• Nenhum resultado encontrado

PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

2. Análise e tratamento da informação

2.4. Caracterização das práticas da educadora A

Pelos resultados da análise, verifica-se que a educadora A apresenta uma prática educativa no domínio da Expressão Plástica / Artes Plásticas reveladora de saberes conceptuais pouco consistentes que apontam para uma formação inicial e contínua

eminentemente prática. Alguns exemplos da sua verbalização em acção dão conta disso

mesmo, tal como “não ia ser bem uma actividade de Expressão Plástica”, quando no próprio desenrolar da actividade – “A Menina dos Caracóis de Ouro”, realizada no dia 17 de Janeiro - com ilustração da história, experimentação de transparências e descoberta das cores. A educadora manifestou assim, uma prática reveladora de desconhecimento das possibilidades desta acção em termos plásticos, metodológicos e conceptuais. Outro exemplo prende-se com a falta de rigor da linguagem, sendo que a educadora designa a composição através de colagem com farinha de milho de “pintura”, o parece indicar falta de consciência da importância do rigor no discurso com as crianças. Além deste aspecto, embora tenha acontecido uma conversa prévia na manta sobre a actividade a desenvolver, devido às dificuldades manifestadas pelas crianças em escutar, não foi perceptível a explicação do que se iria concretizar, o que gerou incompreensão sobre o que fazer na chegada à mesa onde desenvolveriam a actividade.

Estas evidências parecem também apontar para a prevalência da dimensão prática da formação no domínio da Expressão Plástica / Artes Plásticas, o que parece não ter fomentado o desenvolvimento de competências de reflexão para a acção sistemática e sustentada em pressupostos teóricos e que conduza à criação de estratégias globais e articuladas e não apenas de estratégias de acção centradas na experimentação das técnicas por si só.

Ainda assim, a análise dos dados recolhidos nos episódios observados nos dias 13 de Março e 24 de Abril, parecem apontar para a compreensão da intencionalidade na transversalidade, tendo a educadora apoiado as crianças no desenvolvimento das acções (c.f. Fig. 12), colocado questões, problematizado as situações – embora nem sempre de forma sistemática – e incentivado a gestão autónoma de conflitos entre as crianças, utilizando estratégias de comunicação baseadas no respeito, afectividade e sentido de humor. No entanto, não foi observada consistência na estimulação da cooperação entre as crianças, tendo esta partido da iniciativa destas (c.f. Fig. 4) e continuada pela educadora. A implicação das crianças na preparação e manutenção dos espaços e materiais não foi também incentivada pela educadora, tendo sido ela a executar essas tarefas (c.f. Fig. 6). As únicas situações em que ocorreu envolvimento das crianças nestas tarefas, partiu da iniciativa destas o que foi depois apoiado pela educadora.

As acções da educadora parecem assim, evidenciar inconsistência no entendimento do potencial de transversalidade da Expressão Plástica / Artes Plásticas

no desenvolvimento da criança, onde se inclui também a Formação Pessoal e Social.

Quanto à articulação da organização do ambiente educativo com a

intencionalidade educativa também não foi acautelada na actividade de ilustração de

um conto observada no dia 17 de Janeiro. Ou seja, tudo parece apontar para a ocorrência de reflexão para a acção apressada. Isto verifica-se pela falta da lâmpada do projector para projectar as imagens e pela falta de qualidade das imagens utilizadas – fotocópias a preto e branco, com manchas de tinta muito fortes, o que dificultava, em alguns casos, a leitura do conteúdo das imagens. Este último aspecto não fomentou o desenvolvimento do sentido estético, da identificação de propriedades da imagem, da criatividade, da capacidade imaginativa e da expressão pessoal, pelo facto de que, embora tendo sido dadas evidências de uma certa intencionalidade educativa, as estratégias seguidas na orientação da actividade não pareceram adequadas para a perseguir. Esta interpretação é sustentada nos pressupostos deste estudo, nos quais a organização dos materiais faz parte da planificação, enquanto primeira forma de organização do ambiente educativo, e

que facilita ou dificulta a orientação da actividade, tendo por referência a intencionalidade educativa.

Relativamente à organização do espaço e materiais nas actividades observadas nos dias 13 de Março e 24 de Abril, também não se verificou a ocorrência de uma discussão prévia com as crianças sobre os materiais a utilizar, o que seria importante para a compreensão das crianças para uma participação activa na concepção e desenvolvimento dos projectos. Embora tivesse sido dada à criança a possibilidade de escolha de outros materiais que não estivessem na mesa, o facto de nela se encontrarem alguns deles expostos condicionou e influenciou as suas escolhas. A qualidade dos materiais e equipamentos foi variável, existindo materiais de desgaste e de desperdício diversos. Foram evidentes dificuldades na possibilidade de renovação pela educadora, por exemplo, dos pincéis (excessivamente grossos e duros) e das tesouras (que não cortavam). Na actividade realizada no 24 de Abril (“pintura” com farinha de milho), verificou-se um número reduzido de copos de cola, pincéis e farinha o que, embora pudesse promover a partilha, não foi intencionalmente provocado, tendo dificultado a acção autónoma das crianças. Este aspecto foi sendo corrigido pela educadora no decorrer da actividade (c.f. Fig. 9), sem ter problematizado e envolvido as crianças na resolução do problema, o que se prende também com a dimensão anterior.

Em todos os episódios observados verificou-se o cuidado da educadora na organização do grupo, no sentido de proporcionar um apoio mais individualizado a cada criança e o desenvolvimento da acção tendo em conta o ritmo de cada uma (c.f. Figuras 1 e 12). Analisado noutra perspectiva este factor pode também ter reduzido as possibilidades de cooperação e de troca de ideias entre as crianças, uma vez que o grupo não se mantinha desde o início até ao fim da actividade, facto que se observou em todos os episódios observados. Na actividade desenvolvida no dia 24 de Abril a escolha dos elementos a integrar no grupo foi feita pela educadora o que por um lado, indicia algum condicionamento do envolvimento das crianças na escolha das actividades a desenvolver (situação que foi pontual), e por outro lado, reflecte o conhecimento que a educadora tem do grupo e da qualidade das interacções entre as diferentes crianças, procurando assim criar situações de equilíbrio e bem estar para todos (c.f. Fig. 11).

Relativamente à motivação, interesse e tomada de iniciativa da criança para a

experimentação foram observadas evidências da sua valorização pela educadora em

todas as acções analisadas. A educadora procurou sempre escutar e valorizar as intervenções das crianças (c.f. Fig. 5), ajudando-as a perseguir as suas intenções, de

forma autónoma. Exemplo disso foi a possibilidade de escolha da prenda a oferecer ao Pai, o que constitui uma evidência muito significativa, na medida em que contrariou a tendência para a imposição e homogeneidade das prendas a realizar pelas crianças (c.f. Figuras 7 e 8). Apesar das evidências anteriores, verificou-se também alguma dificuldade em gerir e criar situações que fossem mais além daquilo que as crianças gostavam e manifestavam querer. A este respeito podemos mencionar a aceitação, com naturalidade, da desistência de uma criança em realizar a actividade de “pintura” com farinha de milho, no dia 24 de Abril. Embora esta atitude da educadora evidencie o respeito pelos interesses e vontades das crianças, quando analisada em articulação com outros pormenores observados, evidencia também alguma permissividade nas suas acções, o que ajuda a clarificar alguns comportamentos das crianças, que se traduziam, por vezes, em dificuldade no cumprir regras, como por exemplo ser capaz de escutar e aguardar pela sua vez para falar e agir (c.f. Fig. 2).

Este aspecto constitui um dos constrangimentos contextuais ao desenvolvimento

das acções no domínio da Expressão Plástica / Artes Plásticas, na medida em que esta

característica da acção da educadora aliada às características comportamentais de uma grande parte das crianças, reveladoras de instabilidade e fácil irritabilidade dificultam o desenvolvimento de acções em ambientes calmos e geradores de diálogo, e troca de ideias, o que foi já analisado na dimensão da concepção de formação inicial e contínua

eminentemente prática. Outro constrangimento identificado na actividade de ilustração

do conto “A Menina dos Caracóis de Ouro”, realizada no dia 17 de Janeiro prende-se com a ausência da lâmpada do projector, o que impediu o desenvolvimento da actividade de forma adequada, não tendo permitido não só a projecção final da história, mas também a experimentação na fase da criação da ilustração, o que permitiria assim às crianças desenvolver novas aprendizagens e perceberem a melhor forma de criar as imagens, e ainda, complexificarem as suas representações de forma a criar “efeitos” nas projecções que iriam realizar (c.f. Fig. 3).