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3.2 Os julgados do Tribunal de Justiça de Santa Catarina

3.2.11 Casos diversos

Em maio de 2014, houve três julgamentos na 2ª Câmara de Direito Público, todos relatados pelo Desembargador Francisco Oliveira Neto, oportunidade em que foram utilizados argumentos semelhantes em todos os casos, motivo pelo qual serão tratados em conjunto.

Na Apelação Cível n. 2012.060816-4, julgada em 6 de maio de 2014, trata-se de Ação Civil Pública intentada contra uma universidade privada que inseriu cláusulas consideradas abusivas em seus contratos, como aumentos e cobrança de taxas informados em letras muito pequenas que, portanto, não seguiam o disposto no Código de Defesa do Consumidor. No mesmo dia foi julgada a Apelação Cível n. 2012.039715-1, já citada no tópico sobre serviços de telecomunicações.

No último caso, a Apelação Cível n. 2012.008195-9, julgada em 13 de maio de 2014, cuida de caso em que, após denúncias anônimas e investigações, o MPSC propôs Ação Civil Pública contra um sindicato de escolas particulares que estaria fornecendo um modelo contratual às escolas particulares com cláusulas que ferem os direitos dos consumidores, como, por exemplo, a possibilidade de desligamento de aluno da instituição que estivesse com mensalidades atrasadas há mais de 90 (noventa) dias, o que não seria permitido pela legislação atual.

Nos três casos acima relatados, a compensação por danos morais coletivos havia sido negada em primeiro grau, e o voto do relator seguiu o entendimento exarado pelo juízo a quo. Nestes casos, o Desembargador arguiu que:

Contudo, em que pese entender que é possível o reconhecimento da indenização pelo dano moral coletivo, no caso concreto, vislumbra-se que não há qualquer violação significativa à honra e ao sentimento da coletividade em razão da prática da apelante, na medida em que essa conduta se insere nas situações excepcionais que os cidadãos estão sujeitos a enfrentar em seu cotidiano e, portanto, não reflete um malferimento de seus direitos basilares a ponto de merecer indenização por danos morais.128

127 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação Cível n. 0901135-51.2016.8.24.0023, da Capital, rel. Des. Sônia Maria Schmitz, Quarta Câmara de Direito Público, j. 01-08-2019.

128 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação Cível n. 2012.008195-9, da Capital, rel. Des. Francisco Oliveira Neto, Segunda Câmara de Direito Público, j. 13-05-2014.

Dessa forma, embora o Desembargador relator dos casos acima expostos, tenha esclarecido que é possível a condenação a compensar danos morais coletivos, restou consignado que, nas hipóteses em comento, não houve lesão coletiva consumerista passível de reparação.

Seguindo a análise, em 22 de junho de 2017, foi julgada a Apelação Cível n. 0900038-76.2014.8.24.0058, na 2ª Câmara de Direito Civil, sob relatoria do Desembargador Sebastião César Evangelista. No caso, um clube estaria descumprindo as normas de segurança impostas pela legislação vigente, de forma reiterada. O entendimento em primeiro grau foi de que a conduta causa intranquilidade social capaz de gerar lesão coletiva passível de reparação. Portanto, condenou o réu ao pagamento de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de compensação por danos morais coletivos. Em segundo grau, a sentença foi mantida, anotando o relator que “comprovada a recalcitrância no descumprimento de normas de segurança, mostra- se justificável a imposição de penalidade por dano moral coletivo, mormente em se tratando de estabelecimento destinado ao recebimento de grande público” 129.

Em junho de 2018, foi julgada a Apelação Cível n. 0060203- 93.2012.8.24.0023, na 6ª Câmara de Direito Civil, relatada pelo Desembargador Stanley da Silva Braga, que tratava de Ação Civil Pública ajuizada por associação de direito privado contra diversas empresas de transporte aéreo. Alegaram que as empresas estariam praticando conduta que viola o direito da igualdade ao fornecer vantagem de prioridade de embarque e check-in a passageiros vinculados a programas de relacionamento. Tanto em primeiro, quanto em segundo grau, o pleito foi julgado improcedente, pois a conduta não fere as normas consumeristas. Nesse sentido, anotou o Desembargador relator:

Inimaginável, desse modo, supor que as empresas aéreas viessem a ser expostas a um sancionamento porque meramente estão inseridas em uma economia de mercado, dando algum, reconhecimento a quem, de alguma forma, lhe dá um retorno financeiro. Não consta nenhuma situação de humilhação a consumidores.130

129 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação Cível n. 0900038-76.2014.8.24.0058, de São Bento do Sul, rel. Des. Sebastião César Evangelista, Segunda Câmara de Direito Civil, j. 22-06-2017.

130 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação Cível n. 0060203-93.2012.8.24.0023, da Capital, rel. Des. Stanley da Silva Braga, Sexta Câmara de Direito Civil, j. 17-04-2018.

A Apelação Cível n. 0014585-32.2011.8.24.0033, julgada em 18 de outubro de 2018, relatada pelo Desembargador Hélio do Valle Pereira, na 5ª Câmara de Direito Público, trata de Ação Civil Pública contra empresas e diversos de seus sócios que atuavam no ramo do serviço de despachantes perante o DETRAN/SC, contudo, não prestavam o serviço contratado pelos consumidores de forma adequada. Em primeiro grau, os demais pedidos foram julgados procedentes, mas o pedido de condenação a compensar danos morais coletivos foi improcedente. Em segundo grau, o Desembargador relator manteve o posicionamento adotado pelo magistrado a quo:

Quanto aos danos morais coletivos, registro que a mera existência de ato contrário à legislação consumerista não autoriza a imposição. Portanto, sendo possível (e até recomendável) a recomposição dos danos sofridos pelos particulares, de modo individual e particularizado, o dano moral coletivo não tem aqui razão de existir.131

Em julgamento de 11 de dezembro de 2018, Apelação Cível n. 0902020- 45.2014.8.24.0020, na 3ª Câmara de Direito Público, relatado pelo Desembargador Ricardo Roesler, foi apreciado recurso interposto contra sentença proferida em Ação Civil Pública contra a companhia que distribui água em diversos municípios de Santa Catarina que deixou de fornecer água durante quatro dias a três municípios de determinada região. A empresa ré alegou que o fornecimento foi interrompido devido às fortes chuvas que ocorreram. No entanto, restou comprovado por perícia que as chuvas foram compatíveis com a época do ano. Dessa forma, em primeiro grau, a ré foi condenada a compensação por danos morais coletivos no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). No segundo grau, o montante da condenação foi mantido, rateado entre o fundo de reparação estadual e municipal dos municípios afetados. A condenação foi justificada pelo Desembargador relator, que expôs:

O direito à indenização por dano moral ambiental coletivo deve decorrer da diminuição da qualidade de vida da população o que, na hipótese, restou plenamente evidenciado tendo em vista que a população de três municípios (Criciúma, Nova Veneza e Siderópolis) ficou sem água por aproximadamente quatro dias o que, por si, tem o condão de gerar dano moral. Assim, porque os prejuízos ultrapassaram os limites do tolerável, atingiram o bem estar social e os valores coletivos, caracterizado está o dano moral coletivo.132

131 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação Cível n. 0014585-32.2011.8.24.0033, de Itajaí, rel. Des. Hélio do Valle Pereira, Quinta Câmara de Direito Público, j. 18-10-2018.

132 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação Cível n. 0902020-45.2014.8.24.0020, de Criciúma, rel. Des. Ricardo Roesler, Terceira Câmara de Direito Público, j. 11-12-2018.

Finalizando as análises dos julgados, em 19 de setembro de 2019, foi apreciada na 4ª Câmara de Direito Público, a Apelação Cível n. 0004870- 32.2007.8.24.0024, relatada pelo Desembargador Rodolfo Cezar Ribeiro Da Silva Tridapalli. No caso, eram rés empresas de transporte coletivo que estavam exigindo cadastro de pessoas com deficiência para obtenção do benefício do “passe-livre”. Esse requisito não constava nas disposições da concessão, configurando prática abusiva. Sendo assim, na sentença as empresas foram condenadas ao pagamento de compensação a título de danos extrapatrimoniais no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) cada uma. O acórdão manteve a sentença, salientando que “a conduta da empresa concessionária (...) certamente atinge, indistintamente, a coletividade de pessoas que necessitam de tal prioridade”133.

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