2.1 DEFINIÇÕES DE SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO (SRI)
2.1.1 Habitats de inovação
Tendo a inovação como recurso significativo para o desenvolvimento econômico no Brasil (COSTA, 2017), as tentativas em potencializar as interações entre os atores de inovação são ampliadas e incentivadas por intermédio de ambientes que fomentem a inovação (BRASIL, 2010), os habitats.
Habitats são espaços físicos em que ocorrem a promoção de soluções inovadoras,
sejam financeiras ou sociais, onde os empreendedores inovadores têm maiores possibilidades de desenvolverem suas ideias, com menor margem de risco e melhora de resultados (MACHADO; SILVA; CATAPAN, 2016). O Quadro 3 apresenta alguns conceitos de habitats de inovação.
Os habitats de inovação são ambientes que promovem a mediação entre os atores do SRI e são configurados em núcleos de inovação tecnológica, aceleradoras, pré-incubadora, incubadora de empresas, hotel tecnológico, parque tecnológico, polo de competitividade, cidade inovadora, entre outros (LABIAK JUNIOR, 2012; MACHADO et al. 2015; MACHADO; SILVA; CATAPAN, 2016).
Quadro 3 - Conceitos de habitats de inovação.
AUTORES CONCEITOS
Smilor e Gill (1986)
É um local planejado com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de novas empresas e que provê uma variedade de serviços e apoio à geração de empresas, unindo talento, tecnologia, capital e conhecimento para alavancar o potencial empreendedor, acelerar a comercialização de tecnologia e encorajar o desenvolvimento de novas empresas.
Anprotec (2002)
Habitats de inovação ou ambiente inovador são entendidos como:
(a) espaço relacional em que a aprendizagem coletiva ocorre mediante transferência de know how, imitação de práticas gerenciais de sucesso comprovado e implementação de inovações tecnológicas no processo de produção. Nesse ambiente é intenso o intercâmbio entre os diversos agentes de inovação;
(b) ambiente que congrega fatores favoráveis ao processo de inovação contínua.
Rasoto (2006)
Independentemente do tipo conceitual dos habitats de inovação tecnológica, todos são caracterizados por promover a cultura de inovação, a competitividade das empresas e instituições geradoras de conhecimento, visando o desenvolvimento urbano, econômico, social da região em que estão inseridos.
Machado et al. (2015) São espaços capazes de intermediar a relação entre fornecedor da inovação e agente receptor dessa inovação.
Sartori (2017, p. 72)
São empreendimentos fundamentais para apoiar o desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional por meio da promoção do compartilhamento do conhecimento entre os agentes de inovação envolvidos. Esses espaços possuem um ambiente favorável à aprendizagem colaborativa que estimula o processo de inovação e podem ser estruturados com diferentes perfis, como as incubadoras, aceleradoras, centro de pesquisas, PqTs e outros.
Figlioli, Rush e Sapsed (2017, p. 2)
São como instrumentos que podem mitigar as lacunas do sistema e catalisar o processo de inovação, especialmente as relações entre startups e outros atores do sistema. Com a característica de promover a interação entre os atores de um sistema de inovação cujas conexões podem ser estabelecidas e fortalecidas.
Existem variados termos encontrados na literatura considerados como habitats de inovação (FIGLIOLI; RUSH; SAPSED, 2017) representando ambientes que podem potencializar o processo inovativo. As autoras atribuem classificações aos habitats de inovação, separando em dois níveis conforme Quadro 4. O primeiro, N1, incorpora outros habitats, oferecendo serviços ou atividades; o segundo nível, N2, são as organizações que oferecem os serviços.
Quadro 4 - Exemplos de habitats de inovação.
TIPOS DESCRIÇÃO AUTORES
Technopole N1
Clusters geograficamente focados de produtores de tecnologia inter-relacionados, fabricantes inovadores, instituições de pesquisa, provedores de serviços especializados, investidores e instituições coordenadoras.
Koray Velibeyoglu (2000)
Formas específicas de concentração territorial de inovação tecnológica com potencial para gerar sinergia científica e produtividade econômica.
Castells e Hall (2014, p. 10)
Polo Tecnológico N1
Conjunto formado de instituições de ensino e pesquisa; empresas desenvolvedoras de tecnologias; projetos de inovação envolvendo o governo; e uma estrutura organizacional. Utilizam, principalmente, o conhecimento de base científico tecnológico, têm interações sistematizadas e utilizam ambientes laboratoriais das instituições de ensino e pesquisa.
Medeiros (1990)
Innovation Hub N1
Termo usado para descrever a utilização de conhecimento local para desenvolvimento de negócios. São centros locais e criativos na economia global que contribuem com valor agregado (conhecimento, competência, novas ideias, inovações) para redes globais, talentos e
investimentos em tecnologia. Hintsala, Niemelä e Tervonen (2017, 79) Parque Tecnológico N1
É um complexo produtivo industrial e de serviços de base científico-tecnológico, planejado, de caráter formal, concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja produção se baseia em pesquisa tecnológica desenvolvida nos centros P&D vinculados ao parque.
Assoc. Nacional de Entid. Promotor. de Empreend. Inovadores Anprotec (s.d.) É um complexo planejado de desenvolvimento empresarial e tecnológico, promotor da cultura
de inovação, da competitividade industrial, da capacitação empresarial e da promoção de sinergias em atividades de pesquisa científica, de desenvolvimento tecnológico e de inovação, entre empresas e uma ou mais ICTs, com ou sem vínculo entre si
Brasil (2016) Parque Científico (Science Park) N1
Organização gerida por profissionais especializados, cujo objetivo principal é aumentar a riqueza da sua comunidade, promovendo a cultura de inovação e a competitividade dos seus negócios associados e instituições baseadas no conhecimento. Para permitir que essas metas sejam alcançadas, o Science Park estimula e gerencia o fluxo de conhecimento e tecnologia entre universidades, instituições de P & D, empresas e mercados; facilita a criação e o crescimento de empresas baseadas na inovação através de processos de incubação e spin-off; e fornece outros serviços de valor agregado, com espaço e instalações de alta qualidade.
International Association of Science Parks and Areas of Innovation IASP (s.d.)
Aceleradora N2
Um acelerador é uma organização que visa acelerar a criação de novos empreendimentos, fornecendo educação e orientação a grupos de empresas durante um tempo limitado
Cohen e Hochberg (2014)
Incubadora N2
Promovem a comercialização de pesquisas universitárias, a difusão de tecnologias de fertilização cruzada e o surgimento de um grupo selecionado de empresas de base tecnológica com potencial de crescimento. Devem ter um foco restrito em empresas prontas para fazer inovações significativas e nas habilidades voltadas para o crescimento empresarial e a exploração de oportunidades.
OECD (2010)
Fonte: Autoria própria, com base em Figlioli, Rush e Sapsed, 2017.
Para compor um cenário, cita-se no Quadro 4 alguns tipos de habitats de inovação, uma descrição e autores que trabalharam os conceitos. Todavia, a incubadora é considerada, nesta pesquisa, como ator representativo do segmento habitat de inovação, pois devendo ter o foco voltado para empresas constituídas (OECD, 2010), pode ser considerado o pórtico inicial entre a ideia e o mercado, o elo que une a universidade e a empresa iniciante (DOSI, 1982).
Salienta-se a existência de diferenças entre as incubadoras públicas e privadas. As incubadoras oriundas da iniciativa privada têm orientações específicas de negócios com foco econômico direcionado e produzem reduzido número de projetos. No entanto, os processos desenvolvidos em relação às empresas incubadas são similares (AZEVEDO et al., 2016).
No caso das incubadoras públicas, o conhecimento mais abrangente é garantido pelo fato de surgirem nas universidades ou institutos de pesquisa. Porém as habilidades comerciais e organizacionais dessas organizações públicas são reduzidas (SHEFER; FRENKEL, 2011).
Em adição, a maioria das incubadoras necessitam de suporte financeiro por entidades públicas e enfrentam dificuldades quanto a agenda do Estado em relação a instabilidades políticas, como nos períodos eleitorais por exemplo. Para além do aspecto relacionado com a falta de confiabilidade e incertezas quanto ao vínculo financeiro, a incubadora necessita manter um planejamento financeiro rigoroso para garantir a continuidade dos negócios (WORLD BANK GROUP, 2010, p. 31).
Além de ambientes diversos que integram o Sistema Regional de Inovação, existem outras particularidades no sistema que contribuem para promover ajustes e aprimoramento. Algumas são abordadas na próxima seção.