a estrutura do poder polí-
tico que, em Portugal, está expressa na CRP e, para a EU, nos respectivos Tratados Consti-
tutivos (Pereira et al, 2007: 303 e 304).