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Categorias do Método e Categorias Explicativas da Realidade

3. CAMINHOS PERCORRIDOS

3.2. Categorias do Método e Categorias Explicativas da Realidade

Para Prates (2003b, p. 124) o que encanta na teoria e no método Marxiano

é exatamente a profundidade da pesquisa intrinsecamente relacionada e direcionada para a realidade social e para as ações concretas com vistas à sua transformação. A superação dos estudos contemplativos por investigações compromissadas com os temas e sujeitos envolvidos no estudo.

Os estudos guiados pelo método dialético-crítico apresentam categorias do método e categorias explicativas da realidade. As categorias são conceitos classificatórios, carregados de significação, por meio dos quais a realidade é pensada de forma hierarquizada. Podem ser definidas como elementos que, sendo partes constitutivas, auxiliam a explicar um fenômeno, uma relação e/ou um movimento da realidade e, ao mesmo tempo, podem orientar processos interventivos (MINAYO, 2010; PRATES, 2012). Segundo Cordiolli (2009, p. 11) para Marx “qualquer categoria tem de estar vinculada ao todo, jamais podem ser concebidas como independente. Para constituí-la é necessário tecer as diversas relações com as quais a

categoria se insere (e, portanto se relaciona) como o real”.

As categorias do método eleitas para o presente estudo foram:

A Totalidade: que se refere ao fato de que os fenômenos são interdependentes e interconectados, havendo, também, o enfrentamento entre os contrários.

A totalidade, mais do que a reunião de todas as partes, significa um todo articulado, conectado, onde a relação entre as partes altera o sentido de cada parte e do todo. A totalidade concreta não é um todo dado, mas em movimento de autocriação permanente, o que implica a historização dos fenômenos que a compõem (PRATES, 2003a, p. 87).

A partir dessa categoria busca-se o conhecimento da realidade, através da manifestação dos fenômenos, procurando-se compreender que esses fenômenos são parte de um contexto mais amplo sobre o qual agem ao mesmo tempo em que sofrem as influências desse todo. De acordo com essa perspectiva, tudo está em articulação:

Nada é isolado. Isolar um fato, um fenômeno, e depois conservá-lo pelo entendimento nesse isolamento, é privá-lo de sentido, de explicação, de conteúdo. É imobilizá-lo artificialmente, matá-lo. É transformar a natureza – através do entendimento metafísico – num acúmulo de objetos exteriores uns aos outros, num caos de fenômenos. (LEFEVBRE, 1991, p. 238).

De acordo com Cury (2000, p. 27), com a categoria da totalidade pretende-se alcançar “uma visão que seja capaz de conectar dialeticamente um processo particular com outros processos e, enfim, coordená-lo com uma síntese explicativa cada vez mais ampla”. Ainda conforme o mesmo autor, essa categoria permite a compreensão da realidade em suas leis mais íntimas e revela as suas conexões internas e necessárias. Também permite o conhecimento do fenômeno, e para se chegar a ele faz-se necessária a sua historicização. Desse modo, da categoria totalidade decorre outra categoria do método:

A Historicidade: é o movimento que realizam os sujeitos ou organizações, é o reconhecimento da processualidade que há em sua história constitutiva. Nela, o homem participa da construção da história, exercendo influência nas transformações que ocorrem no mundo e na sociedade (PRATES, 2005; CURY, 2000). Dizer que os fenômenos sociais são históricos significa reconhecer que não são estáticos, que estão em permanente processo de movimento, de desenvolvimento e de transformação.

A Contradição: o materialismo dialético inclui a contradição na história, tornando-a a base do desenvolvimento da consciência. Conforme Lefebvre (1991), não há produção sem contradição, sem conflito, a começar pela relação do ser social (o homem) com a natureza, através do trabalho. A contradição dialética “tem sua raiz profunda no conteúdo, no ser concreto: nas lutas, nos conflitos, nas forças em relação e em conflito na natureza, na vida, na sociedade, no espírito humano” (Lefebvre, 1991, p.192).

Marconi e Lakatos (2003), estudando a contradição como princípio do desenvolvimento, destacam seus principais caracteres:

a) é interna – significa que toda realidade é movimento e não há movimento que não seja consequência de uma luta de contrários, de sua contradição interna, isto é, essência do movimento considerado e não exterior a ele.

b) é inovadora – pois não basta constatar o caráter interno da contradição. É necessário, ainda, frisar que essa contradição é a luta entre o velho e o novo, entre o que morre e o que nasce entre o que perece e o que se desenvolve.

c) é unidade dos contrários – ou seja, encerra dois termos que se opõem: para isso, é preciso que seja uma unidade, a unidade dos contrários.

No intuito de alcançar essas categorias teóricas, abordam-se as Medidas Socioeducativas, objeto do presente estudo, como um fenômeno que está diretamente relacionado ao fenômeno social da infracional juvenil, portanto, para compreendê-las é necessário um resgate histórico de como vêm se apresentando as formas de atenção às crianças e aos adolescentes, especialmente os em conflito com a lei.

Vislumbrando-as como um fenômeno inserido em uma totalidade, no qual existem outros fenômenos que se interligam, essas formas de atenção sofrem e são causadoras de interferências nos fenômenos — uns interferem nos outros. Isso em um processo que não é estanque, mas que está em constante movimento. Nesse sentido, no decorrer do estudo realizou-se um levantamento das formas legais que, historicamente, marcaram o atendimento de crianças e adolescentes, discorrendo-se sobre as transformações que essas formas legais sofreram, mas, também, o que produziram, de acordo com cada momento histórico.

O método dialético-crítico exerce papel hegemônico enquanto referencial teórico na produção de conhecimento na profissão, e, associado a “um conjunto teórico de fôlego, que seinspira no próprio movimento da realidade, histórico, contraditório, multicausal, aporta,

também, as categorias explicativas da realidade [...]” (PRATES, 2005, p. 133). No presente estudo, elegeram-se as seguintes categorias explicativas da realidade para orientá-lo: Ato Infracional; Medidas Socioeducativas em Meio Aberto (MSE-MA); Sistema Nacional Socioeducativo (SINASE) e Sistema Único de Assistência Social (SUAS), abordadas no decorrer do deste estudo.