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Caraterização psicopedagógica do grupo

4. Caraterização socioeconómica e psicopedagógica do grupo

4.1. Caraterização psicopedagógica do grupo

O grupo onde realizámos PES I pertence à sala dos 4/5 anos. Desta forma, e tendo em conta os estudos de Piaget (1979), nestas idades as crianças utilizam o jogo simbólico, caraterístico da segunda infância, para representar o mundo que as rodeia. Foram vários os momentos em que o grupo recorreu ao jogo simbólico, ao longo da nossa PES I, não só, mas maioritariamente aquando da utilização do espaço do jogo simbólico. Neste espaço verificámos que as crianças imitavam outras pessoas (pais, médicos, desenhos animados) ou animais, tendo em conta o que elas próprias já haviam presenciado, ou vivenciado.

Figura 13: Espaço das novas tecnologias Fonte: Própria

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Neste âmbito Teixeira (2011, referindo Kammi, 2003) afirma que os estádios de desenvolvimento de cada criança são influenciados por quatro fatores, diretamente ligados aos estádios de desenvolvimento da criança, enumerados por Piaget, que permitem a cada indivíduo construir o seu próprio pensamento: a maturação biológica, as experiências com objetos, a transmissão social e a equilibração ou autorregulação.

Desta forma, a criança adquire novos conhecimentos através da maturação biológica, contudo os mesmos não são apreendidos por todas de igual forma. Estes conhecimentos resultam da interação que a criança tem com os diferentes objetos, uma vez que só através da manipulação é possível compreender e conhecer um determinado elemento. Por outro lado, é importante ter em consideração a fase de desenvolvimento em que cada criança se encontra para que a transmissão social de conhecimentos seja realizada de forma eficaz, tendo em conta as capacidades de cada uma. Na autorregulação, é importante que a criança consiga utilizar os conhecimentos já adquiridos para construir novas aptidões, mais complexas, pois só assim se verifica uma aprendizagem.

As crianças não se desenvolvem nem adquirem conhecimentos de igual forma, contudo, e visto que se encontram numa fase de desenvolvimento, em que utilizam a manipulação e a observação, para que possam conhecer, efetivamente um objeto, é importante por em prática atividades que permitam, à criança, observar e manipular objetos, levando-a a adquirir novos conhecimentos, partindo de aprendizagens anteriores. Neste sentido, todas as atividades realizadas ao longo da PES I partiram das conceções de cada criança, com o intuito de as tornar mais complexas. Exemplo disso foi a aprendizagem das cores secundárias, partindo das cores primárias. Para a aquisição dessa aprendizagem, foi dada a cada criança a possibilidade de misturar duas cores primárias, observando, o surgimento de uma nova cor, a secundária.

Piaget (1979) dividiu o desenvolvimento cognitivo da criança em quatro estádios sequenciais e integradores, com caraterísticas bem distintas, que se modificam, tendo em conta a idade de cada criança e a forma como cada um observa o mundo que o rodeia: o estádio sensório- motor, que ocorre desde o nascimento até aos 2 anos de idade; o estádio pré-operatório, dos 2 aos 7 anos; o estádio das operações concretas, que se observa dos 7 aos 11 anos e por fim o estádio das operações formais, dos 11 aos 16 anos.

Visto que as crianças com as quais realizámos PES I se situam entre os 4/5 anos de idade, iremos abordar o Estádio pré-operatório, tentando compreender as caraterísticas essenciais do mesmo. Barros (2011) refere que o Estádio pré-operatório se subdivide em dois novos períodos: a inteligência simbólica e a inteligência intuitiva. Numa primeira fase, dos 2 aos 4 anos, a criança vê os estímulos como forma de representar objetos, desenvolvendo a função simbólica, que se encontra na base da aquisição da linguagem que a levará, mais tarde, à aprendizagem da leitura.

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Numa segunda fase, dos 4 aos 7 anos predomina o pensamento intuitivo, no qual a criança deduz

por percepção directa, sem usar muito o raciocínio. Ela começa a desenvolver pensamentos mais complexos (Barros, 2011, p. 19). Neste momento, a criança torna-se muito curiosa e quer

compreender tudo o que se observa ao seu redor, e por essa razão questiona-nos sobre as coisas que sabe mas não entende (idade dos porquês). Na nossa experiência enquanto educadoras estagiárias, foram várias as questões que nos foram colocadas como: “Se os gatos falam porque é que não os compreendo?” ou “Porque é que não há vulcões na Guarda?”.

Relativamente ao pensamento da criança, Piaget (1979) refere que se podem identificar três aspetos: o egocentrismo intelectual; a dificuldade em distinguir a aparência da realidade; e o pensamento pré-causal. Destes, iremos apenas enfatizar o egocentrismo intelectual, uma vez que foi o aspeto mais evidente ao longo da nossa PES I.

O egocentrismo intelectual carateriza-se pela não utilização da perspetiva espacial, ou seja, a criança, nesta fase, não é capaz de se colocar no lugar do “outro”, verificando-se que apenas descreve o que observa, apresentando uma comunicação egocêntrica, na medida em que ela parte do princípio que o outro sabe o que ela está a pensar ou a observar e já adquiriu os mesmos conhecimentos que ela. Esta caraterística foi observada, principalmente aquando o diálogo sobre o fim de semana em que cada criança falava, sobre as atividades realizadas, como se os restantes colegas estivessem estado com ela, surgindo diálogos como:

- No fim de semana andei de moto 4 com o meu pai.

- O teu pai tem uma moto 4?

- Não. Eu é que tenho uma moto 4, não sabes que é pequenina, o meu pai não cabe lá.

Kohlberg (1992, referido em Bataglia, 2010) afirma que tal como o desenvolvimento cognitivo, também o desenvolvimento moral deve ocorrer tendo em conta a evolução de estádios. Este relaciona-se com a justiça e não com as emoções ou ações. Desta forma, Kohlberg (1992) propõe a existência de 6 estádios de raciocínio moral, agrupados em três níveis: o pré- convencional (idade pré-escolar), o convencional (idade escolar) e o pós-convencional (adolescência).

Uma vez que o grupo onde nos encontrámos a realizar a PES I se encontrava no pré- escolar abordaremos de modo específico o nível pré-convencional, de forma a compreender as caraterísticas desta etapa. Este nível engloba os estágios 01 e 02. Neste período o certo e o errado são assimilados pelo próprio indivíduo, tendo em conta o medo sentido em relação à possibilidade de receber uma punição ou castigo (estágio 01) ou através dos seus próprios interesses, visualizando-se aqui o egocentrismo (estágio 02), começando-se desta forma a consciencializar, a criança da noção da existência de regras, presentes diariamente no JI.

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Sobre este assunto, Erikson (1963, referido em Barros, 2011) referindo-se ao desenvolvimento psicossocial da criança, diz que é no pré-escolar que a criança começa a compreender-se a si e a tomar consciência do seu papel social, através do cumprimento das regras apreendidas no JI. Neste âmbito, Martins (2013) reitera ainda que ao relacionar-se com os restantes elementos do grupo, a criança vai criando sentimentos e conflitos cruciais que lhe permitirão na idade adulta ultrapassar as adversidades e conflitos que possam surgir.

Assim, é importante considerar que a criança é um ser ativo na construção do seu próprio conhecimento e, que por essa razão, se deve proporcionar um ambiente favorável à sua aprendizagem e partir do pressuposto que a mesma já tem conceções.

Seguidamente iremos abordar a caraterização socioeconómica do grupo, tentando, sempre que possível, fundamentar o que é referido, sendo que os dados aqui incluídos foram recolhidos através de diálogos com o grupo e através da observação dos dados das fichas de cada elemento.