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Critérios para a elaboração dos horários

No documento Organização escolar: o tempo (páginas 60-64)

Embora os agrupamentos de escolas tenham uma certa margem de autonomia na organização e gestão dos horários existem regras gerais sobre esta matéria.

No 1.º ciclo, as atividades educativas devem ser organizadas em regime dito normal, distribuídas pela manhã e pela tarde, com interrupção para almoço. Apenas a título excecional (e mediante autorização da DGEstE) se podem organizar em regime duplo, colocando duas turmas na mesma sala, uma no turno da manhã e outra no turno da tarde, quando o número de turmas constituídas no estabelecimento de ensino é superior ao das salas disponíveis

Certos critérios de carácter genérico já se encontram definidos pela tutela, como por exemplo:

- Sempre que as atividades escolares decorram nos períodos da manhã e da tarde, o intervalo do almoço não poderá ser inferior a 1 hora para os estabelecimentos de ensino dotados de refeitório e de 1 hora e 30 minutos para os restantes.

- As aulas de Educação Física só poderão iniciar-se 1 hora depois de findo o período que a escola definiu para o almoço.

De acordo com o artigo 13.º do Despacho Normativo n.º 10-A/2015, de 19 de junho, a organização das atividades a incluir no horário tem em consideração “a variação do ritmo de trabalho e dos níveis de concentração dos alunos ao longo do dia”. Depois de ouvido o Conselho Pedagógico, o diretor decide a organização dos tempos escolares atribuídos às diferentes atividades de promoção do sucesso escolar:

- oferta Complementar prevista nas matrizes curriculares dos 1.º, 2.º e 3.º ciclos;

- medidas de Apoio ao Estudo, que garantam um acompanhamento eficaz do aluno face às dificuldades detetadas e orientadas para a satisfação de necessidades específicas;

- Apoio ao Estudo, no 1.º ciclo, tendo por objetivo apoiar os alunos na criação de métodos de estudo e de trabalho e visando prioritariamente o reforço do apoio nas disciplinas de Português e de Matemática;

- Reforço das medidas de Apoio ao Estudo no 1.º ciclo, que garantam um acompanhamento eficaz do aluno face às primeiras dificuldades detetadas;

- Coadjuvação em sala de aula, valorizando -se as experiências e as práticas colaborativas que conduzam à melhoria do ensino;

O referido Despacho menciona ainda (n.º 5 do artigo 13.º) que o conselho pedagógico define os critérios gerais a que obedece a elaboração dos horários dos alunos, nomeadamente no que se refere a:

- Hora de início e de termo de cada um dos períodos de funcionamento das atividades letivas (manhã, tarde e noite); - Distribuição dos tempos letivos, assegurando a concentração máxima das atividades escolares da turma num só turno do dia;

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- Limite de tempo máximo admissível entre aulas de dois turnos distintos do dia;

- Atribuição dos tempos de disciplinas cuja carga curricular se distribui por três ou menos dias da semana; - Distribuição semanal dos tempos das diferentes disciplinas de língua estrangeira;

- Alteração pontual dos horários dos alunos para efeitos de substituição das aulas por ausências de docentes; - Distribuição dos apoios a prestar aos alunos, tendo em conta o equilíbrio do seu horário semanal;

- Outros que se mostrem relevantes no contexto da escola.

O conselho geral (n.º 6 do artigo 13.º), no âmbito das suas competências, emite parecer sobre os critérios gerais definidos pelo conselho pedagógico em matéria de organização de horários.

Cabe depois ao diretor, no âmbito das suas competências, supervisionar a elaboração dos horários dos alunos atendendo à definição do conselho pedagógico e ao parecer do conselho geral.

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4.2. Síntese das Audições

A par da legislação que enquadra a organização das atividades escolares, entendeu-se que seria importante conhecer a perceção de diferentes atores do terreno relativamente a esta matéria.

Na impossibilidade de constituir uma amostra representativa, optou-se por auscultar um conjunto de 14 individualidades que se disponibilizaram para este efeito (amostra por conveniência). Embora as opiniões expressas não sejam representativas do universo em causa, elas permitiram identificar os constrangimentos e desafios que se colocam na organização do tempo escolar.

Nesta perspetiva foram ouvidos sete diretores (D1 a D7) de agrupamento (com e sem autonomia), três professores (Pro1 a Pro3), dois alunos (A1 e A2) e dois pais (P1 e P2), de diferentes regiões do país (Apêndice B). Os participantes nestas audições foram solicitados a pronunciar-se sobre o calendário escolar, as cargas horárias dos diferentes ciclos e a organização das atividades escolares.

Das ideias expressas nas audições sintetizam-se, em seguida, as principais linhas identificadas.

Calendário escolar

Tabela 4.2.1.

Calendário escolar Ocorrências

Duração adequada do ano escolar A1; A2; P1; P2

Duração das férias grandes é excessiva para os alunos Pro2; D6

Duração das férias grandes não é excessiva para a escola Pro3; D4

Tempo escolar insuficiente para cumprir o programa Pro2; Pro3;

Interrupções ao longo do ano letivo são suficientes A1; P1; D4

Interrupções ao longo do ano são um problema para as famílias D4

Harmonizar a duração dos períodos A2; P2; Pro3; D2; D7

Introduzir pausas a meio dos períodos A2; Pro1; Pro2; D5

Fazer uma interrupção a meio do 1.º período D2; D4; D5; D6; D7

Introduzir pausas curtas (pontes) associadas a feriados P1

Reduzir as férias de verão para ter mais pausas de curta duração ao longo do ano

(pontes; pequenas interrupções) A2; Pro1; D1; D6

Dividir o ano em dois semestres e realizar avaliação no final de cada um Pro3; D1; D3; D5; D6

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A duração do ano escolar é considerada adequada por alunos e pais, apesar de alguns professores se referirem à falta de tempo para cumprir o programa.

“Embora se diga que o tempo letivo em Portugal é extenso, os professores de algumas disciplinas não conseguem dar o programa.” (Pro2)

Atendendo a que o início e o final do ano letivo são muito condicionados pela logística decorrente da realização de exames (durante cerca de dois meses) e da colocação de professores, a duração das férias de verão não parece excessiva do ponto de vista da gestão do trabalho das escolas.

Para as famílias que não têm outra alternativa de guarda para os filhos, as férias de verão e as pausas ao longo do ano letivo são um problema. Nestes casos as crianças do 1.º ciclo permanecem na escola,

ocupadas na Componente de Apoio à Família21.

“A CAF também se ocupa das crianças nos períodos de interrupção de aulas, o que significa que há crianças que só estão fora da escola no mês de agosto” (Pro1)

O facto de o ano escolar estar associado às festas do calendário litúrgico, que inclui datas móveis como a Páscoa, origina uma duração desequilibrada dos períodos, com impacto nas aprendizagens e na avaliação formal.

“O calendário escolar não devia ter nada a ver com o calendário litúrgico. Não podemos estar dependentes da data da Páscoa que, quando é muito avançada, torna o terceiro período curto e o equilíbrio entre períodos desaparece” (D7)

Sem reduzir o número de dias letivos, as sugestões de alguns intervenientes vão no sentido de introduzir pausas ao longo do ano e de ajustar o calendário. Uma das ideias seria intercalar cinco ou seis semanas de aulas com uma a duas semanas de pausa que poderia, eventualmente, ser associada à realização de atividades culturais e desportivas na escola.

“O ideal era começar na primeira semana de setembro e terminarmos na última de junho. Os alunos não aguentam. Teríamos de ter mais interrupções. Há um problema social associado a isto. Só algumas famílias ficam com os filhos quando não há escola. Isto teria de ser pensado, nomeadamente atividades de ATL. Podiam utilizar o espaço da escola durante os períodos não letivos, como já acontece na minha escola (CAF). No período de férias ficam o dia inteiro na escola. Devia haver um suporte público. No modelo francês os alunos ficam entregues a outras instituições. “ ( D1)

A pausa a meio do 1.º período (que em tempos existiu para a realização de reuniões intercalares) é talvez a mais consensual entre os diretores. Esta pausa serviria para um primeiro momento de avaliação informal.

Admitindo que se poderiam retirar alguns dias às férias de verão, esses dias seriam usados para compensar pequenas pausas ao longo do ano (pontes).

Por fim, surge a ideia de dividir o ano escolar em dois semestres, separados por uma interrupção no final de fevereiro (por volta do Carnaval), e com avaliação formal no final de cada um. Nesta perspetiva, as pausas do Natal e da Páscoa manter-se-iam mas seriam reduzidas para cerca de uma semana cada.

21 Em 2015/2016, 40,7% das escolas do 1.º CEB do Continente ofereciam CAF (Figura A1.3.), abrangendo 65 453 alunos, o que

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