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4. CUIDAR EM ENFERMAGEM

4.3. Competências legisladas

4.3.1. Carreira de enfermagem

O Decreto-Lei n.º 437/91, de 8 de Novembro361, estabelece a Carreira de Enfermagem para a prestação de cuidados de saúde. No capítulo I, artigo 6°, este documento estabelece três áreas de actuação de enfermagem: a primeira, área de actuação da prestação de cuidados; a segunda, área de actuação da gestão; e a terceira, área de actuação da assessoria técnica. A cada uma destas áreas faz corresponder determinadas categorias profissionais de enfermeiro. Assim, para a área de actuação da prestação de cuidados (e é esta que nos interessa em particular), faz corresponder as categorias de enfermeiro, de enfermeiro graduado e de enfermeiro especialista.

Em nota introdutória a este diploma pode ler-se: “a integração de ensino superior de enfermagem no sistema educativo nacional, a entrada em funcionamento do curso superior de enfermagem e a previsão do início dos cursos de estudos superiores especializados em enfermagem, com a atribuição dos correspondentes graus académicos ou equivalentes, devem conduzir a mudanças efectivas ao nível do exercício da enfermagem”362.

360 O PROCESSO DE BOLONHA corresponde ao propósito da construção do Espaço Europeu do Ensino Superior, coeso, competitivo e atractivo para docentes e alunos europeus e de países terceiros. Visa a construção de um Espaço Europeu do Ensino Superior que promova a mobilidade de docentes, de estudantes e a empregabilidade de diplomados. Em Junho de 1999 os Ministros da Educação de 29 Estados Europeus, entre os quais Portugal, subscreveram a Declaração de Bolonha I que contem, como objectivo claro, o estabelecimento, até 2010, do Espaço Europeu de Ensino Superior, coerente, compatível, competitivo e atractivo para estudantes europeus e de países terceiros. A nível de implementação do processo de Bolonha a nível nacional, no que respeita à enfermagem temos como coordenadora a Prof. Luísa Espiney da Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian de Lisboa.

361 Decreto-Lei n.º 437/91 de 8 de Novembro, Carreira de Enfermagem, Diário da República, I Série-A, n° 257, pp. 5724-5740.

362 Decreto-Lei n.º 437/91de 8 de Novembro, Carreira de Enfermagem, Diário da República, I Série-A, n° 257, p. 5723.

Estas mudanças estão, de algum modo, patentes no conteúdo funcional das categorias de enfermeiro, de enfermeiro graduado e de enfermeiro especialista (capítulo II, artigo 7°) e reflectem as características da actual formação e do exercício de enfermagem363.

363 “Ao enfermeiro de nível I compete:

a) Colher dados para identificação das necessidades em cuidados de enfermagem, com base num modelo teórico de enfermagem;

b) Elaborar o plano de cuidados de enfermagem em função dos problemas identificados e estabelecer prioridades, tendo em conta os recursos disponíveis;

c) Executar os cuidados de enfermagem planeados, favorecendo um clima de confiança que suscite a implicação do utente (indivíduo, família, grupo e comunidade) nos cuidados de enfermagem e integrando um processo educativo que promova o auto-cuidado;

d) Integrar no planeamento e execução dos cuidados de enfermagem ao indivíduo e à família, a preparação de alta ou internamento hospitalar;

e) Responsabilizar-se por prestar cuidados de enfermagem à família, como unidade de cuidados, no âmbito dos cuidados de saúde primários;

f) Participar nas acções que visem a articulação entre os cuidados de saúde primários e os cuidados de saúde diferenciados;

g) Avaliar os cuidados de enfermagem prestados, efectuando os respectivos registos e analisando os factores que contribuíram para os resultados obtidos;

h) Reavaliar as necessidades do utente em cuidados de enfermagem;

i) Realizar ou colaborar em estudos sobre problemas de enfermagem, visando a melhoria dos cuidados de enfermagem;

j) Utilizar os resultados de estudos e de trabalhos de investigação para a melhoria dos cuidados de enfermagem;

I) Colaborar na formação realizada na unidade de cuidados.

Ao enfermeiro graduado compete executar o conteúdo funcional descrito para a categoria de enfermeiro (nível I) e ainda as funções de orientação e coordenação de equipas de enfermagem na prestação de cuidados.

Ao enfermeiro especialista compete executar o conteúdo funcional inerente às categorias de enfermeiro (nível I) e de enfermeiro graduado e ainda o seguinte:

a) Prestar os cuidados de enfermagem que requerem um nível mais profundo de conhecimentos e habilidades, actuando especialmente, junto do utente (indivíduo, família ou grupo) em situações de crise ou risco, no âmbito da especialidade que possui;

b) Estabelecer prioridades de intervenção do enfermeiro no atendimento do doente em situação de urgência;

c) Definir e utilizar indicadores que lhe permitam, assim como à equipa de enfermagem, avaliar de forma sistemática, as mudanças verificadas na situação de saúde do utente (indivíduo, família, grupos e comunidade) e introduzir as medidas correctivas julgadas necessárias;

d) Responsabilizar-se pela área de enfermagem, nas equipas multiprofissionais, no que diz respeito ao diagnóstico de saúde da comunidade e à consecução das intervenções de enfermagem dele decorrentes,

e) Emitir pareceres sobre localização, instalações e equipamento, pessoal e organização de unidades prestadoras de cuidados, na área da sua especialidade;

f) Colaborar na determinação de custos / benefícios na área da prestação de cuidados;

g) Responsabilizar-se pela formação em serviço do pessoal de enfermagem e outro pessoal da unidade de cuidados, elaborando, em articulação com o enfermeiro-chefe, o respectivo plano anual de actividades;

h) Elaborar o relatório das actividades de formação em serviço;

i) Colaborar nos projectos de formação realizados no estabelecimento ou serviço;

O Decreto-Lei n.º 437/91, de 8 de Novembro, aprovou o regime da carreira de enfermagem, dotando-a de mecanismos adequados à natureza da profissão e às características do seu exercício. Porém, mais de cinco anos volvidos após a entrada em vigor daquele diploma, tornou-se urgente iniciar o processo de introducção de algumas alterações pontuais reveladas pela experiência da sua aplicação e, do mesmo modo, procedeu-se a uma revalorização salarial. Assim, passados cerca de sete anos, o Decreto-Lei n.º412/98 de 30 de Dezembro364 procedeu à reestruturação da carreira de enfermagem.

Assim, no artigo 4º que se refere a níveis e categorias da carreira de enfermagem, define que o nível 1 integra as categorias de enfermeiro e enfermeiro graduado, o nível 2 integra as categorias de enfermeiro especialista e enfermeiro chefe e o nível 3, integra a categoria de enfermeiro supervisor. O artigo 7º refere-se ao conteúdo funcional das categorias de enfermeiro, enfermeiro graduado e enfermeiro especialista, enquanto o artigo 8º faz referência ao conteúdo funcional das categorias de enfermeiro chefe e de enfermeiro supervisor e do cargo de enfermeiro director.

Estas competências reflectem as características do exercício da enfermagem e da preparação dos enfermeiros. Na realidade há todo um modo de ser e de fazer enfermagem que exige do enfermeiro sólida formação sociocultural, científica e técnica que o torne apto para identificar e analisar problemas, planear estratégias de trabalho, aprofundar questões e apresentar soluções. A formação em serviço é aqui apontada como uma forma de manter, actualizar, aprofundar e desenvolver conhecimentos adquiridos nos cursos básicos e pós-básicos de enfermagem. A lei positiva, pelo seu carácter de objectividade e universalidade, não contem em si toda a dimensão da acção dos enfermeiros junto dos doentes, pelo que entendemos que eles devem conhecer e praticar o conteúdo funcional contido na lei, mas não apenas esse, porque a lei natural e espiritual é muito mais abrangente, e compromete-os ainda mais profundamente.

j) Realizar ou colaborar em trabalhos de investigação em enfermagem, visando a melhoria dos cuidados de enfermagem”.

364 Decreto-Lei n.º 412/98 de 30 de Dezembro, Reestruturação da Carreira da Enfermagem instituída pelo Decreto-Lei437/91, de 8 de Novembro, Diário da República, I Série-A, n.º 300, pp. 7257-7264.