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4.3 CASOS EM QUE HÁ SUCESSO NA AÇÃO E, AO MENOS EM ALGUM

4.3.2 Etapa II …

4.3.2.2 Etapa II – vozes iguais …

Observações * graças ao teor das respostas fornecidas pelos participantes durante essa etapa, não é mais possível inferir se eles reconhecem ou não essas relações. Contudo, é natural, pelo ponto de desenvolvimento cognitivo em que eles sem encontram, que esse reconhecimento ocorra. O próprio Piaget (2002) não discorre mais sobre essa questão durante a subetapa IIB.

Em função disso, daqui para frente esse quadro resumo será apresentado sem a última linha.

Quadro 18 – Resumo da subetapa IIB – compreensão da simultaneidade e da igualdade de durações de vozes diferentes. FONTE: a autora.

4.3.2.2 Etapa II – vozes iguais

A classificação da compreensão da simultaneidade e da igualdade de durações de vozes iguais, apresentada pelos participantes, oferece um problema.

Ela se mostrou neste trabalho, como já apontado, de uma forma completamente diferente da que se esperava encontrar. Todas as crianças entrevistadas por Piaget (2002) compreenderam a simultaneidade e a igualdade de durações quando se pediu a elas que analisassem movimentos idênticos. Por isso, o pesquisador suíço não estabeleceu etapas para o desenvolvimento da noção de tempo em eventos iguais.

Contudo, muitos participantes do presente estudo não reconheceram a

simultaneidade e a igualdade de vozes de dois movimentos – ou execuções musicais – iguais. Esse fato salienta as diferenças entre o sujeito epistêmico e o sujeito psicológico apontadas por Piaget e relatadas ao longo da revisão de literatura: se “virtualmente” é possível que a criança resolva problemas envolvendo vozes iguais muito cedo, o que o contato com a “realidade” - ou as crianças estudadas – demonstra, por vezes, é algo um pouco diferente.

O aparecimento desses dados não esperados trouxe problemas à compilação e análise das respostas dos participantes. A que etapa de desenvolvimento associar as incompreensões apresentadas pelos entrevistados? Como todas as crianças que demonstraram dificuldades em compreender a simultaneidade e a igualdade de durações de vozes iguais chegaram a uma aceitação parcial, ou hesitante destas, optou-se por classificá-las dentro da etapa II de desenvolvimento. Para Piaget (2002) esse é o momento em que a criança aceita ora a simultaneidade, ora a igualdade de durações, não chegando a admitir ambas ao mesmo tempo. Como se verá, é dessa forma que procedem os participantes aqui apresentados. Eles chegam por vezes a aceitar apenas a simultaneidade dos inícios ou dos finais, e embora essa constatação não baste para que se afirme que a criança compreende a simultaneidade, optou-se por enquadrar esse tipo de compreensão parcial como pertencente à etapa II simplesmente por questões práticas. O importante é que o caráter de reconhecimento parcial está mantido.

A classificação dos participantes em tipos 1, 2 e 3 será desconsiderada aqui.

Ela não seria viável porque essa categorização é feita com base na identificação do modo como a criança concebe a relação entre velocidade e tempo. Tal identificação é impossível a partir do que os participantes responderam durante a entrevista.

Tampouco foi o foco deste trabalho buscar essa identificação.

Foi encontrada uma criança que tomou consciência da simultaneidade e da igualdade de durações de modo espontâneo ao longo da entrevista, e que foi classificada como pertencente à subetapa IIB de desenvolvimento.

Todos os relatos apresentados na sequência são de crianças pertencentes à subetapa IIA. Foram encontradas três crianças que, durante a primeira parte do procedimento (verificação do reconhecimento da simultaneidade e da igualdade de

vozes de vozes iguais), apresentaram respostas semelhantes às dos indivíduos classificados por Piaget como pertencentes a essa subetapa (IIA). Assim, eles apresentaram reconhecimento da simultaneidade ou da igualdade de durações. A transcrição de suas entrevistas foi apresentada acima e não será repetida.

Quando questionadas a respeito do primeiro momento do experimento, LUE (7,2) e MAE (9,5) reconheceram a simultaneidade do início das execuções musicais, mas negaram a simultaneidade de término. BRA (6,7), ao contrário, negou a simultaneidade dos inícios, mas admitiu a simultaneidade dos términos. Esses dados permitem afirmar que essas crianças admitem a simultaneidade dos eventos apenas parcialmente, não possuindo sequer uma noção de simultaneidade de fato.

Os participantes LUE e BRA chegaram a essas conclusões através de um processo mais longo, durante o qual voltaram atrás em certas respostas por pelo menos uma vez. Durante esse processo, LUE chegou a negar a simultaneidade do início valendo-se de alterações em dados objetivos. Ele afirmou haver percebido um fato que, na verdade, não ocorreu quando disse “eu bati primeiro” (ele “bateu” em simultaneidade com a experimentadora 1). Essa afirmativa é, contudo, logo depois corrigida.

Essa alteração da realidade, efetuada por LUE é fruto, como já se discutiu, de uma assimilação deformante.

Esses sujeitos também negam a igualdade de durações das duas execuções mas, à exceção de BRA, apenas após haverem voltado atrás em respostas já dadas. LUE disse que as execuções haviam sido simultâneas, mas ao explicar suas convicções, mudou de resposta: “porque eu toquei primeiro e você [experimentadora 1] depois”. MAE, após ser confrontada com uma contra-sugestão, passou a negar a igualdade de durações que havia afirmado a princípio.

Parece que há uma aceitação bastante fugaz da igualdade de durações, assim como da simultaneidade, nesses participantes. Essa aceitação é, aliás, tão fugaz quanto a própria tomada de consciência desse período do desenvolvimento da criança. Como foi abordado acima, a criança realiza de alguma forma todos os processos cognitivos (coordenação de ações, abstração refletidora, etc) de que sua tomada de consciência depende. Mas, esses só serão realizados de forma mais

desenvolvida na próxima etapa.

É apresentado, na sequência, um quadro que resume as características dos participantes classificados neste estudo como pertencentes a etapa II de desenvolvimento das noções de simultaneidade e igualdade de durações em música:

Subetapa IIA

Vozes iguais (primeira parte da entrevista)

Há reconhecimento da simultaneidade em casos de... ? Apenas parcial e de forma hesitante Há reconhecimento da igualdade de durações em

casos de... ? Inicialmente sim, após hesitação, não

Quadro 19 – Resumo da subetapa IIA – compreensão da simultaneidade e da igualdade de durações de vozes iguais. FONTE: a autora.

Foi encontrada apenas uma criança, LUG (7,8), que ao ser questionada sobre a simultaneidade e a igualdade de duração de vozes iguais (ou, de melodias idênticas) demonstrou uma reação semelhante com a apontada por Piaget (2002) como característica de sujeitos da subetapa IIB. Ele começou por negar a simultaneidade do início das execuções idênticas, mas de forma espontânea alterou sua resposta, terminando por reconhecer a simultaneidade geral dos eventos. De modo análogo, ele a princípio negou a igualdade de durações mas, também espontaneamente, a reconheceu logo em seguida.

LUG demonstra assim um estádio final de acabamento do processo de tomada de consciência. No seu caso, a abstração refletidora parece se desenrolar com grande rapidez e logo após a realização da ação. A assimilação deformante parece também ser logo vencida por um processo de acomodação, que pode ser observado ao longo das idas e vindas de suas respostas. É justamente no momento em que se exige dele uma explicação de suas convicções que a acomodação entre em jogo e o leva a compreender de fato a situação e a corrigir o que havia afirmado.

É apresentado abaixo o quadro resumindo as características da subetapa IIB de desenvolvimento das noções de simultaneidade e igualdade de durações em

música.

Subetapa IIB

Vozes iguais (primeira parte da entrevista)

Há reconhecimento da simultaneidade em casos de... ? Sim, paulatinamente Há reconhecimento da igualdade de durações em

casos de... ?

Sim, paulatinamente

Quadro 20 – Resumo da subetapa IIB – compreensão da simultaneidade e da igualdade de durações de vozes iguais. FONTE: a autora.

As crianças classificadas como pertencentes a essa etapa II (vozes iguais), de modo geral, foram as mais jovens. Pertencem a essa etapa 1 criança de 6 anos, 2 de 7 anos e ainda, ao contrário do que se esperava, 1 criança de 9 anos. As crianças de 5 anos não participaram da entrevista (ou dos procedimentos gerais de entrevista), portanto não foram classificadas.

A seguir são apresentadas e analisadas as entrevistas das crianças que apresentaram uma compreensão completa da simultaneidade e da igualdade de durações.