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Causas de suspensão

No documento Direito do trabalho: notas sumárias (páginas 161-165)

Podemos distinguir entre causas ligadas ao trabalhador e causas ligadas à entidade patronal.

5.1. Ligadas ao trabalhador

Partindo da cláusula geral tirada do artº 73º/1/1ª parte – LCT (con- firmada pela LFFF: arts. 26º/3 e 23º/2/e), cujos elementos integradores já vimos, é impossível prever todas as situações que levam à suspensão do contrato.

Pode dizer-se que todo o motivo não imputável ao trabalhador, que o impossibilite de prestar trabalho, em princípio, se enquadra no regime das faltas justificadas (LFFF: artº 23º/2). Mas se a sua duração ultrapas-

sar o período de 1 mês, então já se enquadra no regime da suspensão

(LFFF: artº 26º/3 e LCT: artº 73º/1).

Estes dois diplomas exemplificam com os motivos mais comuns e frequentes, sendo possível encontrar outros em inúmera legislação dis-

persa e não directamente relacionada com o direito laboral. Assim, entre os motivos ligados ao trabalhador pode exemplificar-se com os seguintes:

I. Doença II. Acidente

III. Serviço militar não profissional obrigatório

IV. Assistência inadiável a membros do seu agregado familiar191

V. Cumprimento de obrigações legais

No cumprimento de obrigações legais estão todos aqueles a quem a lei colocou, apesar da sua vontade, no exercício de certas funções (a maior parte destas vezes de índole estritamente não-laboral) fora do seu primitivo contrato de trabalho, duma maneira temporária e incompatível com ele, o que obriga à sua suspensão.

Essas funções podem ocorrer em organismos em representação (homogénea ou heterogénea) da classe trabalhadora ou no desempenho de funções públicas (maxime em órgãos de soberania).

Diplomas dispersos apontam exemplos de trabalhadores em orga-

nismos em representação da classe:

(a) Associações Sindicais (CRP: artº 58º/2/b/c e DL 215-B/75). (b) Comissões de Trabalhadores (CRP: arts. 56º/d, 54º/4 e L 46/79,

de 12/Setembro: artº 16º).

(c) Órgãos de gestão e órgãos sociais das empresas de capitais (total ou parcialmente) públicos (L 46/79: arts. 30º e 31º).

(d) Organismos de Segurança Social: comissões administrativas das

Caixas de Previdência (DM de 26/Setembro/74); Instituto de Ges- tão Financeira da Segurança Social (D. Req. de 24/77, de 1/Abril).

(e) Instituto para o Aproveitamento dos Tempos Livres – INATEL (DL 16/77, de 12/Janeiro).

Em funções públicas de interesse público estão:

(a) Cidadãos em requisição civil (DL 637/74, de 20/Novembro). Esta figura é o expediente adequado para a chamada ao exercício de funções públicas.

191 ”Pessoas que vivem em comunhão de mesa e habitação ou que estejam a seu cargo” – é o entendimento do Despacho publicado em 22/4/78 no Boletim do Ministério

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(b) Titulares dos órgãos de soberania

• Presidente da República (DL 319-A/76, de 3/Maio).

• Deputados à AR (CRP: artº 158º/1 e L 5/76, de 10/Setembro)

• Membros do Governo (DL 683-A/76, de 10/Setembro)

• Membros da Comissão Constitucional (DL 503-F/76, de 30/ Junho)

• Provedor de Justiça (L 81/77, de 22/Novembro) • Governador Civil de distrito (C Adm.: arts. 404º ss.)

• Presidente e Vereadores de Câmara Municipal, a tempo inteiro (L 79/77, de 25/Outubro)

• Gestor público (DL’s 729/74 e 16/76).

Fica com contrato suspenso, igualmente, o detido até à sua conde-

nação transitada em julgado (CRP: artº 27º e CPP: artº 308º)192.

192 É óbvio que, se o cumprimento de obrigações legais tiver uma duração inferior a

30 dias, fica enquadrado na falta justificada (LFFF: arts. 26º/3 e 23º/2/e).

Por isso é que, normalmente, há logo situações dessas que são apenas faltas jus- tificadas. Por exemplo, os cargos exercidos:

I. Em instâncias judiciais ou parajudiciais:

- Jurados (CRP: artº 216º e DL 679/75, de 9/Dezembro). - Juízes Sociais (DL 156/78, de 30/Junho).

- Juiz de Paz (L 82/77, de 6/Dezembro). - Membro das CCJ´s (DL’s 463/75 e 328/78). II. Em órgãos autárquicos (L 79/77):

- Membro da Assembleia Distrital.

- Membro da Assembleia, Câmara ou Conselho Municipal. - Membro da Assembleia ou Junta de Freguesia.

III. Em organismos em representação da classe: - Segurança Social (DL 49/77, de 31/Dezembro). - Conselho Nacional do Plano (L 31/77, de 23/Maio).

- Conselho Nacional de Rendimento e Preços (DL 646/76, de 31/Julho).

- Conselho Nacional de Alfabetização e Educação de Adultos (L 3/79, de 10/Janeiro). Igualmente a convocação pessoal por autoridade pública, nomeadamente para prestação de depoimentos, é enquadrada na falta justificada.

(VI) Licença de maternidade

Este caso de suspensão vem expressamente regulado no DL 112/76, de 7/ Fevereiro e tem aplicação também às relações de emprego público.

Falando apenas em “falta”, a terminologia legal enquadra errada- mente esta figura relativamente aos casos normais de dispensa por 90 dias (artº 1º/1), 30 dos quais podem ser gozados antes do parto e os restantes 60 dias obrigatoriamente depois dele.

Apenas há lugar para enquadramento na “falta” se, obviamente, a licença não exceder 30 dias; e tal acontece se a gravidez terminar em

aborto ou em parto de nado-morto (artº 6º/l) e pode acontecer se, dentro

desse período, sobrevier a morte do nado-vivo (artº 6º/3).

Este regime faz concluir que 60 dias têm de ser obrigatoriamente dedicados no apoio ao recém-nascido e apenas 30 dias (no mínimo) para a recuperação da mãe.

5.2. Causas ligadas à entidade patronal

Outros motivos ligados à entidade patronal podem ser-lhe imputá-

veis (ou, pelo menos, do seu interesse) ou resultarem de caso fortuito ou

de força maior.

5.2.1. Imputáveis ou do interesse da entidade patronal

5.2.1.1. Situações normais

Trata-se de factos que, no mínimo, a entidade patronal controlará no seu desenvolvimento e que se cifrarão na impossibilidade de dar tra-

balho, embora, neste caso, o limite de duração mínima possa ser inferior a 30 dias. O artº 78º – LCT não exemplifica; apenas fala em “encerramen- to temporário do estabelecimento ou diminuição de laboração.”

Aqui podemos figurar os casos de impossibilidade por razões de

obras, limpeza, melhoramentos, dificuldades económicas (de crédito,

de encomendas) reconversão tecnológica (introdução de novos equipa- mentos, novas técnicas de fabrico) e até de intervenção das autoridades

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5.2.1.2. Empresas em situação económica difícil

Através do mecanismo do DL 353-H/77, de 29 de Agosto (artº 4º) pode uma empresa ser considerada em dificuldade económica pelo Conselho de Ministros e, se tal acontecer, ao abrigo do DL 353-I/77, de 29 de Agosto, pode haver suspensão dos contratos de trabalhadores não indispensáveis ao funcionamento da empresa. Ainda aqui se trata dum caso de suspensão ligado à entidade patronal com um regime anómalo previsto em diploma especial.

5.2.2. Casos fortuitos ou de força maior

O artº 79º/1 da LCT aborda motivos que não podem ser imputados a ninguém, nem ao trabalhador nem à entidade patronal, porque provêm da força natural ou de situações imprevistas.

Podemos aqui figurar o incêndio, a inundação o abalo sísmico, enfim, um qualquer cataclismo que, apesar de tudo, possibilite uma re- cuperação.

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