• Nenhum resultado encontrado

Categorias para análise de dados

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais III (páginas 111-115)

Aline Miguel da Silva

4.4 Categorias para análise de dados

Ao iniciar o trabalho de observação dos vídeos coletados, verifiquei a presença de determinados tipos de produção interacional que, depois de catego- rizados e contabilizados, desenhariam um mapa da interação dos alunos surdos em sala de aula de maneira detalhada, com a intenção de verificar a participação dos alunos surdos em comparação com os alunos ouvintes. De acordo com essas observações, foram criadas categorias para classificar as falas dos participantes que constam na tabela abaixo:

Tabela 4.1 – Categorias para classificação das falas dos participantes Categorias

Participação Primária Participação Primária

Concorrente Participação Primária Fática Participação Secundária Participação Secundária

Concorrente

Participação Secundária Fática

Interação Metacomunicativa Interação Metacomunicativa Concorrente Int. Metacomunicativa de Repetição Int. Metacomunicativa de Orientação da Atenção Int. Metacomunicativa de Gerenciar Interação Int. Metacomunicativa de Gerenciar a Interpretação Int. Metacomunicativa de Explicitação

Interação Paralela Interação Paralela Concorrente Interação Paralela Fática Interação Particular Interação Particular

Concorrente Interação Particular Fática Interação Motivada por

Interferência

Fonte: Da autora.

A categoria de interações primárias engloba as produções que tenham relação com o conteúdo de aula discutido no momento, que expressam opi- nião do aluno, dúvidas ou comentários que possam ser endereçados aos cole- gas ou professores, concordância, discordância ou complemento ao discurso realizado.

A categoria de participações secundárias foi criada para rotular as falas relativas a temas nos quais toda a turma estava envolvida, porém, não tinham a ver diretamente com o conteúdo da aula em questão. Falas como essas não foram categorizadas como particulares, por exemplo, justamente para distinguir os temas abordados pelo grande grupo de falas mais pontuais, produzidas por duas ou três pessoas. Alguns exemplos de participações secundárias marcadas foram a respeito da organização da confraternização que seria realizada no últi- mo dia de aula e das avaliações finais, que deveriam ser entregues, ambas na Dis- ciplina 2. Outros exemplos desse tipo de participação ocorreram na Disciplina 1, quando a professora propõe que a turma se organize em grupos de três pessoas

e começa-se a discutir, então, quem vai para o grupo de quem. Na Disciplina 3, falas secundárias foram registradas quando o professor anunciou o título do tex- to que seria discutido na próxima aula e onde esse texto poderia ser encontrado. Foram temas que tinham a participação da turma como um todo, mas, que não estavam totalmente relacionadas ao conteúdo.

O termo “metacomunicativo” designa falas em que a própria comunica- ção, ou o seu veículo linguístico, se torna o objeto da comunicação. Assim, a ca- tegoria interação metacomunicativa enquadra as interações que o surdo realiza e que estão diretamente ligadas à língua, por exemplo, uma dúvida que o aluno surdo tenha sobre um sinal utilizado pelo intérprete ou o desconhecimento de uma palavra em português. Não se pode dizer que participações metacomu- nicativas não são relevantes, afinal, elas colaboram para que os alunos surdos possam compreender as aulas de maneira mais fluida e completa. Aguardar o intervalo da aula para tirar alguma dúvida desse tipo não seria produtivo.

O vocabulário controlado “gerenciamento interacional” rotula falas que tenham a intenção de ceder, solicitar ou negar o turno, ou seja, dar ou pedir oportunidade de fala para alguém, incluindo também as falas dos alunos de- monstrando seu desejo de não ter a fala interpretada. As falas mais comuns do gerenciamento interacional vêm dos intérpretes, quando perguntam aos alunos, assim que percebem que estão com dúvidas, se desejam que as mesmas sejam interpretadas. A resposta dada pelo aluno pode ser negativa, e também é catego- rizada como gerenciamento interacional. Percebeu-se que caso o aluno queira realmente fazer sua pergunta, ele leva a cabo sua questão.

A “orientação da atenção” foi observada em todas as disciplinas e ori- ginada por motivos diferentes, nesse caso, as intérpretes realizavam um gesto com o intuito de chamar a atenção dos alunos para o que estava sendo inter- pretado.

A “repetição” é a reprodução, por parte do intérprete, de uma fala já inter- pretada que o aluno tenha perdido por alguma razão. O intérprete decide reali- zar a repetição por si, sem que o autor da fala tenha se pronunciado novamente (Metzger, 1999), por achar que a interpretação possa ser prejudicada de alguma maneira. Ela pode acontecer a pedido do aluno ou partir do próprio intérprete, quando esse percebe que o aluno não viu a fala.

A categoria de gerenciamento da interação trata de falas relacionadas di- retamente com a organização de como a interpretação vai acontecer, ou então, de algum diálogo travado especificamente entre os intérpretes que esteja relacio- nado ao trabalho de interpretação que diz respeito àquela aula, no planejamento da interpretação que estaria acontecendo naquele momento, ou no decorrer das demais aulas daquela disciplina.

As interações rotuladas como “metacomunicativa de explicitação” tinham a intenção de deixar o aluno surdo a par de alguma informação do ambiente que não era possível de ser interpretada, fazendo então uma explicação resumida. Como no caso em que as alunas falavam mais baixo e algumas vezes produziam sentenças incompletas, ou que diminuíam o tom próximas do fim, apontando para o texto digitalizado no computador. Nesse momento, interpretar as falas não era algo viável. A estratégia encontrada pela intérprete foi explicar o que estava acontecendo.

A “interação paralela” é aquela que traz assuntos com relação ao que está sendo discutido com o grupo, porém, são conversas mais pessoais, comentários que não seriam compartilhados com o grande grupo, mas apenas aos colegas mais próximos. Esse tipo de interação pode surgir quando o assunto discutido no grupo é primário ou secundário.

As “falas concorrentes” em qualquer das categorias anteriores ocorrem quando há tentativa de tomada de turnos durante a fala corrente de um falante, quando há a tentativa de interrompê-lo, mas não ocorre uma troca de turno, ou porque o detentor do turno consegue defender o turno, ou porque a participa- ção tinha apenas o propósito de externar um ponto de vista contrário, para cons- tar, sem intenção de tomada de turno. Ocorrem ainda sem intenção de tomada de turno ou de interação de comunicação direta com o próprio falante corrente, sendo uma fala particular ou paralela, por exemplo.

As “interações fáticas” têm a finalidade de fazer com que o canal de inte- ração seja estabelecido ou permaneça aberto, no caso de uma interação dialó- gica, mas também pode ocorrer em uma interação monológica, ou seja, tem a função de mostrar ao interlocutor que ele está sendo incluído, compreendido, considerado na comunicação, que ele pode continuar com seu fluxo de fala etc. Esse tipo de interação é importante porque serve como medidor do quanto os alunos surdos estão acompanhando o discurso que está sendo interpretado e o quanto o estão compreendendo. As participações de caráter fático ocorrem du- rante a fala corrente, porém, não tem a intenção de tomada de turno, mas sim de corroborar a fala do enunciador, indicar compreensão, retornos de forma breve, acenos etc. Podem ser constituídas por palavras ou sinais sonoros ou gestuais emitidos pelos receptores da fala para manutenção da conversa.

As “interações motivadas por interferência” são aquelas originadas de- vido a algum acontecimento advindo do ambiente, não sendo, nesse caso, uma interação por parte de alguém. Esse rótulo está de acordo com o utilizado na pesquisa de Metzger (1999). Nos estudos da autora, a responsável pela produção

das falas dessa categoria foi a presença dos equipamentos da pesquisa e a preo- cupação com o enquadramento nas câmeras etc.

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais III (páginas 111-115)