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A const rução original im plant ava- se nos lim it es do t erreno e, erguida em um sistem a construtivo baseado no trabalho escravo, tinha as paredes grossas do térreo em alvenaria, pedra e barro,

Figura 3 .1 1 : Fot o do ent orno do Casarão no início do século XX. Font e: Acervo de André Bello.

Com três pavim entos, era organizada verticalm ente e em torno da escada: a faixa da frente, para receber e negociar; a faixa dos fundos, para a fam ília. O térreo dividia- se em três áreas: um a para o trabalho, nos côm odos da frente; os côm odos posteriores à escada, para acom odação dos escravos e, por fim , o pátio onde abrigavam - se os anim ais e localizava- se a “ casinha” . Neste pátio havia um côm odo com um poço.

Ao prim eiro andar chegava- se através de um a escada em “ T” , onde um dos lances levava à área da frente com o salão social, que se abria para a praça. O lance posterior ligava- se aos quartos e alcovas dos fam iliares. O segundo andar, m enor e com a escada voltada para a área íntim a, era onde provavelm ente est avam os aposentos do Com endador, além de possuir um outro salão para a perm anência de m ulheres e crianças.

Um a parte interessante da casa era a cozinha. Ficava no prim eiro andar, m as num corpo contínuo à casa, sobre o côm odo do poço. Ligava- se à sala de j antar e, através de um a escada exterior, ao pátio. Esta disposição j á evidencia um sinal de m odernização na organização dos espaços, se pensarm os na São João del- Rei daquele tem po. Com os novos hábitos europeus instituídos com a vinda da fam ília real para o Brasil no início do séc. XI X, o program a da residência do Com endador procurou seguir e estar à altura dos novos costum es sociais.

Figura 3 .1 2 : Plant a do pavim ent o t érreo original. Font e: Levant am entos do autor.

Legenda: 1.Saguão. 2. Loj a e depósitos. 3. Alcovas. 4. Salão. 5. Pátio. 6. Quartos e saletas. 7. Área coberta. 8. Cozinha. 9. Sala de viver. 10. Oratório. 11. Salão ínt im o. 12. Côm odo de circulação.

Figura 3 .1 3 : Plant a do 1º pavim ento original. Font e: Levant am entos do autor.

Legenda: 1.Saguão. 2. Loj a e depósitos. 3. Alcovas. 4. Salão. 5. Pátio. 6. Quartos e saletas. 7. Área coberta. 8. Cozinha. 9. Sala de viver. 10. Oratório. 11. Salão ínt im o. 12. Côm odo de circulação.

Figura 3 .1 4 : Plant a do 2º pavim ento original. Font e: Levant am entos do autor.

Legenda: 1.Saguão. 2. Loj a e depósitos. 3. Alcovas. 4. Salão. 5. Pátio. 6. Quartos e saletas. 7. Área coberta. 8. Cozinha. 9. Sala de viver. 10. Oratório. 11. Salão ínt im o. 12. Côm odo de circulação.

De acordo com o invent ário feit o por Jacint a Gabriela F. Mourão, vê- se que alguns côm odos eram destinados à sala de m úsica, sala de j ogos etc. As alcovas, rem anescent es do m odelo colonial14,

ligadas à sala de j antar serviam para guardar faqueiros, porcelanas e outros obj etos de m esa. O m obiliário, sofisticado, tinha aparência e m at eriais nobres, fazendo parte da decoração quadros e retratos pintados por artistas estrangeiros contratados. Desse arrolam ento realizado pela viúva, podem os destacar a prata nos serviços de m esa, porcelanas “ ricas” , crist ais, m óveis com encosto e assento em palhinha, piano, “ cam as francesas” , espelhos com m oldura.

14 O fato de que o casarão t inha um a im plant ação que o descolava de construções vizinhas,

Figura 3 .1 5 : Ret rat o do Com endador João Mourão, por Edouard Vienot15.

Font e: Acervo do Museu Regional de São João del- Rei. Fot o do aut or.

No exterior, as fachadas tiveram t ratam ento bastante equilibrado na distribuição dos cheios e vazios. E, m ais do que anunciar as m udanças em curso, esta residência senhorial m aterializava um saber anterior consolidado, o das "boas tradições" - a pura volum etria, m aciça e rígida, t ípica do padrão colonial, no caso am enizada por elem entos decorativos. Algo cham a m uito a nossa atenção: as j anelas gem inadas em um a das faces laterais, de frente para o córrego, por serem , de certa form a, um a proposta arroj ada ( e, talvez, o prenúncio das j anelas em fita próprias do m odernism o) .

A influência Neoclássica é ident ificada nas folhas das port as abrindo à francesa, acabadas com vidro, e tam bém nos trabalhos de estuque em baixo relevo, com m otivos fitom orfos e pilares com capitel coríntio; grades de ferro com flores estilizadas nas sacadas – provavelm ent e indust rializadas e im port adas. I nteressante, neste ponto, verm os que todos estes detalhes classicizantes conferiam personalidade ao casarão. Est a edificação, dos det alhes ao porte, não era um a construção usual para o período, com tipologia sim plificada e variações em profusão na m alha urbana. Todos estes elem entos dem onstravam a preocupação do Com endador com a possibilidade de distinção. Através do inventário podem os identificar e com provar tam bém a extensão destas preocupações. Aos bens exem plificados acim a, som avam - se escravos, anim ais e aqueles que confirm am o patrim ônio do Com endador, os “ bens de raiz”16:

Um a m orada de casas de dois andares situada na Praça do Tam andaré de frente para a rua do Com ércio, toda envidraçada, com arm ações para negócios, toda assoalhada, aforrada e avaliada em vinte contos de réis; um a térrea que parte de um lado com o sobrado e com casas de Custódio Nogueira da Costa com arm ações para negócios; um a casa na Praça do Tam andaré assoalhada de forro de tábua e esteira com arm ação; um telheiro na m esm a praça; um a casa e chácara na rua Sant o Ant ônio ( em frent e para a rua Form osa) ; um a porção de m adeira velha. ( PESTANA, 1990, Anexo I )

Já m encionam os algum as das características do terreno onde se alça o im óvel, localizado bem no centro da cidade. Outro traço que m erece ser destacado é sua im portância na construção de um a paisagem urbana que pode ser caracterizada com o parte do pat rim ônio "colonial". Com sua ocupação do lot e t ipicam ent e colonial, subindo t rês pavim ent os e com um a lím pida volum et ria, não apenas se destaca na paisagem , m as j oga um papel essencial em sua estruturação.

16 Not e- se a concent ração de im óveis nas proxim idades da residência da fam ília, com certeza

O largo à sua frente m argeia o córrego, e gera um grande espaço aberto ( cf. figura 2.1) e o casarão atrai, inevitavelm ente, o olhar. Nesta região da cidade, encontram - se o prédio da prefeitura ( ant iga I nt endência) , a Escola Municipal João do Sant os, o ant igo prédio do Banco Cust ódio Magalhães. Nest e conj unt o de edifícios m onum entais, o casarão se destacava ( e ainda se destaca) por seus t rês pavim ent os - fat o incom um na cidade- , m as tam bém pelo seu "tradicionalism o", seguindo fielm ente o sistem a const rut ivo t radicional.

A reconst rução

As obras de recuperação do prédio se desenvolveram sob a orientação de vários dos arquitetos em pregados no SPHAN: Paulo Thedim Barreto, Lúcio Costa, Artur Arcuri e José de Souza Reis17.

I nicialm ent e, na execução da t arefa, o órgão local seguiu as recom endações de Lúcio Costa, pautada em sua proposta de desenvolvim ento natural da arquit etura no país. Estas recom endações estão explícit as nas "I nform ações" que rem eteu ao diretor da DPHAN, Rodrigo Melo Franco de Andrade:

[ ...] t rat ando- se de um a casa de m eados do século XI X, construída, com o as dem ais casas sãoj oanenses dessa época, em obediência à m odalidade do nosso estilo im perial que se m anteve alheia às influências neo- clássicas acadêm icas e fiel ao desenvolvim ento da tradição colonial, [ ...] preservar as peculiaridades de planta que correspondem efetivam ente aos usos e costum es da época, a fim dele perm itir quanto possível, a reconstituição dos am bientes fam iliares ( sala de visitas, sala de j antar, cozinha, quartos, etc) o que não im pedirá a m elhora eventual de alguns de seus elem entos correspondentes a m esm a época ( COSTA, 1947) .

A recuperação progrediu lentam ente, estendendo- se de 1947 a 1954. O processo de restauração foi levado adiante em m eio a toda sorte de problem as. Um a dificuldade técnica, a im possibilidade de recuperação de m aterial retirado durante a

dem olição, t ornou inviável o obj et ivo inicial. Não havia com o m ant er a com posição original do int erior da residência senhorial.

Assim , não foi possível “ preservar as peculiaridades de planta” , nem foi possível a “ reconstituição dos am bientes fam iliares ( sala de visitas, sala de j ant ar, cozinha, quart os, etc) ” . Optou- se então por um a outra concepção de restauro: com o resultado, o casarão existente na praça Severiano Resende contrasta fortem ente com a const rução original.

Basicam ente foram preservadas as seguintes caract erísticas originais: a volum etria, sua tipologia e sua im plant ação; as fachadas, por sua vez, foram reconst it uídas. I st o quant o ao exterior, j á o interior, quase que totalm ente destruído pela ação crim inosa dos antigos propriet ários, foi sim plesm ente recriado. O abandono do proj et o inicial - rest aurar a repartição dos interiores - originou um novo e peculiar espaço int erno, que apesar de sua aparência tradicional, na verdade, segue de perto pontos fundam entais da sintaxe m oderna.

Figura 3 .1 6 : Plant a do pavim ent o t érreo pós- int ervenção. Font e: Levant am entos do autor.

Legenda: 1.Saguão de exposição. 2. Audit ório. 3. Sanitários. 4. Arquivo histórico. 5. Reserva t écnica. 6. Pátio de exposição. 7. Sala adm inistrativa. 8. Cozinha. 9. Pát io de serviço. 10. Depósit o.

Figura 3 .1 7 : Plant a do 1º pavim ento pós- int ervenção. Font e: Levant am entos do autor.

Legenda: 1.Saguão de exposição. 2. Audit ório. 3. Sanitários. 4. Arquivo histórico. 5. Reserva t écnica. 6. Pátio de exposição. 7. Sala adm inistrativa. 8. Cozinha. 9. Pát io de serviço. 10. Depósit o.

Figura 3 .1 8 : Plant a do 2º pavim ento pós- int ervenção. Font e: Levant am entos do autor.

Legenda: 1.Saguão de exposição. 2. Audit ório. 3. Sanitários. 4. Arquivo histórico. 5. Reserva t écnica. 6. Pátio de exposição. 7. Sala adm inistrativa. 8. Cozinha. 9. Pát io de serviço. 10. Depósit o.

Na reconstituição das fachadas externas, detalhes artísticos foram deixados de lado. Com o diz PESTANA:

Toda a atenção se voltou para as fachadas, m as sem a preocupação de aperfeiçoam ento dos detalhes, m antendo- se os elem entos do estilo colonial em detrim ento de tantos out ros que a part icularizavam . ( ...) não foram reconstituídos os frisos e cartelas decorados em estuque, inclusive o da fachada principal com a data de construção da casa e diversos outros elem entos nas portas e j anelas18 ( PESTANA, 1990, p.21) .

Assim , no restauro das fachadas, abandonou- se m aiores preocupações com seus detalhes: m ais im portante era a m anutenção das caract erísticas daquela tipologia de construção e não a dos elem entos decorativos que a particularizavam . O que foi m aterializado no processo de restauração seguiu o partido de abandonar os aspectos que singularizavam aquela casa em favor daquelas que seriam , segundo Lúcio Costa, as características fundam ent ais da arquit et ura t radicional brasileira.

Porém , se alguns dos detalhes da fachada foram suprim idos, em cont rast e, os fundos da const rução receberam especial cuidado em seu restauro. O que era originalm ente a parte traseira de serviços do im óvel recebeu um acabam ento tão prim oroso quanto sua parte frontal. Podem os entender esta sutil m udança com o um a resposta à nova situação urbana em que se encontrava o im óvel, na m edida em que a avenida m arginal ao córrego do Lenheiro ganhou im portância e centralidade. Quando o casarão foi construído, a cidade, por assim dizer, dava as costas ao rio, este cum pria o papel de quintal urbano.

Figura 3 .1 9 : Fot o do casarão ant es da dem olição. Font e: Arquivo do Museu Regional de São João del- Rei.

Figura 3 .2 0 : Fot o do casarão em 1999. Font e: Levant am entos do autor.

A reform a do casarão deveria trazer à luz, prom over "a m elhora eventual", “ alguns de seus elem entos correspondentes a m esm a época". O critério de restauração aplicado, quando descarta as peculiaridades e reforça o que há de exem plo com um no casarão, seria result ado de um a vontade idealizada, em que o obj eto em si não im porta, com suas particularidades, m as sim o que nele há de universal. O princípio que norteou a restauração não foi o de reconstituir o casarão t al qual existia na época do com endador ( ou em algum a etapa posterior) , m as sim recriar o casarão com o um exem plar paradigm ático dos princípios da “ arquitetura autêntica do período im perial” .

I sto no tocante ao exterior. O interior segue outros princípios, aparentem ente díspares. A edificação restaurada apresenta um m arcado contraste entre form a exterior e interior. Enquanto o exterior é relat ivam ente fiel à form a original, o espaço interior se destaca por sua concepção m oderna. As dificuldades de reconstituição, que levaram à sim plificação da obra, acabaram criando um a oportunidade que Lucio Costa soube aproveitar. Criou am plos espaços no seu int erior da edificação t radicional, livres de

I sto talvez não fique evidente à prim eira vista, devido aos elem entos construtivos tradicionais que com põe os salões: a vista tende a se fixar em detalhes com o o assoalho de tábua corrida, nas port as originais ou no t et o em forro saia- cam isa e perde de vist a o conj unt o, a inusit ada articulação destes elem entos const rut ivos t radicionais.

Figura 3 .2 1 : I nt erior do casarão. Font e: Levant am entos do autor.

Porém , esta articulação espacial, próxim a à sintaxe m oderna, vem à tona quando com param os as plantas do prédio original com as resultantes do restauro. Ao contrário das plantas originais, cortadas e recortadas por subdivisões, as últim as apresentam am plos espaços, quase sem interrupções.

Figura 3 .2 2 : Plantas do pavim ento t érreo pós- int ervenção ( esq.) e original ( dir.) . Font e: Levant am entos do autor.

Figura 3 .2 3 : Plant as do 1º pavim ento pós- int ervenção ( esq.) e original ( dir.) . Font e: Levant am entos do autor.

Figura 3 .2 4 : Plant as do 2º pavim ento pós- int ervenção ( esq.) e original ( dir.) . Font e: Levant am entos do autor.

A nova espacialidade t razida pelo restauro fez com que o m useu adotasse um a outra concepção de espaço expositivo, m ais perto da “ neutralidade” m oderna do que da “ cenográfica” . Volt arem os a esta questão, m as antes seria interessante tentar entender as m otivações por trás das decisões que nortearam o restauro. Duas são intrigantes: a concepção por detrás da recriação da form a exterior do casarão e o sentido da ( aparente) discrepância entre a diretriz de restauro seguida no exterior e no interior.

A resposta talvez estej a nas razões de sua im portância enquanto bem patrim onial. O casarão interessava por ser “ um a casa de m eados do século XI X, construída ( ...) em obediência à m odalidade do nosso estilo im perial que se m anteve alheia às influências neo- clássicas acadêm icas e fiel ao desenvolvim ento da tradição colonial” .

evolução arquitetônica: ele fora construído na etapa exatam ente anterior à nefasta “ contam inação” eclét ica do final do século XI X.

A int enção inicial de Lúcio Cost a, com o m ost ra sua cart a a Rodrigo, era reconstituir de m odo relativam ente fiel a edificação. Quando esta se m ostrou im possível, Costa não teve dúvidas em m udar o sentido do restauro, direcionando- o de m odo que seu resultado servisse com o algo além de um a reconstituição exem plar.

A sim plificação na reconst it uição da fachada ( a decisão de deixar de lado os frisos e cart elas decorados em estuque, e outros elem entos originais nas portas e j anelas) deve ser considerada com o um “ aj uste” , a “ m elhora eventual” a que se referia na carta. Ou sej a, um a form a de fazer com que o edifício restaurado com unicasse m elhor e de m aneira m ais diret a, “ sem ruídos” , a essência da boa arquitet ura brasileira do período.

Na m edida em que o restauro passou a visar um a construção exem plar ou sim bólica de um período, deixou de interessar ( m esm o onde isto ainda seria possível) a rest auração de detalhes que indicassem qualidades específicas daquela edificação. Costa recuperou um a construção exem plar ou sim bólica de um período, não o casarão do com endador.

Com o vim os, foi cont ra a opinião daqueles que se arvoravam em defensores do "progresso da cidade", que o casarão foi reconstruído. A luta por m antê- lo poderia, sem problem as m aiores, cont rariar seus habit antes, um a vez que a cidade, no entendim ento do SPHAN, fazia parte de algo m aior que ela m esm a. Na visão da inst ituição, o acervo arquitetônico histórico de São João del- Rei ultrapassava a própria cidade, na m edida em que era um a peça fundam ental no conj unto de sím bolos da nação. Paradoxalm ente, para se criar um a cult ura nacional havia que desconsiderar os vínculos entre cada um dos elem entos que com punham est a cult ura e as condições locais que os originaram . Havia que, paradoxalm ente, desregionalizar cada um destes

elem entos, destacá- los de suas raízes, de suas peculiaridades e idiossincrasias. Havia que abstraí- los, para assim poder precisar o que seria sua verdadeira “ essência” nacional.

O personagem Macunaím a, im agem literária que procura definir o ser brasileiro ( “ herói sem nenhum caráter” ) é um bom exem plo desta operação: a criação de Mário não t em problem a nenhum em ser índio, negro e branco; ou de se sentir em casa sej a em São Paulo, sej a nas selvas, um a vez que estes elem entos, em bora díspares, fazem igualm ente parte do grande conj unt o que const it ui o Brasil.

A construção de um a nação, de um a “ cult ura nacional” , em bora aluda sem cessar às peculiaridades da identidade nacional, tem que prom over um processo de hom ogeneização cultural no interior da nação ( GELLNER, 1993) . Ao SPHAN passou interessar um a “ edificação genérica” , um exem plar paradigm át ico de um im portante m om ento da evolução de nossa arquit etura.

A conservação daquela residência, onde viveu certo com endador, que levava um determ inado estilo de vida ou ainda a um a m em ória local, o papel que t al edificação poderia t er naquele m om ento na vida urbana, tudo isto passou a secundário. A ótica pela qual enxergavam a im portância do casarão passava ao largo destas questões, para se concentrar em sua lógica enquanto obj eto arquitetônico, em seu papel de obj et o rem anescente da form ação da arquitetura no Brasil.

Neste sentido é interessante pensar com o est e t ipo de rest auro se encaixa neste processo de m odernização e hom ogeneização. A intervenção na fachada do casarão “ corrigiu” suas im perfeições, ou sej a, aparou, entre suas peculiaridades, aquelas que o afastavam da regra.

pura form a, desprezando para tanto um a série de outras inform ações.

Com o foi m ostrado quando discutim os o caso da produção de Tarsila nas cidades históricas m ineiras, cada desenho dá form a a um olhar selet ivo, que enquanto representava certas qualidades velava outras. E o m esm o poderia ser dito a respeito dos desenhos ( tam bém lineares e de extração purista) presentes nos textos de Cost a. De m aneira sem elhant e, a reform a recalcou alguns aspectos da edificação em favor de outros.

Breve ret orno: Lúcio Cost a e o olhar purist a

O casarão restaurado reflete um tipo bem determ inado de olhar sobre nosso passado. Um olhar que, aludindo a Certeau ( 1994) , poderia ser caracterizado com o um a visão “ do alto” . No obj eto restaurado estão as m arcas do ponto de vista a partir do qual Lúcio Costa e com panhia enxergavam São João del- Rei. Nela, viam um a cidade depositária de elem entos da arquitetura tradicional brasileira; dentro deste olhar abrangente, m as distante, a cidade