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Cargas horárias diárias e semanais do ensino básico

No documento Organização escolar: o tempo (páginas 64-67)

Tabela4.2.2.

Cargas horárias diárias e semanais do ensino básico Ocorrências

Peso excessivo da carga horária P1; P2; Pro3; D1, D2; D3; D6

Tempo escolar não devia se superior a 25horas semanais no 1.º CEB Pro1; D2; D3; D4

A maioria dos alunos frequenta AEC Pro1

Os alunos passam muito tempo na escola D3; D4; D5; D6; D7

Permanência diária na escola do 1.º CEB é prolongada pela CAF Pro1; D1; D4; D7

Realização de TPC A2; Pro1; Pro3; D4; D5; D6

Carga horária é mais equilibrada no 2.º ciclo P2; D2

Programas extensos que os professores tentam cumprir P2

A escola enquanto instituição de guarda merece a confiança dos pais P1;D4 Pais deviam poder ir buscar os filhos à escola e participar em reuniões P1 e P2

Peso excessivo da Matemática em detrimento de outras disciplinas P1; P2; Pro2; Pro3; D4

Estudo do Meio no 1.º CEB perdeu tempo Pro1; D1

Reformular o currículo Pro3; D1; D3; D4; D5; D6; D7

Definir conteúdos nucleares para cada disciplina D2

A escola devia oferecer disciplinas que os alunos pudessem escolher A2 Ocupar as horas não letivas passadas na escola com actividades diferentes das

do currículo Pro3

Fonte : CNE

A jornada escolar do 1.º CEB é considerada muito pesada. Com a introdução de duas horas semanais de Inglês no currículo do 3.º e 4.º ano, lecionadas por um professor da disciplina, os alunos passaram a ter 27

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horas curriculares por semana. A maior parte dos alunos frequenta as AEC22. Os que não o fazem é porque

têm atividades de âmbito artístico ou outro fora da escola.

Para além das seis horas diárias (parte curricular e AEC), alguns alunos ficam na escola antes e depois desse período na CAF, o que pode significar uma permanência de dez ou mais horas diárias dentro das instalações escolares. Embora esta situação possa agradar aos pais que têm compromissos laborais não

compatíveis com os horários escolares23, todos reconhecem que ela não é benéfica para os alunos. Nas

escolas do interior do País a situação é análoga. Ao elevado tempo de permanência na escola acresce o tempo passado em transportes escolares das aldeias para os centros e vice-versa.

“Estas crianças são as que fazem parte das estatísticas do insucesso. Não têm tempo para descansar nem para brincar. Chegam à escola cansadas e voltam a casa cansadas por causa dos transportes escolares.” (D5)

No 2.º CEB a carga horária semanal parece mais equilibrada, exceto quando o horário integra também aulas de apoio.

Para os alunos do 2.º e 3.º ciclos com dificuldades de aprendizagem a carga horária é ainda mais pesada porque podem ter apoio a três disciplinas e apoio tutorial. Estes alunos acabam por ser os mais penalizados. A carga do 3.º CEB é ligeiramente mais elevada e as escolas referem que a falta de espaços os impede de organizar todo o horário num único turno. Isso era importante para dar mais tempo livre aos alunos e poder oferecer outras atividades para além das curriculares. As escolas tentam organizar horários que tenham, pelo menos, uma manhã ou tarde livres mas os alunos têm uma panóplia de disciplinas com impacto na carga horária total. Os programas são considerados extensos, com muitas disciplinas e tempos que não estão bem distribuídos. Há disciplinas em que os alunos só têm uma aula uma vez por semana. Esta situação afeta também os professores dessas disciplinas que acabam por ter um número de turmas e de alunos muito elevado (por vezes, a rondar os 300 alunos).

Para além do tempo letivo, algumas escolas oferecem atividades complementares (clubes) ou desportivas. Por vezes, os alunos passam o tempo livre na escola porque não têm outro espaço onde permanecer. Para os pais a escola é vista como um espaço seguro e fiável.

“Os pais não se importam que os filhos fiquem na escola sem qualquer atividade. “ (D4)

“O melhor sítio para evitar comportamentos desviantes é a escola. O 2.º ciclo já começa a propor ateliês de tempos livres (ATL).” ( P1)

Em meios mais favorecidos, os alunos frequentam ainda outras atividades fora da escola (desporto, música, catequese, etc.).

A ideia geral é a de que os alunos passam muito tempo na escola e que essa situação é agravada pela falta de espaço. Para além do tempo que os alunos passam na escola, há ainda que ter em conta os trabalhos escolares a realizar em casa (TPC).

22 Em 2015/2016, apenas nove escolas do Continente não ofereciam AEC (Tabela A1.2.). Apesar do carácter facultativo destas

atividades, elas são frequentadas pela maioria dos alunos do Continente, 87,9 % (Figura A1.1.).

23 De acordo com dados de 2013, relativos ao número de horas de trabalho semanal de agregados familiares com filhos, Portugal

encontra-se entre os países que apresentam a percentagem mais elevada de homens (32,96%) e de mulheres (15,21%) que têm um horário semanal de 45 ou mais horas, enquanto a média OCDE se situa nos 14,43% para os homens e nos 4,28% para as mulheres (Figura A1.5.).

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“Os TPC ficam ao critério do professor mas são prescritos com frequência: no 1.º ano, mais ao fim de semana; no 2.º ano, a meio e no fim da semana; no 3.º e 4.º anos, praticamente todos os dias. “ (Pro1)

“os alunos ainda levam TPC para consolidação dos conhecimentos, porque as turmas são muito grandes. Os professores não se articulam sobre estas matérias. Para isso acontecer era preciso criar um espaço/tempo de trabalho colaborativo entre professores do Conselho de turma, pelo menos de 15 em 15 dias.” (Pro3)

“Andamos a discutir como poderemos acabar com os TPC mas ainda existem. Precisamos de racionalizar o tempo que os alunos passam na escola de modo a não terem de levar ainda trabalhos para casa.” (D6)

Uma das ideias que surge é a de que o tempo de permanência na escola devia ser repensado. Os alunos não deviam estar mais de 5 ou 6 horas na escola, a menos que estivessem ocupados em atividades do seu interesse.

Para alguns, o tempo curricular do 1.º CEB não devia ultrapassar as 25h, o que implicaria a redução do tempo atribuído a algumas disciplinas, de modo a aliviar o tempo de permanência dos alunos na escola e a permitir que os encarregados de educação com disponibilidade pudessem ir buscar as crianças mais cedo. Os pais defendem que a legislação laboral devia ser aplicada de modo a permitir que pelo menos um dos progenitores pudesse ir buscar o filho à escola mais cedo, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade.

“A lei laboral dá horas para acompanhar as reuniões da escola mas não é cumprida. As pessoas dependem de chefes… Via com bons olhos que nas famílias, um dos progenitores pudesse ir buscar o filho à escola a partir das 18h.”(P1)

“Podia haver uma abertura da sociedade para dar uma hora por dia a um dos pais para ir buscar os filhos do 1.º ano à escola. Isso permitia falar com a professora ou com alguma auxiliar e ajudar os miúdos a fazerem os trabalhos desde que não sejam em exagero. “ (P2)

Embora todos reconheçam a importância da Matemática e do Português, o peso das outras disciplinas devia ser repensado, nomeadamente o de Estudo do Meio que tem um mínimo de 3h, no 1.º CEB.

“O Estudo do Meio está a ficar esquecido. No passado foi de 5h, atualmente estamos com 3h30m (no nosso caso) e o currículo é o mesmo, ao qual vamos acrescentando outro tipo de temas que nos parecem pertinentes, relacionados com questões ambientais, com a parte experimental, etc.” (Pro1) Foi admitida a possibilidade de a educação para a cidadania que, em muitos agrupamentos, é abordada no tempo da Oferta Complementar, poder eventualmente ser tratada em interdisciplinaridade com outra área, de modo a libertar esse tempo para Estudo do Meio.

Por outro lado, há a ideia de que a redução da carga horária dos alunos deverá passar por uma alteração dos programas. Uma eventual reformulação curricular devia equacionar as horas atribuídas a Matemática e a Português.

“Era preciso fazer um rearranjo curricular. Não sei até que ponto 5 a 6 horas de Matemática e de Português resolvem os problemas. Os alunos também têm de aprender outras coisas, a História, o conhecimento do espaço em que vivem. Isso é importante para a sua identidade.” (Pro3)

Há, também, um entendimento de que no 3.º ciclo o número de disciplinas devia ser equacionado a par da definição de um tronco comum.

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“No 3.º ciclo o número de disciplinas devia reduzir-se para metade. Devia haver uma área de Ciências sociais em vez de História e de Geografia. Devia haver uma área de Ciências global em vez de Físico-Química e de Ciências Naturais. Não há necessidade de disciplinarizar tanto. Acho que no 3.º ciclo deviam ter um conjunto de disciplinas obrigatórias e depois um conjunto de créditos que eles pudessem escolher. Era fundamental reduzir quer o número de disciplinas, quer o que os programas preveem que se ensine. Para cada disciplina deviam definir-se três ou quatro assuntos a nível nacional e depois deixar que o resto fosse definido localmente, pela escola. Para além do Português, da Matemática e do Inglês, uma área de ciências socias e outra de ciências naturais e depois a ed. Física e as Expressões como áreas complementares do currículo. Não podemos ter a ilusão de que vamos aprender tudo na escola. Devemos focar-nos no essencial.” ( D1)

“A redução das disciplinas era para diminuir o tempo de permanência na escola e permitir oferecer atividades extra-curriculares que os alunos pudessem escolher de acordo com os seus gostos, isto mais no 3.º CEB. […] Devia haver um tronco comum e depois disciplinas de áreas que os alunos gostam. Se a matriz curricular fosse mais reduzida podiam ficar as mesmas horas mas era no que gostam e não naquilo que lhes é imposto. “( D3)

“… definir para cada disciplina um conjunto de conteúdos nucleares sobre os quais incidiriam os exames para evitar programas que não são exequíveis e levam os professores a privilegiarem aulas expositivas para cumprirem o programa.” (D2)

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