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Meta 16: Formar 50% dos professores da educação básica em nível de pós graduação lato e stricto sensu, garantir a todos formação continuada em sua

6.1 Fundamentação metodológica

6.2.1 CASO DO BRASIL

Na primeira fase, este estudo foi realizado com catorze professores de ciências do ensino fundamenta e médio da rede pública da cidade de São Paulo. Na Tabela 6.1, encontra- se uma caracterização geral dos professores em termos de curso de graduação, disciplinas lecionadas atualmente, tempo de serviço total e horário semanal. Neste trabalho, os professores do Brasil foram identificados por um código (PB1, PB2, etc.).

Tabela 6.1 – Caracterização geral dos professores

Como se pode ver pela Tabela 6.1, a maioria dos professores tem formação em Química e leciona esta disciplina, existindo apenas um professor com formação em Física que leciona esta disciplin e quatro professores com formação na área da Biologia, lecionando Biologia e/ou Ciências no ensino Fundamental. Este fato deve-se ao tema do curso que era preferencialmente para professores de Química do ensino médio, como veremos no ponto seguinte. Destes dados salientamos, igualmente, que a maioria dos professores tinha dez anos

Professor Curso de Graduação Disciplina (s)

Horário letivo semanal

(horas)

Tempo total de serviço (anos)

PB1 Bacharelado em Química Química 24 4 PB2 Biologia Ciências e

Biologia 35 4 PB3 Licenciatura em Química Química/Física e

Matemática 30 3 PB4 Química Industrial/Lic. Química Química e Ciências 60 20 PB5 Química Química e Ciências 40 18 PB6 Ciências biológicas Ciências 18 7 PB7 Licenciatura

Química/Licenciatura Física Química e Física 32 16

PB8 Ciências biológicas Ciências 21 6 PB9 Licenciatura plena em

Química/ Lic.em Pedagogia

Química/Física e

Matemática 42 5 PB10 Licenciatura plena em

Química/Lic.em Pedagogia Química 48 10 PB11 Licenciatura em Química Química 30 3 PB12 Química Química 18 8 PB13 Ciências Biológicas Ciências/Biologia 25 8 PB14

Química Industrial/Licenciatura

Química

117 de serviço, ou menos. Todos os professores lecionavam em escolas estaduais e federais diferentes, sendo a sua localização muito diversa. A maioria dos professores lecionava em escolas da cidade de São Paulo, embora em bairros distintos (Perdizes, Santo Amaro, Itaim Bibi, Mooca, Brasilândia, Ipiranga, Cidade Dutra, Pinheiros, etc.), sendo que dois lecionavam em cidades periféricas da região metropolitana de São Paulo, nomeadamente em Máua e Ribeirão Pires. Dois professores (PB4 e PB10) referiram lecionar, igualmente, em escolas privadas.

Na Tabela 6.2, encontra-se outro conjunto de dados que permite caracterizar estes participantes de uma forma mais ampla. Nesta tabela, encontram-se dados relativos ao nível de conhecimentos de Inglês e de Informática, que estes professores relatam ter, assim como, a existência ou não de laboratório de informática, suporte técnico e data-show na escola. Da mesma forma apresentamos, por professor, a existência, ou não, de pressões externas para o uso destes recursos e os motivos que os levaram a frequentar esta formação.

118 Tabela 6.2 – Caracterização dos professores

Professor Nível de Inglês Conhecimentos de Informática Existência de laboratório de informática Existência de data- show Suporte técnico Pressão externa

Motivos para frequentar esta formação

PB1 Básico Bons Sim Sim Não Sim Necessidade de melhorar a

abordagem em sala de aula

PB2 Bons Médios Sim Não Não Não Para usar estes recursos na sala

de aula

PB3 Básico Médios Sim Sim Não Sim Necessidade de desenvolver

habilidades

PB4 Básico Médios Sim Sim Não Não Procurar novos conhecimentos e

melhorar profissionalmente

PB5 Básico Básicos Não Sim Não Não Conhecer e manipular novos

recursos. Procurar motivação.

PB6 Bons Bons Não Sim Não Sim

Importância destes recursos na educação e seu potencial

pedagógico

PB7 Médio Médios Sim Não Não Não

Novas formas de ensinar e aprender. Novos recursos para a

sala de aula.

PB8 Médio Médios Sim, mas fechado

Sim, mas ainda não disponível

Não Não Novas formas de abordar

conceitos químicos

PB9 Básico Médios Sim Sim Raro Sim

Melhorar os conhecimentos em recursos multimídia para obter melhores resultados em sala de

aula

PB10 Básico Básicos Não Sim Não Sim

Melhorar os conhecimentos em recursos multimedia para obter melhores resultados em sala de

aula

PB11 Bons Bons Sim Sim

Sim, mas ainda não dispon. Ainda não, mas esperada

Conhecer novos recursos para a sala de aula

PB12 Médio Médios Sim Sim Não Não

Melhorar o conhecimento em recursos de “fora” da sala para

obter melhor resultados

PB13 Básico Médios Sim Sim Não Não Atualização e conhecimentos de

novas práticas pedagógicas

PB14 Básico Médios Sim Sim Não Não Novos conhecimentos e novas técnicas com multimídia

Este grupo de catorze professores, de um total de vinte que inicialmente se inscreveram no curso, mostrou-se muito empenhado e interessado desde a primeira sessão, todos demonstraram vontade de atualizar as suas práticas pedagógicas de modo a obter melhores resultados em sala de aula. Foi um grupo assíduo e pontual, apesar de alguns professores demorarem cerca de duas horas para chegarem à Faculdade de Educação da

119 Universidade de São Paulo, local onde foi lecionado o curso, aos sábados de manhã. Dos restantes seis professores, cinco já não voltaram para a segunda sessão e um acabou por desistir a meio do curso alegando falta de tempo. Os catorze professores que completaram o curso revelaram estarem muito satisfeitos por terem conseguido a vaga, uma vez que estavam muito interessados pessoalmente na temática, embora cinco destes tenham mencionado que estavam a receber pressões institucionais para usarem recursos multimídia nas suas aulas. Sete referiram que introduzem frequentemente estes recursos em sala de sala, um professor relata que usa muito frequentemente, quatro referiram que usam raramente estes recursos e dois professores mencionam que nunca usam este tipo de recursos.

Em relação ao tipo de visualizações mais usadas, a maioria dos professores menciona imagens estáticas e modelos concretos. No entanto, alguns acrescentam o vídeo e um número mais reduzido (apenas três) menciona o uso de animações e simulações. Os conteúdos onde estes recursos são mais usados na Química são: modelos atômicos, soluções, tabela periódica, termoquímica, transformações, orgânica, ligações químicas, separação de misturas. Nas Ciências mencionam: no estudo dos seres vivos, estudo do corpo humano e na introdução à astronomia. Três professores mencionam o uso destes recursos em todos os conteúdos da proposta curricular. Revelam igualmente que notam interesse dos alunos neste tipo de recursos.

No que diz respeito à participação no curso, de uma forma geral todos os professores procuraram participar nas tarefas propostas ao longo do curso. Comentando, no entanto, que a sua elevada carga horária em sala de aula, por vezes não lhes permitia investir mais nas leituras dos textos que suportavam algumas das temáticas e tarefas desenvolvidas durante o curso. Por este motivo, durante as sessões procuravam rentabilizar ao máximo o tempo, lendo os textos, discutindo algumas questões, dando a sua opinião ou construindo a sequência didática solicitada.

Uma vez que estes professores não se conheciam entre si, a formação dos grupos foi feita com base nas disciplinas e nos anos letivos que estavam, naquele momento, a lecionar. Este fato levou a que ficassem no mesmo grupo professores de zonas muito distintas e distantes da cidade, levando-os a ter de conceber uma sequência didática para uma população escolar com características muito peculiares e diversas. Da mesma forma, tornava-se impossível encontrarem-se presencialmente durante a semana para efetuarem qualquer tarefa

120 relacionada com o curso de formação, quer pela falta de tempo, quer pelas elevadas distâncias entre as respectivas escolas e residências. Sendo assim, a comunicação ao longo da semana entre os membros dos grupos era efetuada de uma forma não presencial, por telefone ou email. Desta forma formaram-se quatros grupos que nomeamos por A, B, C e D, com características muito distintas, que apresentamos na Tabela 6.3:

Tabela 6.3 – Constituição dos grupos Grupo Professor A PB2 PB5 PB8 PB13 B PB1 PB4 PB14 C PB3 PB7 PB11 PB12 D PB6 PB9 PB10

O Grupo A era composto por quatro professores (três professoras e um professor), três deles eram graduados em Biologia ou Ciências Biológicas e o quarto elemento tinha uma graduação em Química. Todos referiram estar à procura de novos conhecimentos e desenvolver-se profissionalmente. Eles formaram um grupo heterogêneo: uma professora (PB5), com uma experiência de ensino elevada (dezoito anos), outra professora, com menor experiência de ensino (oito anos), mas com elevado nível de conhecimentos de informática. Os outros dois professores (PB2 e PB8) mostraram conhecimentos básicos de informática e revelaram alguma falta de confiança na construção da sequência, mas vontade em envolver-se nas tarefas e aprender. Sendo assim, o grupo trabalhou colaborativamente e mostrou-se confortável em fazer esse planejamento. Dado que todos lecionavam Ciências Naturais decidiram desenvolver uma sequência didática, bastante detalhada, no âmbito do conteúdo “Mudanças de estado Físico”, que pertence ao currículo da referida disciplina (alunos da 8ª série (9ºano) do Ensino Fundamental II da rede pública de ensino).

O Grupo B era formado por três professores. Um deles (PB4) tinha vinte anos de experiência de ensino e mostrou bons conhecimentos de informática, os outros revelaram dificuldades para trabalhar com os computadores e, a mais jovem (PB1), salientou que nunca

121 tinha usado este tipo de ferramentas, nomeadamente as multimídia. Referem dificuldades pedagógicas, nomeadamente no “por que usar?”. Todos eles tinham uma licenciatura em Química e escolheram, para construir a sequência didática, o conteúdo “Velocidade de uma reação química”, para alunos do 3º ano do Ensino Médio da rede estadual, usando duas aulas de 50 minutos. À semelhança do grupo anterior, escolheram este tópico por fazer parte dos conteúdos que iriam abordar na sala de aula. Tendo em conta que só tinham um computador na sala de aula eles planejaram projetar e trabalhar com toda a classe. Eles referem que, no início, tiveram algumas dificuldades em escolher as ferramentas visuais apropriadas, tendo acabado por escolher um software de acesso restrito fornecido pelo editor dos livros adotados na escola onde um deles lecionava. Inicialmente, mostraram-se desconfortáveis com esta escolha, mas conversando com a formadora, foram incentivados a fazê-lo e perceberam que era uma boa oportunidade para explorar com o grupo as potencialidades do software que podiam utilizar nas suas próprias aulas. A sequência didática elaborada não é muito rica em detalhes, há um conjunto sequencial de momentos, mas não há uma duração definida para cada um deles, assim como os objetivos que são bastante gerais.

Em relação ao Grupo C, este era formado por quatro professoras. Todas tinham uma licenciatura em Química e uma delas tinha também uma graduação em Física. A professora mais experiente (PB7) e PB11 mostraram bons conhecimentos de informática, enquanto PB3 e PB12 revelaram algumas dificuldades no uso de tecnologia. Elas escolheram um tema que todas costumavam lecionar e achavam difícil de ensinar. Duas das professoras estariam ensinando este tópico daí a algumas semanas, assim, escolheram para lecionar, como o grupo anterior, o tema “Cinética Química”. Apresentam uma sequência didática bem detalhada, distinguindo os momentos de cada aula, os respectivos objetivos, duração e recursos necessários. Este foi o único grupo do Brasil que aplicou a sequência didática em sala de aula, encetou uma atividade investigativa sobre a prática e partilhou os resultados com o grupo em formação.

O Grupo D era formado por três professores (inicialmente eram quatro, mas um desistiu do curso). Um dos professores tinha uma licenciatura2 em Ciências Biológicas (PB6) e os outros tinham uma licenciatura em Química. Desde o início eles mostraram algumas dificuldades em escolher o tema e em construir a sequência didática. Demoraram muito a decidir qual o conteúdo, tendo restado pouco tempo para a elaboração da sequência. Como o

122 Grupo A eles decidiram trabalhar sobre um tema comum a ambos os professores "Mudanças de Estado Físico" e "Ponto de ebulição e de fusão". Eles construíram uma sequência didática para quatro aulas, mas com poucos detalhes, que apenas apresentaram na comunicação oral à turma em Power Point.