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3. CAMINHOS PERCORRIDOS

3.3. Sujeitos da Pesquisa

Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 223), “o universo ou população é o conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum. [...]. A delimitação do universo consiste em explicitar que pessoas ou coisas, fenômenos, etc. serão pesquisados, enumerando suas características comuns, como, por exemplo, sexo, faixa etária, organização a que pertencem, comunidade onde vivem. etc.”.

Inicialmente, propôs-se a inserir, no universo desta pesquisa, adolescentes e/ou jovens que tivessem vivenciado a experiência de cumprimento de MSE-MA de PSC e/ou LA, todos com processos já extintos, entre os anos de 2007 (posto que, legalmente, as MSE-MA foram implantadas em outubro de 2006) a dezembro de 2012, e familiares desses adolescentes e orientadores que os acompanharam no atendimento das referidas medidas. Porém, havia “pedras no meio do caminho”.

Ao se iniciar o processo de levantamento dos casos acompanhados pelo setor de Serviço Social da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), constatou-se que nem todos os processos, entre os anos de 2007 a dezembro de 2009, possuíam registros com dados suficientes para localizar os sujeitos que fossem sorteados para serem convidados a participar da pesquisa. Em alguns processos não constavam informações sobre a MSE que fora determinada, e se havia iniciado e/ou finalizado.

Foram inseridos, no sorteio, alguns dos que possuíam dados de localização: endereço, nome de responsável, entre outros. No entanto, os inicialmente sorteados não foram localizados, acredita-se que devido à mobilidade territorial dessas famílias. Buscou-se informações junto ao Juizado da Infância e da Juventude (JIJ), no intuito de se verificar a existência de outras fontes em que se pudesse obter maiores informações a respeito dos processos vinculados àquele período. Acessaram-se as informações constantes no “Livro Tombo” – utilizado antes da informatização do setor para registrar as datas de entrada e de extinção de processos referentes às MSE-MA e às Medidas Protetivas – e as constantes no sistema informatizado. Contudo, esses registros também eram restritos.

Havia a possibilidade de se encaminhar ofício ao Juizado da Infância e da Juventude (JIJ), apresentando a pesquisa e solicitando a liberação de acesso aos processos já arquivados, mas, em virtude do limite temporal, esta opção foi extinta, posto que demandaria a disponibilidade de mais tempo, não havia recursos humanos suficientes para agilizar o processo de levantamento dos dados mínimos para localizar os sujeitos: endereço, à época, nome dos responsáveis, entre outros, e pela avaliação de que depois da disponibilização desse tempo e levantamento dos dados iniciais, poder-se-ia receber uma negativa quanto ao convite para participação no estudo, ou mesmo, não conseguir localizá-los, considerando-se o tempo decorrido e a mobilidade espacial das famílias.

Diante dessa avaliação, optou-se por realizar o sorteio entre os adolescentes acompanhados no período compreendido entre janeiro de 2010 – época em que a presente pesquisadora iniciou o acompanhamento das MSE-MA – a dezembro de 2012, posto que estavam arquivados os dados necessários para a localização dos futuros sujeitos da pesquisa.

Na pesquisa qualitativa, “o pesquisador deve preocupar-se menos com a generalização e mais com o aprofundamento, a abrangência e a diversidade no processo de compreensão, [...]” (MINAYO, 2010, p. 196). A amostra foi do tipo intencional que, segundo Gil (2008, p.94), “constitui um tipo de amostragem não probabilística e consiste em selecionar um subgrupo da população que, com base nas informações disponíveis, possa ser considerado representativo de toda a população”. Martinelli (1999, p. 24) destaca que o importante na pesquisa qualitativa “não é o número de pessoas que irá prestar a informação, mas o significado que esses sujeitos têm em função do que estamos buscando com a pesquisa”.

Diante do exposto, a composição da população selecionada para a pesquisa seguiu os seguintes critérios de seleção:

 Universo da pesquisa

Diante do exposto, o universo da pesquisa foi redirecionado para os processos – já extintos, pois sobre estes não existem mais determinações judiciais – acompanhados entre os anos de janeiro de 2010 a dezembro de 2012, tomando ainda como critério inclusivo, a necessidade de que fossem processos que os adolescentes tivessem finalizado o cumprimento da(s) MSE determinada(s). Sendo assim, o universo apresentado foi composto pelos seguintes números:

Quadro 2: Processos Finalizados – 2010 a 2012 PROCESSOS FINALIZADOS 2010 Quantidade LA 02 PSC 09 LA + PSC 01 2011 Quantidade LA 02 PSC 09 LA + PSC 00 2012 Quantidade LA 05 PSC 07 LA + PSC 01 TOTAL 36

Fonte: Planos Individuais de Atendimentos, cadernos de registros e Relatórios de Atendimentos do Setor de Serviço Social da Secretaria Municipal de Assistência Social de Guaíba-RS.

A amostragem deste universo foi realizada por meio da “Amostragem Aleatória Simples”, a qual, segundo Gil (2008), “é o procedimento básico da amostragem científica.” (p. 91). É uma das mais utilizadas, pois, dá exatidão e eficácia à amostragem, fácil de ser aplicado e todos os elementos da população têm a mesma probabilidade de pertencerem à amostra. Utilizou-se o método de sorteio, dividindo o universo da pesquisa em três grupos, compostos por: 1º) Adolescentes que cumpriram, apenas, MSE de PSC; 2º) Adolescentes que cumpriram, apenas, MSE de LA; 3º) Adolescentes que cumpriram MSE de LA e PSC.

Para cada grupo elaborou-se uma lista com os sujeitos que neles se enquadravam, conforme a descrição realizada no parágrafo anterior, numerando-os de acordo com a sua quantidade, iniciando pelo número 01. Em seguida, as numerações foram postas em três urnas, também classificadas de acordo com os critérios informados e, por fim, foi realizado o sorteio da amostra pretendida, que incluiu: seis jovens que vivenciaram a experiência das(s) MSE-MA; destes, cinco são do gênero masculino e um do feminino. Dois cumpriram MSE- MA de LA; Dois, MSE-MA de PSC, e Dois, MSE-MA de LA + PSC.

Inicialmente, pretendeu-se convidar e incluir, caso aceitasse, um familiar/responsável de cada jovem que fosse inserido na pesquisa. Todos os familiares convidados aceitaram, contudo, devido a atividades laborais dos convidados não se conseguiu realizar a entrevista com dois familiares. Dessa forma, a amostra desse segmento ficou representada por cinco familiares – posto que em relação a um dos jovens, no dia da entrevista, os genitores se encontravam em casa e ambos manifestaram interesse em participar do estudo.

O número de orientadores socioeducativos23 correspondeu ao universo dos que, à época da construção do Projeto de Pesquisa, realizavam o acompanhamento das MSE-MA: três que estavam vinculados às unidades de execução da MSE-MA de Prestação de Serviço à Comunidade no Município de Guaíba/RS, dos quais apenas um aceitou o convite para participar da estudo.

Como não havia registros suficientes sobre o processo de Municipalização das Medidas Socioeducativas em Meio Aberto no Município investigado, foi necessária a coleta de depoimentos de sujeitos que participaram ou que possuíam alguma informação a respeito desse processo, visando a preencher as lacunas existentes, sendo estes:

 Um representante do Poder Judiciário que, teoricamente, teve alguma aproximação com as MSE-MA, antes de sua Municipalização.

 Um Conselheiro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (COMDICA) que acompanhou o processo de fiscalização e Municipalização das MSE- MA.

 Um sujeito inserido na Gestão da Política de Assistência Social à época da Municipalização das MSE-MA em Guaíba/RS.

Através dos relatos orais desses sujeitos buscou-se traçar como ocorreu o processo de Municipalização das MSE-MA no Município de Guaíba-RS. No intuito de triangular as informações, também foram solicitadas informações a esses sujeitos a respeito dos significados que atribuem às MSE-MA. E para dimensionar a quantidade de entrevistas, utilizou-se o critério de saturação que é “quando o incremento de novas observações não conduz a um aumento significativo de informações” (GIL, 2002, p. 139), entendido por Minayo (2010) como o conhecimento formado pelo investigador, no campo, de que conseguiu compreender a lógica interna do grupo ou da coletividade em estudo. Com os aceites dos convites, a amostra geral do universo de pesquisa foi composta por 15 sujeitos.

23Em seu art. 119, o ECA refere acerca do “Orientador” da MSE-MA de LA, informando que este tem como atribuições: promover socialmente o adolescente e sua família; promover a matrícula, e, acompanhar e supervisionar a frequência escolar; esforçar-se no sentido de sua profissionalização e inserção no mercado de trabalho e apresentar relatórios. O SINASE (2006b), em seu item 5.2.1.1, destaca que a execução da MSE-MA de PSC deve ser executada por uma equipe mínima, composta por 01 Técnico para cada 20 adolescentes; 01 Referência Socioeducativa para cada 10 adolescentes e 01 Orientador Socioeducativo para até 02 adolescentes – estes dois últimos “são pessoas próprias dos locais de prestação de serviço à comunidade que estarão incumbidas de acompanhar qualitativamente o cumprimento da medida do adolescente” (BRASIL, 2006b, p. 43).