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6. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.4. CATEGORIA IV Dinâmica Familiar

Essa categoria apresenta a dinâmica familiar com suas especificidades, sendo que nas subcategorias e elementos de análise da mesma conjugam-se os dados vindos da entrevista semi-estruturada e os Genogramas familiares, relacionados ao desenvolvimento das famílias ao longo do tempo, ou seja, o ciclo vital familiar (4.1). Nove das dez famílias entrevistadas encontravam-se no estágio do ciclo vital de famílias

com filhos pequenos (4.1.1), que engloba as tarefas de inclusão do novo membro, os

cuidados com os mesmos, também no que se refere à educação e o provento financeiro, e ainda as adaptações nas divisões das tarefas domésticas, exigindo das famílias participantes, nesta fase o que Carter e McGoldrick (2001) e Cerveny (2002) apontam como a necessidade de flexibilidade e união para o cumprimento dos papéis maternos e paternos. A presença da criança com FLP nesse estágio do ciclo vital, teve conseqüências tanto de aproximação entre os casais quanto para seu afastamento, o que implicou em mudanças no relacionamento do casal nesse estágio.

O Pai da Família 9 expôs de maneira bastante visível a evolução para esse novo estágio do ciclo vital familiar, passando da fase de jovem casal para o de famílias com filhos pequenos, quando relata o que mudou após o nascimento da criança:

“Mudou bastante coisa, eu também porque antes eu vivia muito em função do meu pai e da minha mãe, deixava um pouco a minha esposa de lado por causa dos meus pais, mas agora não, eu voltei minha atenção mais pra ela do que para eles.”

A constatação de que as famílias encontravam-se no estágio do ciclo vital de famílias com filhos pequenos era prevista quando ficaram definidas as idades das crianças nos critérios de inclusão da pesquisa. No entanto, as exigências de cuidados que o tratamento das crianças com FLPs impõem aos pais acabam por manter as famílias durante um período mais prolongado nessa fase do ciclo vital, conforme apontado na literatura por Rolland (2001), Sprovieri & Assumpção (2001) e Prado (2004).

Cabe destacar que a fissura labiopalatal por si só não interfere no desenvolvimento cognitivo nem no desenvolvimento de habilidades motoras, porém na práxis podemos observar uma dinâmica familiar que acaba por desenvolver uma dependência mútua entre as crianças com fissuras e seus pais, fator descrito na literatura por Amaral (1992).

A Família 8, conforme mencionado anteriormente, apresentou uma situação diferencial, pois a família já se encontrava no estágio posterior ao descrito acima, ou seja, lançando os filhos e seguindo em frente (Carter & McGoldrick, 2001), mas optaram por voltar a fazer tarefas da fase anterior quando decidiram ficar com a guarda da criança. O casal relatou as dificuldades desse retrocesso:

“ô! Risos. Mudou muita coisa, porque a gente tava acostumado só nós, não tinha criança pequena, né? Então ele... No início foi bem difícil, assim termos de comportamento, porque daí tomaram conta de tudo, e fralda, e mamadeira, e... Aí houve muito desentendimento. Mas hoje eu acho que assim pra nós é muito bom, a gente acha ótimo, porque no caso o P8 não tem filhos, daí não se sente mais, né? Não é que não pudesse ter, mas pela idade não ia mais ter filhos e como ele assumiu, né? Esse lado. Tamos mais acostumados, hoje tá tudo ótimo, pelo menos é um estímulo que a gente tem, é uma criança, pra ficar aí, orientando... Hoje tá bom!... Não, pior é que ele dormia também conosco, na nossa cama sempre, no início só queria dormir. Mas agora a gente já tá mais estabilizado, tá mais normal, não tá interferindo tanto na relação.” (Relato da Mãe da Família 8)

No que se refere às tarefas de cuidados na família (4.1.2), tanto com os filhos quanto as tarefas domésticas, em sua maioria ficaram ao encargo das mães, sendo que algumas delas contavam com o apoio dos maridos e filhos, como exemplificado nos depoimentos que seguem:

“... Só quando eu saio, quando eu saio, ele (marido) e o F226 arrumam a casa, quando ele tá casa, eles limpam a casa pra mim, mas se eu estou em casa eles não fazem nada, eles cuidam deles, mas não fazem.” (Relato da Mãe da Família 3)

“Eu cuido de tudo... Isso ele faz no verão (marido ajuda no verão, período em que ela trabalha), né? Na verdade a gente não se descuida dela, por exemplo, quando tem que vir trazer ela, ou ele vem junto ou venho só eu. Se tem que fazer alguma coisa com ela, ele larga tudo e vem. (Relato da Mãe 6)

“Nós rachamos, cada um faz um trabalho.” (Relato do Pai da Família 9)

Retoma-se aqui a questão acerca da sobrecarga materna descritas na literatura por Bradt (2001) e Prado (2004), porém em virtude da necessidade de reforço do orçamento familiar, as mulheres ingressaram no mercado de trabalho, levando a

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participação dos homens nas tarefas domésticas, conforme descrito por Sarti (1996) e verificado nos relatos acima.

As mães das famílias pesquisadas também relataram alterações em suas vidas profissionais após o nascimento da criança, seja por opção do casal ou por imposição da própria deformidade. Algumas delas colocaram a desistência de trabalhar fora de casa, motivada por uma necessidade de maior dedicação a criança temporária ou definitiva.

“Mas até hoje eu fico, a minha mãe veio morar comigo, ela que trabalha, que sustenta a casa... Trabalhava até o momento em que ele foi internado, se internou porque, várias coisinhas também, daí o serviço também não me aceitou porque fazia muito tempo que ele ficou internado, ele precisava também, daí fizeram acordo pra eu sair. Porque não teve jeito né?” (Relato da Mãe da Família 2)

“Tem a ver com nascimento do C3, tem a ver que eu parei de trabalhar, mais porque eu parei de trabalhar. A gente conversou e a opção foi C3. Porque do F2 eu trabalhei, com 5, 6 meses ele já estava na creche. O jardim não vai, até aceita, mas só que pra lidar com tanta criança, não vai ter aquela exclusividade só para o C3.” (Relato da Mãe da Família 3)

“Não, no começo quando ela nasceu só eu que trabalhava e minha esposa ficava em casa porque ela não pôde trabalhar pra cuidar dela porque ficamos com medo de colocar na mão de outra pessoa que não soubesse cuidar do problema, dar a mamadeira e afogar ela. E agora que ela voltou a trabalhar, segundo mês dela.” (Relato do Pai da Família 9)

Outras mães colocaram que as características do tratamento, as cirurgias e as idas constantes aos médicos interferiram em suas vidas profissionais e que elas necessitavam da colaboração de pessoas de suas redes de apoio social para cumprirem as etapas do tratamento. Nessas famílias pesquisadas, pôde-se observar o que Bradt (2001) sustenta, que, em detrimento ao esforço legal e social, os homens ainda creditam que a eles cabem o trabalho fora de casa, enquanto para as mulheres o mundo doméstico é o que lhes pertence.

Os estressores vivenciados ao longo do ciclo vital (4.1.3) estão imbricados na subcategoria de maneira reveladora, como, por exemplo, o nascimento da criança com

fissura labiopalatal que alterou a dinâmica relacional do casal, fazendo parte do que Carter e McGoldrick (2001) colocam como estressores horizontais – tanto desenvolvimentais (o nascimento em si) quanto impredizíveis (a malformação). Além disso, as famílias relatam outras situações causadoras de ansiedade que perpassaram o seu desenvolvimento nesse estágio da vida em família e que exigiram uma maior adaptação. Os estressores vivenciados foram: o falecimento do cônjuge por violência ou doença (Famílias 2 e 10), a migração familiar (Famílias 5, 6 e 7), o falecimento de familiares pertencentes à rede de apoio (Famílias 2 e 7), suicídios na primeira geração (Famílias 2 e 5), abuso ou adicção por álcool ou drogas de pais e/ou avós (Famílias 1 e 2), filho com déficit cognitivo (Família 1), criança com diagnóstico aberto (Família 2), alteração na guarda da criança (Famílias 8 e 10) e saída de uma filha de casa para morar com a irmã mais velha (Família1).

Para a Mãe da Família 4, sendo uma mulher solteira que teve de cuidar sozinha de seu filho, apesar de todos os estressores que relatou, seu filho tornou-se seu objetivo de vida, seu companheiro e a quem passou a se dedicar.

“É bem complicado, não é fácil lidar com uma criança sozinha, um pai faz uma falta em tudo porque em tudo sou eu, é isso ou aquilo, precisa disso ou daquilo. É meio complicado pra educação, nas teimosias, essas coisas assim, não é muito fácil não... Se não fosse o C4 eu não sei como seria a minha vida, tive muita dificuldade, estou aprendendo muita coisa com o nascimento dele, todas essas coisas, mudou muita coisa apesar de todas as dificuldades, eu passar por... mas ele é tudo pra mim, o que eu puder fazer por ele eu faço... então eu acho que mudou muita coisa pra mim, apesar de todos os problemas que nós dois passamos é muito bom ter ele.”

Todos esses acontecimentos geradores de ansiedade, tanto vertical quanto horizontal (Carter & McGoldrick, 2001), exigem da família uma maior flexibilidade para se adaptarem e prosseguirem em seu desenvolvimento ao longo do tempo. As autoras colocam que alguns estressores como a doença crônica e o alcoolismo alteram o padrão do ciclo vital familiar.

Dessa forma, as alterações na dinâmica relacional do casal foram pontuadas pelas famílias como positivas e negativas e estão descritas na literatura por Cariola e Sá (1991), Amaral (1996) e Sprovieri e Assumpção (2001). Após o nascimento da criança, alguns casais relataram amadurecimento, responsabilidade, apoio mútuo, união,

melhoras no relacionamento do casal e relações classificadas como boas, corroborando a afirmação de Cariola e Sá (1991) em pesquisa realizada, onde o relacionamento do casal sofreu uma melhora de 37% após o nascimento do filho com malformação congênita na face. Sprovieri e Assumpção (2001) afirmam que estudos empíricos confirmam a contribuição positiva das crianças deficientes para o relacionamento familiar e que pelas proximidades das vivências pode-se correlacionar. Os relatos abaixo exemplificam as mudanças nas relações:

“É! Mudou, mudou bastante, a gente sossegou, né? Sossegamos em função dela, em função de escola também, de despesas que ela passou a dar, então a gente teve que se centrar mais a cabeça, botar as coisas direitinho, ser pai e mãe - mais pai e mais mãe do que qualquer outra, né? Tudo isso mudou, mudou bastante.” (Relato da Mãe da Família 6)

“M5: Por isso que eu digo, o P5 mudou bastante, porque ele não é, ele já foi pior, já foi pior. Por isso que eu acho assim que ele mudou foi com o C5... pra melhor.

P5: ah, sim!”(Relato do Casal da Família 5)

Uma família relatou separação conjugal após o nascimento da criança, o que corrobora as afirmações de Silva e Dessen (2004) e Cariola e Sá (1991) de que o nascimento de uma criança com problemas não implica necessariamente na separação do casal. A narrativa da mãe é significativa:

“Vivemos juntos, mas é assim, quando eu ‘gravidei’ da F7, vai fazer sete anos agora, que tem 6 anos, ele se separou, me falou que não queria ficar comigo, que eu dava uma filha aleijada, na cabeça dele a C1 aleijada, ele não aceitou a C1. E aí por um azar eu engravidei da F7, quando estava grávida de dois meses ele me deixou mesmo.” (Relato da Mãe da Família 1)

Mesmo dando destaque aos aspectos positivos do relacionamento do casal em suas narrativas, as famílias relataram que a relação conjugal não ficou incólume ao nascimento da criança deformada, que vai ao encontro dos dados obtidos na literatura (Amaral, 1992 e 1996; Lino, 1994; Corrêa, Lopes, Potnoi & Bueno, 2002; Silva & Dessen, 2003 e 2004; Prado, 2004). Alguns pais descreveram o desgaste da relação e o afastamento entre o casal, sendo as relações classificadas como conturbada, complicada,

atrapalhada e turbulenta, principalmente em função das exigências de atenção e cuidados da criança com FLP. O discurso da Mãe da Família 3 exemplifica essa situação de maneira ímpar:

“Ah, mudou, né? Porque assim, às vezes ele reclama: ‘Ah, ...’, ele me chama de ..., ‘Ai, ..., o C3 tá tirando todo o tempo, tu quase não tens tempo pra mim, eu já chego cansado, assim-assim’. Mas a gente conversa e a gente se entende, tá entendendo? Mas daí ele diz que depois que o C3 nasceu eu me relaxei mais. Eu digo: ‘mas eu não tenho tempo pra mim’, francamente eu não tenho tempo , com o C3 é difícil.”

Em sua maior parte, as famílias participantes possuem projetos únicos e uníssonos para o futuro de seus filhos. O casal da Família 7, entretanto, verbalizou que esse era justamente um ponto conflituoso na relação do casal. A família é migrante e a mãe verbalizou querer permanecer na cidade pela perspectiva de crescimento de seus filhos, já que em sua cidade natal as oportunidades eram escassas principalmente no que se refere ao estudo das crianças. O pai, por sua vez, sentia muita falta de sua família de origem e de todas as facilidades que ela lhe proporcionava, afirmando que só permanecia na cidade motivado pelo tratamento da criança, demonstrando uma postura mais dependente e fortemente vinculada à família de origem. Podemos apontar, então, uma dificuldade da família na transição dos estágios do ciclo vital e no processo emocional, que está inserto nessa evolução, uma vez que demonstravam dificuldades no reposicionamento frente à família e à sua independência da mesma (Carter & McGoldrick, 2001).

As relações na família (4.2) foi uma subcategoria que emergiu dos relatos durante as entrevistas, dos Genogramas e, ainda, da elaboração dos Mapas de Rede, somados aos tipos de fronteiras discutidos na categoria anterior. Pôde-se observar que as relações na família nuclear (4.2.1) apresentam relações muito próximas e fusionadas, conforme os relatos abaixo:

“... ela é mais assim minha amiga, porque comigo... os minutos que a gente tá em casa, gente, eu sento no sofá, eu ajudo ela fazer os deveres, a gente conversa.” (Relato da Mãe da Família 1)

Sempre, sempre por perto! Eu já não me acostumo mais a sair sem ele, tá entendendo? Aonde que eu vou, eu acho, que eu não sei se é medo que aonde que eu vou eu levo ele.” (Relato da Mãe da Família 3)

“... Quando ele acorda, ele já diz "ai, não vai trabalhar hoje, eu te amo, vamos ficar assistindo TV", ele fala, então ele cativa a gente a ficar com ele, sabe? Ele é bem diferente dos outros.” (Relato da Mãe da Família 5)

Essas características das relações na família nuclear estavam presentes em todas as famílias cujas fronteiras apresentaram-se emaranhadas, o que vai ao encontro das afirmações de Minuchin (1982), de que famílias com fronteiras difusas ou emaranhadas encontram maiores dificuldades na diferenciação e na autonomia de seus membros. Dessa forma, o estilo transacional das famílias, ou seja, a forma como foram estabelecidas as relações na família nuclear, foram corroboradas pelo suporte das famílias maternas e paternas na manutenção da trama relacional trigeracional, conforme o relato a seguir:

“Quando eu engravidei foi sempre a mesma coisa, a gente brigava direto, a gente ficava junto, mas logo separava e eu voltava com a minha mãe e foi sempre assim.” (Relato da Mãe da Família 2)

Dessa maneira, o superenvolvimento da mãe, do pai ou do casal com a criança com malformação nessas famílias estava presente e de forma recursiva, quando um dos cônjuges se encontrava superenvolvido, o outro se apresentava perifericamente ou de maneira conflitada, caracterizando as coalizões descritas por Meynckens-Fourez (2000), em que dois indivíduos se unem e excluem um terceiro membro da família. Quando ambos os pais estavam muito próximos de seu filho com FLP, o subsistema fraternal estava mais afastado, evidenciando assim as relações triangulares, base de todo o sistema emocional (Bowen, 1991).

“... do pai dela ela não gosta, do pai dela não, não posso nem falar no pai dela que ela diz que não gosta, diz: "ich, nem me fala" ...ela é mais assim minha amiga, porque comigo... os minutos que a gente tá em casa, gente, eu sento no sofá, eu ajudo ela fazer os deveres, a gente conversa.” (Relato da Mãe da Família 1)

“... a gente tenta fazer ele dormir mas ele quer dormir com a gente. Mas como pai dele quase não pára em casa ele dorme comigo e aí quando o pai tá em casa eu coloco ele na cama dele e até a metade da madrugada ele fica na caminha dele, depois que ele acorda, pronto ele vem para minha cama, porque ele come de madrugada ainda.” (Relato da Mãe da Família 3)

“... daí eu falei ‘C4, não quer ir na casa do teu pai?’. ‘Eu não, eu não gosto dele eu não quero ir pra lá, eu gosto de você mamãe’, e daí não foi. (Relato da Mãe da Família 4)

“Não mora ninguém aqui, então nossa família é só nós três mesmo. Mas ela descaradamente é do pai dela”. (Relato da Mãe da Família 6)

A Mãe da Família 5, apesar de qualificar a relação como boa no que se refere à convivência do casal, e o nascimento do filho como fator de união familiar e conjugal, explicitou a falta de apoio do marido e sua impaciência como fatores que prejudicavam a qualidade da relação entre os dois. Dessa forma, a sensibilidade da criança com FLP é fator compensatório para a falha na tarefa do subsistema conjugal, caracterizando uma triangulação na relação entre o casal e o filho, onde mãe e filho se unem em uma tarefa em comum (o suporte emocional) e o pai se mantém afastado, dirimindo a tensão familiar (Andolfi, Angelo, Menghi & Nicolò-Corigliano, 1984; Bowen, 1991).

“E ele (marido) não são sabe, de dar aquela atenção, de conversar. E o C5 parece que já me entende mais, qualquer coisinha ele já vê que eu tô triste, qualquer coisa ele vem comigo, já percebe...” (Relato da Mãe da Família 5)

Pode-se afirmar que essas famílias são centradas em suas crianças (Bradt, 2001), pois a triangulação entre a criança e seus pais causa o empobrecimento das relações familiares, das relações conjugais e com a família extensa. A família que se diferenciou dessa condição foi a Família 10, onde as fronteiras entre os subsistemas são desligadas e apresentaram um sentido de independência distorcido, com dificuldades de interdependência, podendo causar-lhe dificuldades relativas ao pertencimento (Minuchin, 1982), tendo a criança que se adaptar com a convivência com dinâmicas relacionais diferentes, já que vive em duas famílias concomitantemente, conforme relatado em discussões anteriores.

No que se refere às relações com a família de origem e extensa (4.2.2) as famílias participantes da pesquisa apresentaram bons relacionamentos, porém empobrecidos, parecendo haver pouco investimento nas relações que não se encontravam superenvolvidas ou que fossem muito próximas. Nas famílias 4 e 7 detectou-se o desejo de que as famílias de origem materna se envolvessem de forma fusionada com o casal e a criança, sendo consideradas distantes os membros que não mantiveram uma relação de superenvolvimento, o que vai ao encontro da afirmação de Rolland (2001), de que as famílias emaranhadas apresentam dificuldades na transição para períodos de maior autonomia, sendo a malformação da criança causadora de impacto financeiro e maiores exigências na sua criação, tornando-se essa a justificativa da permanência em períodos menos autônomos. O desejo de um envolvimento maior de membros da família de origem e extensa pode ser verificado nos relatos abaixo:

“A minha sobrinha morou comigo um monte de tempo acho assim que ela não se interessa muito pelo C4, que ele sempre fica com ela também, mas assim se eu saio pra trabalhar, porque se eu deixo ele com ela é pra trabalhar, mas se eu quiser sair, ir numa festa a minha irmã fica com ele numa boa, mas a minha sobrinha, se eu fico o dia inteiro fora, do mesmo jeito que eu deixei ele eu encontro, ela não dá banho, não faz nada, então eu acho que tem um pouco de desinteresse... e eu trouxe ela com uns dez anos, então acho que ela tem que ser mais humana né? Então ela tá nem aí, não se preocupa.” (Relato da Mãe da Família 4)

“M7: ... Então a gente tá acostumado com a minha sogra e com a T127, a minha sogra não trabalha, é aposentada e a T1 também não, mas a gente tá acostumado que elas abrem mão, vamos supor, de qualquer coisa em função de nós.

P7: ah, qualquer coisa, qualquer coisa! P7: enquanto a mãe dela...

M7: e a mãe já...

P7: não dá nem bola, não é nem bola, mas ligar, perguntar como é que tá, tchau e deu.

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M7: não, e a mãe assim, no sentido de que se ela tem compromisso de trabalho, ela não abre mão do compromisso dela de trabalho vamos supor, pra cirurgia da C7.” (Relato do Casal da Família 7)

Grande parte das famílias relatou bons relacionamentos com as famílias de origem, ou pelo menos com parte delas, conforme citado anteriormente, porém dentre essas, algumas verbalizaram que esse bom relacionamento havia sido distanciado pela migração e ocorreu nas Famílias 4, 5, 6 e 10. O relato abaixo exemplifica a distância física provocada pela migração, no entanto os laços afetivos se mantiveram:

“Porque não é, não é distante, porque não é, aí não tá, porque é uma distância de lugar... a distância não é uma distância emocional... “ (Relato da Mãe da Família 6)