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Carnaval, Militarismo e República: verdades intransitivas?

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2 O CARNAVAL E A REPRESSÃO ATRAVÉS DOS DOMÍNIOS DE

2.1 LOUCOS, EUFÓRICOS, TEMIDOS E LIVRES: o olhar da História sobre a

2.2.2 Carnaval, Militarismo e República: verdades intransitivas?

Carnaval, desengano

deixei a dor em casa me esperando e brinquei, e pulei, e cantei vestido de rei,

quarta-feira sempre desce o pano (HOLANDA, 1965).

O Homem, não sendo visceralmente convicto de seus papéis no mundo e, por conseguinte, desejando outros, substitutivos, complementares ou objetivos observou que seu trajeto desenhado pelo Carnaval encontrou significados diferentes em cada período da História onde se apresentou. Reservando-se, primeiramente, a rituais que encontravam em mitos seu horizonte de sentido, seus signos mais particulares, a festa foi adequando-se a seus atores e superando problemas. Porém, analisá-la no âmbito do Militarismo e da República refletem visões diferentes de acordo com a dinâmica da duração.

Entender como a República, especialmente a conhecida como Marcial (1964-1985) pôde enxergar a festividade carnavalesca com certa naturalidade nos remete a dois pontos chave: o primeiro diz respeito ao uso da brincadeira enquanto instrumento de dominação ideológica por parte do Estado Militar; a segunda estaria ligada ao fato da manutenção de elementos de caráter republicano (como a liberdade) a partir dos Dias Gordos, sem que estes pudessem promover enfrentamentos com os preceitos contidos nos Manuais de Segurança da Escola Superior de Guerra (ESG). Estas duas visões, quando comparadas ao ideal, às essências do Carnaval, serão colocadas como intransitividades.

Desde que a República foi proclamada no Brasil, mudanças aconteceram em todos os setores que norteiam a vida em sociedade, mantendo-se, igualmente, outra gama de elementos, sobretudo culturais. Nesta discussão, o que era visto como de bom grado ou de péssimo hábito estava ligado aos atos de uma pessoa que prezasse pelos bons costumes, pelo comportamento civilizado, o que, na instância da sinfonia carnavalesca, se traduzia também. Nesse sentido: “A dicotomia entre os dois mundos do carnaval – o da rua e o dos clubes – expressa o preconceito latente entre os „homens de bem‟” (ALMEIDA, 2001, p. 150).

Em relação a estes homens de bem, a primeira metade do período republicano foi taxativa e determinante na construção de valores que seriam transferidos, enquanto sinônimos de verdades organizadoras da sociedade, para o Período Marcial. Havia, assim, uma intensa

preocupação em como o Estado deveria desenvolver ações para coibir, evitar e controlar as práticas vindas do povo em nome da construção de uma verdade autoritária16.

Nessa direção, imaginar que os militares aceitariam de bom grado toda e qualquer ação vinda dos foliões em épocas de festa não significava a representação da intolerância observada outrora quanto à participação de classes nas festas, vistas como “indesejáveis presenças físicas” (SOIHET, 2008, p. 60). Separar os foliões foi, em outros tempos, uma forma de segmentar os espaços que não era observada durante os Anos de Chumbo, uma vez que não havia àquelas restrições17 feitas em relação ao início da República e ao Período de Vargas: as classes eram conclamadas a brincar na rua, nos clubes e apresentar seus temas e evoluções, desde que nenhum destes ferisse a imagem do Estado Militar ou representasse formas de expressão de subversão da ordem instituída.

Acentuadamente, estas marcas sociais que diferenciavam o Carnaval de rua daquele do clube nos Anos de Chumbo apresenta algumas razões de ordem econômico-financeiras, bastante marcantes em um país que se apresentava em franco crescimento a ponto de ninguém segurá-lo. O Jornal do Commercio de 04 de fevereiro de 1969 ilustra bem esta situação ao determinar como essenciais para a diferenciação das brincadeiras - sendo a de rua asfixiada por tais problemas - os seguintes pontos:

1) A inexistência de bens móveis ou patrimoniais das agremiações carnavalescas, inclusive da própria mentora oficial, que lhes proporcionassem arrecadação de recursos financeiros;

2) A baixa renda per capita dos integrantes destes conjuntos, cada vez mais agravada pela alta do custo das utilidades;

3) A preocupação com família, sobretudo da educação da prole face à ocorrência, hoje, de oportunidades inexistentes para os das gerações passadas, aliada ao interesse pelo bem estar que, na medida do possível, desejam usufruir;

4) O corte da contribuição financeira, dispensada do comércio e da indústria e, também, de particulares, com o advento da oficialização, ajuda que não era lá grande coisa, mas que de qualquer modo, servia para pequenas despesas; 5) A escassez de músicos e, consequentemente, o elevado aumento de preço das

tocatas carnavalescas, agravada com a concorrência oferecida pelos clubes sociais, que apresentam melhores ofertas e mais conforto;

6) A adoção de fantasias baseada em enredo, exigindo conjunto e não prescindindo de figurinistas, cortadores, costureiros etc., duplicando, dessarte, as despesas da confecção;

16

O termo em destaque é empregado por Almeida (2001) para definir as formas de discursos presentes na construção de uma ideologia repressiva às práticas sociais, sobretudo populares, durante o período Varguista no Recife.

17 Soihet (2008, p. 70) nos mostra que a mistura de classes no Carnaval era uma realidade que por mais indesejável que se apresentasse na primeira metade do período republicano justificava o empenho desenvolvido pelo Estado em conscientizar o cidadão sobre qual era o seu lugar, o que nesse sentido, porém, se tornara ineficaz pela festa representar uma guerra social.

7) A falta de estímulo por parte do poder público, inclusive de ajuda financeira

condizente com as possibilidades do Erário e com asnecessidades de cada uma

das agremiações, uma vez que se exige dos cordões carnavalescos não só a apresentação prévia de um Plano de Aplicação mas, sobretudo, a Prestação de Contas após os festejos de Momo (FATORES..., 1969b, p. 11).

A situação descrita nos permite tentar imaginar que o país se encontrava em crescimento, mas este não se refletia em aspectos positivos no período de Carnaval dos estados, especialmente no Recife, onde o ciclo recebia atenção especial do público brincante. Era colocar a festa no acaso, o que fica presente na descrição do item 7, pois o desestímulo das autoridades para com o reinado de Momo devia-se a uma escala de importância econômica estabelecida pelos planos diretores de governo da época, que colocavam em cheque investimentos principalmente no setor cultural, deixando-o a cargo dos próprios fabricantes da cultura, ou seja, seus inventores, divulgadores e facilitadores.

O Estado Marcial passava, então, de âncora da promoção de facilidades para os festejos a subjugador das causas que se diziam elementares para uma prática mais diversificada e colorida, digna da constituição momesca. Assim, o poder republicano ditatorial buscava diminuir sua atuação financeira e social na festa, limitando-se ao enquadramento cultural político, apresentando ao Carnaval facetas que diferiam do propósito da diversão plural e circularidade cultural. Certeau (2008) nos situa nesse contexto mostrando que existe uma multiplicidade de táticas que permitem uma maior articulação do poder em torno dos “detalhes” das práticas cotidianas em seus modos de fazer. Mais importante do que tais métodos, todavia, seria a forma como a sociedade se reinventaria de modo a não se reduzir a estes.

Mesmo que ainda estando na contramão deste discurso e construindo uma realidade ancorada em certa circularidade cultural, o Carnaval deveria atender aos preceitos republicanos de liberdade de expressão, caracterização, associação e pensamento. No entanto, a busca pela disciplina da festa apresentava uma forma do folião e do brincante reconhecerem que seu lugar social seria garantido não pelo que a Constituição afirmava, mas sim pela necessidade enxergada pelo Estado para seu cotidiano – e essa visão se referia, principalmente, a suas práticas culturais.

A respeito da forma como tais expressões foram envolvidas pela Ideologia Marcial, pode ser observada uma determinação essencial para a Ditadura - o uso do convencimento de grupos, instituições e indivíduos de que suas ações eram, antes de controles sociais, formas de organizarem perfeitamente os gestos, sentimentos e emoções que envolviam a Cultura. Em uma melhor compreensão, significava entender que:

A estratégia psicossocial formulada pela Escola Superior de Guerra e incorporada pelos governos militares como um de seus fundamentos partia da perspectiva de que o povo não sabia e não entendia quais eram, sequer, os traços fundamentais de sua cultura. Os condutores da ditadura estariam, assim, incubidos de retirá-los do limbo e transformá-los em elementos essenciais de legitimação do regime em vigor. Somente a partir daí torna-se possível compreender, inclusive, o seu sistema de ideias e valores sobre uma suposta democracia (REZENDE, 2001, p. 191).

Buscava-se, então, a compreensão de que “o ideário de democracia do regime operava uma espécie de encontro entre as condições objetivas e subjetivas” (REZENDE, 2001, p. 190). A República Marcial, dessa forma, não admitiria que a lei da festa carnavalesca se sobrepusesse à lei militar, estando em consonância com esta quando bem achasse necessário – toda a sociedade, em seus pormenores, deveria integrar a causa da construção de um ambiente cotidiano onde as ações de civis e militares deveriam buscar uma adesão de ideias para a construção de valores sólidos dos componentes da sociedade brasileira.

Neste ritmo, a cadência do frevo, do maracatu e dos demais ritmos comuns ao Carnaval de Recife no período descrito seguia a mesma rota desenvolvida ainda durante os anos de 1930: sofriam tentativas de normatização por parte da Secretaria de Segurança Pública e da Federação Carnavalesca de Pernambuco (FECAPE). A liberdade de expressão, a constituição do jogo de cores, a rítmica própria das musicalidades frevísticas e as diferentes acepções presentes nos trajes usados passavam, antes do imaginário mítico e folclórico próprio dos brincantes e foliões, pela aprovação ou não da legislação apresentada para capacitar o desenvolvimento de uma festa ideal.

Pensar, então, o Carnaval de Chumbo na perspectiva de uma estratégia psicossocial revelou-se uma continuidade de preceitos observados antes mesmo do período republicano, empregados no Recife ainda durante o século XIX. Sobre tais cláusulas, a forma pela qual o povo brincante entendia que deveria estar mais comedido em relação a como participar da folia, especialmente aqueles de classes consideradas mais humildes e excluídas revelava que: “A linguagem autoritária da força, do castigo e da violência policial era, segundo acreditavam, a única assimilável pelos grupos e segmentos sociais dominados e a única capaz de produzir efeito desejado: a eliminação de certos costumes populares da via pública das cidades” (ARAÚJO, 1996, p. 164).

Contudo, a mesma autora ressalta que “na prática, o controle e a repressão absolutos mostraram-se inviáveis e, politicamente, não recomendados: uma extrema radicalização poderia levar a choques e revoltas ainda mais intensos” (ARAÚJO, 1996, p. 165). Esta preocupação transferiu-se ao longo dos tempos até a chegada ao Carnaval de Chumbo justificando-se, exatamente, a diminuição dos problemas sociais pela criação de uma

consciência social onde os membros da Ditadura esperavam que foliões e brincantes soubessem os limites de suas ações, preservando o colorido dos divertimentos e observando uma falsa impunidade, uma vez que os olhos do Estado eram sentinelas sem descanso.

Deste modo, é pertinente concordar novamente com Rita de Cássia quanto ao sentido do entretenimento para a preservação do ideal da festa enquanto circularidade cultural e resistência aos regulamentos impostos pelo poder autoritário:

[...] a manutenção dos folguedos nas ruas revelava o quanto ele estava vivo e forte nos costumes e na forma como a população concebia o Carnaval e seus entretenimentos; e, fundamentalmente, expressava o quanto a cultura popular era capaz de impor resistência à proposta de mudança elitista e autoritária idealizada pelas classes dominantes (ARAÚJO, 1996, p. 166).

Reservando-se as particularidades dos tempos históricos, os folguedos como maracatus, ursos, blocos líricos, caboclinhos seguiam determinações pré-fixadas já desde a década de 1930-1940 pela FECAPE, com algumas alterações18. Apenas as escolas de samba apresentavam formas pautadas pelo chamado Tema Nacional, presente desde o Governo Dutra nos desfiles carnavalescos destas agremiações (LIMA, 2001). Diferentemente de outros ritmos pertencentes ao Carnaval, as escolas de samba foram doutrinadas pelas esferas de poder desde o Estado Novo de Vargas no sentido de se tornarem representações de histórias, contadoras dos grandes feitos nacionais, destacando a forma sobre como poderiam expressar a grandeza do Brasil em relação à sua diversidade cultural e como se formou uma nação, um povo rico e variado em diferentes cantos, guardando particularidades que exprimem o pluralismo da festa, além de destacar o papel do Estado como promotor principal dessa melhoria de vida.

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Federação Carnavalesca de Pernambuco. Era a representação criada para ser um elo entre as agremiações participantes do Carnaval do estado com o Governo e as Prefeituras, tratando de questões primárias aos brincantes como o pagamento de verbas e o reconhecimento de normas para os desfiles nas ruas. Para um estudo mais detalhado sobre tal instituição, ver Vidal (2010a).

Foto 2 - Desfile da Escola Estudantes de São José em homenagem ao Estado Ditatorial. Fonte: Jornal do Commercio, 17 de fevereiro de 1972. Acervo APEJE, Recife/PE.

O exemplo observado no desfile da Escola Estudantes de São José, acima da intenção em revelar a beleza do folguedo carnavalesco, acabava por pressupor o conhecimento, as crenças e ideologias que ratificavam o poder da época de modo a disseminar a ideia de que sua reprodução era mais benéfica do que maléfica, mesmo que esta não fosse a intenção real da maioria de seus integrantes ao realizar o desfile.

No entanto, mesmo tentando penetrar na estrutura das festividades carnavalescas, a República Marcial, amparada e justificada pela indústria cultural, não tiveram força para derrubar a tradição dos folguedos, que por sua vez demonstraram que suas celebrações possuem um conjunto próprio de regras que ultrapassam “os limites das datas e regras de controle do Estado” (LIMA, 2001, p. 73). Portanto, a significação do Carnaval em relação aos Anos de Chumbo a respeito de sua ideia de Revolução Republicana Democrática reflete a impossibilidade de domínio absoluto ou controle desmedido das manifestações populares sustentadas pelo folclore mítico da tradição.

Neste ínterim, o que se apresenta enquanto intransitivo? Diferente do que havia nos tempos de Agamenon Magalhães, quando este havia editado um folhetim para instruir a população sobre as mudanças e a forma como o Carnaval estaria sendo organizado pelas autoridades condescendentes (SANTOS, 2010), o Estado Marcial apenas baixava Portarias Municipais, estabelecia os pontos inflexíveis de ação das forças policiais e esperava a cooperação da população para a tranquilidade e o sucesso de mais um Carnaval. No entanto, este comportamento não era seguido pelos foliões e brincantes como uma doutrina, uma cartilha tal qual fizeram os jovens chineses após a Revolução Cultural de Mao Tsé Tung –

reinava o improviso, o escracho e o deboche como armas de resistência cultural, intransitivas, contrárias ao código de conduta pré-fabricado pelos homens de poder.

Essa intransitividade pode ser entendida de acordo com as palavras de Certeau (2008) a respeito de como aqueles considerados mais fracos pelo poder conseguem retirar das raras oportunidades momentos onde superam suas adversidades e utilizam práticas cotidianas como falar, ler, circular e outras como táticas contra uma dominação ideológica. No Carnaval de Chumbo, essa evidenciação pode ser vista a partir da lei empregada pelo folião, especialmente nas ruas: com dinheiro ou sem dinheiro, com sangue, suor ou cerveja, a brincadeira aconteceria. Ainda de acordo com o mesmo autor, seria reconhecer que “a linguagem produzida por uma categoria social dispõe do poder de estender suas conquistas às vastas regiões do seu meio ambiente” (CERTEAU, 2008, p. 95).

Uma passagem presente no Jornal do Commercio de 10 de fevereiro de 1969 ilustra bem o momento em que República, Militarismo e Carnaval se refletiam no folião e no povo pernambucano:

[...] A quarta-feira de cinzas invade agressivamente os lares e escritórios do Brasil: a pequena burguesia liberta abstratamente por três dias, volta ao seu mundo sufocante, de ódios recalcados e imposturas morais.

E no costumeiro ciclo da vida nacional, incapaz de se libertar do onirismo, os brasileiros, logo após a quarta-feira, já começam a sonhar com outro carnaval (MENEZES..., 1969, p. 8).

Essa libertação encontrada no Carnaval não estava restrita a nenhuma faixa etária. A classificação de momento da liberdade, no entanto, encontrava maiores referentes na população jovem do Recife, engajada em outros movimentos de vanguarda no meio universitário que empreendiam uma circulação de ideias da negação do poder repressor da Ditadura de forma veemente. À medida que vão se tornando adultos, os jovens eram tomados por concepções que ultrapassavam sua simples permanência enquanto seres do mundo – ansiavam, antes, por se aproximar da Loucura (especialmente a Loucura Carnavalesca) adentrando no universo da sabedoria, possibilitando-os de experimentar o doce sabor da vivacidade sem simplicidade ou complacência característicos da inocência de uma criança.

Figura 2 - Representações da Liberdade e Licenciosidade da folia nos Anos de Chumbo. Fonte: Diario de Pernambuco, Primeiro Caderno, p.12, 8 de fevereiro de 1975.

Ao som de Chuva, Suor e Cerveja19 ou quaisquer outros sucessos da época, a juventude demonstrava que apenas a diversão estava sendo representante legal do folião, seria a garantia de algo de fato inerente aos preceitos republicanos como o ato de extravasar a alegria sem moderações, de expor a beleza dos corpos, de beber em demasia, sair frevando pelas ruas e reunir-se com os amigos de estudo ou infância, vizinhos, familiares, entre tantas outras pessoas que viam no Carnaval do Recife a oportunidade brincar com dinheiro ou sem dinheiro, apenas entendendo que o sentido daqueles dias era o de aproveitar ao máximo, se entregar de corpo e alma ao calor da festa e não se preocupar com o retorno à realidade dura e excludente implantada pelo AI-5.

Seria entender que, na concepção republicana marcial e carnavalesca, o jovem era mais propenso a ser baluarte deste processo de escapamento, de motivação para que os espíritos mais velhos seguissem esta interpretação da realidade e a liberdade fosse tão presente na vida e no coração dos recifenses como uma marchinha de Carnaval ou um amor nascido da folia e não facilmente esquecido. Essa constante epidemia, contudo, não deveria limitar-se aos Dias de Momo, estendendo-se para os demais dias do ano: eis o desafio desta juventude.

Ademais, o discurso empregado pela Ditadura no Estado de Exceção era o da coerção aos excessos. Este poder do saber, estratégia de conquistar para si um lugar próprio (CERTEAU, 2008), era uma prerrogativa que não seria esquecida pelos militares por mais que a folia tivesse que ser preservada em seus elementos culturais. Da mesma forma, havia o discurso dos que estavam diretamente envolvidos na constituição do brinquedo, que também procuravam seus poderes de saberes, estabelecendo um jogo de estratégias capazes de articular a produção de características culturais que colocassem os foliões em um grau de

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“Chuva, Suor e Cerveja” é um dos sucessos cantados e compostos por Caetano Veloso, presente no disco “O Carnaval de Caetano”, do selo Philips. Foi composta ainda em 1971 durante seu exílio em Londres, mas apenas se tornou sucesso em 1972.

astúcia ante as limitações que lhes fossem impostas pelo poder autoritário. Estava composta, nesse sentido, uma latente intransitividade.

Deste embate, uma importante reflexão aparece no contexto: até que ponto o riso carnavalesco pode ser considerado subversivo? Existe alguma definição estrita de ordem e desordem para os eventos ocorridos no Carnaval? De que maneira esses discursos ganham força e como se fizeram presentes na esfera da festa? São perguntas a serem discutidas a seguir.

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