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Caso nº 3 Recurso extraordinário nº 201.819 A aplicabilidade direta e imediata das garantias do

4 Estudo de casos: a eficácia das garantias do contraditório e da ampla defesa na jurisprudência do Supremo Tribunal

4.3 Caso nº 3 Recurso extraordinário nº 201.819 A aplicabilidade direta e imediata das garantias do

contraditório e da ampla defesa nas relações privadas. Exclusão de membro de associação privada sem observação das garantias do contraditório e da ampla defesa.

O recurso extraordinário nº 201.819 demonstra uma nítida mudança na linha argumentativa do Supremo Tribunal Federal no tocante ao problema da eficácia das normas constitucionais.

No caso anteriormente analisado (recurso extraordinário nº 158.215), o Supremo Tribunal Federal reconheceu a incidência das disposições constantes no artigo 5º, LV, da Constituição Federal de 1988 às relações jurídicas privadas. Embora não tenha sido explicitamente afirmado no acórdão, tal reconhecimento foi construído sob a tese de plenitude eficacial da norma, tal como postulado por José Afonso da Silva. De fato, à época da decisão (1996), o pensamento dominante no Supremo Tribunal Federal era tributário da moderna teoria constitucional282.

282 No mesmo ano (1996), o Supremo Tribunal Federal julgou um caso que teve bastante

repercussão no direito do trabalho, pois dizia respeito ao tratamento diferenciado que uma companhia aérea atribuía aos seus empregados de nacionalidade francesa em relação aos trabalhadores brasileiros. O caso foi conhecido pelo Supremo Tribunal Federal por violação ao princípio da isonomia (art. 153, § 1º, da Constituição Federal de 1967) e provido para determinar a aplicação do estatuto da empresa aos trabalhadores brasileiros, em igualdade de condições com os trabalhadores franceses. Embora trate inequivocamente de matéria relacionada aos direitos fundamentais, não se observa qualquer menção a esta categoria de direitos ou a doutrinadores do constitucionalismo contemporâneo. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. 2ª. Turma. Ementa: ”CONSTITUCIONAL. TRABALHO. PRINCÍPIO DA IGUALDADE. TRABALHADOR BRASILEIRO EMPREGADO DE EMPRESA ESTRANGEIRA: ESTATUTOS DO PESSOAL DESTA: APLICABILIDADE AO TRABALHADOR ESTRANGEIRO E AO TRABALHADOR BRASILEIRO. C.F., 1967, art. 153, § 1º; C.F., 1988, art. 5º, caput. I. - Ao recorrente, por não ser francês, não obstante trabalhar para a empresa francesa, no Brasil, não foi aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens aos empregados, cuja aplicabilidade seria restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao princípio da igualdade: C.F., 1967, art. 153, § 1º; C.F., 1988, art. 5º, caput). II. - A discriminação que se baseia em atributo, qualidade, nota intrínseca ou extrínseca do indivíduo, como o sexo, a raça,

Quase uma década depois, o Supremo Tribunal Federal enfrentou novamente o problema da incidência dos direitos e garantias individuais nas relações de direito privado. Desta vez, no entanto, a Suprema Corte adotou a teoria dos direitos fundamentais como argumento de decisão.

Uma associação civil sem fins lucrativos, a União Brasileira de Compositores, por meio de seu órgão máximo deliberativo, decidiu instituir comissão especial com o objetivo de apurar possíveis infrações estatutárias cometidas por um de seus associados, delegando, à referida comissão, poderes para aplicar as sanções que reputasse adequadas ao caso. O procedimento teria transcorrido de forma unilateral, sem que ao interessado tivesse sido concedido o direito de defesa e das garantias a ela inerentes, como a de produzir provas em seu favor. Apurados os fatos, a comissão especial deliberou por excluir o associado investigado.

O associado excluído ingressou com ação judicial postulando a declaração de nulidade do ato por ofensa às garantias do contraditório e da ampla defesa e sua consequente readmissão aos quadros societários. A ação foi julgada procedente em primeiro grau de jurisdição. Inconformada, a associação manejou recurso de apelação, ao qual o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro negou provimento, confirmando a sentença que declarara ilegal o ato de exclusão do autor da demanda. Embora fosse incontroverso que as disposições constantes do estatuto da entidade foram respeitadas, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro declarou nulo o ato de exclusão do associado por violação direta ao artigo 5º, LV, da Constituição Federal283.

a nacionalidade, o credo religioso, etc., é inconstitucional. Precedente do STF: Ag 110.846 (AgRg) - PR, Célio Borja, RTJ 119/465. III. - Fatores que autorizariam a desigualização não ocorrentes no caso. IV. - R.E. conhecido e provido”. Recorrente: Joseph Halfin. Recorrido: Compagnie Nationale Air France. Recurso extraordinário nº 161.243-6. Relator: ministro Carlos Velloso. Brasília, 29 out. 1996. Diário da justiça de 19 dez. 1997.

283 RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça. 5ª Câmara Cível. Ementa: “Sociedade civil. União

Brasileira de Compositores. Exclusão de sócio. Alegado descumprimento de resoluções da sociedade e propositura de ações que acarretaram prejuízos morais e financeiros à entidade. Direito constitucional de ampla defesa desrespeitado. Antes de concluir pela punição, a

A associação interpôs recurso extraordinário pelo qual sustentou que as disposições do artigo 5º, LV, da Constituição Federal de 1988 vinculariam apenas os órgãos da administração pública, não se aplicando aos entes de direito privado, como é o seu caso, os quais possuem regimentos e estatutos próprios que disciplinam suas relações internas.

A discussão, portanto, orbitava sobre o grau de eficácia e adequação da norma encerrada no artigo 5º, LV, da Constituição Federal de 1988.

O recurso extraordinário foi conhecido pelos efeitos do provimento ao agravo de instrumento interposto. No mérito, a relatora sorteada, ministra Ellen Gracie, o provia para julgar a ação improcedente. Seus argumentos, no aspecto central:

Entendo que as associações privadas têm liberdade para se organizar e estabelecer normas de funcionamento e de relacionamento entre os sócios, desde que respeitem a legislação em vigor. Cada indivíduo, ao ingressar numa sociedade, conhece suas regras e seus objetivos, aderindo a eles.

A controvérsia envolvendo a exclusão de um sócio de entidade privada resolve-se a partir das regras do estatuto social e da legislação civil em vigor.

Não tem, portanto, o aporte constitucional atribuído pela instancia de origem, sendo totalmente descabida a invocação do disposto no art. 5°, LV da Constituição para agasalhar a pretensão do recorrido de reingressar nos quadros da UBC.

Obedecido o procedimento fixado no estatuto da recorrente para a exclusão do recorrido, não há ofensa ao principio da ampla defesa, cuja

comissão especial tinha de dar oportunidade ao sócio de se defender e realizar possíveis provas em seu favor. Infringência ao art. 5º, inc. LV, da Constituição Federal. Punição anulada. Pedido de reintegração procedente. Recurso desprovido”. Apelante: União Brasileira de Compositores. Apelado: Arthur Rodrigues Villarinho. Apelação nº 0010634-71.1991.8.19.0000. Relator: juiz Marcus Antônio de Souza Faver. Rio de Janeiro, 31 de mar. 1992.

Pesquisa de jurisprudência. Disponível em <http://srv85.tjrj.jus.br/ConsultaDocGedWeb/face

s/ResourceLoader.jsp?idDocumento=00031161F8A3E5A8D5F276F31A54EC73895DF2C4024 54A26>. Acesso em: 17 jan. 2013.

aplicação à hipótese dos autos revelou-se equivocada, o que justifica o provimento do recurso284.

O assunto ganhou atenção especial no Supremo Tribunal Federal. Logo após o voto da ministra relatora, o ministro Gilmar Mendes assim justificou o seu pedido de vista dos autos:

Tal como destacado pela eminente Relatora, e realmente um caso raro, apreciado pela jurisdição de perfil constitucional. É situação típica de aplicação dos direitos fundamentais as relações privadas285.

Retomado o julgamento, o ministro Gilmar Mendes apresentou voto diametralmente divergente, o qual acabou prevalecendo no julgamento. O Supremo Tribunal Federal negou provimento ao recurso extraordinário confirmando que a exclusão do associado, sem abertura de procedimento contraditório e resguardado por ampla defesa, é contrário ao disposto no artigo 5º, LV, da Constituição Federal de 1988. A decisão recebeu a seguinte ementa: SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM GARANTIA DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. RECURSO DESPROVIDO. I. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. As violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em face dos poderes privados. II. OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS COMO LIMITES À AUTONOMIA PRIVADA DAS ASSOCIAÇÕES. A ordem jurídico-constitucional brasileira não conferiu a qualquer associação civil a possibilidade de agir à revelia dos princípios inscritos nas leis e, em especial, dos postulados que têm por fundamento direto o próprio texto da Constituição da República, notadamente em tema de proteção às liberdades e garantias fundamentais. O espaço de autonomia privada garantido pela Constituição às associações não está imune à incidência dos princípios constitucionais que asseguram o respeito aos direitos

284 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. 2ª Turma. Recorrente: União Brasileira de

Compositores. Recorrido: Arthur Rodrigues Villarinho. Recurso Extraordinário nº 201.819. Relatora: ministra Ellen Gracie. Relator para o acórdão: ministro Gilmar Mendes. Brasília, 11 out. 2005. Diário da justiça de 27 out. 2006.

fundamentais de seus associados. A autonomia privada, que encontra claras limitações de ordem jurídica, não pode ser exercida em detrimento ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros, especialmente aqueles positivados em sede constitucional, pois a autonomia da vontade não confere aos particulares, no domínio de sua incidência e atuação, o poder de transgredir ou de ignorar as restrições postas e definidas pela própria Constituição, cuja eficácia e força normativa também se impõem, aos particulares, no âmbito de suas relações privadas, em tema de liberdades fundamentais. III. SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. ENTIDADE QUE INTEGRA ESPAÇO PÚBLICO, AINDA QUE NÃO-ESTATAL. ATIVIDADE DE CARÁTER PÚBLICO. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.APLICAÇÃO DIRETA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO. As associações privadas que exercem função predominante em determinado âmbito econômico e/ou social, mantendo seus associados em relações de dependência econômica e/ou social, integram o que se pode denominar de espaço público, ainda que não- estatal. A União Brasileira de Compositores - UBC, sociedade civil sem fins lucrativos, integra a estrutura do ECAD e, portanto, assume posição privilegiada para determinar a extensão do gozo e fruição dos direitos autorais de seus associados. A exclusão de sócio do quadro social da UBC, sem qualquer garantia de ampla defesa, do contraditório, ou do devido processo constitucional, onera consideravelmente o recorrido, o qual fica impossibilitado de perceber os direitos autorais relativos à execução de suas obras. A vedação das garantias constitucionais do devido processo legal acaba por restringir a própria liberdade de exercício profissional do sócio. O caráter público da atividade exercida pela sociedade e a dependência do vínculo associativo para o exercício profissional de seus sócios legitimam, no caso concreto, a aplicação direta dos direitos fundamentais concernentes ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, CF/88). IV. Recurso extraordinário desprovido286.

O ponto nuclear desta decisão, para efeitos da pesquisa, é o expresso reconhecimento da eficácia direta e imediata dos direitos fundamentais nas relações privadas, especificamente as garantia do contraditório e da ampla defesa.

O Supremo Tribunal Federal reconheceu que as violações aos direitos fundamentais não ocorrem apenas nas relações verticais, isto é, nas relações que envolvem de um lado um ente estatal e, de outro, o cidadão, mas

286 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. 2ª Turma. Recorrente: União Brasileira de

Compositores. Recorrido: Arthur Rodrigues Villarinho. Recurso Extraordinário nº 201.819. Relatora: ministra Ellen Gracie. Relator para o acórdão: ministro Gilmar Mendes. Brasília, 11 out. 2005. Diário da justiça de 27 out. 2006.

também ocorrem no âmbito das relações interprivadas: “os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em face dos poderes privados”287.

Algumas questões bastante relevantes ao presente estudo foram suscitadas nos debates de julgamento. A primeira delas diz respeito ao fato de que o ato de exclusão causou sérios prejuízos ao associado, uma vez que a União Brasileira de Compositores promove o repasse aos seus sócios dos valores recebidos a título de direitos autorais pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD). Embora o associado excluído não tivesse ficado totalmente impossibilitado de receber seus valores arrecadados pelo ECAD288, se mostrou inequívoco que sua exclusão, em alguma medida, causou impacto no seu meio de subsistência e até mesmo na sua “própria liberdade de exercício profissional”289.

Outro momento de absoluta relevância para a presente pesquisa foi a invocação da relação de emprego como hipótese na qual, ante seus peculiares contornos, seria incontroversa a eficácia horizontal dos direitos fundamentais. É interessante notar que até mesmo os juízes que resultaram vencidos no julgamento, ministra Ellen Gracie e ministro Carlos Velloso, manifestaram entendimento no sentido de que as relações jurídicas privadas reguladas pelo direito do trabalho, por suas características, não devem ficar imunes à aplicação direta e imediata das garantias constitucionais.

287 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. 2ª Turma. Recorrente: União Brasileira de

Compositores. Recorrido: Arthur Rodrigues Villarinho. Recurso Extraordinário nº 201.819. Relatora: ministra Ellen Gracie. Relator para o acórdão: ministro Gilmar Mendes. Brasília, 11 out. 2005. Diário da justiça de 27 out. 2006.

288 Uma vez que poderia se filiar a outra associação ou até mesmo exercitar seus direitos

pessoalmente, como autoriza o art. 98, § único, da Lei nº 9.610, de 19 fev. 1998. Tal peculiaridade foi reconhecida pela ministra Ellen Gracie na confirmação de seu voto, nos seguintes termos: “Não me apercebi, Ministro Gilmar Mendes, de que houvesse um prejuízo econômico ou impedimento de recebimento de direitos autorais, que poderiam, sim, continuar sendo recebidos por meio do Ecad, entidade esta que o Plenário reconheceu como de natureza quase publica, digamos assim, mas não esta Associação de Compositores, que é apenas uma repassadora dos recursos recolhidos - estes, sim - pelo Ecad” (Idem).

Neste sentido, e no trecho que mais interessa ao presente estudo, o ministro Joaquim Barbosa se manifestou nos seguintes termos:

O tema, aqui, é o da eficácia horizontal. E a tese que parte da premissa de que em determinadas situações as normas, especialmente as constitucionais relativas ao devido processo legal, ao contraditório, também podem ser invocadas nessas relações ditas horizontais. Parece-me bastante forte o argumento de que, na nossa Constituição, temos exemplos de aplicação dessa teoria da incidência horizontal, por exemplo, nas relações trabalhistas290.

A ministra Ellen Gracie, relatora original e vencida no julgamento, assim respondeu:

Mas aí é completamente diferente. Em relações trabalhistas, há uma subordinação. Aqui, a pessoa se associa porque quer; é uma entidade que tem normas próprias, inclusive de exclusão de sócios. Foi o que aconteceu. Houve uma comissão de inquérito291.

À manifestação da ministra Ellen Gracie, seguiu a seguinte intervenção por parte do ministro Carlos Velloso, que a acompanhava na decisão:

Esta Turma já afirmou a aplicabilidade de direitos públicos fundamentais nas relações trabalhistas, quando julgamos, por exemplo, o caso da Air France. O estatuto desta contemplava vantagens para o empregado francês, vantagens que não se estendiam ao empregado brasileiro292.

Encerrando o julgamento do recurso extraordinário nº 201.819, o ministro Celso de Mello sintetizou o entendimento que acabou prevalecendo na Turma, consagrando que

290 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. 2ª Turma. Recorrente: União Brasileira de

Compositores. Recorrido: Arthur Rodrigues Villarinho. Recurso Extraordinário nº 201.819. Relatora: ministra Ellen Gracie. Relator para o acórdão: ministro Gilmar Mendes. Brasília, 11 out. 2005. Diário da justiça de 27 out. 2006.

291 Idem. 292 Ibidem.

Concluo, pois, Senhores Ministros, no sentido de reconhecer que assiste, ao associado, no procedimento de sua expulsão referente à entidade civil de que seja membro integrante, a prerrogativa indisponível de ver respeitada a garantia do contraditório e da plenitude de defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, consoante prescreve, em cláusula mandatória, a Constituição da República, em seu art. 5º, inciso LV, não obstante se trate, como no caso, de ato praticado na esfera e sob a égide de uma típica relação de ordem jurídico-privada293.

A decisão proferida no caso, por sua extensão e densidade argumentativa, merece espaço destacado no presente relatório de pesquisa, o que justifica nossa decisão de reproduzi-la em seu inteiro teor no anexo ao presente trabalho. Estas mesmas razões justificam a enunciação das principais conclusões que podem ser extraídas do acórdão. São elas:

− As normas definidoras de direitos fundamentais são atribuídas de eficácia horizontal, permeando as relações jurídicas travadas entre entes de direito privado, aos quais se aplicam de forma direta, imediata e integral;

− A eficácia horizontal dos direitos fundamentais tem especial incidência nas relações privadas nas quais se verifica um desnível jurídico entre os contratantes que estabelece um deles em uma posição de poder em relação ao outro;

− As relações de trabalho são marcadas por uma desigualdade fática e jurídica entre os contratantes, o que torna incontroversa a incidência imediata e direta das normas definidoras de direitos fundamentais;

− As garantias do contraditório e da ampla defesa, integrantes do catálogo constitucional de direitos fundamentais,

293 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. 2ª Turma. Recorrente: União Brasileira de

Compositores. Recorrido: Arthur Rodrigues Villarinho. Recurso Extraordinário nº 201.819. Relatora: ministra Ellen Gracie. Relator para o acórdão: ministro Gilmar Mendes. Brasília, 11 out. 2005. Diário da justiça de 27 out. 2006.

incidem sobre as relações de direito privado, notadamente quando uma das partes concentrar poderes para, por seus próprios desígnios, atingir direitos e interesses da outra.