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4. Realização do processo de treino

4.4. Exercícios do treino complementar

O treino complementar foi constituído pelo trabalho de ação dos ms, de ação dos mi, de utilização de palas, de uso de barbatanas, o nado assistido com barbatanas e o nado resistido com paraquedas. Este tipo de treino foi considerado de grande relevância, tendo sido efetuado ao longo de toda a época desportiva, variando o volume, a intensidade da carga e a técnica de nado conforme o período e o macrociclo. Assim, desenvolvemos exercícios de regime extensivo com baixa intensidade ou com mudanças de intensidades de nado e de regime intensivo com pouca duração e alta intensidade.

O trabalho de ação dos ms envolveu o uso de pull-boy para permitir um maior foco dos nadadores nos ms e de palas de tamanho grande, médio e pequeno. Reconhecendo que distintos tamanhos de palas induzem diferentes sobrecargas nos ms (Telles et al., 2011) dependendo da força, estrutura corporal e da categoria etária, os juvenis utilizaram o tamanho de pala mais adequado. De um modo geral, os rapazes da categoria A usaram palas de tamanho grande e as raparigas da mesma categoria recorreram a palas médias. Os rapazes da categoria B usaram palas médias ou grandes e as meninas palas pequenas ou médias. Os exercícios de ação dos ms por norma eram realizados à técnica de nado à escolha, embora na etapa de preparação específica definíamos a técnica de especialidade. No início de cada macrociclo incidimos na realização de séries de longa duração e com trabalho progressivo através de mudanças de velocidade de nado. Posteriormente, concretizamos séries de curtas repetições com trabalho de máxima velocidade para converter a força muscular adquirida em força de potência.

O treino de ação dos mi foi realizado com e sem placa e com e sem barbatanas de acordo com o objetivo estipulado. A utilização da placa visava um aumento da força muscular e resistência dos mi e a sua ausência estimular o posicionamento correto dos mi para se propulsionar no sentido pretendido. Apenas na técnica de costas era feito este tipo de trabalho sem o uso de placa.

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O uso de barbatanas diminui a frequência de ação dos mi dado que a sua superfície aumenta o arrasto hidrodinâmico, exigindo uma maior quantidade de força aplicada para se produzir deslocamento (Matos et al., 2013), o que exercitámos a força muscular dos mi. Apesar de a principal função da ação dos mi no nado ser a manutenção da posição horizontal e do alinhamento lateral (exeto na técnica de bruços), acredita-se que a sua contribuição propulsiva nos eventos competitivos é significativa, sobretudo nos percursos subaquáticos (Maglischo, 2003; Sweetenham & Atkinson, 2003). Por essa razão, também realizamos exercícios para trabalho de percurso subaquático. Os exercícios de mi tal como os de ms comportaram séries de longa duração em A1 ou com mudanças de intensidade, bem como séries curtas de elevada intensidade (trabalho de máxima velocidade).

A utilização de palas teve como objetivo geral desenvolver os níveis de força específica dos ms, dado que este material auxiliar aumenta a força propulsiva por meio do aumento do volume de água deslocado durante as fases das ações dos ms subaquáticas (Matos et al., 2013). Especificamente, também pretendíamos melhorar a distância por ciclo dos ms e aumentar a velocidade de nado, reduzindo a frequência gestual destes segmentos, conforme menciona os estudos (Gourgoulis et al., 2008; Lopez-Plaza et al., 2012; Telles et al., 2011). Além destes benefícios, a utilização de palas confere um aumento significativo do índice de coordenação dos ms, graças à forte contribuição nas fases propulsivas da ação dos ms (Gourgoulis et al., 2013; Sidney et al., 2001). Assim, realizamos séries de trabalho aeróbio, bem como séries de máxima velocidade e com variações nas intensidades de nado. Na etapa de preparação específica, desenvolveu-se mais a especialidade técnica de nado, sendo que a base foi o crol.

O uso de barbatanas foi aplicado para deslocamentos dentro ou à superfície da água, sendo que através de um aumento da superfície dos pés desloca-se uma maior massa de água, melhorando a propulsão do movimento (Matos et al., 2013). Estudos revelam que o melhor desempenho com o uso de barbatanas associa-se uma menor frequência da ação dos mi, contribuindo para um menor dispêndio energético (Zamparo et al., 2005; Zamparo et al., 2006). Apesar da

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diminuição da frequência da ação dos mi, verifica-se uma diminuição da frequência gestual da ação dos ms em comparação com o nado convencional (sem barbatanas) em cerca de 20% (Zamparo et al., 2005). Defende-se que esta redução da frequência da ação dos ms deve-se ao aumento da força propulsiva produzida pelos mi que altera a ação dos ms, a trajetória da anca e provoca um aumento da distância por ciclo dos ms (Deschodt et al., 1999; Zamparo et al., 2005). Desta maneira, para não comprometer a frequência gestual dos ms não realizámos constantemente séries com barbatanas. Geralmente, este material auxiliar era utilizado no aquecimento e em séries de recuperação.

O treino assistido foi concretizado com o recurso de barbatanas em que se pretendia atingir hipervelocidades, o que não seria possível sem o uso de material externo. Aplicámos exercícios com curtas repetições à máxima velocidade e com longo período de recuperação. Este tipo de trabalho é benéfico, uma vez que aumenta significativamente a frequência gestual da ação dos ms sem diminuir a distância por ciclo ao contrário do treino resistido (Maglischo et al., 1985). Porém, usando elásticos verifica-se também uma diminuição da distância por ciclo e não uma manutenção (Girold et al., 2006). Deste modo, menciona-se que o treino assistido é mais favorável à melhoria do desempenho.

O treino resistido teve como objetivo melhorar a força específica dos nadadores através de um aumento da resistência oposta ao sentido do deslocamento pretendido (Llop et al., 2006; Williams et al., 2001) através da utilização de paraquedas. A literatura defende que este treino provoca uma diminuição da frequência e da distância por ciclo dos ms na técnica de crol (Maglischo et al., 1985; Williams et al., 2001). Sugere-se a utilização de exercícios à máxima velocidade, mas apenas se introduziu este tipo de treino no macrociclo III, à qual realizámos exercícios de baixa intensidade por forma os nadadores se familiarizarem. O uso de paraquedas permite-nos ajustar a força produzida pelo nadador através de um ajuste do diâmetro. Porém, é necessário garantir o posicionamento do paraquedas em linha reta e paralelo ao corpo do nadador, de forma a resistência e o stress induzido pelo mesmo seja sempre constante (Llop et al., 2006).

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Estudos ao investigaram os efeitos do treino de velocidade resistido com paraquedas na técnica de crol e mariposa constataram modificações nos parâmetros biomecânicos da ação dos ms (Llop et al., 2002; Llop et al., 2006). Na técnica de crol uma diminuição da frequência gestual e um aumento da distância por ciclo foi verificado e na técnica de mariposa uma diminuição em ambos os parâmetros. Por essa razão, esse tipo de treino é questionável, apesar de suscitar uma melhoria na potência muscular, conferindo vantagens do ponto de vista muscular. O ideal é aumentar a distância por ciclo da ação dos ms, mantendo a mesma frequência gestual (Maglischo et al., 1985). Desta maneira, nós enquanto treinadores devemos informar os nadadores acerca da biomecânica dos ms mais adequada, por forma a não diminuir a distância por ciclo (Llop et al., 2006). O Quadro 14 demonstra alguns exemplos de exercícios constituintes do treino complementar.

Quadro 14 – Exemplos de exercícios constituintes do treino complementar realizados nas unidades de treino.

Tipo de treino complementar Exercícios

Ação dos ms  3x200 ms, cd. 3’00 Prog 1 A 3 Pul 23-24- 25  600 Alternado (150 Cr + 50!!! Esp) Ação dos mi  12x50 mi c/ Barb, cd. 50’’ Ímp: 50!!!/ Par: 50 N  600 Alternado (100 Cr + 50!!! Esp) Palas

 2x600 Cr c/ Palas, int. 20’’ 1ª Resp 1:3, 1:5, 1:7 (200)/ 3ª Resp 1:7, 1:5, 1:3 (200)

 8x150 Alternado c/ Palas (100 Cr Pul 24- 25 + 50!!! Esp), cd. 2'15

Barbatanas

 2x600 Alternado c/ Barb (200 Cr/Ct (50) + 200 Mr/Br (50) + 200 Est), int. 20’’

4x100 Técn c/ Barb (25 Sub + 25 Scull + 50 Cr Lateral), cd. 1’45

Nado assistido com barbatanas  8x50 Cr/ Esp c/ Barb, cd. 1’00 Ímp: (15!!! + 20 N + 15!!!)/ Par: (25!!! + 25 N)

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 4x25!!! Cr c/ Barb, cd. 45’’ Nado resistido com paraquedas

 8x200 Cr c/ Palas + Paraquedas, cd. 3'00/ 3'15 Pul 24-25

 800 Cr c/ Paraquedas Pul 24-25

4.5. Exercícios do treino de partidas, viragens, percurso subaquático,