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O m odernist a em busca do lobisom em ...

Figura 2 .1 : Desenho de Blaise Cendrars por Tarsila do Am aral. Font e: EULALI O ( 2001) .

A passagem de Tarsila e Oswald por Paris, tem pos antes da viagem ao interior do Brasil, e o encontro com os artistas de vanguarda concentrados na capital francesa reflet iu diretam ente na produção artística do casal neste período, foco de nosso interesse. E nela fica clara a não pequena contribuição de Cendrars, um outro integrante da viagem .

Provavelm ente, o poeta franco- suíço teve um de seus prim eiros contatos com histórias sobre o Brasil quando trabalhou com o roteirista com o m úsico Darius Milhaud na m ont agem de “ A criação do m undo” . Milhaud estivera no país entre 1916 e 1918, acom panhando com o secretário e relações públicas o diplom ata francês Paul Claudel. Esta experiência fez com que o j ovem com positor conhecesse e se encantasse pelos ritm os locais, levando- o a estudá- los e deles fazer referência em suas com posições.

Cabe- nos aqui fazer um breve com entário, a ser desenvolvido m ais adiante. Fernand Léger foi o responsável pelos cenários e figurinos do espetáculo e vem os um a grande analogia entre a linguagem de repertório purista, no pintor, e a obra de Tarsila, quando estudam os as pinturas “ O m ecânico” ( 1920, F. Léger) e “ A negra” ( 1923, T. do Am aral)2.

Figura 2 .2 : O Mecânico, 1920, Fernand Léger. Font e: TATE GALLERY ( 2007) .

Figura 2 .3 : A Negra, 1923, Tarsila do Am aral

Font e: TARSI LA DO AMARAL ( 2007) .

Se no europeu encont ram os a dupla experiência de, no repertório purista, associar o contraste das form as aos resultados das pesquisas neoclássicas da volta à ordem , na brasileira é possível enxergar algo m ais. A negra representada por Tarsila avança a partir da form a do m ecanicista e racional européia, relem bra o prim it ivism o africano, m as afirm a- se ao criar um t ipo brasileiro – criar um a obra brasileira e m oderna ( SANTOS, 2002, p.2) .

m odernas3: Di Cavalcant i, Sérgio Milliet e Oswald de Andrade, que

fazia sua segunda viagem ao continente europeu. Para Cendrars, que se encontrava em um a fase de descrença após a experiência na I Guerra, a oportunidade da viagem veio com o um a chance de renovação.

O relacionam ento do poeta com os brasileiros cresceu e se estreitou até que surgiu o convit e de Paulo Prado, através de Milliet, para que o escritor viaj asse ao Brasil e realizasse conferências a respeito do Modernism o. Relat ando post eriorm ent e a viagem , em Meus am igos m odernistas:

Foi Oswald de Andrade, o profeta do Modernism o em São Paulo, quem veio m e buscar em Paris, e feliz dem ais de m e livrar da m açada e do com ércio das m anifestações parisienses onde se confinava a poesia – Dadaísm o, Surrealism o – agarrei a ocasião pelos cabelos e parti im ediatam ente, convencido de que a poesia de hoj e não é privilégio de um a escola exclusiva, m as explode no m undo inteiro não podendo im aginar ( nem em sonhos) que iam tentar m e alistar do outro lado do m undo – e num país novo! – num a estreita vanguarda de est etas – cubistas, futuristas, expressionistas – e não m e em barcar num a generosa aventura ( CENDRARS, 1976) .

Um fato seguro é que as viagens ao Brasil sem pre suscitaram grande exercício ao im aginário daqueles que ao país se dirigiram , antes m esm o do prim eiro contato visual proporcionado pela chegada, m as sim plesm ente com base no exotism o presente nas narrativas que chegavam ao Velho Mundo. Em diferentes períodos, ao longo das viagens exploratórias, podem os acom panhar estes olhares através de textos e iconografia produzidos por europeus de diferentes nacionalidades.

A própria São João del- Rei fora descrita e representada por diversos viaj antes europeus, durante alguns m om entos no passado, com o Robert Walsh entre 1822 e 1823, e Johann Moritz Rugendas, em 1824.

3 Do original em Espanhol: “ …haciendo el servicio m ilitar en las artes m odernas” . (CALI L,

Figura 2 .4 : Vista de Matosinhos. Século XI X. Autor: Rugendas Font e: Arquivo Digital do Museu Regional de São João del- Rei.

Figura 2 .5 : São João Del- Rei. Do livro “ Notices of Brazil in 1828 and 1829” . R. Walsh, London , 1830.

Font e: Arquivo Digital do Museu Regional de São João del- Rei.

A part ir daí e ao longo de sua carreira de escritor, os elem entos da viagem – prim eira de três que ele faria entre 1924 e 1928 – foram se incorporando à obra de Blaise Cendrars, que se tornaria o m ais

brasileiro dos artistas europeus ( TAGÉ, 2001) e que o fez eleger o

Brasil sua segunda pátria. Ora trat ando de elem entos naturais – vegetação, fauna – ora voltando- se para o cotidiano da nova

configuração do Brasil, em busca de m odernização – o frenesi urbano, a buzina, o bonde, o m ercado cafeeiro4.

A reunião destes prim eiros escritos sobre o país teve com o resultado Feuilles de Rout e, ilustrada por desenhos de Tarsila, realizados durante as viagens pelos estados do sudeste. Em relação a esta obra, Martins de Alm eida com entou sobre correlação existente entre os dois. Para ele, “ há em am bos a calm a arquitetônica da linha precisa. Feuilles de Route são desenhos sim plificados das paisagens por onde Cendrars passou” ( ALMEI DA, 1925, p.169) .

É interessante ressaltar tam bém o relacionam ento de Cendrars com outros dois personagens dest a história ( assim com o entre suas obras) : Oswald de Andrade e Mário de Andrade. O poeta ofereceu, desde o início, indicat ivos acerca dos rum os que a produção destes artistas deveria tom ar, não só em sua nova proposta estética, m as em sua busca por um a autenticidade no uso de elem entos que dialogassem com a cultura brasileira:

Cendrars, que havia publicado um a Antologia negra em 1921, advert e aos am igos brasileiros sobre a cont ribuição que os negros poderiam fazer – e estavam fazendo – no processo de consolidação de um a cultura popular espontânea5 ( CALI L, 2000) .

Ou sej a, vem os que a participação de um artista europeu e m aduro, conhecedor do vigente interesse dos europeus pelo prim itivism o dos povos africanos, poderia dar segurança e respaldo à proposta m odernista de trabalhar com o Brasil real. De acordo com Nicolau Sevcenko ( 1992) :

[ ...] o livro Pau- Brasil, contendo poem as e dedicado a Cendrars foi publicado em 1925 ( ...) . Mas j á no ano anterior, Oswald de Andrade havia elaborado um ‘Manifesto da poesia pau- brasil’ ( ...) logo após as excursões da ‘descoberta’ ( SEVCENKO, 1992) .

4 Fazia parte tam bém dos planos de Cendrars realizar algum as report agens para dois periódicos

franceses.

5 Do original em espanhol: Cendrars, que había publicado una Antología negra en 1921,

advierte a los am igos brasileños sobre la cont ribución que los negros podrían hacer – y est aban haciendo – en el proceso de consolidación de una cult ura popular espont ánea. CALI L, 2000.

Assim , tem os o agradecim ento de Oswald, explicitado em um t recho do Manifest o:

Um a sugestão de Blaise Cendrars: - Tendes as locom otivas cheias, ides partir. Um negro gira a m anivela do desvio rotativo em que estais. O m enor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino ( ANDRADE, 1924) .

Por outro lado, Blaise Cendrars não se colocou apenas na posição de observador ou acom panhante dos brasileiros, m as procurou tam bém se alim entar do m aterial oferecido pelos elem entos da viagem e usá- los em seu processo criativo. No rom ance

Morravagin, escrito entre 1913 e 1925, o personagem - título

encarna a doença física e espiritual ( CALI L, 2003) de um século que com eçara da pior form a possível, com a violência de um a guerra que m arcaria Cendrars para sem pre, ao lhe tirar o braço direito, ponte entre sua m ente criadora e o papel.

A tentativa do autor de, quem sabe, captar e entender a m odernidade em sua form a real o levou a percorrer a África – antes de sua vinda às Am éricas – que era, no m om ento e sob o ponto de vista dos estetas europeus, berço daquilo que m ais se aproxim ava do prim it ivo possível, em contraposição à tom ada do m undo civilizado pela m áquina. Este m undo foi abundantem ente explorado pelas diversas expressões artísticas, com o na peça citada acim a.

Finalm ente, o Brasil, lugar onde a Europa encontrou a África e se som ou ao índio. Perceber o cont inent e prim it ivo de form a diferente, transposto para o Novo Mundo, perm it iu ao aut or im aginar um a nova raça adâm ica, em Morravagin, criando com ela novos m itos para um futuro não m uit o distante, a nascer ali, na Am érica do Sul.

Com eçam os a colher, então, elem entos que se fundirão na obra de Cendrars, com binando lendas, fatos, regiões diferentes do país: a

viagem às cidades da época do ouro, em Minas – cham am os a atenção, dentre estes itens, para aqueles presentes na obra de Tarsila.

Todos estes lugares forneceram im pressões que, ou com o fotografias em versos ou com o fantasiosas narrativas, com puseram as letras de Blaise Cendrars:

[ ...]

Quero esquecer tudo não m ais falar tuas línguas e dorm ir com negros e negras índios e índias anim ais plantas E t om ar um banho e viver n’água

E tom ar um banho e viver no sol em com panhia de um a grande bananeira

E am ar o enorm e broto dessa planta Me segm entar a m im m esm o

E ficar duro com o pedra I r a pique

Afundar.

( CENDRARS, 1976)

Em Minas, cenário diret am ent e relacionado ao que nos interessa, tem os com o um dos principais registros, por parte dos brasileiros, a fam osa exclam ação Quelle m erveille!, que Cendrars soltava a cada nova experiência. Vem os que o art ista contribuiu com um olhar diferenciado em relação ao dos próprios anfitriões. Para ele, o exot ism o da paisagem natural e const ruída aliou- se à observação dos tipos locais, com o o preso na cadeia de Tiradentes, que havia com ido o coração da sua vítim a – sím bolo concreto de ant ropofagia! – e que serviria de inspiração na criação de um lobisom em :

Ei! vocês todos, escutem , escutem a história do lobisom em . Eu o encontrei na pequena prisão de Tiradentes, um dom ingo de Páscoa ( CENDRARS, 1976) .

Conferindo um form ato extravagante a um fato pouco com um , o escritor transform a um a tragédia ocorrida em Tiradentes, a m enos de vint e quilôm et ros de São João del- Rei, em um relat o assom broso colhido num a terra distante. Este é j ustam ente o ponto que distancia Cendrars de seus antípodas: ele, por sua

condição natural, adota um a postura relaxada, na qual é adm itido brincar livrem ent e com suas palavras.

Já os m odernistas, por outro lado, têm que tratar os fragm entos destas várias realidades de form a responsável. Assim , enquanto aquele utiliza da síntese cubista para form atar seus relatos, aos brasileiros cabia um a proposição estética séria, no sentido de com por um país m aduro.

Out ro episódio, narrado por René Thiollier, vale a pena ser reproduzido, para t erm os noção da int ensidade da vivência local experim entada pelo poeta, assim com o percebem os tam bém com o ele foi visto pelos com panheiros de viagem :

Nós em São João del Rei

Jornal do Com m ercio, RJ, 19 de agost o de 1962 ( com o título de “ Blaise Cendrars no Brasil” )

[ ...] a m issa ainda não havia t erm inado, e enxerguei Cendrars a certa distância, de um lugar que ele não podia m e ver. Estava encostado à porta de um a casa, num a esquina. Tinha o ar absorto. Parecia alheio a tudo que se lhe via ao redor. E, no entanto, o am biente est ava tal

com o era do gosto dele ( THI OLLI ER, 1962, p.399- 400) .

[ grifo nosso]

Aqui, Thiollier apresent a um a descrição do cenário, ressaltando aquilo que representava o país, do religioso ao profano, do cristianism o à sensualidade negra:

Com o geralm ente o interessava, um am biente alegre, m ovim entado, lavado de sol, m uita gente tagarelando, m uitos vendedores am bulantes, vendedores de fruta, negras decot adas, de seios pesados e colares de vidrilhos m ulticores, vigiando os seus tabuleiros de doce, de pés- de- m oleque, cocadas, rapaduras de gengibre, pam onhas, aquecendo café em fogareiros, outras estalando pipocas, preparando quentão àquela hora! E quantos apreciadores havia?! As vozes dos cantores e os sons do órgão que reboavam dent ro da igrej a, repercut iam fora, o incenso, em nuvens azuladas, fugia pelas port as em balsam ando o ar... ( THI OLLI ER, 1962, p.399- 400)

Logo depois, tem os a reação do personagem à festa:

entum escidos a trem erem . Parecia ter chorado ( THI OLLI ER, 1962, p.399- 400) .

Por fim , m ais um acontecim ento rico de características m ágicas: Nesse entrem entes surgiu na esquina em que ele se encontrava, seguida de um a roda de m oleques, andando pelo m eio da rua, um a velha ananica sexagenária com um a cara de m úm ia riscada de rugas. Tinha um lenço atado à cabeça e levava um a cestinha no braço esquerdo. Apontava para o céu com o index da m ão direita e, com o fosse capenga, disfarçava o seu aleij ão fazendo- se faceira, gingando- se, rindo com a boca desdentada de beiços chupados.

Os sinos da Matriz recom eçaram a tocar e os sinos de todas as igrej as de São João a repicarem . Era m eio- dia. A m issa t erm inara. O povo saía.

A velha ananica, à m edida que os ouvia tocarem , os ia m encionando e apontando para o céu:

- Este é de São Francisco!

A m olecada, em coro, repet ia t rês vezes: - São Francisco! São Francisco! São Francisco! - Este é das Mercês!

- Das Mercês! Das Mercês! Das Mercês! - Est e, de São Gonçalo!

- São Gonçalo! São Gonçalo! São Gonçalo!

Subitam ente, que vej o?! Cendrars levar as m ãos aos olhos e as lágrim as escorrerem - lhe pelo rosto. Precipitei os passos para ele, e perguntei- lhe, em francês:

- Qu’est- ce que vous avez?! Qu’est- ce que vous avez?! Ele, a com eço, não m e quis dizer, m ostrou- se m esm o agastado. Teria, talvez, preferido que eu o não tivesse surpreendido naquele estado, que eu nada lhe tivesse perguntado. Eu porém não com preendi e insisti. Ele aí respondeu- m e:

- Oh! Laissez- m oi, j e vous em prie. Ce n’est rien.

Mas arrependeu- se de sua respost a assim um tanto brusca, pediu- m e desculpas:

- Excusez- m oi. Ce n’est rien... Cest une petite crise de schizo. I l m ’arrive parfois.

Mas, ao tornar a avistar a ananica, estrem eceu horripilado. Meteu- se a falar entre si, a dizer:

- Oh! Cet t e fem m e! Ce qu’elle m e rapelle!

Mas exatam ente o que a m ulher lhe fazia acudir ao espírito, ele nunca m e quis dizer. [ ...] ( THI OLLI ER, 1962, p.399- 400) .

Este m om ento da viagem é bastante significat ivo, na m edida em que nos apresenta um quadro do qual podem os gerar realidades superpostas, a partir do espaço/ cenário que a cidade oferece e os personagens que nele se encontram : os citadinos, Blaise Cendrars e os m odernistas.

A Sem ana Santa em São João del- Rei é um a tradicional com em oração religiosa que conserva quase que com total

fidelidade a form a de celebração dos ritos, m obilizando parte considerável da população, que se envolve em todos os processos iniciados a partir da quarta- feira de Cinzas, com as procissões que percorrem as ruas entre as igrej as.

No m om ento em que os visitantes assistem e participam da celebração, os habit antes estão vivenciando algo que está presente em seu dia a dia, da m issa às vendas de tabuleiro. Nada ali lhes é estranho, pois aquela é sua rotina. Até m esm o o episódio da velha senhora, descrito por Thiollier, dos sinos e suas respectivas igrej as, são passíveis de serem reconhecidos por outros sanj oanenses com o nat urais.

Tradicionalm ent e, a “ linguagem dos sinos” da cidade representa, a partir de repiques específicos, a sinalização de acontecim entos ligados à religião com o, por exem plo, um dia festivo ou a anunciação de um óbito e, som ados aos toques das horas, são ponto de referência para os habitantes. Tanto que a carga exótica e até m esm o m ística, direcionada à cena da velha, sai daquele cotidianoe enriquece a experiência do( s) viaj ente( s) :

[ ...]

Os sinos da Matriz recom eçaram a tocar e os sinos de todas as igrej as de São João a repicarem . Era m eio- dia. A m issa t erm inara. O povo saía.

A velha ananica, à m edida que os ouvia tocarem , os ia m encionando e apontando para o céu:

- Este é de São Francisco!

A m olecada, em coro, repet ia t rês vezes: - São Francisco! São Francisco! São Francisco! - Este é das Mercês!

- Das Mercês! Das Mercês! Das Mercês! - Est e, de São Gonçalo!

- São Gonçalo! São Gonçalo! São Gonçalo! ( THI OLLI ER, 1962, p.399- 400) .

Enquanto observador, Cendrars é lançado à condição de antípoda. O poeta acabara de em ergir da Europa pós- guerra, que explodira tam bém através das vanguardas com o reação a um a nova configuração da sociedade, principalm ente aquela urbana, das

am biente verdadeiram ente exótico: negras e fogareiros, um a velha faceira rodeada por m oleques, sinos repicando a partir de igrej as barrocas coroando um a cidade ainda não corrom pida pela m odernidade.

Juntando estes fragm entos, conseguim os entender a form atação exótica dada a estes elem entos apreciados nas andanças pelas cidades do interior m ineiro, j ustificando a apropriação, j á colocada anteriorm ente, m ais relaxada, descom prom issada, porém não m enos interessante ou m enor, pelo poeta. Afinal, tem os o interesse de j ustam ente captar os diferentes olhares e com Cendrars vem os um estrangeiro que vai para um território distante, desconhecido, a ser explorado. Neste território, o poeta queria encont rar exot ism o e fant asia, fundindo fant asia e im aginação - parte destes elem entos os brasileiros tam bém buscavam , outros não.

Brasileiros em busca do Brasil

Surge um a questão. De um lado tem os os habitantes, sej am eles loucos, religiosos ou m esm o privados no cárcere por um crim e hediondo. De outro, o antípoda ansioso por encontrar o novo e o exótico, sem am arras em seus olhos criativos. Onde se encaixam , então, os m odernistas brasileiros?

Mesm o com suas diferenças, podem os sugerir que com punham o terceiro vért ice de um triângulo, com os outros dois j á colocados6.

Com o aval de Cendrars, através dos Quelle m erveille! , ou de olhos que pareciam dizer, por estas ou outras reações: este é o

seu passado, use- o enquanto m atéria- prim a, eles estavam perante

algo que se lhes distanciava, na m edida em que j á eram cidadãos de um a m etrópole, a São Paulo frenética e m oderna.

Porém , havia o despertar de m em órias que com certeza foram inscrit as em infância, no am bient e das fazendas de café e cidades

6 Não querem os, aqui, est abelecer igualdade entre estes vértices, em quaisquer níveis de

do interior paulista. Aqui há um a aproxim ação entre eles e o estrangeiro, visto que são todos turistas – m as os horizontes buscados, outros. Não haviam aprendido que aquela era um a cultura arcaica que deveria ser superada e que deviam então renovar esteticam ente a arte para que o Brasil ficasse em dia com a produção civilizada?

[ ...] o que m erece reparo nessa viagem [ a Minas] é a atitude paradoxal dos viaj antes. São todos m odernistas, hom ens do futuro. E a um poeta de vanguarda que nos visita, escandalizando os espíritos conform istas, o que vão eles m ost rar? As velhas cidades de Minas [ ...] (BROCA7,

1952 apud EULÁLI O, 2001 – falando sobre Blaise Cendrars) .

Talvez este tenha sido um ponto de vista paradoxal, m as indicava o cam inho: aquele que seria feit o a pé de ferro8. Esta é j ustam ente

a característica que confere singularidade ao m odernism o brasileiro: um grupo de artistas e pensadores sim páticos a idéias de vanguarda foi j ustam ente envolver- se com o passado e com a construção de um a I dentidade Nacional.

Fatos, histórias e paisagens do passado brasileiro seriam essenciais à fundam entação dos preceitos estéticos na produção destes artist as. A Sem ana Santa de São João del- Rei e seus ritos, as I grej as do Barroco, os Profetas de Congonhas, a antiga capital, Ouro Preto, ou sej a, o conj unto da produção artística ( principalm ente religiosa) m ais o panoram a urbano das casinhas e suas cores populares e t radicionais apresentaram - se frente ao grupo com o um tesouro esquecido a ser reencontrado - reinventado.

E, se anteriorm ente o trem foi um dos grandes responsáveis pela introdução da vida m oderna em m uitas destas cidades, ali um m ovim ento inverso se realizava. Os trilhos da Estrada de Ferro do Oeste de Minas trouxeram estes viaj antes em busca de um