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O uso do Design Instrucional na produção dos conteúdos

4 O processo metodológico de produção dos conteúdos educacionais

4.2 O uso do Design Instrucional na produção dos conteúdos

O Design Instrucional tem sua origem na década de 40, durante a Segunda Guerra Mundial, quando se fez necessário treinar milhares de soldados, em um curto

espaço de tempo, para manusear as sofisticadas armas de guerra, sendo os materiais de treinamento produzidos por psicólogos e educadores dos Estados Unidos. Porém, foi na década de 50 que se formularam mais fortemente os modelos teóricos de ensino e aprendizagem. O marco referencial, considerado por muitos autores, é a obra de Burrhus Frederic Skinner, “The Science of Learning and the Art of Teaching”. (FILATRO, 2008).

Segundo Romizoswski e Romizoswski (2008, p.9), “[...] as pesquisas científicas sobre o processo de aprendizagem, conduzido nos laboratórios do Professor Skinner e outros behavioristas eram, cientificamente, válidas e bem conduzidas.” Por ser considerada a “era do behaviorismo”, muitos desconsideravam as contribuições práticas e teóricas dessa época, o que poderia custar caro conforme relatado pelos autores. Para os autores “o movimento que surgiu para por em prática as pesquisas de Skinner, criou outras técnicas e metodologias de planejamento sistemático do processo de ensino-aprendizagem, que sobrevivem até hoje.” (ROMIZOSWSKI E ROMIZOSWSKI, 2008, p.9) A área disciplinar de tecnologia na educação surgiu naquele período, assim como a abordagem científica ao processo de planejamento do ensino, o que podemos chamar de design instrucional.

Após a segunda guerra, o design instrucional foi se consolidando como um campo teórico e prático direcionado para o planejamento e implementação das mais variadas ações educacionais. Foram desenvolvidos vários modelos, de acordo com as necessidades educacionais, muitas vezes envolvendo a elaboração de recursos didáticos. (FILATRO; CAIRO, 2015)

Filatro e Cairo trabalham o conceito de design instrucional dividindo-o em três grandes aspectos que são relacionados. O design instrucional como teoria (disciplina), como processo e como produto. O design instrucional como teoria é caracterizado por Filatro como “um corpo de conhecimentos voltado à pesquisa e à teorização sobre estratégias de ensino-aprendizagem.” (FILATRO; CAIRO 2015, pos. Kindle 3265). É ancorado em três grandes áreas: as ciências humanas, as ciências da informação e da comunicação e as ciências da administração. Existem um grande número de livros, artigos e revistas voltados para o corpo teórico do design instrucional.

O design instrucional como produto visa expressar de forma concreta os objetivos, métodos e estratégias para se alcançar determinada solução educacional. Podem ser considerados produtos do design educacional: livros impressos e digitais, vídeos, podcasts, infográficos, objetos de aprendizagem (OA) e animações.

Em relação ao design instrucional como processo, a própria expressão design instrucional pode ser resumida como ”o processo (conjunto de atividades) de identificar um problema (uma necessidade) de aprendizagem e desenhar, implementar e avaliar uma solução para esse problema”. (FILATRO; CAIRO, 2015, pos. Kindle 3307). A abrangência do design instrucional como processo se caracteriza em três níveis: macro, meso e micro. Em nível macro o DI define as diretrizes que são comuns a todas as ações de aprendizagem de um sistema (escolas, universidades, departamentos), em nível meso estrutura disciplinas, programas e cursos e em um nível micro trabalha com as unidades de estudo que são propostas aos alunos.

A produção dos conteúdos educacionais no formato de MOOCs para este trabalho foi direcionada a partir das cinco dimensões propostas por Filatro, apresentadas anteriormente, onde se seguiu um planejamento baseado no Design Instrucional, seguindo a sugestão das autoras. A metodologia de trabalho foi a de gestão de projetos, que envolve, segundo Filatro e Cairo (2015):

Delimitar o escopo (alcance e foco) do trabalho, determinar quais recursos serão necessários, alocar esses recursos e, então, acompanhar a conclusão das tarefas exigidas e das áreas envolvidas, antecipando possíveis problemas de modo que seja possível agir antes que eles aconteçam – e, se ocorrerem, resolvê-los antes que comprometam os resultados finais. (FILATRO; CAIRO, 2015, pos. Kindle 3011)

O escopo do trabalho faz parte do triângulo de prioridades da gestão de projetos, que envolve, além do escopo, os custos e o tempo. Os três estão interligados de forma que qualquer alteração em uma parte afeta as outras partes. O triângulo de prioridades aplicado à produção de conteúdo, segundo Filatro, visa responder a três perguntas: 1) Qual conteúdo (produto) e por quem será desenvolvido? – Escopo; 2) Quando o conteúdo será entregue? – Tempo e 3) Quanto custará esse desenvolvimento? – Custos.

Desta forma, elaborou-se um Plano de Projeto, apresentado no Apêndice I, que proporcionou uma melhor preparação e organização de todas as frentes do projeto de acordo com a definição do escopo do trabalho. As etapas foram detalhadas de forma sistematizada e analítica permitindo um fácil acompanhamento do processo. A figura 7, por exemplo, mostra a Estrutura Analítica do Projeto realizada de acordo com a metodologia proposta por Filatro e Cairo:

Figura 7: Estrutura Analítica do Projeto MOOC – Série Didática

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Filatro e Cairo (2015)

A Estrutura Analítica apresenta as atividades desenvolvidas em cada uma das etapas de produção da série didática em MOOCs, que também compreendem as cinco fases do Design Instrucional: Análise, Design, Desenvolvimento, Implementação e Avaliação.

A gestão de projetos está principalmente ligada à dimensão organizacional, possibilitando uma visão ampla e detalhada do trabalho, é uma metodologia que se aplica a qualquer projeto, seja ele educacional ou não, enquanto que o design instrucional integra as outras quatro dimensões – tecnocientífica, pedagógica, comunicacional e tecnológica – e está mais vinculada ao produto ou conteúdo educacional.

Dentre os três possíveis modelos de design instrucional apresentados por Filatro e Cairo (2015) – fixo, aberto e contextualizado, este trabalho se enquadra no modelo contextualizado considerando a existência de um conteúdo educacional elaborado previamente e a possibilidade de se trabalhar de forma individual e coletiva. No design instrucional contextualizado, segundo Filatro e Cairo (2015):

Os conteúdos são publicados em ambientes virtuais de aprendizagem que armazenam em dossiês os dados do usuário (por exemplo, em quais unidades o usuário se inscreveu, por quanto tempo ficou ali, suas participações nos fóruns etc.) e os exibe em uma central de estudos independentemente de curso (o usuário vê todo o seu histórico no projeto ali). Os conteúdos podem ser baixados em diferentes formatos para reuso na íntegra, traduzidos ou adaptados (segundo licenças de direitos autorais menos ou mais abertas para cada unidade). (FILATRO; CAIRO, 2015, pos. Kindle 3463)

A criação de conteúdos educacionais no design instrucional contextualizado depende de ferramentas tecnológicas que possibilitem essas ações, permitindo a criação de conteúdos de forma acessível e com uma interface de fácil operação. Uma proposta de design instrucional contextualizado atua como um sistema vivo e dinâmico e pode, segundo Filatro e Piconez (2004):

[...] partir de uma estrutura matricial norteadora e do planejamento de situações didáticas que preveja saídas e possibilidades de abertura, de modo que os momentos de aprendizagem em sala de aula sejam contextualizados segundo a compreensão dos fenômenos educacionais locais. (FILATRO & PICONEZ, 2004, p.6)

Desta maneira, tem-se como intuito que o trabalho apresentado siga as teorias do DI no que se refere à produção dos MOOCs observando as sequências e organizações proposta por Filatro e outros autores. Entende-se que a sistematização das atividades visa facilitar e atingir de maneira mais eficaz os objetivos propostos para o conteúdo educacional.