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O nome real do participante foi preservado, sendo utilizado o nome fictício “Juliano”. Ele é do sexo masculino e, na época dos encontros para a realização da entrevista clínica e da aplicação do Método de Rorschach, estava com dezessete anos de idade, cursando o nono ano do Ensino Fundamental.

O participante foi selecionado por estar cumprindo medidas socioeducativas na Unidade de Liberdade Assistida de Santa Maria – SEJUS – DF devido ao cometimento de crimes durante o período da adolescência, apresentando perfil pertinente aos propósitos da presente pesquisa. A partir dos encontros realizados com esse adolescente, foi possível construir uma síntese referente aos principais aspectos de sua vida.

Em relação a sua vida escolar, Juliano relatou que sempre apresentou mau comportamento, indisciplina e envolvimento em discussões com professores, sendo transferido de escola algumas vezes. Disse que reiteradamente não prestava atenção às aulas, participava de confusões e que se sentiu muito desinteressado pelos estudos ao ter começado a cursar o nono ano do Ensino Fundamental, chegando a ser reprovado duas vezes, o que lhe motivou a parar de estudar pelo período aproximado de um ano.

Juliano disse que recomeçou os estudos mais uma vez, mas que o seu desinteresse continuou, faltando às aulas por diversas vezes e, em outros momentos, indo às aulas somente para cumprir horário, não se importando com a aprendizagem. Atualmente, relatou que não falta às aulas como anteriormente, embora não goste de ir à escola e de estudar. Entretanto, tem a pretensão de concluir os estudos.

Além de se envolver com brigas em sua vida escolar, o participante comentou que, frequentemente, se envolveu com desordens em sua vida pessoal, por exemplo, desentendimentos que acabam em brigas porque muitas vezes é provocado e irritado ao invés de provocar e irritar as outras pessoas. Por diversos problemas desse tipo, ocorreram suspensões da escola. Dentre esses problemas, para exemplificar, podemos citar, além das brigas no contexto educacional, o uso de cigarro e colocar intencionalmente laxantes na merenda escolar, mas Juliano sempre negou a autoria desse fato.

De acordo com a entrevista, parece que o sujeito não possui planejamento para o seu futuro, já que apenas disse vagamente que quer ter um emprego que não demanda grandes esforços para a efetivação das tarefas propostas, e que quer ter dinheiro. Ainda a respeito do futuro, relatou que a qualquer momento a morte pode ocorrer, por isso não pensa em planos para o devir.

Juliano comentou que seu nascimento foi somente devido a sua mãe ter engravidado casualmente, já que seus pais não eram casados. Ele também possui dois irmãos por parte de pai e três por parte de mãe advindos de outros relacionamentos.

Ao longo de sua vida, já morou com a avó materna, um tio e uma tia, a qual é deficiente mental, segundo seu comentário. Depois morou com sua mãe no mesmo lote no qual sua avó morava. Posteriormente, foi morar com o pai. Nessa época, Juliano relatou que tinha por volta de catorze anos de idade e que ficou morando com seu pai aproximadamente seis meses. Teve problemas de relacionamento com a família paterna (madrasta e irmãos), não tinha relacionamento próximo com seu pai e, normalmente, metia-se em confusões. Em virtude desses desentendimentos, voltou a morar com sua mãe por decisão própria.

Atualmente, está morando com a mãe, o padrasto e os três irmãos maternos (idades por volta de treze, nove e sete anos, sendo respectivamente,

um rapaz, uma menina e um menino). Relatou ter uma vida tranquila com os irmãos e com o padrasto, apesar de ter apresentado conflitos com o mesmo no início desse relacionamento afetivo de sua mãe. Em relação ao seu pai, disse que raramente se veem, não possuindo convivência com o mesmo, ou seja, o relacionamento é muito distante.

Juliano expôs que as regras em casa não são rígidas, já que ele mesmo é quem estipula o horário para sair e chegar em casa, exemplificando que quando volta à noite da rua, às vezes chega mais cedo e em outros momentos chega bem mais tarde.

Até por volta dos treze anos de idade, disse que apanhava de sua mãe pelas coisas consideradas erradas que fazia, por exemplo, mau comportamento e indisciplina. Atualmente, segundo seus comentários, sua mãe apenas procura conversar, sempre buscando lhe dizer o que considera certo e errado.

Os tios de Juliano, a partir de seu relato, fazem uso exagerado de bebidas alcoólicas e, frequentemente, são agressivos, embora tenha dito que nenhum de seus familiares já esteve em conflito com a lei.

Ao ser questionado sobre o seu estado emocional e temperamento, Juliano comentou que, constantemente, se considera nervoso, por vezes, agressivo.

A respeito de relacionamentos amorosos, disse que sua primeira relação sexual ocorreu quando tinha por volta de dezesseis anos de idade e que já namorou duas moças, considerando relacionamento de período mais longo, mas expôs não ter sofrido com o término de tais relacionamentos. Também já se envolveu com duas pessoas ao mesmo tempo, dizendo se sentir “[...] o bom [...]”.

Juliano relatou que já fez uso de maconha, cocaína e “[...] Rupinol [...]”. Disse ter começado o uso de substâncias psicoativas aos quinze anos de idade. Comentou que, atualmente, as utiliza para se sentir tranquilo, tentando controlar seu nervosismo. Avaliou que o uso de substâncias psicoativas não prejudica sua vida, apenas que lhe causou prejuízo na época em que foi preso por porte de maconha.

A primeira prisão de Juliano foi por roubo à mão armada a um ônibus, quando o mesmo tinha quinze anos de idade. O motivo relatado, que o levou à efetivação do roubo, foi a vontade de ter dinheiro. Os policiais, na ocasião, deram voz de prisão a Juliano, em flagrante. Dessa maneira, o adolescente comentou que passou pela Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), pelo Centro de

Atendimento Juvenil Especializado (Caje) e, depois, pelo Centro Socioeducativo Amigoniano (Cesami).

Após a saída do Cesami, disse que começou a traficar drogas pelo período aproximado de um ano. Em virtude do tráfico, foi novamente preso, não negando sua autoria e dessa vez, segundo o participante, passando pela DCA, Caje, Promotoria de Justiça e Vara da Infância e da Juventude (VIJ). Atualmente, está em cumprimento de medidas socioeducativas pelo roubo à mão armada a um ônibus.

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