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CATEGORIA 2: DIFICULDADES APRESENTADAS NA PRÁTICA DOCENTE

5 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS “DADOS”

5.2 CATEGORIA 2: DIFICULDADES APRESENTADAS NA PRÁTICA DOCENTE

Neste ponto podemos evidenciar as principais fragilidades que os sujeitos enfrentam na prática docente. As falas complementavam-se de maneira que cada indivíduo comungava com a experiência do outro e solidarizava-se com as angústias. Como se observa nas falas que se seguem:

[...] Muitas vezes sem didática, atropelando algumas coisas, sem muita prática, a dificuldade até de você conseguir montar uma aula, boa, com começo, meio e fim, que tenha uma linha de raciocínio, que você chegue no ponto final e todo mundo te entenda, a necessidade de você ter algo específico direcionado, seria o ideal [...] enfrentar os alunos, que você ta lá sozinho né, você é o alvo pra trinta, vinte e cinco alunos, todo mundo ta te observando, todo mundo ta te avaliando também, e se você mostrar uma certa insegurança, um certo despreparo o aluno percebe isso [...]. Informante “f”.

[...] Uma dificuldade que eu enfrentei e acho que alguns colegas também, é sair direto da graduação pra docência [...] muita das vezes é necessário que você tenha a experiência até mesmo clínica [...] logo no início foi difícil eu entender aquilo que eu deveria passar, ou me comportar de uma forma que pudesse também aprender com os discentes [...]. Informante “c”.

[...] e outra coisa dessa dificuldade sabe o que é? Como é que se aprova um aluno desse? Como é que ele passou até agora? [...] O básico eles já sabem, entendeu, eles sabem para gente poder aprovar, e como é que você fala assim: você vai reprovar... É difícil [...]. Informante “g”.

[...] sem nem saber como vai acontecer, a gente vai fazendo, sem se planejar [...]. Informante “e”.

[...] se a gente tivesse um conhecimento de que existe realmente uma base teórica pra isso, talvez a gente tivesse mais uma coisa a nosso favor, sentiria mais seguro [...]. Informante “c”.

[...] sinto também dificuldade assim em estar [...] não supervisionando, mas estar diversificando essa supervisão do estágio. Como é que deve fazer para estar mudando para que o estágio se torne mais atrativo para o aluno, como eu devo cobrar também desse aluno, de que forma? [...]. Informante “c”.

[...] é difícil, muito difícil [...]. Informante “e”.

[...] a minha maior dificuldade é com relação ao planejamento do estágio como é que o estágio vai acontecer [...] eu percebo que é a dinâmica como o estágio se desenrola, a forma como são aplicados os conhecimento adquiridos em outros semestres, nós temos a dificuldade de fazer isso acontecer no dia-a-dia [...]. Informante “c”.

As discussões convergiram principalmente para a avaliação discente. De acordo com os sujeitos da pesquisa, quantificar o desempenho dos discentes e converter para um conceito numérico mostra-se como principal dificuldade enfrentada na carreira docente. Fica evidenciado nas seguintes falas:

[...] para mim o pior dia do estágio é ter que dar nota [...]. Informante “h”. [...] a gente tem a preocupação de como estar avaliando esses alunos, então a grande dificuldade, a gente já mudou o barema algumas vezes, a gente utiliza mas a gente não sabe ao certo qual é a forma mais adequada de estar avaliando, então a gente não tem um método, uma capacitação voltada para essa parte de avaliar esse aluno [...]. Informante “f”.

[...] é a gente não tem a compreensão de como é o caminho para se tornar um bom professor, imagina esse caminho até o avaliar [...]. Informante “e”. [...] é a gente não tem a compreensão de como é o caminho para se tornar um bom professor, imagina esse caminho até o avaliar. A forma como avaliar o aluno é complicado, principalmente no estágio [...] numa sala de aula você tem uma prova, que na verdade não avalia muito bem, é um número que você, que representa o aluno naquele certo momento, só que ele pode estar mal, ele pode estar brigado com família, pode estar com algum problema físico, ta doente, vai fazer a prova e se dá mal, não é que ele não saiba, só que naquele momento, a representação do conhecimento naquele momento é uma nota, aqui no estágio é guiado por um barema. [...]. Informante “f”.

[...] ta surgindo discussões aqui no estágio, até aluno cobrando o porque de avaliar, porque você avalia dessa maneira e outro professor de outra, cobrando uma nota “x” da gente, como aconteceu ontem, um aluno que chegou pra gente: você tem que me dar A, todo mundo na clínica tira A, porque eu não vou tirar? E cobrando a nota [...]. Informante “f”.

[...] agora você pega o barema ali, vai contabilizando, ai quando você multiplica por 4 o aluno fica com 9, ai você não pensa nem nos pontos, mas no nove, ai ele diz: mas 9? Então é uma avaliação muito subjetiva, quando você para pra pegar 2,5 para multiplicar por 4 para ver a média final, ai você não sabe realmente se aquela nota dele é condizente [...]. Informante “i”. [...] até porque nossa memória tá condicionada a visualizar as coisas no sistema decimal, então nossa referência é 10, então quando você parte para a referência do 2,5 você fica perdido, é um centésimo um décimo que faz uma diferença, e você não sabe se ele merece esse centésimo ou décimo de nota, eu já vi professores comentarem que poderiam usar estratégias de avaliação, considera o discente como apto ou não apto, mas mesmo assim é uma condição muito estanque né, duas categorias apenas, é uma coisa meio precoce você dizer se o aluno está ou não apto [...]. Informante “c”.

[...] é muito difícil você dizer se o aluno está apto ou não para o mercado de trabalho, que é a nossa formação final aqui no estágio, olha você não está apto para o mercado de trabalho [...]. Informante “g”.

[...] e mesmo assim, apto ou não apto, chega ao final você precisa de uma nota, de qualquer forma gera aquela polêmica [...]. Informante “h”.

[...] a representação final do aluno é uma nota, é um sistema antigo, para alguns arcaico, para outros é o correto, é uma discussão grande [...]. Informante “f”.

[...] para mim eu acho que a principal dificuldade no caso do estágio seria a avaliação do aluno, para mim acho que a dificuldade maior que a gente tem, porque no supervisionar o aluno acho que ninguém aqui sente dificuldade, mas na hora de avaliar o aluno como já foi dito anteriormente, eu acho que ta sendo a dificuldade maior no momento [...]. Informante “h”.

[...] minha maior dificuldade também é avaliar. Eu não sei a forma correta de avaliar [...]. Faz prova, não faz prova? Será que eu devo fazer prova? Será que eu vou estimular mais com a prova ou inibir mais com a prova? Então, essa questão da avaliação e a forma de estar estimulando o aluno durante o estágio é a minha maior dificuldade [...]. Informante “c”.

Diversos foram os obstáculos apontados pelos sujeitos acerca da prática docente em todos os seus níveis e espaços. De uma forma quase unânime a avaliação discente foi apontada como principal dificuldade na carreira docente.

Um primeiro ponto discutido no grupo focal com os professores do estágio foi que os dados obtidos sobre o desempenho discente durante o semestre são muito difíceis de serem analisados, codificados e transformados em nota. Um professor pontuou: “a forma de avaliar o aluno é complicado, principalmente no estágio, numa sala de aula você tem uma prova, que na verdade não avalia muito bem.”

Apesar de destacar que a avaliação discente mediante a aplicação da conhecida e contestada “prova” não funciona muito bem, o professor acredita que no estágio a situação é ainda mais complicada.

A Clínica Escola adotou um barema próprio para avaliação discente. Esse instrumento avaliativo foi amplamente debatido nas plenárias do colegiado do curso e conselho deliberativo da Clínica Escola. O barema já passou por algumas reformulações, e atualmente conta com cinco pontos assim distribuídos: conhecimento teórico, conhecimento prático, relação interpessoal, senso crítico/interesse/iniciativa, assiduidade e pontualidade.

Esses pontos são divididos de maneira que a nota final do aluno em cada área do estágio represente um total de 2,5 pontos. Isso ocorre tendo em vista o estágio ser distribuído em quatro áreas: pediatria/ginecologia, neuro-geriatria, traumato- ortopedia e cardiorespiratória. Assim, somando-se as quatro notas alcança-se o máximo de 10 pontos.

Para alguns sujeitos da pesquisa o mecanismo ainda apresenta sérias deficiências, a exemplo desta fala: “no estágio é guiado por um barema, como outro colega já falou modificou várias vezes, para tentar abraçar o máximo possível de pontos, mas a gente vê que é falho.” O professor destaca ainda que recentemente ocorreram problemas na Clínica por conta da avaliação discente. Para ele, as dificuldades com a avaliação são constantes nas disciplinas de estágio supervisionado.

Na visão deste sujeito os discentes têm cada vez mais procurado contestar e debater as notas que recebem de seus professores. Na época da realização do

grupo focal havia acabado de ocorrer a divulgação das notas dos estagiários. Sobre este momento o docente destacou:

ta surgindo discussões aqui no estágio, até aluno cobrando o porquê de avaliar, porque você avalia dessa maneira e outro professor de outra, cobrando uma nota “x” da gente, como aconteceu ontem, um aluno que chegou para gente: você tem que me dar “A”, todo mundo na clínica tira “A”, porque eu não vou tirar? Informante “f”.

Um sujeito também relatou durante a entrevista que apesar de buscar a melhor forma de avaliar seus alunos sempre ocorrem problemas com as famosas “notas”. Ele destacou: “o processo de avaliação sempre a gente tenta aperfeiçoar, tenta fazer uma coisa ideal, mas a gente sempre recebe críticas dos alunos.” Evidenciamos que o processo avaliativo é uma espécie de “luta” entre os docentes, tentando quantificar o desempenho discente através de uma nota, e os discentes, que buscam sobremaneira demonstrar aos olhos e critérios estabelecidos que estão aptos a serem aprovados nas disciplinas.

Um fato que contribui negativamente para essa avaliação no estágio utilizando um barema é sua divisão por áreas. Para um professor, a nota final pode não estar representando de maneira clara o desempenho dos alunos, e destaca:

agora você pega o barema ali, vai contabilizando, ai quando você multiplica por quatro o aluno fica com nove. Você não pensa nem nos pontos, mas no nove, ai ele diz: mas nove? Então é uma avaliação muito subjetiva, quando você para pra pegar 2,5 para multiplicar por 4, para ver a média final, ai você não sabe realmente se aquela nota dele é condizente. Informante “i”.

Durante minha especialização em Metodologia do Ensino Superior sempre questionei bastante em relação às formas de estar avaliando os alunos. Minha inquietação sempre foi buscar estratégias concretas para a avaliação discente.

Acredito que a responsabilidade por estar aprovando ou reprovando os discentes é muito grande e assim precisamos de maneira responsável avaliar o desempenho dos nossos alunos.

Não podemos deixar que alunos despreparados transformem-se em profissionais desqualificados e que possam estar de alguma maneira colocando em

risco a saúde de seus futuros pacientes. Cabe ao docente a árdua missão de identificar as possíveis deficiências formativas de seus discentes e de maneira coerente e sensata reprová-lo, caso seja necessário.

As correntes que debatem a avaliação deixam claro que o processo não pode ser pontual, sem levar em consideração as múltiplas interferências e tensões que estão envolvidas. No entanto, algumas situações colocam o professor em uma situação muito desconfortável. Aprovar um discente significa dar a ele o passaporte legal que o permita exercer de maneira plena a profissão de fisioterapeuta.

A categoria analítica sobre as dificuldades das práticas docentes revelou outra carência formativa nos sujeitos pesquisados: o planejamento e organização dos conteúdos propostos pelas disciplinas. Na visão dos professores, construção de um plano de ação com as etapas e finalidades muito bem delimitadas é um fator primordial. Um professor destacou que sua maior dificuldade é o planejamento das atividades que são desenvolvidas no estágio de Fisioterapia.

O estágio possui características próprias que o diferem dos espaços tradicionais da sala de aula. Alguns sujeitos destacaram que a própria dinâmica e rotatividade dos pacientes que são atendidos tornam o estágio um momento imprevisível para o professor.

A professora que supervisiona o estágio no âmbito hospitalar destaca que:

no hospital é o dia-a-dia. Um dia eu chego tem seis pacientes no setor, na pediatria, no berçário, mas só que tem dias que tem um só, então você nunca sabe como você vai, no outro dia você já encontra outra coisa, então na realidade o planejamento se torna mais difícil ainda, como é que você pode se planejar, uma coisa que você nunca sabe o que você vai encontrar no outro dia. Informante “g”.

O fluxo de pacientes nos hospitais onde são realizadas as práticas de estágio é muito grande. Um deles é referência para diversos municípios vizinhos e atende diariamente a uma quantidade muito grande de pacientes. O acompanhamento destes pacientes geralmente é feito durante o período de internação e alguns são encaminhados para o tratamento após a alta hospitalar na Clínica Escola.

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