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PERNAMBUCO NA ROTA DOS ANOS DE CHUMBO: os governos de

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2 O CARNAVAL E A REPRESSÃO ATRAVÉS DOS DOMÍNIOS DE

3.2 PERNAMBUCO NA ROTA DOS ANOS DE CHUMBO: os governos de

Em um passado não tão distante para a História, onde o mesmo nos revela momentos em que o povo estava nas ruas em busca de identidade política e cultural,

uma cidade aumentou seu status aos olhos das cidades vizinhas quando conseguiu fazer com que o governante participasse das festividades locais. Com sua presença, o duque revelou seu poder e autoridade. Participou das refeições e das danças, ouviu com atenção os recitadores e atores da cidade, mostrou sua generosidade para todos eles e para os inúmeros menestréis e bufões (NIJSTEN apud EHRENREICH, 2010, p. 138).

A visão acima acerca da política envolvendo as festas populares, apesar de pertencer ao século XIV na Holanda, apresenta que não existe uma distância tão grande entre os governantes e seu público, estando a autoridade se fazendo presente na farsa como símbolo de austeridade e benefício para a realização da mesma, especialmente nas ruas, há bastante tempo. Nesse sentido, é pertinente pensar sua participação enquanto uma das peças fundamentais que aproxima política e cultura no decorrer da evolução das festas populares a exemplo do Carnaval como primordial para entender a forma como estes caminhos se cruzam e mantém estreitas relações na duração histórica.

Transferindo os olhares para o Recife e Pernambuco durante o período 1968-1975, guardando-se as particularidades próprias dos contextos históricos e comparando a totalidade, é possível destacar que a representação dos poderes militares nas esferas estaduais e municipais caracterizou-se de maneira decisiva após o AI-5. Estabelecendo as regras e o discurso pautado em nome da Segurança Nacional, os políticos indicados pelos poderes militares advindos de Brasília deveriam ter obrigações para com o Governo Federal e necessitavam estar envolvidos com os preceitos defendidos pelas Forças Armadas para a construção de um país mais sólido, democrático e desenvolvido. Em certa medida, deveriam

pensar seus territórios como ambientes embrionários para uma política de integração ao projeto nacional.

Este pensamento estaria claro ainda nas determinações expressas pela Carta Constitucional de 1967, que previa a autonomia das Assembleias Legislativas dos estados para elegerem, de acordo com os preceitos nacionais, seus representantes para o regimento das diferentes federações. O artigo 13, parágrafo 2, que previa a escolha dos mandantes estaduais, no entanto, não seria respeitado e a eleição destes se daria de forma indireta graças à Emenda Constitucional n° 1 de 1969; todavia, conservava-se o disposto no artigo 16, parágrafo 1, incisos a) e b) a respeito dos prefeitos como extensões do poder estadual, estando engajados no projeto de construção da identidade nacional (BRASIL, 1967). Tal postura, segundo Bobbio (1987), contrariava o princípio e a razão de ser do Estado na figura de seu governo, onde o mérito de um governo deve ser procurado antes na quantidade de direitos que goza o singular do que na medida dos poderes dos governantes.

Posto isso, em busca da licitude das formas de governo nos Anos de Chumbo, Pernambuco e Recife se colocavam entre os centros políticos do país com maior identificação para com o Governo Federal. A escolha de seus representantes no período compreendido entre 1968 e 1975 não se deu como mero acaso – a representação política da ARENA I (ala mais conservadora do Regime) se apresentava como uma forte corrente política que contava com nomes de tradição para defender os interesses do Estado Marcial em um dos maiores colégios parlamentares do Nordeste.

Envolver este ambiente de costura política mediante as novas determinações resolvidas pelo AI-5 possibilita a compreensão de que, nas estruturas políticas brasileiras do período abordado, a logística da Escola Superior de Guerra em formar especialistas em Brasil servia como forte esteio para a divulgação de conhecimentos adquiridos sobre a necessidade de legalizar um conjunto ideológico, pensado mediante práticas de poder indissolúveis à medida que as necessidades civis e econômicas pedissem uma maior atenção e atuação do Estado Militar na sociedade (VALLE, 1970). Tal movimentação visava à substituição de um poder civil obsoleto, propenso a subversão (leia-se como sinônimo de contradição aos preceitos da Segurança Nacional defendidos no período) por outro de caráter consensual, capaz de defender as formas de poder que se construíam mediante o encadeamento de ideias que pretendiam a legitimação em um raio maior das determinações da ESG, assim alcançando a estabilidade e tranquilidade sociais. Este papel de governadores e prefeitos seria, pois, de essencial vitalidade ao sistema ditatorial.

Nesse sentido, o quadro a seguir demonstra como os membros da Arena em Pernambuco e Recife colocaram-se como pilares do pensamento político ditatorial, alicerçando a consonância da ordem com a segurança e buscando, em certa medida, a paralização de críticas que lhes poderia ser oferecida caso a manutenção da ordem como denominador comum à segurança não fosse estabelecido.

Quadro 1 – Políticos e suas Legendas baseadas nas Relações de Poder e Duração dos Mandatos

Fonte: O Autor, 2011. NOME TEMPO DE GESTÃO LEGENDA POLÍTICA CARGO OCUPADO MEIO DE OBTENÇÃO DO PODER AUGUSTO DA SILVA LUCENA 01/04/1964 A 15/03/1969 (GESTÃO INDIRETA) ARENA I PREFEITO DA CIDADE DO RECIFE (INTERINO) EM 1964, OCUPOU O CARGO EM VIRTUDE DO GOLPE

MILITAR QUE DEPÔS O ENTÃO GOVERNADOR MIGUEL ARRAES E O PREFEITO PELÓPIDAS SILVEIRA. GERALDO MAGALHÃES MELO 15/03/1969 A 15/03/1971 ARENA I PREFEITO DA CIDADE DO RECIFE ELEITO INDIRETAMENTE PELA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA POR INDICAÇÃO DO ENTÃO GOVERNADOR NILO COELHO (PREFEITO BIÔNICO) AUGUSTO DA SILVA LUCENA 15/03/1971 A 15/03/1975 (GESTÃO INDICADA) ARENA I PREFEITO DA CIDADE DO RECIFE EM 1971, FOI ELEITO INDIRETAMENTE PELA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA POR INDICAÇÃO DO GOVERNADOR ERALDO GUEIROS LEITE. (PREFEITO

BIÔNICO) NILO DE SOUZA COELHO 31/01/1967 A 15/03/1971 ARENA I GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO ELEITO INDIRETAMENTE PELA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA E INDICADO PELO PRESIDENTE CASTELO BRANCO (GOVERNADOR BIÔNICO) ERALDO GUEIROS LEITE 15/03/1971 A 15/03/1975 ARENA I GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO ELEITO INDIRETAMENTE PELA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA E INDICADO PELO PRESIDENTE MÉDICI (GOVERNADOR BIÔNICO)

Como se depreende no quadro anterior é possível perceber a capacidade eletiva por indicação característica após a adoção da Emenda Constitucional n° 1 de 1969, garantindo às magistraturas estaduais a força na formação dos quadros locais e municipais de acordo com os ideais do Estado Marcial. É perceptível, ainda segundo o mesmo referencial, que em nenhum momento durante os Anos de Chumbo, membros do MDB ou até mesmo membros da Arena- II (ala pouco mais moderada do regime) estiveram à frente dos principais cargos diretivos. Este comando dado à política revela uma compreensão de que a estrutura partidária não representava uma abertura, estabelecendo as escolhas pelo grau psicológico e comportamental dos candidatos ao cargo de acordo com sua inclinação para com o Estado Ditatorial.

Stepan (1973), em seu mais detalhado estudo sobre a Ditadura Militar, revela que nenhum governo de caráter civil poderia, na ótica castrense, possuir excelentes profissionais que pudessem assumir uma postura de Salvação Nacional pelas vias da Segurança, assim como governos voltados ao desenvolvimento real do Estado Brasileiro. Nesta lógica, seria prático admitir que a presença dos supracitados governadores e prefeitos regendo Pernambuco e Recife, respectivamente, não pudesse ou tivessem habilidades para a legislatura. No entanto, a inclinação ideológica (como já citado) era um fator que transpassava o fato dos legisladores não apresentarem obrigatoriamente patentes militares, o que revela um caráter de militarização da sociedade pelas vias psicológicas, um dos preceitos do Regime antes mesmo do Golpe de 1964.

Assim, a adesão dos governos e prefeituras em grande parte do território brasileiro ao AI-5 ganhou, em Pernambuco, capítulo especial na figura do Governador Nilo de Souza Coelho. Nos quadros da ARENA-PE, o político que carregava um histórico de ter sido um dos deputados mais atuantes na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco quando ainda figurava nos quadros do PSD, foi escolhido como candidato ao Governo em 1966, na convenção do partido devido à indicação do então dirigente naquele período, o Monsenhor Arruda Câmara. Recomendação acatada pelo então Governador Paulo Pessoa Guerra, surpreendendo seus aliados e a imprensa pernambucana que apontava o Cel. Murici como favorito para estar à frente do processo sucessório durante o ano de 1967, Nilo Coelho procurou seu espaço gradativamente (CAVALCANTI, 1980).

Logo, a inclinação política de Nilo Coelho se revelaria como o início de um projeto do Estado Marcial em Pernambuco que ganharia continuidade. O primeiro grande desafio do novo governador veio quando, ao ser questionado pelo Diario de Pernambuco no dia 14 de dezembro de 1968 sobre a atitude das Forças Armadas em adotar o Ato Institucional nº 5, o então novo mandatário do Estado disse:

Fiel ao espírito da Revolução de 31 de março, o presidente da República acaba de editar o Ato Institucional n°5. O Governo do Estado, solidário com a reafirmação dos princípios revolucionários, assegura ao povo pernambucano que o clima de paz e de tranquilidade indispensável ao desenvolvimento nacional será preservado e garantido.

E Pernambuco, com essas declarações, colocava-se ao lado do Governo Federal sendo representado por Nilo Coelho até 1970, ano em que deixaria a cadeira de Governador para seu sucessor, o também Arenista Eraldo Gueiros Leite. Todavia, ambos mostraram-se governantes voltados à fidelidade de seus princípios: muitos representantes dos setores de Direita já vinham pressionando as Forças Armadas para que o regime promovesse um endurecimento maior do Golpe e o Governador de Pernambuco era um dos entusiastas do acontecimento. Governar o estado com o respaldo garantido pelo AI-5 representava maior amplitude de seu plano de ação e um ascendente controle sobre as práticas adotadas mediante ação das polícias Militar e Civil diante do corpo social.

Esta direção pode ser observada em Eraldo Gueiros Leite ainda com maior veemência. Foi um administrador que carregou consigo uma grande responsabilidade: integrar o desenvolvimento de Pernambuco ao desenvolvimento proposto ao país pelo Governo Médici - se aquele era um país que ia pra frente - Pernambuco precisava caminhar no mesmo sentido. Para isso, Eraldo Gueiros abrira mão de seu mandato como Ministro e teria ocupado a pasta do Governo em sucessão a Nilo Coelho, que se candidatara à Câmara Federal.

Fiel aos preceitos da Lei de Segurança Nacional, Eraldo Gueiros buscou a manutenção da ordem, da paz e da tranquilidade do povo pernambucano de acordo com as ações consideradas eficazes pelo Governo Militar. O também Arenista não hesitou em realizar atos que pudessem ser dignos de registro para tornar seu governo marcante, o que foi reunido por meio de duas obras bibliográficas publicadas pela editora do Governo (atual CEPE) nos anos de 1971 e 1972: Para Servir a Pernambuco e Assim Servi a Pernambuco.

Admirador e seguidor do Presidente Emílio Garrastazu Médici, Eraldo Gueiros desenvolveu muitas ações no Estado de Pernambuco situando a presença do Presidente como de suma importância para destacar a imagem do Estado como promotor do impulso desenvolvimentista frente ao cenário nacional. As visitas do Presidente ao Nordeste tornaram- se cada vez mais frequentes neste período e os recursos, ao que parecia, de acordo com o observado nos periódicos e nos relatórios que constam na obra Para Servir a Pernambuco (LEITE, 1974) para o desenvolvimento da região e, principalmente, do Estado, eram volumosos. Realizaram-se também, a partir de 1970, algumas das formaturas dos Aprendizes da Escola Superior de Guerra, onde o Governador recebia honrarias e procurava discursar

sempre exaltando seus feitos em prol do desenvolvimento do estado integrado à política faraônica do Presidente Médici. Como mesmo disse Eraldo Gueiros, em um dos discursos dos formandos da ESG: “Por isso não me inquietarei por não ser um governador de placas de bronze. Mas para ser um governante apoiado na programação racional, renovadora dos destinos de Pernambuco, quando tão significativas são as mudanças brasileiras” (LEITE, 1974, p. 34).

Em nome da Segurança Nacional, Eraldo Gueiros traçou planejamentos para o reforço das condições dos poderes policiais do estado, criando políticas de incentivo ao exercício da profissão e qualificando o treinamento dos oficiais para que estes pudessem estar integrados à Lei Federal nº 667 de 1969, a qual ressaltava a responsabilidade das polícias, sobretudo a Militar em receberem todo seu doutrinamento de acordo com àquele dado aos soldados nos quartéis (BRASIL, 1969a). Eraldo Gueiros tinha a Segurança como princípio primeiro diante das questões sociais e logo tratou de desenvolvê-las como um dos principais planos-pilotos de seu governo voltado à integração à Doutrina de Segurança Nacional. Exemplo no estado que ilustra tal premissa foi a reorganização da Colônia Reeducacional de Dois Unidos, que na perspectiva aqui pretendida, visa analisar de que forma esta abrigava os detentos capturados no Carnaval, uma vez que estes necessitavam apenas de claustro temporário, passando esta à jurisdição da Secretaria de Interior e Justiça, a qual promoveu uma severa reforma no local.

A política do Governador Eraldo Gueiros era realmente voltada, primeiramente, para a promoção da Segurança. Percebemos que os efetivos policiais ganharam a cada ano, durante os Anos de Chumbo, expressivo aumento do efetivo preventivo que saía às ruas, especialmente no Carnaval, para a realização do trabalho ostensivo. Isso pode ser explicado pelo conjunto de realizações através das quais o Governo do Estado, durante a gestão Eraldo Gueiros, promoveu uma profunda reestruturação nos quadros policiais, a saber:

a) instituição da Polícia de Carreira no Estado e redefinição da estrutura organizacional da Secretaria de Segurança Pública (SSP);

b) reestruturação da Casa Militar e do Centro de Operações da Polícia;

c) construção de Quartéis de Polícia nos bairros e compra de uma fazenda para o Regimento Dias Cardoso (Batalhão de Cavalaria);

d) aquisição de unidades móveis com equipamento de rádio integrado ao DETRAN para ações integradas em todo o estado;

f) instalação e organização do Serviço de Informações;

g) novas instalações para cinco Delegacias Distritais e uma Especializada, com o apoio das comunidades e da Prefeitura e;

h) reorganização da Corregedoria de Polícia do estado.

No caso de Nilo Coelho, esta preocupação com a segurança não se faz tão presente, apesar do mesmo estar ciente dos conceitos desenvolvidos durante o período em que legislou a frente do Estado de Pernambuco. Pelas suas características, tal governador colocava-se como defensor de uma política mais humanista e percebeu, inicialmente, que os setores de desenvolvimento básico do estado precisavam de um tratamento de choque. Nesta perspectiva, adotou medidas que iam do Litoral ao Sertão, sobretudo em sua cidade natal, Petrolina. Seu planejamento foi executado, desde as primeiras ações, de maneira a integrar Pernambuco na rota do desenvolvimento faraônico que preconizava a chegada dos anos 70, buscando novas formas de atrelar o Estado na era do incremento pleno para o futuro (RIVAS, 2001). Neste ponto, os planos de ação de Eraldo Gueiros e Nilo Coelho coincidiam.

Provavelmente por representar um período de ajuste, com a chegada do Ato Institucional n° 5 e a reforma empreendida pela Emenda Constitucional n° 1 de 1969, o primeiro mandatário ainda buscava a assistência a problemas mais emergenciais, o que não significa dizer que não houvesse um período marcado por certas agitações contraditórias ao regime que precisassem de um planejamento mais eficiente e eficaz por parte da Segurança Pública. Entretanto, a postura assumida no início dos Anos de Chumbo em Pernambuco se mostra como um amoldamento aos preceitos nascentes e que iam, aos poucos, se consolidando naquele período de sete anos.

O que se vê, na realidade, entre as fronteiras nas quais se cruzam os dois governadores, é uma visão de que “sociedade e Estado atuam como dois momentos necessários, separados mais contíguos, distintos, mas interdependentes do sistema social em sua complexidade e em sua articulação interna” (BOBBIO, 1987, p. 52). Desse modo, através do Governo do Estado, Pernambuco buscava uma percepção inversa ao que fora proposto pelos direitos das Declarações americana e francesa – nesta via, o indivíduo é para o Governo e não o contrário. A presença do Governo é a garantia da solidez do sistema, que se desenvolve mediante a cooperação e o reconhecimento do regime por parte dos indivíduos que dele são partes, sendo necessário ou não o uso da força como instrumento de legitimação.

No compasso do Governo, a aproximação do Governador com os dirigentes militares da Aeronáutica, do IV Exército e representantes do alto escalão da Marinha, em especial nas festividades carnavalescas demonstrava a necessidade da presença integrada dos poderes durante os Anos de Chumbo presentes nos eventos clubísticos como forma de apresentar uma possível leitura de que os mesmos se importavam com os acontecimentos voltados à sociedade, especialmente o Carnaval, que representava um momento especial nas festas culturais em Pernambuco (e notadamente no Recife) pela forma marcante com a qual se apresentou durante décadas junto à sociedade. Se havia falta de incentivos financeiros e uma maior aproximação administrativa em relação à festa, os Governadores buscaram redimir tais ausências, algumas vezes, apresentando-se como foliões, operando uma imagem construída em torno da quebra mística de que o representante estatal seria um homem intocável e não poderia estar onde seus governados estariam.

Em relação aos prefeitos, podemos considera-los como projeções dos governadores que ocupavam os cargos durante o recorte abordado. Excluindo a obrigatoriedade de serem chefes militares ou ligados às Forças Armadas, os prefeitos atuavam sobre um espaço geográfico mais direcionado e buscavam desenvolver ações em parceria com os governadores de modo a contemplar todos os pontos do planejamento federal: segurança, desenvolvimento e visão de futuro. Passando por momentos mais delicados, o cargo de Prefeito do Recife foi ocupado interinamente (como se apresenta no quadro 1) e posteriormente seguiu a direção das legislação então em vigor.

Por estarem mais próximos da população, especialmente nas capitais, tomadas como áreas de segurança nacional (SAMPAIO, 2009), os governos de prefeitos voltados à Ditadura representavam a formação de poderes amparados por rígida legislação, que se impunha a períodos considerados pelo Estado Marcial como de crise institucional, deslegitimando e relegitimando processos de constituição das forças na sociedade. Em outras palavras, seria observar a condução da sociedade mediante soluções adotadas pelos mandatários em consonância com as decisões do Governo Federal. Dessa forma, o conhecimento da sociedade civil de perto e ações que tornassem seu poder claro para tal segmento formaria áreas de consenso para a sobrevivência do sistema político (BOBBIO, 1987).

Visto isso, tanto Augusto Lucena como Geraldo Magalhães eram mais do que homens de confiança dos Governadores e das Assembleias Legislativas – representavam olhares para a Capital de Pernambuco que preparariam, dariam um passo decisivo na localidade de acordo com o projeto desenvolvimentista da Ditadura. De acordo com Sampaio (2009, p. 11), Geraldo Magalhães “começava a ver a capital de Pernambuco com olhos de amanhã”,

tamanho as obras que pensou para a cidade, mostrando-se um conhecedor do perímetro que lograva governar; enquanto Augusto Lucena também não ficava atrás, sendo um grande construtor e enquanto homem de interesse público procurou manter os conceitos de civilidade, honestidade e trabalho acima de qualquer outra forma de ação, tanto que em seu período de Governo, os avanços urbanísticos foram marcantes na cidade, sobretudo colaborando de alguma forma com a promoção do Carnaval, especialmente após sua segunda gestão.

O quadro a seguir nos permite perceber uma dimensão do desenvolvimento urbanístico promovido pelos dois prefeitos de modo a compreendê-los neste ambiente desenvolvimentista:

Quadro 2 – Prefeitos e suas Obras Faraônicas no Recife durante os Anos de Chumbo

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É importante frisar que as ações modernizadoras de Augusto Lucena despertaram fortes insatisfações em grande parte da população recifense durante sua segunda passagem pela Prefeitura do Recife. Estas ações não contemplavam os interesses reais da população, muito menos houve uma preocupação real com a preservação do patrimônio histórico material do espaço citadino.

NOME FORMAÇÃO ÓRGÃOS

FORTES OBRAS REALIZADAS

AUGUSTO DA SILVA LUCENA33 Advogado (Direito) Empresa Metropolitana de Turismo (Empetur)

1964-1968 (1º mandato): construiu: o edifício-sede da Prefeitura; o Colégio Municipal para ensino do 1º e 2º graus; mais de 4000 casas populares; muitas avenidas, entre elas: a Caxangá, a Antonio de Góis, o cais José Estelita, a Nossa Senhora do Carmo, participação na elaboração do projeto para abertura da Av. Agamenon Magalhães e construção da Domingos Ferreira, da Abdias de Carvalho e do Cais do Apolo; as pontes de

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