• Nenhum resultado encontrado

3 O ensino com MOOCs

3.1 Caracterização dos MOOCs

Em relação às características dos MOOCs, embora possa existir uma variedade cada vez maior de design, podem-se citar elementos que são comuns entre todos: massivo, aberto, online e em formato de curso. O caráter massivo dos MOOCs se deve a sua escalabilidade, pois possibilita a participação de um número muito grande de pessoas. A plataforma Coursera6, por exemplo, obteve em um único curso, 260.000 inscritos.

O fato de ser aberto indica que não há pré-requisito para poder participar dos cursos, apenas um computador com acesso a internet e um endereço de e-mail para a inscrição, porém existem também algumas instituições que cobram pela emissão do certificado e realização de avaliações.

A disponibilidade online dos MOOCs também é um fator importante, permitindo o acesso gratuito a aulas gravadas, muitas vezes de instituições renomadas, existindo também a possibilidade de serem trabalhados em formatos híbridos, dentro das escolas, sendo utilizados no ensino presencial, como um recurso didático.

Por serem organizados na forma de cursos completos, os MOOCs se diferenciam dos demais recursos educacionais abertos permitindo, dentre outras coisas, avaliação baseada em computador, geralmente usando questões de múltipla escolha e feedback imediato, combinada às vezes com avaliação por pares. (BATES, 2017).

A figura 4 mostra um MOOC sobre Recursos Educacionais Abertos, estruturado na plataforma Google Course Builder, produzido no ano de 2017 durante a oferta da disciplina Educação Aberta e a Distância do programa de pós-graduação em Inovação em Tecnologias Educacionais, do Instituto Metrópole Digital (IMD), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Figura 4: MOOC sobre Recursos Educacionais Abertos.

Fonte: Google/Arquivo Pessoal7

São diversas as possibilidades de se projetar um MOOC e existem vários modelos de design já estabelecidos, possibilitando trabalhar com diferentes abordagens pedagógicas, embora, por serem recentes, alguns modelos ainda estejam em processo de aperfeiçoamento e evolução.

Dentre essas variações, existem os xMOOCs e os cMOOCs que foram os primeiros tipos de MOOC a surgirem. O quadro 3 mostra algumas características desses dois modelos, que são considerados os mais populares:

Quadro 3: Características dos xMOOCs e cMOOCs

xMOOCs

Os xMOOCs usam principalmente o modelo de ensino centrado na transmissão de informações, com a entrega de conteúdo de alta qualidade, avaliação pelo computador (principalmente para efeitos de feedback) e automação de todas as principais transações entre os participantes e a plataforma de aprendizagem.

cMOOCs

Os cMOOCs têm uma filosofia educacional muito diferente dos xMOOCs, colocando grande ênfase no trabalho em rede, em especial nas fortes contribuições de conteúdo dos próprios participantes. Na verdade, pode não haver um professor formalmente identificado, embora professores possam ser convidados a oferecer um webcast ou um blog para o curso.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bates (2017, p.203-206)

Os xMOOCs são os MOOCs mais comuns e sua abordagem de conteúdos é fortemente behaviorista, se constituem de vídeos com aulas curtas e avaliação automatizada, em que também se permite uma avaliação de trabalhos dissertativos, muitas vezes realizadas pelos próprios colegas. Esse modelo de MOOC é disponibilizado em plataformas digitais na rede, como Udacity, edX e Coursera.

Os cMOOCs, diferente dos xMOOCs, baseiam-se na aprendizagem de rede por meio das conexões e discussões entre os participantes em redes sociais. Não existe uma plataforma de tecnologia padrão para os cMOOCs e eles são impulsionados pelas contribuições dos participantes. Existem outras variações de MOOCs, conforme apresentado no quadro 4, por Bates apud Chauhan (2014):

Quadro 4: Variações dos MOOCs

BOOCs (Big Open Online Course) Um cruzamento entre xMOOCs e cMOOCs;

DOCCs (Distributed Open Collabora -tive Course)

Universidades compartilham e adaptam o mesmo MOOC básico;

LOOC (Li Le Open Online Course)

Possui entre 15 e 20 estudantes pagando mensalidades em um curso presencial, permitindo também um número limitado de alunos não registrados que também fazem o curso, mas pagando uma taxa;

MOORs (Massive Open Online Research)

Uma mistura de videoaulas e projetos de pesquisa orientados por professores;

SPOCs (Small, Private, Online Cour- ses)

Na Faculdade de Direito de Harvard, 500 estudantes pré- selecionados entre mais de 4.000 candidatos, têm as mesmas videoaulas que os estudantes do curso presencial;

SMOCs (Synchronous Massive Open Online Courses)

Aulas ao vivo ministradas a alunos de cursos presenciais que também estão disponíveis de forma síncrona para alunos não matriculados pagando uma taxa.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bates (2017, p.210)

A maioria dos MOOCs possui: vídeos com aulas curtas ou explicações de conceitos por meio de animação e relatos de experiências, atividades de aprendizagem que podem ser automatizadas ou realizadas por pares e em equipes, textos e apostilas para possível aprofundamento no conteúdo, fórum para interação entre os participantes e feedback em relação ao progresso do curso.

Os MOOCs ainda estão amadurecendo e tendem a ocupar um espaço de relevância no ambiente de aprendizagem das instituições de ensino. É possível que os MOOCs venham a substituir algumas das formas de ensino tradicional ou se tornem complementos dos métodos convencionais de ensino (FRANCO, 2017). Moran, ao falar sobre o modelo inovador disciplinar, diz que:

No modelo disciplinar, precisamos “dar menos aulas” e colocar o conteúdo fundamental na WEB, elaborar alguns roteiros de aula em que os alunos leiam antes os materiais básicos e realizem atividades mais ricas em sala de aula com a supervisão dos professores. Misturando vídeos e materiais nos ambientes virtuais com atividades de aprofundamento nos espaços físicos (salas) ampliamos o conceito de sala de aula: Invertemos a lógica tradicional de que o professor ensine antes na aula e o aluno tente aplicar depois em casa o que aprendeu em aula, para que, primeiro, o aluno caminhe sozinho (vídeos, leituras, atividades) e depois em sala de aula desenvolva os conhecimentos que ainda precisa no contato com colegas e com a orientação do professor ou professores mais experientes. (MORAN, 2015, p.22)

Essa visão reforça a importância de se ter boas opções, dentro do contexto atual das tecnologias digitais, para que um professor possa obter, por exemplo, o complemento e reforço de determinado material didático e também dos conteúdos e conceitos que são mostrados presencialmente em sala de aula, disponíveis em um ambiente de fácil acesso e que permita a realização de propostas inovadoras no ensino e na aprendizagem.

Existem diversas vantagens ao se utilizar um MOOC como recurso didático, porém, também se devem observar possíveis pontos fracos e sempre tentando procurar uma solução para melhor lidar com essas situações. Um resumo das forças e fraquezas dos MOOCs é mostrado a seguir no quadro 5:

Quadro 5: Forças e fraquezas dos MOOCs

Pontos fortes

- Os MOOCs, particularmente os xMOOCs, oferecem conteúdo de alta qualidade de algumas das melhores universidades do mundo gratuitamente a qualquer pessoa que tenha um computador e conexão de internet.

- Os MOOCs podem ser úteis para dar acesso a conteúdo de alta qualidade, particularmente nos países em desenvolvimento, mas para fazê-lo com sucesso é necessária uma boa dose de adaptação e investimento substancial em apoio local e parcerias.

- Os MOOCs são valiosos para o desenvolvimento de aprendizagem básica conceitual, e para a criação de grandes comunidades online com o mesmo interesse ou a mesma prática.

- Os MOOCs são uma forma extremamente valiosa de formação e educação continuada.

- Os MOOCs obrigaram as instituições convencionais, especialmente as de elite, a reavaliar suas estratégias para aprendizagem aberta e online.

- As instituições têm sido capazes de estender sua marca e seu status, tornando pública sua experiência em determinadas áreas acadêmicas.

- A proposição de maior valor dos MOOCs é eliminar, por meio da automação e/ou comunicação por pares, os custos muito grandes e variáveis associados ao fornecimento de suporte e avaliação de qualidade para os alunos do ensino superior.

Pontos fracos

- O elevado número de inscritos nos MOOCs é enganoso; menos da metade dos inscritos participa ativamente, e somente uma pequena proporção conclui com sucesso; no entanto, em termos de números absolutos, ainda são maiores do que nos cursos convencionais.

- Os MOOCs são muito caros no seu desenvolvimento, e apesar de as organizações comerciais que oferecem plataformas MOOC terem oportunidades de modelos de negócios sustentáveis, é difícil enxergar como as instituições públicas de ensino superior poderiam desenvolver modelos de negócios sustentáveis para MOOCs.

- MOOCs tendem a atrair aquelas pessoas que já têm um nível de educação elevado, em vez de ampliar o acesso.

- Os MOOCs até agora têm sido limitados na capacidade de desenvolver aprendizagem acadêmica de nível elevado ou habilidades intelectuais de alto nível necessárias em uma sociedade baseada no conhecimento.

- A avaliação dos níveis mais elevados de aprendizagem continua a ser um desafio para os MOOCs, na medida em que a maioria dos fornecedores de MOOC não reconheçam seus próprios MOOCs para obtenção de crédito.

- Os materiais dos MOOCs podem ser limitados por direitos autorais ou restrições de tempo para serem reutilizados como recursos abertos.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bates (2017, p.213)

Percebe-se que ainda existem muitos caminhos a percorrer até que se tenha uma consolidação sobre a melhor forma de trabalhar com essa ferramenta, que está em constante processo de evolução. É importante ressaltar que cada vez mais estamos saindo dos métodos tradicionais de ensino, principalmente devido a uma maior facilidade de acesso à informação, conforme explica Moran (2015):

Os métodos tradicionais, que privilegiam a transmissão de informações pelos professores, faziam sentido quando o acesso à informação era difícil. Com a Internet e a divulgação aberta de muitos cursos e materiais, podemos aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e com muitas pessoas diferentes. Isso é complexo, necessário e um pouco assustador, porque não temos modelos prévios bem-sucedidos para aprender de forma flexível numa sociedade altamente conectada (MORAN, 2015, p.16).

É crescente a utilização da aprendizagem mediada por recursos tecnológicos, que ocorre de forma móvel, interativa e a qualquer momento. Com o avanço tecnológico dos dispositivos móveis e a diminuição do custo para aquisição destes equipamentos, a tendência é que um maior número de pessoas tenha acesso a esses recursos facilitando o processo de ensino e aprendizagem.