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São João Del-Rei: tensões e conflitos na articulação entre o passado e o progres...

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

TENSÕES E CONFLITOS NA ARTICULAÇÃO ENTRE

O P A S S A D O E O P R O G R E S S O

RALF JOSÉ CASTANHEIRA FLÔRES

ORIENTADOR:

PROF. DR. FÁBIO LOPES DE SOUZA SANTOS

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, COMO PARTE DOS REQUISITOS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA E URBANISMO

SÃO CARLOS, SETEMBRO DE 2007

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA

FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento da Informação do Serviço de Biblioteca – EESC/USP

Flôres, Ralf José Castanheira

F634s São João del-Rei : tensões e conflitos na articulação entre o passado e o progresso / Ralf José Castanheira Flôres ; orientador Fábio Lopes de Souza Santos. –- São Carlos, 2007.

Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e Área de Concentração em Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo –- Escola de

Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo.

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AGRADECI MEN TOS

Ao Prof. Dr. Fábio Lopes de Souza Santos por orientar, com preender e ensinar.

À FAPESP – Fundação de Am paro à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Aos professores m em bros da banca exam inadora Prof. Dr. José Tavares Correia de Lira e Profa. Dra. Crist ina Meneguello.

Aos funcionários da EESC- USP, em especial do Departam ento de Arquitetura e Urbanism o.

A todos aqueles que contribuíram direta ou indiretam ent e para a realização deste trabalho.

À m inha fam ília.

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RESUMO

Trata da inserção da cidade de São João del- Rei, Minas Gerais, no processo de construção da I dentidade Nacional, através da ação do Serviço do Pat rim ônio Hist órico e Artístico Nacional ( SPHAN) . Nesta pesquisa são analisados os conflitos em torno de um casarão rem anescente do século XI X, que pertenceu ao Com endador João Antônio da Silva Mourão, disputado de um lado por um a em presa local, a Com panhia I nterestadual de Melhoram entos e Obras S.A. ( CI MOSA) e, por out ro, pelo SPHAN. Para t ant o, faz- se um retrocesso em busca das form as de representação da cidade. Prim eiram ent e, aquela const ruída e alim ent ada durant e a prim eira m etade do século XX, por agentes com capacidade para interferir no seu espaço urbano, de cunho progressista. Em segundo lugar, são investigadas as representações dos m odernistas brasileiros que se envolveram com a construção de um a I dentidade Nacional com base no passado, em um período que com preende a viagem de “ ( re) descoberta do Brasil” , realizada em 1924, até a criação do SPHAN, em 1937. A partir daí, tem - se a confrontação destas representações e interesses – progressistas e preservacionistas - que culm inou com a criação do Museu Regional de São João del-Rei, gerido pelo SPHAN.

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ABSTRACT

This research deals with the insertion of São João del- Rei´ s cit y, in Minas Gerais, in t he process of Nat ional I dentity’s const ruction through the action of the National Artistic and Historic Patrim ony ( SPHAN) . The conflict s involving a rem iniscent house from t he 19th century - owned by the Com m endator João Antônio da Silva Mourão, disputed in one side by a local com pany,( the I m provem ent State Com pany - Com panhia I nterestadual de Melhoram entos e Obras S.A. - CI MOSA) and in the other side by the SPHAN - are analyzed. This way, a retrocession in order to find t he cit y’s way of represent at ion is proposed: first, t hat one built and m aint ained during t he first half of t he XX cent ury by agents capable of interfering on its urban space, in a progressive perspective. Then, the representations of Brazilian m odernists who got involved in t he const ruct ion process of a Nat ional I dent ity based in the past - in a period that com prehends the j ourney of “ Brazil’s ( re) discovery” in 1924, until the foundation of SPHAN, in 1937 – are investigated. From that period on, there is a confrontation between these representations and interests – progressists and preservationists - which culm inat es wit h the creation of São João del- Rei’s Regional Museum , m anaged by SPHAN.

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I N TRODUÇÃO 1 3

CAPÍ TULO I . A CI DADE QUE N ÃO OLHOU PARA TRÁS 2 5 1 .1 . São João del- Rei, cidade m oderna 2 6

Álbum da cidade de São João d’El- Rei, 1913. 36 São João d’El- Rey, Minas, 1918. 39 Alm anack de São João del- Rey, 1924. 40 O olhar que const it ui a cidade. 43

1 .2 . São João del- Rey: o passado de t radições e o present e de com m ercio e at ividade

6 2

Sem pre cidade velha, m as nunca cidade m orta. 68 O SPHAN encont ra a Princesa do Oest e. 71

CAPÍ TULO I I . OLHARES SOBRE A CI DADE 7 7

2 .1 . Olhares sobre a cidade 7 9

O m odernist a em busca do lobisom em ... 79 Brasileiros em busca do Brasil 91 Pau- brasil e as cidades históricas de Minas 94 O pau- brasil em im agens 98 Tarsila: ser regional e puro em sua época 103

2 .2 . De Mário ao SPHAN 1 1 6

O Brasil de Mário de Andrade 119 Aleij adinho, outro sím bolo 121 O proj eto de Mário de Andrade para o SPHAN 124

2 .3 . Além de Mário: o Est ado e os int elect uais 1 2 7

O Ministério da Educação e Saúde Pública 128 Da idéia à prát ica 129 Razões de Lúcio Costa 133 Para contem plar o passado 137

CAPÍ TULO I I I . TEN SÕES E CON FLI TOS EM SJDR 1 4 3 3 .1 . A saga do casarão: do Com endador ao Museu 1 4 4

3 .2 . Um a cart ada decisiva 1 5 9

3 .3 . O Casarão do Com endador M ourão 1 6 4

A reconst rução 170 Breve retorno: Lúcio Costa e o olhar purista 179 Um elo para o passado, o presente e o futuro 184 O acervo do m useu 187 ( além dos) Murais, um a encom enda de Lúcio Costa 192

CON SI DERAÇÕES FI N AI S 2 1 3

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Ora, desde os fins do XI X, m uit os têm duvidado sej a dessa coesão brasileira sej a da diferença específica do Brasil.

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Com três séculos, São João del- Rei destaca- se entre as cidades hist óricas m ineiras, com seu acervo cult ural de bens m ateriais e im ateriais, assim com o com personagens de destaque na cultura, religião e polít ica nacionais. A cidade foi cabeça de com arca e cent ralizou at ividades com erciais na região, assim com o sem pre at raiu e concent rou invest im ent os.

O final do século XI X t rouxe intensas transform ações para os habitantes da cidade de São João del- Rei, e neste cenário circulou um grupo dom inante que se preocupava com o “ Novo Hom em ” e sua inserção na “ Modernidade” . Com a ascensão de novos centros urbanos na região – Barbacena e Juiz de Fora – nas duas prim eiras décadas do século XX, São João del- Rei t eve seu raio de influência reduzido às cidades m ais próxim as geograficam ente sem , contudo, perder a vocação para o com ércio.

A m anutenção do espírito em preendedor de São João del- Rei, fundada por um “ bandeirante” , viria sem pre alim entar as expectativas quanto aos surtos de desenvolvim ento econôm ico pelos quais passaria o país. Tal foi o desenvolvim ento no período que, em 1913, foi organizada um a exposição com ercial e industrial, para a qual se construiu o Pavilhão de Mat osinhos, um a obra de grandes proporções. O espírito em preendedor e progressista se refletiu em produções locais de cunho inform ativo e cult ural, com o alm anaques, álbuns e j ornais periódicos, tendo papel fundam ent al na dissem inação e m anutenção destas idéias.

Este m aterial foi fundam ental na nossa procura por elem entos que perm itissem a reconstrução do ponto de vista e da form a com que a cidade era idealizada e representada – para então entenderm os o futuro conflito em torno do casarão rem anescente do século XI X, pertencente ao Com endador João Antônio da Silva Mourão, e futuro Museu Regional de São João del- Rei.

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cidade, e o Serviço do Patrim ônio Histórico e Artístico Nacional1

( SPHAN) . Este últim o inserido em um contexto am plo de discussão e busca pelo que seriam elem entos significantes para a construção de um a I dentidade Nacional brasileira.

Em História do Com ércio em São João del- Rei, Ant ônio Gaio Sobrinho ( 1997) , m em orialista local, transcreve um a notícia do j ornal O S. João del’Rey, de 1920, que tam bém dá um a noção do pensam ento que esteve sem pre exaltando o desenvolvim ento da cidade:

Cerca de trint a fábricas aqui funcionam fornecendo os m ercados com produt os de sua m anufatura. A Fabrica de tecidos de m alha Santa Helena tem j á instalados os m aquinism os e deve inaugurar dentro em pouco. ( ...) São João del- Rei está naturalm ente destinada, solucionados certos problem as que a adm inistração do m unicípio estuda com interesse, a ser um centro fabril de prim eira ordem ( GAI O SOBRI NHO, 1997) .

Para Gaio Sobrinho, entre 1930 e 1960 ainda haveria um a grande quantidade de fábricas e indústrias, direcionadas a diferentes especialidades, com o: alim entos, vestuário e calçados, m alas e arreios, curtum es, artefatos de m árm ore, cim ento, folha de flandres, sabão etc. - cabe- nos destacar aqui, por m otivos a serem

1 Considerando as m odificações na est rutura e nom enclatura durante o século XX, convencionam os usar sem pre a prim eira denom inação, SPHAN, ao nos referirm os à instituição, fora o caso das cit ações.

SPHAN ( Serviço do Pat rim ônio Hist órico e Artístico Nacional) - Subordinado ao Ministério da Educação e Saúde; Oficializado em Janeiro de 1937; Decreto- Lei no25 de 30 de novem bro de 1937 – organizar a proteção do patrim ônio histórico e artístico nacional; Principais propostas: definição de quadros técnicos e hierarquia, um a delegacia em cada capit al, produção de m aterial inform ativo; Brasilidade – Getúlio Vargas.

DPHAN ( Diret oria do ...; decreto no8534 de 1946) - Nova constituição dá responsabilidade aos três níveis de governo para a proteção do patrim ônio; I nfra- estrutura lim itadora; “ Fase Heróica” : list agem do pat rim ônio, salvam ent o de algum as obras em decadência, criação de novas leis; Desenvolvim ento e Modernização.

I PHAN ( I nstituto do ...; decreto no66967 de 1970) - Crescim ento urbano, preservação nos grandes cent ros; Efeitos do Turism o e da Poluição; Desequilíbrio na dist ribuição do corpo t écnico; Tom bam ent o de conj unt os > t om bam ent os individuais ( núcleos e centros hist óricos) ;

SPHAN ( Subsecretaria do ...; lei no6757 de 1979) - Diferentes necessidades regionais = dificuldades na adm inistração; Fundação Pró-Mem ória – autonom ia financeira, liberdade em ações locais; Resultado: SPHAN – elabora diret rizes de at uação, det êm as prerrogat ivas de acautelam ento e proteção. Fundação Pró-Mem ória – executa as ações de preservação no âm bito operacional.

I BPC ( I nstit ut o Brasileiro do Patrim ônio Cultural; decret o no99.492 de 1990) - Subordinado à Secretaria da Cultura; Extinção da Fundação Pró-Mem ória; Reform a abrupta, autoritária, desrespeitosa – falta de diret rizes claras, caça Às bruxas; Mudança de governo ( Collor- I t am ar) perm ite algum as m elhorias e tentativas de resgate dos ideais iniciais.

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esclarecidos m ais adiant e, especificam ente duas delas. A Fiação e Tecelagem João Lom bardi S/ A, presidida pelo Sr. João Lom bardi e a Fiação e Tecelagem São João Ltda, presidida pelo Sr. Tancredo Neves ( futuro presidente da república, em 1985) e gerida pelo Sr. João Hallak.

Com São João d’El Rey – A cidade que não olhou para trás, de José Bellini dos Santos ( 1949) – outro nom e ao qual devem os dedicar atenção futuram ente - podem os ilustrar bem esta form a de representação da cidade. Seu título é condizente com o espírito daqueles que queriam , tam bém para São João del- Rei, a possibilidade de renovação constante do espaço urbano:

São João d’El Rey não im itou o gesto curioso da m ulher de Loth. Não se petrificou no passado. No tum ultuar constante da vida m oderna ela acom panha par e passo as arroj adas arrem etidas para o futuro. Cheia de seiva e ânim o prossegue, na grande cam inhada que deu em todos os setores da atividade hum ana, o seu desenvolvim ento, o seu progresso, tudo em abono da vibrante sentença – ‘de pé, em m archa e para cim a’ – em zelo da qual São João atira- se, resoluta, pela subida gloriosa do seu esplendoroso futuro. São João d’El Rey não olhou para trás! ( SANTOS, 1955)

Curiosam ente, grande parte das im agens reproduzidas nas obras tratadas retrata tam bém o pat rim ônio da cidade, natural e construído. Porém , este pat rim ônio não será aquele post eriorm ent e valorizado e prot egido pelo SPHAN, o pat rim ônio reconhecido nestas publicações sanj oanenses diz respeito às grandes obras: com erciais, residenciais e inst it ucionais, concebidas por polít icos, por irm andades religiosas, enfim , por um a elit e interessada em um passado no qual reconhecia a si m esm a e à riqueza m aterial e im at erial da cidade.

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Olhares e representações

O início do século XX t rouxe m udanças à sociedade brasileira. A vontade de m odernização, o surgim ento da m etrópole e da m assa, a I Guerra Mundial e um a onda de nacionalism os no m undo coincidiu com um a discussão que abarcou o fim do século que havia term inado e ainda avançaria pelo corrent e: a busca por um a definição do ser brasileiro, que im plicava na const rução de um a identidade com bases em um passado nacional.

Aqui aparece um a peculiaridade do Modernism o no Brasil, a associação da idéia de “ m odernidade” à de “ identidade” foi vista por Roberto Schwarz ( 1989) não com o um rom pim ento com o passado, m as sim com o um arranj o de seus elem entos dentro de um a visão atualizada e inventiva, “ com o que dizendo, do alto onde se encontra: tudo isso é m eu país” .

O proj eto estético do Modernism o Brasileiro destacou- se, entre os anos de 1924 e 1929, principalm ente por causa deste caráter nacionalista. No cam po das artes plásticas, a polêm ica exposição de Anita Malfatti em 1917 sinalizou para os novos tem pos, ao colocar o país em contato com a vanguarda artística européia e despertar um grupo de artistas para as possibilidades de um a vanguarda brasileira.

Esta m ovim entação culm inou em 1922, centenário da I ndependência, com a Sem ana de Arte Moderna, que m arcou um a nova proposta para as artes, acom panhada, anterior e posteriorm ente, por m anifestos que viriam a esclarecer a nova estética para a produção cultural no país - João Luiz Lafetá ( 2000) usa a expressão anarquism o otim ista para t raduzi- lo.

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com m anifestações artísticas populares e erudit as dos m ais diferentes tipos.

A “ viagem de descoberta do Brasil” , em 1924, encaixa- se neste conj unto de viagens realizadas por Mário. Tendo a Sem ana Santa de São João del- Rei com o centro da aventura que percorreria Minas Gerais, um grupo com posto por Tarsila do Am aral, Oswald e Mário de Andrade, Dona Olívia Guedes Penteado e o poeta e intelectual francês Blaise Cendrars, entre outros, saiu em busca do que o Brasil poderia oferecer de “ prim it ivo” , situado em um passado distante, não contam inado pela academ ia.

Para os forasteiros, o que interessava, naquele m om ento, era o contato com um a m anifestação estética original, que estaria fornecendo os subsídios para os escrit os de Oswald e Mário de Andrade2, assim com o as cores, texturas e outros elem entos de

criação para Tarsila do Am aral.

Passada a efervescência cultural da década anterior, a década de 30 seguinte apresentou um a nova conj untura: a quebra da bolsa de Nova York e a decadência da oligarquia cafeeira, o surgim ent o dos totalitarism os na Europa, a Era Vargas. Caracterizado pelo populism o e pelas questões voltadas à brasilidade, o governo de Get úlio Vargas personificou- se, nest es aspectos, na t entat iva de m odernização da nação perante os países centrais para que se const ruísse finalm ent e o “ ser brasileiro” .

Neste sentido, houve um a associação do poder político atuante à int elligent sia – neste caso, os m odernistas – obj etivando o aparelham ent o do país em inst it uições culturais responsáveis pela form ulação e dissem inação da ideologia proposta.

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equipe de arquitetos brasileiros a partir de estudo inicial de Le Corbusier. O governo, que tiraria o país do atraso, viu a arquitetura com o um a form a de expressar m aterialm ente suas ações.

Um proj eto ideológico de construção de um a identidade nacional deveria se apoiar em elem entos culturais históricos, m as ao m esm o tem po ser coerente com a renovação política pela qual passava a nação. Dessa form a, encontrarem os em Lúcio Costa a m aior autoridade em se pensar a “ verdadeira arquitetura” .

Just am ent e ele, que inicialm ent e seria um praticant e do neocolonial, passaria a defender a arquitetura m odernista sob out ro pont o de vist a, o de buscar a nacionalidade em um passado não cont am inado pelo academ icism o do XI X e da Escola de Belas Artes, registrado na sim plicidade ( racionalidade) da arquitetura colonial.

Enfim , com estrutura idealizada por Mário de Andrade, o Decreto-Lei no25 de 30 de novem bro de 1937, im plantou o Serviço do

Pat rim ônio Hist órico e Art íst ico Nacional ( SPHAN) sob organização do m inistro da educação Gustavo Capanem a e direção de Rodrigo Melo Franco de Andrade. Este ato pela valorização e resgate da ident idade brasileira/ brasilidade foi considerado por Angelit a Berndt ( 1996) o m ais bem sucedido proj eto de polít icas culturais no país e se insere na fase classificada com o de rotinização3 do

proj eto de m odernidade.

Sob a influência de Mário de Andrade, Rodrigo Melo Franco de Andrade e Lúcio Costa, o SPHAN garantiu a seleção e proteção de elem entos da cultura brasileira que estariam representando um a identidade em construção. O foco principal da construção deste sentim ento coletivo est eve direcionado para o período colonial da história do país, que podia ser sintetizado por Minas Gerais.

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Sob um a constelação de fatos históricos – o ciclo do ouro, a singularidade da arte e da arquitetura Barroca, a literatura, a I nconfidência com o m ovim ento de oposição à m etrópole e contem porânea à Revolução Francesa e aos ideais ilum inistas – criaram - se os subsídios para alim entar a idéia de um a nação brasileira, com um passado a ser protegido para dar inspiração à nação do fut uro.

Em 1938, Vargas foi a Ouro Preto. Eleita m onum ento nacional, a cidade representou a partir daí e ao longo do século XX o principal sím bolo do pat rim ônio hist órico brasileiro. Um dos m aiores desafios do SPHAN, ao at uar inst it ucionalm ent e nest a cidade foi a aprovação para execução do Grande Hotel em 1939. Concebido por Oscar Niem eyer, o proj eto foi aprovado com aval de Lúcio Costa, que perm aneceria com o consultor do órgão até 1972.

A obra refere- se a um a das principais font es de conflit o que irão acontecer nesta instituição, quando dos critérios utilizados nas diretrizes de preservação, pois, com o sabem os são, até hoj e, constantem ente debatidos e geram opiniões controversas.

Sim ult aneam ente à conj untura nacional descrit a acim a, encontram os a continuidade da cultura progressista sanj oanense, sustentada por representantes da elit e econôm ica e polít ica da cidade que, em consonância com a nova a expectativa de desenvolvim ento, crescim ento e transform ação dos espaços urbanos, entraria em confronto com as restrições colocadas pela prot eção pat rim onial do SPHAN, de um lado, e se aproveit aria de suas om issões, por outro.

O controle da ocupação urbana im plem entado pala Coroa, nos séculos anteriores, ocasionou em um baixo adensam ento que, quando foi explorado, perm itiu um a m istura das construções coloniais com aquelas posteriores4. O fat o de que inicialm ent e as

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o debate pela substituição destas, defendendo- se a idéia de que a cidade não podia oferecer um “ cenário” puro com o Ouro Preto.

A concepção local de pat rim ônio hist órico volt ava- se para um a conj ugação de obras m ateriais que estivessem , de algum a form a, ligadas a fatos ou pessoas “ im portantes” na tradição da cidade. A conservação das igrej as, por exem plo, era determ inada m ais pela força da religião do que pelo valor em si da arquitetura ou de obj etos decorativos existentes em seu interior.

Obras civis, portanto, não deveriam ser obj eto de interesse de preservação, até m esm o pela colocação da necessidade de se m odernizar os m odos de m orar, j ustificados pela im possibilidade da arquitetura antiga de oferecer condições no m ínim o salubres. Materializados ou não, os proj etos pensados por estes em preendedores foram agressivos em alguns aspectos, trazendo propost as que int erferiram na paisagem urbana. Assim constitui- se nosso obj eto de pesquisa, que será enfocado na prim eira m etade do século XX.

Ao abordar estas questões focando um a cidade específica - São João del- Rei –, vem os a possibilidade de revelar contradições e particularidades, quando relacionadas a um todo: a construção, im plantação e consolidação de um a I dentidade Nacional a partir da relação entre o Moderno e o Passado. À cidade foi delegada a responsabilidade de ser “ histórica” , ao m esm o tem po em que seus habitantes, pelo m enos parte deles, tinha o desej o de se m odernizar e acom panhar o país em seus processos desenvolvim entistas – o que gera a intervenção no espaço e paisagem urbanos, seja na esfera pública, sej a na privada.

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volt am o- nos aos periódicos publicados entre este m esm o ano de 24 até os m om ento em que a ação do SPHAN, duas décadas depois, ainda é vista com o am igável.

No segundo, retom am os 1924, agora sob a perspectiva das representações produzidas por Blaise Cendrars, Oswald de Andrade, Tarsila do Am aral e Mário de Andrade, que entre si j á apresentam pontos em com um e algum as diferenças. Estas representações foram buscadas em desenhos, pinturas e textos. Deste ponto, encam inham os a discussão para a criação do SPHAN até chegarm os a Lúcio Costa, tratado de form a a oferecer os prim eiros subsídios para o próxim o capítulo.

Por fim , no terceiro e últim o capítulo, dedicam o- nos ao conflito em torno do casarão. Da análise de todo o processo, do início e prim eiras discussões nos periódicos, passando à reconstrução do prédio, quase todo dem olido, e chegando à im plantação do m useu, retom am os m ais profundam ente Lúcio Costa, o grande m entor das idéias e novas represent ações ali m at erializadas.

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A CIDADE QUE NÃO

OLHOU PARA TRÁS

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A hist ória de São João del- Rei rem ont a a fins do século XVI I , quando o t aubat eano Tom é Portes del Rei liderou o prim eiro grupam ento hum ano no encontro do Cam inho Velho ( rota entre São Paulo e Minas Gerais) com o Rio das Mortes, que ficou conhecido com o Real Porto da Passagem . Em 1704 este núcleo inicial j á havia se est endido pelas m argens do Córrego do Lenheiro e, com a descoberta de ouro na Serra do Lenheiro, surgiram as prim eiras construções, à esquerda do córrego, feitas de taipa ou pau- a- pique1.

A ocupação gerada pela extração do m ineral no Morro das Mercês ( parte da cidade que avança sobre a serra) se dava de form a desordenada, o que era um problem a para o controle dessa atividade. Em 15 de abril de 1714 o Capitão- Geral decretou um Bando obrigando

[ ...] as pessoas a se m udarem para a part e que se destinou para a fundação da Vila ( ...) tudo o que se vier a construir em São João del Rei, que se faça fabricarem j unto a I grej a e o Pellourinho [ ...] ( MALDOS, 2000, p.4) .

Desta form a, a partir da determ inação do Capitão- Geral, a cidade com eçou a avançar sobre o lado direito do córrego, partindo de dois “ braços” , que iniciavam nas pont es da Cadeia e do Rosário, e convergiam para o Morro da Forca, atual bairro do Bonfim . A cidade diferenciou- se de form a clara quanto aos dois tipos de ocupação, sendo que, na inicial, prevaleceu a conform ação irregular e sinuosa das ruas.

Já na posterior, além de oferecer lotes com áreas m ais generosas, percebe- se m aior regularidade. Aí foram construídos a Casa da I ntendência, a Santa Casa de Misericórdia e o Pelourinho. A cidade experim entou tam bém um a expansão em direção aos seus subúrbios, devido às várias saídas, o que a deixou pouco densa em ocupação até o século XX.

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A partir da segunda m etade do século XVI I I a extração deste m ineral ent rou em declínio. Junt ando- se à insat isfação da população com a Coroa, os ideais libert ários alim ent avam os sonhos de independência. Este era o cenário da I nconfidência Mineira e São João del Rei est eve no m eio dos acont ecim ent os. Em 1789 houve sua prim eira indicação para capital de Minas Gerais.

Figura 1 .1 : Vist a aérea da cidade.

Font e: I lust ração sobrepost a em im agem capt ada no program a GOOGLE EARTH.

Legenda: Largo do Tam andaré. 1. Área de ação do SPHAN. 2 . Estação Ferroviária. 3 . Sopé da Serra do Lenheiro. 4 . Saída para São Paulo. 5 . Saída para o Rio de Janeiro. 6 . Saída para Belo Horizont e.

Córrego do Lenheiro.

1 .1 . São João del- Rei, cidade m oderna

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Este últim o abordou a cidade3 na obra A Princesa do Oeste e o

Mito da Decadência de Minas Gerais – São João del- Rei ( 1831-1888) sob um enfoque regional, em um período posterior ao declínio da at ividade aurífera na província de Minas Gerais. Com base em dados com o o senso de 1872, que colocava a população de cativos com o a m aior do Brasil, o autor procurou entender que processos específicos a cidade sofreu para refutar a idéia de decadência, com o destacado no t ít ulo da t ese.

O que vem os é que a cidade, cabeça da Com arca do Rio das Mortes, abrangendo grande parte do sul do atual estado, localizava- se de form a privilegiada nas antigas rotas de m ercadorias, tanto as de exportação quanto as de im portação:

[ ...] a Vila de São João del- Rei const it uíra verdadeiro entrepost o com ercial relativam ente às populações que essa velha est rada ligava. Trint a carros de bois e outros tantos lotes de burros, em m édia, segundo inform ações dignas de crédito, pousavam diariam ente no Tij uco, no Largo do Tam andaré, na Prainha e ao longo da praia...fazendo seu com ércio em casas atacadistas de ordem [ ...] (VI EGAS, 1969, p.110)

Sua região estava direcionada à produção e com ercialização de gêneros de prim eira necessidade, de caráter principalm ente agrário, negociados na própria província, no Rio de Janeiro e ainda em São Paulo, Mato Grosso e Goiás:

O baixo custo das atividades produtivas, que aliava a auto-suficiência e a reprodução endógena da m ão- de- obra escrava, dot ou as fazendas escravistas de alim entos de um a elevada capacidade de resistir às flutuações conj unturais desfavoráveis ( GRAÇA FI LHO, 2002, p.232) .

Esta atividade econôm ica de grande vitalidade e confirm ada pelo autor j á nos anos da década de 1830 gerou um acúm ulo de capit al cuj a parcela significativa estaria se deslocando, posteriorm ente, para a cafeicultura flum inense e da Zona da Mata. Com a existência local de um a filial do Banco do Brasil desde 1822, em 1860 houve a abertura de sua prim eira casa bancária, pelo Cel. Cust ódio Alm eida Magalhães, dent re out ras que surgiriam a part ir

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daí. Outra fração deste capital agrário foi transferida para a área urbana, escolhida pelos propriet ários com o opção de invest im ent o, que teve um m om ento de surt o no período 1890- 1891. Deste fragm ento de um periódico local podem os extrair elem entos que corroboram a tese sobre o período:

No decurso dos dous anos últim os têm - se construído em nossa cidade m ais de cem prédios; abriram - se diversos hotéis, sendo um deles o Oeste, de prim eira ordem ; fundaram - se duas com panhias industriais e um banco, em presas essas que j á estão funcionando; estabeleceram -se m ais três reloj oarias, duas no m ês passado; m ais três alfaiatarias, diversas oficinas de sapat eiros; três institutos de educação, sendo dous para m eninos e um para m eninas; organizaram - se diversas associações, sendo duas de beneficiência; finalm ente abriu- se m ais um a rua, a da Mangueiras. Por outra parte, apesar do aum ento das construções, não se encontram prédios desocupados; os aluguéis das casas e dos dom ésticos tem subido de preço; há em prego e serviço para quantos procuram trabalho e, não obstant e o alto preço de todos os gêneros, tem desaparecido em grande part e a m endicância [ ...] ( A Pátria Mineira, 18924 apud GRAÇA FI LHO, 2002, p.231) .

Um reflexo direto da aplicação dos recursos provenientes das atividades acim a referidas é a referência à abertura de indústrias e à construção de prédios, núm ero consideravelm ente alto quando se relacionam o tam anho da cidade e o curt o período de tem po – dois anos. Em seguida, a abertura de hotéis na cidade denota o aum ento do fluxo de pessoas m ovim entando- se entre São João del- Rei e as cidades com as quais a ferrovia havia encurtado as dist âncias, dim inuindo o tem po das viagens. O próprio destaque para as reloj oarias reforça esta nova postura diante do tem po, quando a sincronização e organização por ele perm itidas passaram à m odificação e controle da rotina das m assas urbanas ( SEVCENKO, 2002) .

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assim com o a constatação de que a m endicância j á era um a preocupação.

O dinam ism o característico fez- se tam bém necessário com o reação ao surgim ento de novos centros regionais possibilitados pela polít ica do Encilham ent o. Nest e período, a cidade recebeu a Estrada de Ferro do Oeste de Minas, a EFOM ( 1881) , im igrantes italianos que se instalaram em colônias ( 1888) e a Com panhia I ndustrial São Joannense ( tecelagem - 1891) , m as tam bém viu cair a concentração local das operações de crédito realizadas na Com arca. Mesm o assim , houve continuidade na export ação de laticínios, gado bovino e cavalar, sola, couros, algodão, tecidos, m anganês, m adeira etc. ( GRAÇA FI LHO, 2002) . Sobre a aparência geral da cidade em 1877, lê- se em um artigo de Severiano de Resende:

A perspectiva da cidade é a m ais aprazivel possivel, devido não só à sua posição natural, com o tam bém à lim peza e apurado gost o nas edificações. ( ...) As ruas da cidade são em quasi sua t ot alidade planas e bem calçadas ( ...) Tem a cidade m uitos edificios cuj a construcção é solida, elegante e art ist ica. ( ...) Quant o a inst rucção é est a na cidade distribuida especialm ente pelo externato, collocado em um ponto que dom ina e que por isso offerece garant ias de salubridade. ( ...) O clim a da cidade é o m ais am eno e salubre possível [ ...] ( RESENDE, 1887) .

Este foi um período de estruturação dos serviços urbanos, com investim entos nas áreas de urbanism o e saneam ento. De acordo com levantam ento realizado por Roberto Maldos ( 2000) , pode- se com provar a preocupação do poder público com estes serviços:

Resolução Nº 4, de 08 de m arço de 1892, que m arcava em 1,30 m para os passeios, determ inando a Câm ara onde essa bitola não conviesse.

Resolução Nº 6, de 04 de abril de 1892, que m andava cham ar concorrência para serviço de esgotos e ilum inação elétrica.

Resolução Nº 23, de 07 de j aneiro de 1893, que elim inava das ruas os frades de pedra.

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Resolução Nº 67, de 10 de abril de 1895, que aceitava a proposta de Carlos Schnityspan para a ilum inação elétrica da cidade.

Resolução Nº 85, de 31 de agosto de 1896, que adotava com o m unicipal o regulam ento de obras públicas do Est ado.

Resolução Nº 89, de 17 de setem bro de 1896, que obrigava o concessionário de terreno a apresentar planta da casa a const ruir- se.

Lei nº 16, de 24 de abril de 1897, que considerava foreiro todo terreno dentro do perím etro da cidade, que não estivesse devidam ente cercado da data da lei a seis anos inclusive ( MALDOS, 2000. p.35) .

A cidade j á contava com abastecim ento de água encanada em alguns locais no ano de 1885. Em 1866 fazia uso da ilum inação pública a querosene e em 1900 com eçou a usar energia elétrica. Ora, neste ano, o grande destaque da Exposição Universal de Paris foi a eletricidade que, ao lado do progresso crescente – esta era a crença, sob o positivism o – e da velocidade estonteante das m et rópoles, alim ent ou o im aginário de europeus, brasileiros e outros povos que, em m aior ou m enor grau, alm ej avam ou efetivam ente experim entavam a m odernização.

E m odernização significava, neste cont ext o, m odelo de civilização, um a palavra carregada de atributos inconfundíveis: as cidades, os sistem as e equipam entos urbanos, a com unicação, o liberalism o e todas as extravagâncias contidas naquela que se determ inou belle époque.

I dentifica- se um m ovim ento que sai, ou tenta sair, da herança de um passado colonial e escravocrata, organizado sob o patriarcado, e ir de encontro à república recém instaurada – sím bolo m aior de que os novos tem pos haviam aportado no país, trazendo novos sím bolos, novos heróis, novas bandeiras e m odelos:

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No cam po do im aginário e ou das representações, a im agem desta nova sociedade cristalizou- se na proliferação de j ornais, periódicos, revistas, alm anaques, álbuns e foi acelerada e m ult iplicada em núm eros, difundindo ainda m ais e reforçando os novos hábitos cult urais. I nfluenciados principalm ente pela França, que ditava m odism os e costum es a serem adotados e exibidos com o m odernos, a serem conferidos nestas im agens im pressas: as fotografias, que passaram “ a ser um dos ícones diletos da época” .

Antônio Celso Ferreira ( 2002) analisou a im port ância de publicações do tipo dos alm anaques, am plam ente difundidos na segunda m etade do século XI X no Brasil. Fossem elas adm inistrativas, econôm icas ou literárias, estas obras “ estim ularam a alteração dos costum es e a form ação de m entalidades abertas aos m odernos hábitos de consum o” .

Em um m om ent o post erior, j á nas prim eiras décadas do século XX, a perm anência destes veículos de com unicação j á estava estabelecida no gosto popular, porém com freqüência reduzida nas edições, com m uitas delas tornadas esporádicas, m as ainda exercendo a função de difundir m odelos de com portam ento correspondentes às novas estruturas cult urais em que as sociedades “ m odernas” estavam se adequando:

De um a perspectiva atual, eles podem ser lidos, não com o a sim ples crônica de um a época, m as com o form as m últiplas de representação de um im aginário regional. ( FERREI RA, 2002, p.40)

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No caso brasileiro, um alm anaque poderia cum prir o dever de civilizar o seu leit or, pelo fat o de t razer inform ações que abrangiam novidades acerca de vestuário, descobertas científicas, lançam entos de produtos para o m ercado de consum o e, em m eio a receitas e anedotas, textos de caráter doutrinário, recheados com ideais polít icos e m odelos de m oralidade.

Focalizando a cidade de São João del- Rei, vem os que ela não estava se m etropolizando, no sentido de perder sua identidade em m eio a um processo acelerado de transform ações. Por outro lado, percebe- se que há a incorporação desta nova rotina, do tem po que se m ove m ais rápido ( com o na fot ografia da est ação ferroviária de 24 – figura 1.13 – onde os autom óveis estacionados, aguardando a chegada do com boio, recebem o fluxo que vem dos t rilhos e é transferido às ruas da cidade) .

A representação de um cenário sim bólico, no discurso visual construído a partir das fotografias, t raz um a narrat iva das m udanças ocorridas na cidade, fruto das intervenções advindas do processo e da vontade de m odernização. Vale ressalt ar que nest e período a que tem os nos dedicado, em vista das transform ações pela qual a cidade passou, inst it uiu- se definitivam ent e na cidade um novo gosto: o da arquit etura eclética, à qual foi atribuída a função de refletir toda a atm osfera de progresso que perm eava a cidade desde fins do século XI X, adentrando o século XX.

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• São João d’El- Rey, Minas, organizado por Robert o Capri e André Bello, publicado em 1918.

• Alm anack de São João del- Rey, de aut oria e edição de

Horácio de Carvalho, publicado em 1924.

As três obras cobrem a década anterior à viagem dos m odernistas, oferecendo os elem entos necessários para nossa busca. Vim os tam bém que estas publicações tiveram am pla divulgação nos periódicos locais, com autores escrevendo nos dois veículos. Estas publicações apresentam relat iva unidade, possuindo sem elhanças nas idéias com que t rabalham e, além disso, ut ilizam um m at erial iconográfico – fot ografias – em sua m aioria produzido por um m esm o autor, o fotógrafo italiano André Bello5 ( 1879- 1941) , o que

nos perm ite identificar o com partilham ento e a difusão de um conj unto de crenças ou idéias em origens próxim as.

Acreditam os que este m aterial é capaz de indicar as práticas e as representações daqueles que tinham o poder de intervir e transform ar a cidade ( MENESES, 1996) . Seguindo o m esm o form ato daqueles publicados em outros lugares, entre as poesias, piadas, curiosidades de cunho científico e frases populares, podem os destacar várias descrições da cidade com o um todo, assim com o de suas paisagens nat ural e const ruída.

Muitas são tam bém as referências a instituições; destaques para m em bros dos poderes públicos, profissionais liberais, industriais e com erciantes; autoridades m ilitares e eclesiásticas; artistas etc.. Entrem eando estes conteúdos, a presença da publicidade condizente com o que se espera daquele período, de acordo com os novos gostos e m odelos de consum o “ m odernos” .

A iconografia contida no m aterial estudado é caracterizada por ter um fort e papel at ivo, art iculando- se ao texto e às legendas, quando existentes. Tem os a seguinte relação num érica, de acordo com a cronologia das edições: para 1913, 142 im agens em um

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total de 51 páginas; em 1918, 114 em 73; em 1924, 135 em 936.

Outro aspecto a ser destacado é a distribuição das im agens que, geralm ente, ou ocupam as páginas int eiras ou pelo m enos, quando ao lado de textos, estão colocadas em um a área de cinqüent a por cento da folha, em m édia. Em relação aos padrões7, concluím os

que cerca de setenta e cinco por cento das im agens correspondem aos padrões retrato, circulação urbana, diversidade, coexistência e paisagíst ico.

Este olhar sobre a cidade e esta representação aqui eleit a não se referem a t odos os seus habit antes; porém , são im port antes por serem frut os de um a prát ica ideológica que est á cont ida em m ateriais de am pla divulgação, passíveis de terem sido consum idos, na época, por leit ores pertencent es a dist int as cam adas sociais, penetrando em diversos am bientes e contribuindo para a prevalência de um a im agem , de certa form a, generalizada e conseqüentem ente adotada por grande parcela da população.

Além disso, o direcionam ento dado a estas publicações correspondia a um roteiro de com o olhar para a cidade através de seus aspectos m ateriais e im ateriais, conduzindo não só a população sanj oanense, m as qualquer forasteiro que folheasse suas páginas. No álbum de 1913, por exem plo, com o título de “ rem iniscências” ( figuras 1.2 e 1.3) é possível ver duas im agens antigas, um a do Matola8 e outra de um Carnaval que, dentre as

outras, apenas afirm am o processo de renovação e adequação a novos m odelos de m aterialidade da cidade.

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Figura 1 .2 : Matola

Font e: BRAGA ( 1913) .

Figura 1 .3 : Carnaval de 1903, na rua Padre José Maria.

Font e: BRAGA ( 1913) .

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Esta tradição é diferente daquela que estará relacionada, posteriorm ente, ao passado colonial, sim plesm ente passado e seus adj etivos conseqüentes: decadência e congelam ento, principalm ente no que tange à paisagem urbana das construções civis. O casario colonial, triste e torto, nas palavras de Tarsila do Am aral, passou a conviver com obras de grande valor arquitetônico com o os palacetes, a prim eira ponte de concreto da região, todas obras m odernas, oferecidas pelos escritórios de construção. Passem os, então, às obras.

Álbum da cidade de São João d’El- Rei, em com em oração à dat a de 8 de dezem bro de 1 9 1 3 – organizado por Tancredo Braga, publicado em 1 9 1 3 .

Oxalá que possam os, dentro em breve, ver transform ado na m ais fulgente das realidades o sonho de progresso que a nossa alm a de pat riotas vive, há tanto tem po, acalentando. ( BRAGA, 1913, p.16) .

O álbum de 8 de dezem bro de 1913 foi editado em com em oração ao bicentenário9 de São João del- Rei e as exalt ações às m aravilhas

da cidade, um a odalisca, não foram poupadas. Com o na epígrafe acim a, o álbum m ostra, com base no passado e no presente, que São João era um a cidade viva e ativa. O prim eiro texto, de apresentação, faz referência a um fato acontecido há quase duas décadas, relativo ao processo de escolha para a capital do estado:

[ ...] num decorrer t ão longo a nossa cidade poderia hoj e ostentar luxuosos palácios e m aior progresso, m as o sonho do grande conterrâneo Tiradentes, que aqui queria a capital da republica por elle aspirada, [ ilegível] t ragicam ent e. ( ...) a S. João d’El- Rei não coube a gloria de ser a capital da Republica, bellam ente idealizada pelo m aior dos são j oannenses, pelo m aior dos brasileiros. Si nella, hoj e, não se erguem palacios do governo, si nella não se agita o m undo official, para consolar- nos tem a linda cidade um a população ordeira, laboriosa, feliz, e incom paráveis bellezas naturaes. ( BRAGA, 1913, p.7) .

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nova representante, construída a partir do nada e, portanto, sinalizadora de um novo com eço, este desej o tornou- se realidade.

A com it iva t écnica chefiada por Aarão Reis det erm inou que a área da Várzea do Marçal, vizinha a sua área urbana central, era o local m ais propício para a obra. Manobras polít icas na últ im a de t rês votações, no entanto, m udaram o resultado da escolha para o arraial de Curral del- Rei. Com cert eza, assim com o o nascim ent o de Belo Horizonte prej udicou im ensam ente Ouro Preto, a nova capit al criou um a nova zona de influência que int erferiu nas out ras cidades que tam bém exerciam este papel.

Logo, em um a publicação com o esta, a referência ao fato seria um a certeza. E, na j unção rom ântica entre os anseios pela sede do poder, da inconfidência à república ali consolidada, a lem brança de Tiradentes trazia nobreza à aspiração, no sentido de convocar personagens ilustres, do passado, para reforço de um progresso intelectual constante. Assim , aqui e a seguir, verem os com o foram valorizados padres, poetas, políticos e toda a sorte de hom ens com grandeza para abastecerem intelectualm ente um a cidade com potência para abrigar o título de capital. Outro aspecto interessante que tiram os do fragm ento acim a é a referência ao trabalho, à ordem e à natureza com o indicadores de progresso, confirm ando nossa hipótese acerca do conteúdo e intenção destas publicações.

Ao longo da leit ura, vê- se que o m at erial com põe- se at ravés de um núm ero significat ivo de inform es publicit ários, apresent ando e oferecendo serviços de profissionais liberais, do com ércio e das indústrias residentes na cidade. Entre eles, os elem entos citados anteriorm ente ( poesias, ditos populares etc.) e as apresentações de São João del- Rei e sua região.

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urbanos são sem pre destacados nos textos e suas citações estão localizadas, m uitas vezes, próxim as à palavra progresso.

Há tam bém um a listagem dos com ponentes da Câm ara Municipal e de est abelecim ent os indust riais, com erciais, colégios e t em plos religiosos. O texto que fala do poder m unicipal cita a confiança do povo no progresso, destacando os m elhoram entos urbanos, graças a um a operação de em préstim o que levaria “ a feliz term o a serie de innovações progressistas” esperadas pela urbs: saneam ento, calçam entos, extensão da ilum inação publica: “ se fará m odernizar, com a abertura de novas ruas e praças, a feição archaica do povoado.”

Entre os sonetos, piadas, pequenas biografias e textos selecionam os um trecho interessante de A São João d’El- Rey, escrit o pelo Dr. Ribeiro da Silva, m édico:

Percorrendo as tuas ruas antigas, aquellas de m ais acentudada feição colonial, eu m e sentia entrado de profundo recolhim ento, lem brando- m e de que por ellas havia transitado a geração que, prim eiro, sonhara a form ação da Patria Brazileira, num a epocha em que profligar o despotism o e aspirar a liberdade era o m ais hediondo, o m ais negregado de todos os delictos. Parecia- m e ainda ouvir, atravez das paredes dos teus tem plos de rara m agnificência, as derradeiras m elodias das preces, que os teus habitantes alçavam ao Deus dos Exércitos, im plorando- lhe forças e assistência para levarem a term o a sacrosanta cruzada da redem pção da sua terra. ( SI LVA, 1913, p.26) .

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São João d’El- Rey, Minas – organizado por Robert o Capri e André Be llo, provavelm ent e, de acordo com referências t ext uais, publicado em 1 9 1 8 .

Este álbum apresenta em suas prim eiras páginas os ocupantes dos cargos de presidência da república, a com posição do governo estadual e da capital. No geral, é m uito sem elhante ao de 1913, na abordagem e tem ática dos assuntos tratados e, principalm ente, pela reprodução de fotos de André Bello, um dos organizadores.

No prim eiro texto encontra- se típica descrição da cidade, “ Princeza de Minas” , com vegetação e clim a com pondo paisagens que rem etem às da Suíça. Novam ente cham ada de odalisca, São João oferecia as fest as religiosas de m aior pom pa no país. Até m esm o um a “ profecia” de Dom Pedro I vem confirm ar o destino certo da cidade, voltando ao assunto da capital:

Em 1830 foi S. João d’El- Rey honrada com a augusta visita do fundador do I m pério o sr. Dom Pedro I e este soberano, adm irando a linda e extensa Várzea do Marçal, pressagiou que em futuro não rem oto S. João d’El- Rey, com o capital da província, extenderia por aquellas im m ensas planícies suas fundações, e se collocaria entre as prim eiras cidades do Brazil. ( CAPRI & BELLO, 1918, p.14) .

Um fato curioso se m ostra na leitura da obra: tem - se, j unto ao texto, m as sem referência direta à autoria, um a fotografia do Dr Odilon de Andrade, advogado, presidente da câm ara dos deputados do estado e da câm ara m unicipal da cidade; no corpo deste m esm o texto, trechos idênticos aos reproduzidos do álbum de 1913, de autoria do Dr. Ribeiro da Silva ( cf. página 07) , com o na frase em que se clam a ao “ Deus dos Exércitos” – levantando- se um a dúvida a respeito da autoria deste últim o.

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1.32) . Constatam os tam bém que serviços os m ais variados eram oferecidos em suas barbearias, cafés, alfaiatarias, sapateiros, consultórios odontológicos etc.

Alm anack de São João del- Rey – de aut oria e edição de Horácio de Carvalho, publicado em 1 9 2 4 .

O j ornal A Tribuna, de 10 de abril de 1924 noticiou o lançam ento do alm anaque, no qual destacam os a referência à prom oção da cidade:

Recebem os do autor um exem plar do bello e att rahent e prim eiro Alm anack de S. João del-Rey. ( ...) Passam os algum as horas bem agradáveis na leitura deste trabalho de tanta im portância para a divulgação do nom e da nossa

cidade. Contem m uita leitura aproveitável, alternando

artigos sérios com os ditos chistosos, que dão m ostra do verdadeiro espírito, sem offenderem a m oral ( grifo m eu) ( ALMANACK..., 1924) .

O prim eiro texto do alm anaque, int it ulado Nossas I ndust rias, é um apelo à incapacidade de atendim ento da dem anda por energia elétrica na cidade, dizendo seu aut or que, se est a fosse plena, a cidade “ achar- se- ia, agora, tão consideravelm ente augm entada, quanto im portante nos seus diversos ram os” . I nfelizm ente, para ele, este fato im pediu que São João se nivelasse aos m aiores centros produtores do país. Um outro texto, O Grande Problem a, tam bém reivindica o im plem ento da rede elétrica, com o atrativo de industrias, fundam ental para o desenvolvim ento da cidade:

Aguardam os, confiantes num a solução que virá im pulsionar a histórica e tradicional terra sanj oannense, dando- lhe possibilidades am plas para seu adiantam ento m ultiform e. ( CARVALHO, 1924, p.1) .

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O segundo texto, Notas de um Cicerone – aos visitantes de S. João d’El- Rey, sem autoria especificada, com eça descrevendo a chegada à cidade, a partir dos trens, vindos do Rio, Belo Horizonte e do sertão de Minas. Descreve um ram al que levava a Águas Sant as, lugar de “ touristes” na “ boa estação” , depois descreve a ocupação da cidade ao longo do córrego do lenheiro, o vale com as t orres das igrej as despont ando, e cit a ainda os principais edifícios – câm ara m unicipal, escolas, a estação ferroviária, o prédio de distribuição de energia elétrica, os panoram as da cidade, as cachoeiras da região, a serra, enfim , as belezas naturais e construídas – todas apreciáveis nas fotografias. Vegetação e relevo faziam da cidade “ um ponto de rem ansoso abrigo para quem se sente fatigado com as ásperas luctas na vida febril das grandes m etrópoles” :

É, portanto, a m ais pittoresca de todas as cidades m ineiras a urbs ribeirinha do Lenheiro, m uito j usta a sym pathia de que gosa. Vae a velha terra, dia a dia adquirindo m elhoram entos no seu viver; ella que, na voz dos poetas, é ‘estancia de grato repouso’, breve, nada terá que invej ar ás suas irm ãs. ( CARVALHO, 1924, p.12) .

O terceiro texto do alm anaque é de Sertorio de Castro, aparent em ent e um m ilit ar reform ado, int it ulado S.João del- Rey, Cidade das Tradições e das Lendas. O autor conta- nos sobre seu exílio, após rebelião na Escola Milit ar da Praia Verm elha, que o levou a conhecer o m undo, além das fronteiras brasileiras. Ao lem brar- se de S. João nos seus tem pos de m enino, com para as cheias do córrego do Lenheiro à pororoca am azônica e, nestes m om entos pós- torm enta, com eça a discorrer sobre m itologia, aludindo aos rios da Europa, ao Nilo e às grandes obras de inspiração poética, de Wagner a Catalani:

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suggestivas cidades do Brasil antigo. ( CASTRO, 1924, p.21) .

Reportando a Ferreira ( 2002) destaca- se do fragm ento acim a a referência às Ciências Sociais, onde o historiador citado trabalha questões que im plicam na construção da identidade local através do passado e do m ito. O autor passa ainda por um a lenda local, depois fala dos sinos, da Sem ana Santa ( um prestígio com parável ao de “ um a Sevilha” ) , sua cultura m usical, seus hom ens ilustres, assim com o visitantes de alta estirpe: Olavo Bilac, Afonso Arinos, Carlos Laet, entre outros. E, claro, as belezas nat urais que ao lado dos outros elem entos conferem grandiosidade e dão ar de nobre linhagem à cidade, com o se esta fosse um a entidade.

O texto Que é S. João, de Eduardo Sócrates, fora escrit o de Juiz de Fora, no ano anterior. Parte, m ais um a vez, da nat ureza, clim a e paisagem , passando por sua im plantação em relação à serra e córrego. Fala da vida, barata e atrativa, descreve o cotidiano, a venda dos bolinhos de feij ão ( peculiaridade local, correspondente ao acaraj é baiano) , o m ercado, as vendedoras de hortaliças, peixes. Ressalta o fato de que o m ercado ainda é pequeno, e que seus habitantes ainda não desenvolveram o hábito de fazer com pras em m odos m odernos:

As feiras, que tanto anim ação em prestam ás cidades do norte de S. Paulo, aos dom ingos, não foram adoptadas em S. João e nem aqui. Trazem resultados incalculáveis ao consum idor e ao com m ercio. ( SÓCRATES, 1924, p.34) .

Discorre sobre a possibilidade de o prefeito adotar incentivos a estas atividades, aproveitando os m ercados consum idores de cidades vizinhas, a linha férrea e a colônia it aliana. Depois passa a falar da cidade e sua topografia, a respeito de seu em belezam ento, que para ele, t eve vícios em suas const ruções iniciais, “ sem alinho e sem architectura” :

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Por últ im o, O alistam ento nos m unicípios, t ext o em que há um a apologia aos ideais republicanos, levant ando um a preocupação a respeito do baixo cadastram ento eleitoral e da queda na influência m ineira sobre a política nacional. Sua finalização conclam a à m aior participação dos eleitores nas urnas, pressentindo os m om entos finais da polít ica do café com leite. Na verdade, os t em as republicanos aparecem com alta freqüência t ant o nest a quant o nas outras duas obras, diluídos nos discursos que abordavam a agricultura, o com ércio, a indústria e a educação:

Ahi está o alistam ento para com provar o assert o. Na m aioria dos m unicípios m ineiros elle está sendo feito com o vagar de um carro velho de m olas enferruj adas. Est am os ainda m uito longe de attingir a cifra do contingente eleit oral ant erior á últ im a refórm a. ( ...) Apresent a- se sensivelm ente enfraquecido um dos elem entos ponderáveis pelos quaes a opinião de Minas se recom m endou sem pre ao acatam ento nas deliberações da política nacional. [ ...] ( CARVALHO, 1924, p. 47) .

O olhar que const it ui a cidade

Ao observarm os as im agens contidas nestas obras, aproxim am o-nos do Cam po das Vertentes e encontram os a cidade de São João del- Rei, que recebe, nas t rês publicações, o t ít ulo de odalisca. O que se espera de um a cidade que pode ser com parada à m ulher de beleza arrebatadora, sedutora e que esconde, sob véus esvoaçantes e brilhos dourados, belezas e segredos não im aginados?

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Figura 1 .4 : Arredores da cidade de São João del- Rei.

Font e: CAPRI e BELLO ( 1918) .

Figura 1 .5 : Lado esquerdo: área cent ral urbana; lado direito: Balneário de Águas Santas.

Font e: CAPRI e BELLO ( 1918) .

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claram ente de orgulho local: o rio de m esm o nom e poderia ser observado da prim eira ponte em concreto arm ado da região, que recebeu lugar de destaque na publicação de 24, onde se vê um rio com um a correnteza forte, caudalosa, m as que foi vencida pelo artefato.

Figura 1 .6 : Pic- nic.

Font e: BRAGA ( 1913) .

Figura 1 .7 : Hidrelét rica do Carandahy.

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Figura 1 .8 : Ponte de concret o da Construtora Baccarini.

Font e: CAPRI & BELLO ( 1918)

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Figura 1 .1 0 : O edifício da Cia. I ndustrial São Joannense no início do século XX.

Font e: CAPRI e BELLO ( 1918) .

Figura 1 .1 1 : Pavilhão de Exposições de Matosinhos.

Font e: CAPRI & BELLO ( 1918) .

Figura 1 .1 2 : Edifício da est ação ferroviária.

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Figura 1 .1 3 : Edifício da est ação após reform as.

Font e: CARVALHO ( 1924) .

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Voltando a atenção para as vistas urbanas, destacam os o adensam ento j á identificado, que se concentra na área central, às m argens do córrego e do qual se destacam alguns volum es, divididos em dois tipos. Prim eiram ente, aqueles de fácil reconhecim ento, não só pela sua disposição na m alha urbana, com o pela própria característica em sua form a única: as igrej as ( figura 1.15) . Estas têm , sem exceção, destaque em todas as obras, em fotografias que lhes oferecem total autonom ia, no m esm o form ato em que aparecem nos cartões postais, alim entando o caráter m onum ental – com o é possível de se perceber na coleção que Mário de Andrade levou dali ( LI MA; CARVALHO, 1997) . O segundo tipo de volum e corresponde às edificações inst it ucionais, principalm ente as voltadas para o ensino, a saúde e adm inistração pública, que depois tam bém aparecerão com destaque individual, com o se verá adiante.

Figura 1 .1 5 : I grej as da cidade de São João del- Rei e, abaixo à esquerda, rua Padre José Maria em direção à I grej a de São Francisco ( ao fundo) .

Font e: CARVALHO ( 1924) .

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principalm ent e as inst it ucionais e as com erciais. No segundo caso, as im agens reforçam o sentido de ordenação e intervenção no traçado de origens coloniais. A principal im agem a ser m ostrada é a das progressivas intervenções no córrego, que se m odifica e aparece cada vez m ais reticulado. A partir dele, duas grandes avenidas, que se ligam pelas valorizadas pontes de pedra, sem pre exaltadas com o m onum entos do passado, além da própria grandeza da técnica construtiva.

As avenidas são largas e arborizadas ( figura 1.16) , aptas a receber os prim eiros aut om óveis da Agência Ford, casa com ercial com am pla divulgação, não só na obra de 24, com o t am bém nos periódicos da época. Com o relat ado anteriorm ente, a atividade com ercial t em am plo destaque nas im agens que com põem o m aterial analisado. Além de aparecerem distribuídas nas ruas e avenidas, várias delas são m ostradas exteriorm ente e interiorm ente onde, neste caso, aparecem reunidos os funcionários e proprietários ( estes últim os aparecem tam bém em fotografias isoladas) .

Figura 1 .1 6 : Avenida Ruy Barbosa ( área cent ral da cidade de São João del- Rei) início do século XX.

Font e: CARVALHO ( 1924) .

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Figura 1 .1 7 : Palacete João Lom bardi.

Font e: CARVALHO ( 1924) .

Figura 1 .1 8 : Palacete João & Rodolpho Faleiro.

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Figura 1 .1 9 : Loj as Charit as.

Font e: CARVALHO ( 1924) .

Figura 1 .2 0 : Hopkins&Causer&Hopkins

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Figura 1 .2 1 : Hotel Brazil.

Font e: CARVALHO ( 1924)

Figura 1 .2 2 : Hotel Oeste de Minas.

Font e: CAPRI & BELLO ( 1918) .

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Font e: CARVALHO ( 1924) .

Figura 1 .2 4 : Com ercial Arm ando B. da Cunha.

Font e: CARVALHO ( 1924) .

Figura 1 .2 5 : Com ercial Antônio Rocha & Cia.

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Figura 1 .2 6 : Com ercial João Bapt ista da Costa.

Font e: CARVALHO ( 1924) .

No cam po instit ucional, um conj unto que parecia ocupar lugar incont est ável ent re a seleção do que deveria ser divulgado era o com plexo da Santa Casa de Misericórdia, inst it uição volt ada para a caridade e elevada a condições de paridade com as m elhores do país no quesito aparelhagem e capacidade. No período, com um pavilhão recém - inaugurado ( 1913) , ela foi assim descrita por Bent o Ernest o Júnior:

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Este trecho oferece preciosas inform ações para que com provem os o sentido conferido à intenção com que a cidade deveria ser representada, através de suas estruturas física e inst it ucional. Um levantam ento das expressões em pregadas no texto denota o obj etivo de reforçar a nova conform ação não só da Santa Casa, m as tam bém da cidade, transm itindo a sensação de benefícios que iam da relação cot idiana, no uso das instalações, até as relações estéticas presentes na paisagem urbana a partir das edificações. Assim , em contraposição a inest het icos, inconfort áveis, velha, t rist onho, acanhado, term os destinados ao pavilhão e à capela neo- gótica os term os m oderno, grandioso, desenvolvim ent o, notável, belleza, correcção, progressista, form osíssim o, enriquecer ( figuras 1.27 e 1.28) .

Figura 1 .2 7 : Capela e a Sant a Casa de Misericórdia.

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Figura 1 .2 8 : Com ercial João Bapt ista da Costa.

Font e: CARVALHO ( 1924) .

Cult uralm ente, São João teve durante o século XI X e part e do XX um a intensa vida social, devido à proxim idade – e inspiração – com o Rio de Janeiro. Para atender a valorização destes hábitos, a produção cult ural result ou em um a realidade invej ável, se com parada aos dias de hoj e, sendo constante a realização de saraus e bailes; com seus teatros recebendo peças de autoria e atores locais e até m esm o fam osas com panhias de ópera do estrangeiro.

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Figura 1 .2 9 : Teat ro Municipal

Font e: BRAGA ( 1918) .

Figura 1 .3 0 : Teat ro Municipal após reform as.

Font e: CARVALHO ( 1924) .

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com o podem ser vistos gabinetes e laboratórios equipados com o necessário à boa educação ( figuras 1.31 e 1.32) .

Figura 1 .3 1 : Ginásio Santo Antônio.

Font e: CARVALHO ( 1924) .

Figura 1 .3 2 : Colégio N.sra. Das Dores.

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A partir daqui, nós podem os nos estender j á à form a com que os cidadãos aparecem nestas publicações. Os alunos são vistos sob dois aspectos: prim eiro, enquanto estudantes são vistos em grupo, às vezes junto a tutores e, sem pre, dispostos em poses que tradicionalm ente denotam a organização com base na disciplina. Ou, então, são vistos param entados, em fotografias de form aturas ( figura 1.33) .

Figura 1 .3 3 : Turm as do I nst itut o Norm al.

Font e: CARVALHO ( 1924) .

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Figura 1 .3 4 : Ground do At hlet ic- Club.

Font e: CARVALHO ( 1924) .

Figura 1 .3 5 : I nstalações m ilitares.

Font e: CAPRI & BELLO ( 1918) .

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Basílio de Magalhães, colaborador de vários j ornais paulistas, m em bro da academ ia Paulist a de Let ras, do I nst it ut o Hist órico e Geográfico de São Paulo, e do Centro de Sciencias, Letras e Artes de Cam pinas.

1 .2 . SÃO JOÃO DEL- REY: O passado de t radições

e o present e de com m ercio e at ividade

1 0

Definida esta perspectiva de progresso e tradição nas representações sanj oanenses, alim entadas e difundidas nos alm anaques, e associando- as à futura batalha11 travada e contada

nos periódicos locais12, podem os, através dos m esm os, identificar

a perm anência e ou transform ação dest as idéias at é o início do conflit o. Em nenhum m om ent o se negará o fato de que a cidade era, no m ínim o, bicentenária13, ant iga:

cidade em que se encontram os prazeres da alm a e espírit o, lugar pra educar o int elect o ( ...) um dos fat ores que m ais podem influir na educação da alm a e form ar, por assim dizer, o caract er de um povo, é a t radição ( ...) quanto m ais tradicionalista é um povo, m ais seguro é na rota do progresso (S. JOÃO D’EL REY..., 1935) .

O ponto é j ustam ente esse. A tradição local seria sem pre valorizada, pois aqueles anos todos consolidavam um a civilização experiente, m adura, capaz de seguir adiante. Cidade antiga era um a coisa. Cidade velha, do passado, outra. Assim , tem os com o lançar bases para um contrapont o entre os diferentes olhares lançados à paisagem sanj oanense.

10 A Tribuna, São João del- Rei, 02 de outubro de 1927. Arquivo do Museu Regional de São João del- Rei.

11 O conflito em torno do casarão do Com endador João Mourão, futuro Museu Regional de São João del- Rei.

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Tem os no m esm o ano do lançam ent o do últ im o alm anaque, em 1924, a ilustre visita dos m odernistas em busca do passado, durante a Sem ana Santa. Algum as sem anas depois, encontram os um art igo que relat a a visit a de Nereu Sam paio, com issionado pela Sociedade Brasileira de Bellas- Artes, sob o t ít ulo Relíquias de Art e Ant iga. Nereu e outros estudiosos

[ ...] foram , com o t odo m undo, t om ados de ent husiasm o pelo m uito que nos ficou do estylo colonial.

As suas vistas foram at trahidas, não som ente para os tem plos, m as ainda por várias casas particulares e pelos inúm eros “ passos” que ostentam as suas azulineas fachadas em várias ruas e praças da cidade.

Acharam elles sobrem odo interessante a disposição excêntrica do “ passo” collocado à Rua Direita, o qual perm anece com a frontaria inclinada em relação ao alinham ento daquella via publica, prej udicando desde aquelle ponto até a esquina da rua Nova ( RELÍ QUI AS..., 1924) .

O autor, não identificado, descreve o roteiro seguido pelo visitante, e seu interesse pelas igrej as, das quais se ocupa em detalhada descrição, passos da paixão e pontes de pedra. No fim do texto, ele diz ainda do interesse do pesquisador por “ varias casas particulares” , m as logo retorna às igrej as, parabenizando às irm andades religiosas pela conservação dest as relíquias.

O interesse que a cidade despertava pelo que tinha de histórico era m otivo de orgulho. Só que não o único m otivo. Em 06 e 09 de m arço do m esm o ano, em textos referentes ao carnaval, identifica- se o “ incontestável progresso e a índole ordeira de nosso povo” , a cidade aparentava “ um grande e m ovim entado centro” e era inegável, portanto

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Os investim entos direcionados à festa profana ( que carregaria durante o século XX a im agem de ser um a das m elhores do estado) eram um term ôm etro:

[ ...] para aquilat ar-se do grande progresso e desenvolvim ento que se vêm operando dia a dia nest e m unicípio, o carnaval offerece m agnífico padrão. ( ...) Est e anno, então, o tríduo de Mom o foi anim adíssim o. Basta dizerm os que se apuraram perto de 40: 000$000 em lança-pefum es. E ainda há quem negue o nosso evidente progresso?! ... ( A TRI BUNA, 1924 c) .

Qualquer “ observador culto” perceberia que em São João, sobre as “ rem iniscências do passado” , erguia- se um a “ grande cidade m odernizada” ( S. JOÃO DEL- REY, 1927, p.1) , graças ao trabalho daqueles que a dirigiam , hom ens suficientem ente capazes de perm itir o seu “ progresso m aterial e m oral” ( ENTREVI STA, 1930) . Um a das cidades m ais “ históricas e pinturescas de Minas” , a cidade estava destinada a destinada “ a ser um grande centro industrial e confortável estância de repouso” ( ALGUMAS, 1927) .

É interessante ver que, seguindo estes artigos, existe realm ente um a repetição das m esm as idéias, com o se fosse um exercício de fixação. Um exercício de ( auto) afirm ação da identidade que a cidade deveria assum ir e propagar. Se antes vim os um a série de fotografias que durante um a década m ontam um cenário, nestes j ornais a palavra vem concret izar a “ ficção urbanística” ( FERNANDES; GOMES, 1991, p.93) .

A im prensa adquire um papel fundam ental no processo de difusão de idéias que ensinam não só o “ com o agir” ( FERNANDES; GOMES, 1991, p.98) , m as o com o pensar tam bém . Este pensar vem diferenciar São João das outras cidades históricas do estado, porque ela não ficou parada no tem po:

Imagem

Figura 1 .5 : Lado esquerdo:  área cent ral urbana;  lado direito:  Balneário de Águas  Santas
Figura 1 .7 : Hidrelét rica do Carandahy.
Figura 1 .1 0 : O edifício da Cia. I ndustrial São Joannense no início do século XX.
Figura 1 .1 5 : I grej as da cidade de São João del- Rei e, abaixo à esquerda, rua  Padre José Maria em  direção à I grej a de São Francisco ( ao fundo)
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