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4. Educação a Distância e as novas tecnologias da informação e comunicação

4.1. Categorização de ambientes de EAD baseados na Internet

Diante das dificuldades descritas acima um aspecto a ser considerado pelos planejadores de um ambiente a distância deve ser a coerência entre o contexto organizacional no qual os estudantes estão inseridos e o enfoque adotado no curso, uma vez que este contexto é um fator determinante na forma como os alunos irão abordar sua própria aprendizagem.

Alguns autores (Eastmond, 1998; Valente, 2002; Roberts, Romm e Jones, 2000) procuram definir conjuntos de tecnologias, agrupadas em categorias, para analisar os seus diferentes impactos nas atividades educacionais e no processo de ensino e aprendizagem.

Estmond (1998) define três tipos ou conjuntos de tecnologias que podem ter diferentes impactos no processo de ensino-aprendizado:

Tipo 1 - Ensino a Distância tradicional suplementado por atividades pela Internet.

Ensino baseado em distribuição de material impresso, para uso autônomo, com o uso da Internet para apoio suplementar, como e-mail, chats, conferências. Como a Internet não é fundamental para o processo, o conhecimento da tecnologia pelo aluno não é tão importante. Tipo 2 - Conferência por computador. Nessa categoria a Internet assume o papel de

principal meio de instrução e comunicação. Embora o material impresso possa estar sendo utilizado, a ênfase reside em recursos de comunicação baseado em computador, como chats, fóruns e board, pelos quais os alunos podem estabelecer comunicação síncrona ou assíncrona. As habilidades de comunicação escrita são críticas para o processo, bem como o conhecimento técnico dos recursos computacionais e da Web. Esse meio tecnológico exige grande interação dos alunos entre si e destes com o professor.

Tipo 3 – Cursos Virtuais. É uma extensão do tipo 2, mas com a Internet assumindo o

papel de única fonte de material instrucional. Cursos baseados na tecnologia Tipo 3, que envolvem profunda imersão nos recursos computacionais e da Web, podem promover aprendizado construtivista e a criação de comunidades de aprendizado. A interação remota com o professor (e colegas) ajuda a definir novos entendimentos do processo de aprendizado.

Adotando como base os níveis de cooperação entre alunos e entre alunos e professores, Roberts, Romm e Jones (2000) propõem um outro modelo de categorização para o aprendizado colaborativo pela Internet. Para isso duas definições foram elaboradas:

• “trabalho em grupo” - é aquele realizado pelo professor e alunos, em que as atividades são realizadas por todos e cada um pode se beneficiar do trabalho de seus colegas;

• “trabalho em subgrupos” - é aquele realizado por pequenos grupos de alunos de uma turma, que foi assim subdividida.

Essas duas dimensões definem quatro diferentes categorias, descritas a seguir e representadas na figura 01.

On-line padrão Radical

Traditional Ingênua

Nível de Trabalho no Sub-Grupo

ve l de Tr ab al ho n o Gr up o baixa alta ba ix a al ta

Fig. 01 – modelo de categorização para o aprendizado colaborativo na Internet (Jones et al., 2000)

Tradicional: é aquela derivada das aulas presenciais tradicionais, em que o conteúdo é

transmitido aos alunos por palestras e textos. No mundo virtual, esse modelo se caracteriza pela entrega de conteúdo, na forma de arquivos e textos, sem nenhuma interação entre os alunos e com pouca interação entre os alunos e o professor, normalmente por e-mail. Os alunos têm pouca ou nenhuma oportunidade de aprender com seus pares, o processo de aprendizado é fortemente dependente do conhecimento e das habilidades do professor.

Ingênua: envolve o uso de subgrupos, mas não o grupo como um todo. A forma mais

comum é a organização de pequenos grupos, de 3 ou 4 alunos, a partir do grande grupo original. Esses pequenos grupos irão trabalhar como unidades independentes dos outros sub- grupos. Esse método é, muitas vezes, adotado por razões práticas, buscando reduzir grandes grupos de alunos a um menor número de unidades de interação com o professor.

On-line padrão: usa o modelo de trabalho em grupo, mas não o de subgrupos. Todos

os alunos do grupo são envolvidos em todas as atividades – discussões, trabalhos, chats, etc. Desta forma, os alunos têm a oportunidade de aprender tanto com o professor como com os colegas. Ao longo das atividades, os alunos podem tender a formar, espontaneamente, subgrupos.

Radical: embora as categorias “on-line padrão” e “ingênua” também possam fazer uso

simultâneo de grupos e subgrupos, no modelo “radical” grupos e subgrupos são usados em todas as atividades. Atividades são realizadas no âmbito dos subgrupos, com interação entre

seus membros, mas também são realizadas no âmbito do grupo, podendo haver, inclusive, atividades inter-subgrupos. Esse modelo tem algumas características bem distintas:

• uso obrigatório das listas e/ou do e-mail do ambiente, como meio de comunicação único;

• apresentação on-line preparadas pelos alunos e disponibilizadas no ambiente;

• alocação, pelo professor, dos alunos em subgrupos, para a realização de todas as tarefas do curso;

• avaliação baseada nas apresentações dos subgrupos e nas atividades internas dos alunos.

Outra categorização, proposta por Valente (1999 e 2002), se baseia nas diferentes abordagens pedagógicas do EAD, que são definidas pelos tipos de interação permitidos pelos ambientes e adotados pelo educador:

Broadcast: é o uso dos meios tecnológicos para passar informações aos aprendizes. A

principal característica é que o aluno não interage com o professor, mas sim com o material (conteúdo) preparado por este. O professor não recebe (ou recebe pouco) retorno do aluno, não tendo idéia de como a informação está sendo interpretada ou processada pelo aprendiz. Essa categoria é muito eficiente para a disseminação de informações para um grande número de aprendizes e é, portanto, de custo-por-aluno bastante baixo. A função primordial do professor é a preparação do material (ou conteúdo).

Virtualização da escola tradicional: é o uso da tecnologia para reproduzir as ações

educacionais presentes no ensino tradicional. A principal característica aqui é que as ações são centradas no professor, que detém a informação e a repassa para os aprendizes. A interação entre professor e aluno é intensa e permite completo acompanhamento dos alunos. Essa interação faz com que o número de alunos atendidos seja bastante reduzido e que a atividade do professor seja muito intensa. A função do professor é a criação do material e seu fornecimento (delivery) aos aprendizes, garantindo ainda o retorno (feedback) às atividades dos alunos.

“Estar junto Virtual”: é o uso da tecnologia quando situações-problema ou projetos

são apresentados aos alunos, que sozinhos ou em grupo procuram resolvê-los com a assistência (coaching) do professor. A interação pela Internet tem por objetivo a realização de “ciclos de aprendizado” (Valente, 1999), que mantém os alunos no processo de realização de atividades inovadoras, gerando conhecimento. Essa abordagem foi denominada também de “learning network” (Harassim, et al., 1995). Segundo Valente (2002), essa abordagem é bastante complexa, porque, em primeiro lugar ela é de alto custo, pelo reduzido número de aprendizes possível e pela necessidade de equipe de suporte ao professor e, principalmente, porque exige profundas mudanças no processo educacional. Aqui a função do professor é a

criação de material, o suporte aos aprendizes e a criação/manutenção de um ambiente de aprendizagem adequado à construção do conhecimento.

Embora diferentes, as três abordagens descritas acima têm em comum, principalmente, a consideração da interatividade entre professor e alunos e entre alunos. Também em comum é a constatação de que um ambiente EAD, que envolve e estimula os alunos, vai exigir intensa atividade e envolvimento do professor e o seu papel precisa ser definido.