• Nenhum resultado encontrado

4. Realização do processo de treino

4.2. Caraterização das unidades de treino

A unidade ou sessão de treino é a unidade básica de treino do sistema de preparação desportiva (Navarro & Rivas, 2001), tendo sido realizadas um total de 276 sessões de treino ao longo de toda a época. O planeamento destas unidades foi numa primeira fase responsabilidade do coordenador técnico e

0,50 0,71 0,69 0,69 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 1 2 3 4 V al or de i nten si da de ( u.a.) Sessões de treino

84

posteriormente, por motivos de força maior, da treinadora principal. Porém, auxiliei-a quando sentia necessidade e dúvidas na própria idealização do treino, contribuindo para o meu desenvolvimento futuro enquanto treinadora desportiva. Os exercícios de treino foram organizados de forma a cumprir-se os objetivos delineados para cada sessão de treino rumo à otimização da performance. Assim, o planeamento das sessões estabeleceu-se de acordo com os objetivos do microciclo, mesociclo e macrociclo, por forma a unificar-se todas as componentes relacionadas com o treino.

As unidades de treino comportaram três partes: parte introdutória ou preparatória, parte principal e parte final ou conclusiva (Navarro & Rivas, 2001; Olbrecht, 2000; Sweetenham & Atkinson, 2003). Todas estas partes foram construídas com o objetivo de proporcionar um seguimento lógico e coerente que permitisse a concretização dos objetivos da sessão e do microciclo. A parte preparatória tem como propósito preparar os nadadores para a fase principal da sessão, conferindo um ajuste fisiológico e psicológico para a melhoria do controlo motor e da elasticidade dos tendões do músculo (Navarro & Rivas, 2001). Por essa razão, o aquecimento incorpora esta parte e exige valores de frequência cardíaca contabilizados através do pulso de 20 a 24 batimentos ao longo de 10 s (zona bioenergética de A1).

O aquecimento é uma prática usual e comum, tanto em eventos competitivos, como na prática diária da atividade física, tendo como objetivo melhorar o desempenho subsequente (Neiva et al., 2012). Dessa maneira, os seus objetivos são: (i) relaxamento após um dia de stress (escola, trabalhos de casa entre outros); (ii) preparação fisiológica (como ativação cardiovascular) e (iii) preparação muscular (por exemplo, estimular a tensão muscular para um trabalho de velocidade posterior) (Olbrecht, 2000). Pela preparação muscular ser um dos seus objetivos, por vezes o aquecimento incorpora exercícios de velocidade para ativar mais fortemente o organismo a reagir na parte principal, bem como exercícios técnicos para melhorar a sensibilidade coordenativa e estimular de forma acentuada o sistema nervoso central. No entanto, estes tipos de exercícios não são suficientemente intensos para induzir fadiga, não comprometendo as seguintes tarefas. As mudanças de técnica de nado são uma

85

constante e por vezes, utiliza-se material complementar como palas, pull-boy, placa e barbatanas. Acreditamos que a realização de exercícios diversificados e diferentes será um excelente meio de ativação orgânica e psicológica, motivando os jovens para a componente principal do treino.

A parte principal refere-se à aplicação da(s) série(s) principal(ais) do treino, à qual se pretende induzir adaptações fisiológicas, solicitando-se concentração, empenho e exigência física, psíquica e técnica. Estas adaptações são conseguidas pelo trabalho feito às diferentes zonas bioenergéticas de treino (A1, A2, A3, PA, TL, PL e V) que deverão cumprir o plano geral dos microciclos e mesociclos (Navarro & Rivas, 2001). Sugere-se que para manter a concentração elevada e retardar o aparecimento da fadiga deverão ser realizadas tarefas complementares a uma intensidade ligeira para restaurar a componente fisiológica e técnica para a próxima série principal. Assim, entre as séries principais de PL, TL, PA e A3 existe distâncias em A1, ao qual designamos por “calmo” para preparar o corpo para a seguinte série. Após a finalização da(s) série(s) principal(ais), realiza-se metros de recuperação a uma intensidade aeróbia ligeira (50 a 60% do VO2máx) suficiente para aumentar o fluxo sanguíneo aos músculos solicitados (Maglischo, 2003).

Por último, a parte final da sessão de treino é igualmente importante, dado que se inicia o processo de recuperação ativa e de regeneração fisiológica, essencial para se atingir a supercompensação dos requisitos trabalhados. A recuperação ativa não só acelera o processo de recuperação, como diminuí o tempo de alcance da supercompensação (Maglischo, 2003; Olbrecht, 2000). Quando as unidades de treino se destinavam ao treino do sistema anaeróbio, a parte final comportava exercícios ao regime de A1. Quando o treino pretendia desenvolver o sistema aeróbio na parte principal, a parte final compreendia alternadamente exercícios de velocidade e de intensidade baixa (A1) (Navarro & Rivas, 2001). Por norma, os exercícios apresentaram a alternância das diferentes técnicas de nado e por vezes, trabalho de velocidade assistida. Com a aproximação de competições de caráter preparatório ou principal realizava-se tarefas de partidas, viragens e rendições. Deste modo, o Quadro 12 expressa uma unidade de treino típica ao desenvolvimento da TL na etapa de preparação específica.

86

Quadro 11 – Representação de uma unidade de treino típica ao desenvolvimento da TL no grupo de velocidade.

Período específico Objetivo: TL Grupo velocistas

Volume: 5300 m Duração: 2h

Parte preparatória

 3x400, int. 30’’ 1ª Cr/ Ct (50)/ 2ª Cr/ Br (50)/ 3ª Cr/ Mr (50)

 8x100 (25 mi + 25 Técn à esc + 25 N + 25 acel), int. 15’’ Cr/Esp

 300 Cr/Esp (50) em cada 50 m 10!!! Viragem Parte principal  2x (8x50!!! Esp, cd. 1’15 + 100!!! Esp), int. 300 Calmo

Parte final

 6x100 Cr, cd. 1’45 Pul 21-22

 6x50 Est s/ Mr, cd. 1’00 Pul 24-25

 6x100 Cr, cd. 1’45 Pul 24-25

 200 Calmo

Conforme mencionado anteriormente, o planeamento deve estar sujeito a modificações e a ajustes, o que naturalmente as sessões de treino foram passíveis de ser alteradas, traduzindo-se numa redução do volume planeado. Esta diminuição deveu-se ao atraso na organização dos grupos de trabalho, aos tempos das séries principais que em algumas circunstâncias são demasiados longos, ao tempo dedicado a mais para explicar uma dada tarefa ou para alertar os nadadores quanto à qualidade de execução dos exercícios. Por norma, as séries principais não foram modificadas, exceto em casos de não resposta dos praticantes, por exemplo por motivos de fadiga. Mesmo nestas situações excecionais, a alteração incidia-se sobretudo no aumento do tempo de recuperação por forma a privilegiar a qualidade do treino.