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3. CAMINHOS PERCORRIDOS

3.4. Instrumentos e Técnicas de Coleta de Dados

A coleta de dados é o processo de busca de informações sobre a realidade que se quer investigar, o que exige a criação de instrumentos e técnicas. Como “a finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, extrapolar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão” (BAUER; GASKELL, 2002, p. 68), além da fonte oral, esses estudos exigem a inclusão de uma diversidade de fontes, sujeitos e métodos.

A partir desse entendimento, a técnica da triangulação de dados foi incluída na pesquisa por permitir o uso de diferentes fontes de coleta e análises de dados. Nessa etapa da pesquisa, a triangulação exige o uso de diferentes técnicas de coleta de dados para que se possa enxergar o objeto investigado sob vários ângulos, para que, no momento da análise dos dados, se obtenha a combinação e o cruzamento das várias informações coletadas através de múltiplos informantes e de múltiplas técnicas, aproximando-se daquilo que seria o “ponto de saturação”, ou seja, o momento em que se consiga identificar que se chegou ao conjunto das informações possíveis de se obter em relação ao tema. Diante do exposto, para este estudo elegeram-se as seguintes técnicas de coleta de dados:

Pesquisa Bibliográfica: este tipo de pesquisa é desenvolvido por meio de material já elaborado — livros e artigos científicos; permite ao pesquisador obter uma gama de fenômenos muito mais ampla (GIL, 2008). Contudo, a pesquisa bibliográfica não é simples repetição do que já foi escrito sobre determinado assunto; ela propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras (MARCONI; LAKATOS, 2003).

No presente estudo, as fontes utilizadas foram livros, artigos, periódicos, dissertações e teses referentes às medidas socioeducativas em meio aberto.

Pesquisa Documental: de acordo com Gil (2008), o que diferencia a pesquisa documental da bibliográfica é que a primeira utiliza materiais que ainda não receberam tratamento analítico ou que ainda podem ser reelaborados; a segunda utiliza, fundamentalmente, as contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto. O autor complementa informando que na pesquisa documental

existem, de um lado, os documentos de primeira mão, que não receberam qualquer tratamento analítico, tais como: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos [...]. De outro lado, existem os documentos de segunda mão, que de alguma forma já foram analisados” (GIL, 2008, p. 51).

Nesse sentido, Documentos de arquivos públicos, Publicações parlamentares e administrativas, Relatórios de pesquisa baseados em trabalho de campo de auxiliares, Diários, Gravações em fita (Marconi e Lakatos, 2003), entre outros, podem ser considerados fontes de pesquisa documental.

Na presente pesquisa utilizou-se como fonte de dados: Relatórios técnicos existentes no setor de Serviço Social da Secretaria Municipal de Assistência Social de Guaíba, Leis, estatutos e normativas referentes às Medidas Socioeducativas, com ênfase nas realizadas em meio aberto; Planos Individuais de Atendimento (PIA) e Livros-Ata do Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) de Guaíba/RS. Como “os textos não falam por si” (MINAYO, 2010, p. 195), a pesquisa documental foi realizada por meio de um roteiro (APÊNDICES A), pois, os roteiros “respondem a indagações dos investigadores” (Idem).

Destaca-se que, nessa etapa da investigação, solicitou-se acesso aos Livros-Ata do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (COMDICA) de Guaíba, referentes à época que, conforme informações obtidas iniciaram os movimentos para a Municipalização das MSE-MA, ou seja, a partir do ano de 2005, no intuito de se encontrar registros de informações sobre esse processo. A atual gestão do COMDICA, prontamente colocou-se à disposição para contribuir com o estudo, no entanto, ao realizar buscas em seus arquivos informou que não foram encontrados os Livros-Ata referentes àquele período.

Entrevista Semiestruturada: a entrevista é uma das técnicas mais utilizadas nas ciências sociais. Nela o investigador se apresenta em frente ao investigado, formula-lhe perguntas no intuito de obter os dados que interessam à investigação. (GIL, 2008). Nas palavras de Minayo, (2010, p. 262), este instrumento fornece

informações que tratam da reflexão do próprio sujeito sobre a realidade que vivencia [...] Constituem uma representação da realidade: ideias, crenças, maneira de pensar; opiniões, sentimentos, maneiras de sentir; maneiras de atuar; condutas; projeções para o futuro; razões conscientes ou inconscientes de determinadas atitudes e comportamentos

A entrevista semiestruturada é realizada por meio de um roteiro, previamente estabelecido, que combina perguntas abertas e fechadas que servem de eixo norteador ao desenvolvimento da entrevista, permitindo introduzir novas questões no decorrer da

entrevista.

[...] o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada. Suas formas de realização podem ser de natureza individual e/ou coletiva (MINAYO, 2011, p. 57).

Nessa pesquisa, as entrevistas foram realizadas com diferentes sujeitos: adolescentes, seus familiares e orientadores das MSE-MA, e com sujeitos que participaram ou têm algum conhecimento a respeito do processo de municipalização das MSE-MA no Município de Guaíba, norteadas por roteiros (APÊNDICES D, E, F, G e H), sendo gravadas, transcritas e depois degravadas, obedecendo-se ao consentimento dos participantes por meio da assinatura dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICES A, B e C).

Inicialmente, solicitou-se a autorização da Secretaria Municipal de Assistência Social para realizar a pesquisa em seu interior. Ao se receber a Carta de Autorização (Anexo A), submeteu-se o projeto à avaliação da Comissão Científica do Programa de Pós-graduação em Serviço Social da PUC-RS. Após o Parecer favorável da Comissão Científica da Faculdade de Serviço Social – PUC/RS (Anexo B), o projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-RS do qual se recebeu o Parecer Consubstanciado (Anexo C).

Durante a entrevista semiestruturada buscou-se capturar informações sobre o conhecimento que o(a) jovem possuía a respeito das referidas medidas, antes de cumpri-las; sobre o convívio familiar e comunitário à época do cumprimento; motivação para o cometimento do ato infracional; sobre os objetivos que ele avalia que as MSE-MA possuem; sobre os significados que essas medidas têm/tiveram para as suas vidas; se produziram algum impacto em sua vida; dificuldades encontradas no período do cumprimento; atividades realizadas no cumprimento da PSC; relacionamento com os orientadores e equipe que acompanhava a PSC na entidade, entre outras informações; pontos positivos e/ou negativos que os jovens identificaram; encaminhamentos realizados à época do acompanhamento, entre outros.

Destaca-se que, nesse processo, a entrevista semiestruturada foi extremamente válida por ter proporcionado maior flexibilidade na forma com que as questões foram abordadas, diferentemente de um questionário fechado. Por exemplo, durante as entrevistas muitos termos constantes nos Roteiros, previamente estruturados, tiveram que ser substituídos por sinônimos, por outros mais simples, mais próximos à linguagem dos entrevistados.

documental nos arquivos existentes na instituição. Concomitantemente, selecionou-se a amostra dos sujeitos, realizando-se os contatos com os sorteados para apresentar-lhes a pesquisa, e para convidá-los a participar do estudo. Nesse momento recebeu-se, a negativa de apenas um jovem que havia cumprido MSE de Prestação de Serviço à Comunidade (PSC) em 2010. Seu familiar também se recusou, justificando que não faria sentido a sua participação, pois, o seu filho não havia aceitado o convite.