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Os participantes de cinco anos, de um modo geral, demonstraram grandes dificuldades em conseguir executar o pequeno trecho musical que lhes foi proposto.

Esses sujeitos mais jovens falharam na execução, seja por tocar mais notas musicais que o proposto, ou mesmo pela dificuldade em sincronizar suas ações com as ações dos experimentadores.

Além dessas dificuldades de ordem musical, também foram constatadas dificuldades na interação entre participantes e experimentadores. Todas os fatos, a respeito de cada uma das crianças entrevistadas, são narrados e discutidos a seguir.

BAZ (5 anos e 8 meses)

Muito tímida, inicialmente não quis participar da atividade, retornando assim para a sala de aula. Após alguns minutos pediu para participar novamente do estudo. De volta à atividade não obteve sucesso na ação, não conseguindo tocar em simultaneidade com a pesquisadora.

Quadro 4 – Transcrição do experimento realizado com BAZ. FONTE: a autora.

O caso dessa participante, assim como o caso de outros colegas seus de mesma idade, demonstra que a execução musical em conjunto não é uma atividade de fácil realização para as crianças mais jovens. O fato – a princípio bastante óbvio – de que as habilidades musicais são fruto de um desenvolvimento parece também verificável a partir da constatação de que, decorridos alguns meses, essas dificuldades na execução musical em conjunto, observadas há pouco, são vencidas.

Basta que se observe o comportamento dos participantes de 6 anos de idade. Vários deles obtém sucesso completo na ação.

O fracasso na execução de BAZ se deve ao fato de ela encontrar-se em um estado de desenvolvimento musical ainda inicial. Como defende Piaget, o desenvolvimento dessa menina depende de fatores como a maturação do seu organismo. O fato de o simples desenvolvimento do organismo da criança imprimir

mudanças na sua capacidade de execução musical, como se observará aqui, prova isso. Outros fatores que interferem nesse desenvolvimento também são a experiência e a transmissão. É possível que os conhecimentos musicais de BAZ estejam limitados em função de essa criança nunca ter participado de aulas de música, não recebendo assim influências musicais amplas de outros sujeitos, nem tendo oportunidades amplas de interagir com a música, com instrumentos musicais, etc.

As dificuldades de BAZ em tocar de forma simultânea com os experimentadores também se devem a uma forma de egocentrismo. A criança está de tal modo focada na sua atividade que não é capaz de conceber a atividade do outro, e muito menos há a necessidade de se adequar ao que o outro faz. Pode-se inferir ainda a presença de uma centração perceptiva, que impede a criança de captar e, por conseguinte, de compreender e se unir à execução musical dos experimentadores.

LUH (5 anos e 9 meses)

Não obteve sucesso na ação e pediu para retornar para a sua sala de aula. Após alguns minutos, ao encontrar novamente com a pesquisadora, pediu para voltar a participar do estudo. De volta à atividade não obteve sucesso na ação. O participante não conseguiu imitar os movimentos que lhe foram demonstrados, tocando assim mais notas do que o esperado.

Quadro 5 – Transcrição do experimento realizado com LUH. FONTE: a autora.

LUH oferece uma prova talvez ainda mais evidente das dificuldades que as crianças mais jovens, sem contato anterior e sistematizado com a música, possuem para realizar atividades de execução simultânea. O menino se vê de tal modo intimidado pela complexidade do que lhe foi proposto e pelo seu insucesso, que pede para voltar para a sala de aula, se negando a persistir naquilo que lhe parece impossível.

Após voltar para sala e observar o interesse vívido das outras crianças por participar da atividade, LUH passa a se sentir motivado para tocar novamente o

xilofone, e pede para retornar ao local onde estavam sendo realizados os experimentos. Entretanto, seu grande interesse não é capaz de gerar a superação de suas dificuldades. De fato, LUH necessita ainda superar algumas etapas de seu desenvolvimento, e isso demanda mais do que simplesmente vontade. É necessário que ocorram, como já se disse, maturação, experiências com o meio e trocas sociais, além da equilibração de sua estrutura.

LUH também realiza centrações e apresenta comportamento egocêntrico. O menino, da segunda vez bastante interessado pela atividade, toca muito mais notas do que o que estava sendo proposto. Ele se mostra completamente impulsionado pelo seu desejo de experimentar aquilo que despertava tanto a curiosidade dos outros alunos, e “cego” às demandas que lhe eram feitas.

JAN (5 anos e 11 meses)

Não conseguiu tocar a quantidade de notas tocada pela pesquisadora. Após a conclusão da música, a participante tocou mais algumas notas além do proposto, não obtendo, portanto, sucesso na ação.

Quadro 6 – Transcrição do experimento realizado com JAN. FONTE: a autora.

JAN é um caso bastante parecido com os demais analisados até aqui. Ela também apresenta um comportamento egocêntrico que a impede de tocar em simultaneidade com os experimentadores. Conforme já foi mencionado neste trabalho, o fazer musical infantil parece caótico e completamente desvinculado da produção daqueles que cercam a criança, em função do egocentrismo que ela manifesta.

Embora as dificuldades na execução musical narradas aqui possam ser atribuídas à falta de conhecimento musical dos participantes (conforme as informações fornecidas pelos responsáveis de JAN, LUH e BAZ, nenhuma das crianças havia recebido ensino de música formal anterior à pesquisa), não se pode afirmar com certeza que essa seja a única causa. É possível que exista uma complexidade inerente à atividades musicais como a proposta, que leva às

dificuldades apresentadas pelas crianças. Estudos futuros, focados sobre a evolução do fazer musical, poderão apontar respostas mais precisas para essa questão.

Na sequência são apresentados os dados dos participantes que obtiveram sucesso na execução musical em conjunto e, assim, responderam a entrevista.

Primeiramente será analisado o caso da única criança que, após uma ação de sucesso, não compreendeu a simultaneidade e a igualdade de durações inerente à sua prática de forma espontânea havendo, desse modo, uma tomada de consciência paulatina ao longo do experimento e da entrevista.

4.2 CASOS EM QUE HÁ SUCESSO NA AÇÃO MAS NÃO HÁ TOMADA DE