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2.1 DEFINIÇÕES DE SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO (SRI)

2.1.2 Caracterizações e conceitos em SRI

Em 1987, a partir do relatório “Nosso Futuro Comum”, da Comissão Brundtland, para a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, surgiu o conceito de que “O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades.” (ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS, s/d).

Neste sentido, considerando os itens prioritários de um planejamento de desenvolvimento, Sachs (1993, p. 37) define dimensões que são tratadas de forma sistêmica como sustentabilidade. Para melhor entendimento, as dimensões da sustentabilidade estão definidas no Quadro 5.

Quadro 5 - Dimensões de sustentabilidade e suas definições.

DIMENSÕES DEFINIÇÕES

Sustentabilidade social

Implica em um desenvolvimento que procure diminuir as diferenças sociais e melhorar a qualidade de vida, por meio de mecanismos que equilibrem a distribuição de renda, com ideal de uma sociedade mais justa.

Sustentabilidade econômica Trata da utilização e gerenciamento de recursos públicos e privados que não promovam a evasão de divisas ou protecionismos, e sim contemplem o aspecto macrossocial.

Sustentabilidade ecológica

Gerenciamento responsável dos ecossistemas, optando-se pela utilização de recursos energéticos renováveis, gerenciamento de resíduos, consumo consciente e incentivos a pesquisas que produzam tecnologias limpas voltadas ao meio urbano, rural e industrial.

Sustentabilidade espacial

Trata de uma reordenação da ocupação humana nos territórios, que priorize o equilíbrio ocupacional entre áreas urbanas e rurais com preservação dos ecossistemas; com ênfase nas atividades agrárias e agricultura familiar em florestas, baseada em tecnologias modernas e políticas de incentivo; industrialização em áreas rurais; e proteção da biodiversidade. Sustentabilidade cultural Aponta para soluções endógenas nos processos de modernização, respeitando os saberes locais.

Sustentabilidade política Que implica na governabilidade e o sistema internacional, que atinge a administração do patrimônio da humanidade.

Fonte: Adaptado de Sachs (1993, p. 37; 2002, p. 71).

Considerando que a questão de pesquisa está inserida no contexto do desenvolvimento da inovação e sustentabilidade em um SRI, adota-se o conceito de sustentabilidade conforme a proposta de Sachs (1993). Este autor defende um desenvolvimento baseado no equilíbrio “entre todas as formas de capital – humano, natural, físico e financeiro –, bem como os recursos institucionais e culturais” (SACHS, 1993, p. 34).

Com raízes na Conferência sobre Meio Ambiente Humano da ONU (Organizações das Nações Unidas), em 1972, a proposta de “um desenvolvimento sócio-econômico equitativo, ou ecodesenvolvimento”, para Sachs (1993, p. 30) passou a ser conhecida como desenvolvimento sustentável.

Um ambiente competitivo requer a manutenção de um ambiente inovativo, o que favorece o crescimento sustentável regional. As interações que ocorrem entre os atores do SRI e o território, que engloba os aspectos físicos, simbólicos, sociopolíticos e econômicos (ALBAGLI, 2004), formam a base para o crescimento mútuo.

Inclusive a proximidade dos atores do SRI em um território, além de facilitar as relações de colaboração, permite ajustes contínuos no desenvolvimento de projetos complexos por intermédio da comunicação face a face, interações de difícil realização a longa distância sem previsão contratual (PIEKARSKI, 2007). Para Sachs (2002, p. 71), a efetividade da sustentabilidade depende de mudanças nos modelos organizacionais e melhorias nas relações entre instituições públicas, privadas e a sociedade. Estes mecanismos têm semelhanças com a proposta de Jorge Alberto Sábato, físico e pesquisador de Buenos Aires, que ficou conhecida como o triângulo de Sábato (SARAIVA, 2005).

No que diz respeito ao desenvolvimento econômico, Sábato e Botana (1975) preconizavam, tendo como pano de fundo o território latino americano, uma aproximação institucional entre a infraestrutura de ciência e tecnologia, a estrutura produtiva e o governo. Este modelo foi denominado pelos autores como Triângulo de Relações (SÁBATO; BOTANA, 1975, p. 146). No entanto, ficou conhecido como “triângulo de Sábato” (PERUCCHI, 2015; SOUSA, 2015). As relações mais importantes, segundo os autores, eram as que formavam a base do triângulo, ou seja, a interação entre o sistema produtivo e as instituições de pesquisa e desenvolvimento.

Seguindo este modelo interativo e a não linearidade, Kline (1985) propôs um modelo de ligações em cadeia chamado de chain-linked-model. Neste modelo o processo de inovação deve considerar inclusive as mudanças no “ambiente de mercado, facilidades de produção e conhecimento e os contextos sociais da organização inovadora” (KLINE; ROSENBERG, 2009, p. 304). Este padrão ficou conhecido por várias designações, entre outros como “modelo de inovação de Kline” ou “interações em cadeia”, (SILVA; MORAES; OLIVEIRA, 2016, p. 9).

Entre outros, estes modelos foram precursores do conceito de hélice tríplice, formulado pelos pesquisadores Leydesdorff e Etzkowitz (1998). Esta definição trata das relações entre atores independentes, na cooperação e interdependência entre universidade, empresa e governo, considerado um modelo universal de inovação (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). Em adição, Sousa (2015) defende a necessidade de se criar um ambiente que possibilite quebrar as barreiras entre a teoria e a prática dentro das universidades. O que serviria para inspirar a elaboração de políticas públicas para o desenvolvimento econômico social e regional no cenário da inovação.

Estendendo as relações ao nível internacional, Lew, Khan e Cozzio (2018) discutem o modelo Hélice Quádrupla, no contexto do SRI proposto por Lombardi et al. (2012). Estes autores argumentam que em determinadas regiões o entendimento sobre um SRI é mais claro quando se consideram as interações internacionais-nacionais e as relações internacionais- regionais. Essas conexões promovem conhecimento, compartilhamento e trocas, em smart

cities, gerando um círculo virtuoso de aumento da capacidade inovativa na região, que envolve

as interações em clusters. A quarta hélice abre espaço para a sociedade civil e considera a comunidade com um foco mais amplo.

Neste sentido, os programas de internacionalização das IES no Brasil corroboram a ideia dos autores logo acima, pois possibilitam o intercâmbio de conhecimento ao promover ligações de atores internacionais com atores regionais dos centros de pesquisa e ensino. Precedendo este entendimento, Landabaso, Oughton e Morgan (1997) já indicavam a ligação

fraca a redes de conhecimento internacionais e o know-how externo como fatores estruturais que afetam o crescimento de um SRI.

Portanto, no âmbito do SRI, a problematização da complexidade das articulações estabelecidas local e globalmente apresenta um vasto campo de estudos, pois apesar de configurar-se em um grande potencial de crescimento econômico para o país, o SRI deve manter relações a nível global com vistas ao próprio desenvolvimento (SMITH; LEYDESDORFF, 2012). Ainda que fundamental, o crescimento econômico não é alavanca única para o desenvolvimento (BELLINGIERI, 2017, p. 27).

Por outro lado, Carayannis e Campbell (2009, p. 206) propõem mais um componente no conceito de hélice quádrupla, a classe criativa (FLORIDA, 2004), que abrange a cultura e os valores na “realidade pública” e que dita as prioridades em termos de inovação e conhecimento. Essa realidade pública pode ser encontrada na infraestrutura humana em relação à aplicação do conhecimento adquirido no espaço regional, seja no aprendizado acadêmico ou nas capacitações promovidas por outros atores. Esse conhecimento voltado ao ambiente de inovação requer suporte colaborativo de governança que envolve instituições que promovem e intermedeiem conhecimento e recursos, construindo um aprendizado regional (FLORIDA, 1995).

Com uma proposta de transformação do “conhecimento científico-tecnológico em riqueza socioeconômica, a partir de vocações locais” e incentivo à cultura de inovação, Rodrigues e Carvalho (2014, p. 8) ampliam o conceito de hélice no ambiente de inovação, para quíntupla hélice.

Pereira, Rodrigues e Oliveira (2015), da mesma forma, creditam à academia a atribuição de incentivar, além da cultura de inovação, uma cultura empreendedora. Apesar das dificuldades em contornar o aspecto moroso dos processos inerentes às universidades, em especial no caso das universidades públicas (GARNICA; TORKOMIAN, 2009).

Grundel e Dahlstrom (2016), incluindo o contexto do ambiente social, ampliam o modelo anterior para hélice quíntupla, com uma abordagem sobre as questões sustentáveis e o aquecimento global. De uma maneira clara, apresentam-se as propostas situando os últimos modelos na Figura 2.

Figura 2 - Da hélice tripla a hélice quádrupla e a inovação para a hélice quíntupla.

Fonte: Adaptado de Carayannis e Rakhmatullin (2014, p. 54).

Tornando mais abrangente o conceito de hélices, Labiak Junior (2012) completa o conjunto de instituições interessadas no desenvolvimento regional baseado em inovações tecnológicas, passando de três para seis entidades, a hélice sêxtupla, conforme observa-se na Figura 3.

Economia do Conhecimento Hélice Tríplice

(Modelo básico da essência da inovação) Hélice Quádrupla

(Contexto da sociedade para a Hélice Tríplice)

Hélice Quíntupla

Contexto do ambiente da sociedade

Conhecimento da Sociedade

Figura 3 - Modelo hélice sêxtupla.

Fonte: Adaptado de Labiak Jr. (2012).

Segundo este autor, a espiral sêxtupla é constituída por atores empresariais e institucionais (agências de desenvolvimento, federações), de fomento (público ou privado), habitats de inovação (parques tecnológicos, incubadoras), de conhecimento científico e tecnológico, e públicos (universidades, faculdades, institutos federais), ambientes em que a circulação de conhecimento é fluente.

Nesta proposta insere-se o conceito de instituições-ponte, que são organizações que medeiam as interações no sistema no âmbito de negócios, capacitação, intercâmbio entre universidades e a demanda do mercado, transferência de tecnologia, entre outras funções junto aos atores do SRI (CASSIOLATO, 1996).

No ambiente de inovação o conceito de hélice tríplice é considerado por Leydesdorff e Etzkowitz (1998, p. 201) como “um modo de rede, incluindo relações incertas com uma pluralidade de ambientes [e] contêm processos de comunicação que selecionam a dinâmica interativa percebida em suas fronteiras”. Esta pluralidade de ambientes fica caracterizada, no conceito de hélice sêxtupla de Labiak Junior (2012), com os seis atores empresariais e institucionais interagindo em rede dentro da dinâmica de um sistema social, ou melhor, em uma sociedade em rede, conforme estudos de Castells (1999).

Neste item foi tratada a evolução dos conceitos que caracterizam os atores do Sistema Regional de Inovação na medida em que os processos inovativos foram adquirindo mais complexidade na rede regional de instituições públicas e privadas. Na seção seguinte será examinado o tema rede, porém não de maneira abrangente, visto que este não é este o objetivo da pesquisa.