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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

2. Análise e tratamento da informação

2.5. Caracterização das práticas da educadora B

Da análise realizada aos protocolos de observação referentes aos três episódios da acção da educadora observados, podemos identificar indicadores que apontam para a

se com o facto de a educadora ter referido, relativamente à actividade do “Dia do Pai” realizada em 14 de Março, que esta “não é bem uma actividade de plástica”. Este posicionamento parece evidenciar uma concepção mais centrada na dimensão prática das actividades a desenvolver, não evidenciando um conhecimento consolidado de pressupostos que sustentam as acções no domínio da Expressão Plástica / Artes

Plásticas, dado que na actividade referenciada, o facto de constituir a criação de uma

prenda não significa que se resuma a uma operacionalização mecânica de acções pelas crianças. Este aspecto foi também evidente nas acções concretizadas nos outros episódios, em que a educadora apoiou as crianças no desenvolvimento das acções numa atitude mais assistencial do que propriamente de estimulação, problematização e questionamento, o que pode dever-se também aos constrangimentos contextuais ao

desenvolvimento de acções no domínio da Expressão Plástica / Artes Plásticas,

identificados. Os constrangimentos identificados referem-se: ao apoio simultâneo da educadora às crianças envolvidas na actividade e às que estavam em actividades de jogo espontâneo, o que se verificou em todos os episódios (c.f. Fig. 44); às saídas constantes da educadora da sala e à frequente entrada de adultos nesta, para resolver questões burocráticas e para pedir o seu apoio na resolução de situações emergentes (verificando- se estes constrangimentos sobretudo nas actividades desenvolvidas nos dias 14 de Março e 8 de Maio); a alguma rigidez na interacção com as crianças por parte da auxiliar de acção educativa, o que pareceu condicionar as reacções espontâneas e manifestação da motivação intrínseca das crianças (c.f. Fig. 35); ao facto de alguns materiais e instrumentos não funcionarem adequadamente, como foi o caso das tesouras e o leitor de CDS e dos pincéis que se apresentavam degradados o que inibia a sua utilização de forma adequada. Estes constrangimentos pareceram dificultar o desenvolvimento adequado das acções pedagógicas, influenciando a qualidade das aprendizagens realizadas pelas crianças.

Quanto à concepção da intencionalidade e transversalidade da Expressão

Plástica / Artes Plásticas no desenvolvimento da criança parece também ter sido

influenciada pelos constrangimentos referidos, o que se verificou por uma orientação por vezes muito directiva e pouco caracterizada por situações de questionamento que gerassem a construção de novos conhecimentos. A título de exemplo pode citar-se uma situação em que uma criança regressou do espaço exterior com o vira-vento surpreendida com o facto de este ter girado, tendo a educadora dado a resposta imediata

“pois roda. É o vento”, sem problematizar e complexificar o seu raciocínio. Ainda assim, em nosso entender, os dados recolhidos permitem inferir que foi nesta actividade que se verificou uma acção da educadora mais estimuladora e questionadora, sendo as crianças incentivadas a identificar as cores e as formas geométricas durante a construção do objecto (c.f. Fig. 34). Além disso, pareceu haver continuidade e articulação com outras actividades desenvolvidas, tendo a criação do vira-vento partido da exploração de uma lenga-lenga sobre o vento pelas crianças (c.f. Fig. 39). Nesta última actividade esteve também mais presente a estimulação da autonomia das crianças ainda que de forma não muito consistente ou constante. A intermitência de intencionalidade na estimulação da autonomia traduz-se, também, na preparação e arrumo dos espaços e materiais (c.f. Fig. 40), assim como na resolução dos constrangimentos que surgiram no desenvolvimento das acções, pela educadora. A este nível, consideramos também relevante referir o facto de a gestão dos conflitos entre as crianças ter sido realizada pela educadora sem o incentivo para que estas o fizessem autonomamente e a ausência de qualquer diálogo sobre o pai no desenvolvimento da prenda, realizada no dia 14 de Março, parecendo ambas as situações evidenciar a inconsistência da intencionalidade e

transversalidade nas acções da educadora.

No referente à organização do ambiente educativo podemos constatar que foi sofrendo alterações no decorrer das actividades no que refere à organização do grupo e do tempo, o que poderá decorrer dum processo de reflexão na acção consciente desenvolvido pela educadora. Ainda assim, a colocação prévia dos materiais na mesa (c.f. Figuras 31 e 40) e a ausência de distribuição de tarefas pelas crianças e de um diálogo final sobre a actividade desenvolvida parecem evidenciar que a planificação não se sustentou numa reflexão para a acção sistemática, e reveladora de intencionalidade e transversalidade de forma consistente.

A valorização da motivação, interesses e da tomada de iniciativa da criança

para a experimentação foi inconstante. Na actividade da construção de fantoches

realizada no dia 10 de Janeiro, embora a escolha da actividade tenha sido feita pelas crianças, a forma como decorreu pareceu evidenciar poucas oportunidades intencionais de responder à sua motivação, interesses e tomada de iniciativa. O mesmo se verifica na análise dos outros dois episódios, verificando-se algumas atitudes inconscientemente inibidoras dos comportamentos autónomos e da criatividade das crianças. Na actividade da carimbagem do papel de embrulho para a prenda do dia do Pai, a liberdade e

autonomia na escolha e utilização dos materiais esteve mais presente (c.f. Figuras 41, 42 e 43); na actividade da construção do vira-vento este aspecto não foi evidente, o que poderá ser provocado pelo rigor necessário para a construção do objecto, tendo em conta o seu funcionamento. Ainda assim, consideramos ter sido relevante a autonomia dada às crianças na decoração do seu vira-vento, na escolha do pau recorrendo ao espaço exterior e na experimentação do vira-vento também nesse espaço (c.f. Figuras 37 e 38). Foi também relevante a flexibilidade evidenciada pela educadora numa situação em que reagiu com uma criança que revelou bastante criatividade na elaboração do vira- vento. Inicialmente a educadora reprovou a sua acção, por esta se destacar dos outros trabalhos dizendo “já estás a inventar”. No entanto, reconsiderou a sua atitude e apoiou a criança na conclusão da tarefa de acordo com a vontade desta, evidenciando assim capacidade de reflexão na acção. A criança referida anteriormente revelou competências criativas também na escolha do pau para suportar o seu vira-vento (c.f. Fig. 36), o que não foi aprovado pela equipa educativa, dado que era muito grande. Embora a atitude da educadora tenha evidenciado esforço na intencionalização das acções e na resposta aos interesses e necessidades da criança, a sua acção pareceu evidenciar inconstância no desenvolvimento de estratégias de interacção motivadoras e apelativas para as crianças. Esta inconstância verificou-se também na sua expressão facial que, por vezes, pareceu evidenciar um certo distanciamento e inexpressividade, o que se traduziu no olhar distante e no tom de voz monocórdico com que se expressava.