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Efeitos das faltas

No documento Direito do trabalho: notas sumárias (páginas 151-154)

10. As faltas ao trabalho

10.3. Efeitos das faltas

Os efeitos das faltas variam conforme se trate de faltas justificadas ou injustificadas e podem mesmo variar dentro do mesmo tipo.

As faltas justificadas não determinam, por princípio, a perda ou pre- juízo de quaisquer direitos ou regalias do trabalhador, isto é, contam-se para todos os efeitos, como se se tratasse de serviço efectivo (nº 1 do artº 26º). Há, no entanto, certas faltas justificadas que determinam a per- da da retribuição (cfr. nº 2 do cit. artº). As alíneas b) e c) têm a sua razão de ser no facto de a perda da retribuição encontrar o seu sucedâneo no subsídio de previdência, de seguro ou outro. Saliente-se, contudo, que estes subsídios são inferiores à retribuição que o trabalhador deixa de re- ceber da empresa, o que pode revelar-se gritantemente injusto sobretudo nos casos de doença profissional e de acidente no trabalho.

As faltas injustificadas determinam sempre perda da retribuição e o desconto do período de ausência na antiguidade do trabalhador (nº 1 do artº 27º). O nº 2 do artº 28º permite que a perda da retribuição possa ser substituída, “se o trabalhador expressamente assim o preferir, por perda de dias de férias, na proporção de um dia de férias, por cada dia de falta, até ao limite de um terço do período de férias a que o trabalhador tiver direito”.

Esta norma deve ser interpretada no sentido de que a redução do período de férias não implica a redução do subsídio de férias e que esta opção do trabalhador não “apaga” apenas o efeito da perda da retribuição mas igualmente o do desconto na antiguidade. De contrário, para além da incorrecção de fazer corresponder um dia de férias a um dia de trabalho, o trabalhador sofria um prejuízo que se me afigura não estar de acordo com o espírito da lei. As coisas deverão passar-se como se o trabalhador antecipasse o período de férias na medida das faltas.

Para além dos efeitos referidos que a lei liga, directa e imediatamen- te, às faltas injustificadas, estas podem ainda traduzir-se numa conduta infraccional passível de sanção disciplinar, incluindo o despedimento. Po- rém, se é certo que as faltas justificadas ficam fora da esfera disciplinar da entidade patronal, não significa que toda a falta injustificada possa ser disciplinarmente sancionada.

Quer dizer, a simples não-comparência é um facto disciplinarmen- te neutro, embora possa constituir o suporte fáctico de uma infracção

disciplinar. A circunstância de a lei não considerar justificada uma falta não altera, por si só, a natureza da falta no campo disciplinar. Em resu- mo, diremos que esta conclusão se baseia nos seguintes fundamentos: (a) a noção legal é puramente descritiva, fenomenológica, e evita tomar posição sobre esta questão; (b) a lei diz que as faltas injustificadas são aquelas que, não sendo prévia ou posteriormente autorizadas, se não baseiem em algum dos motivos indicados nas alíneas do nº 2 do artº 23º. Ainda aqui, o DL 874/76 evita qualquer qualificação disciplinar da não comparência injustificada; (c) à falta injustificada a lei liga, directa e imediatamente, apenas efeitos de natureza civil (perda da retribuição e desconto da antiguidade); (d) os critérios de qualificação das faltas como justificadas ou injustificadas não são coincidentes com os da sua valora- ção disciplinar. A infracção pressupõe, além do elemento objectivo, um elemento subjectivo, tornando-se sempre necessário saber que atitude revela a não comparência do trabalhador perante o cumprimento dos seus deveres, enquanto trabalhador; (e) para além dos motivos justifi- cativos indicados na lei podem verificar-se outras situações que tornem socialmente inexigível a presença do trabalhador na empresa ou que, pelo menos, tornem a ausência insusceptível de valoração disciplinar ne- gativa. Sirva-nos de exemplo o caso do trabalhador que pertence a uma Corporação de Bombeiros Voluntários, ou daquele que, deslocando-se para o serviço, a ele chega atrasado por decidir prestar assistência a uma pessoa sinistrada.

Do que fica exposto, não pode concluir-se que a falta injustificada não constitua, em caso algum, uma infracção disciplinar, mas deve con- cluir-se que, em nosso entender, não é, só por si, uma conduta infraccional.

CAPITULO VIII

SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO

1. Introdução

Depois de se ter tratado do surgimento da relação de trabalho e de se terem analisado os principais momentos da sua “vida”, ver-se-á agora, antes do estudo da cessação da relação de trabalho, um dos principais “acidentes de percurso”: referir-nos-emos à suspensão do contrato de trabalho.

Como sugere a expressão com que esta figura é designada, o con- trato não se extingue, mas deixa de produzir, enquanto durar a suspen- são, alguns dos seus principais efeitos. A suspensão traduz, precisamen- te, a coexistência transitória da extinção dos principais direitos e deveres emergentes do contrato com a manutenção do respectivo vínculo con- tratual. Esta coexistência verifica-se sempre que, por motivos não impu- táveis ao trabalhador, ocorra uma situação de impossibilidade superve- niente e temporária de o trabalhador prestar trabalho ou de a entidade patronal o receber.

A razão de ser desta figura radica, fundamentalmente, no princí- pio da conservação da relação de trabalho, podendo considerar-se como uma manifestação do direito à estabilidade no emprego. A impossibilidade

transitória de cumprimento de uma prestação duradoura não determina a perda do interesse na sobrevivência do respectivo vínculo contratual, ou, em todo o caso, o interesse na sua manutenção sobrepõe-se, neste domínio, ao interesse da sua dissolução.

Naturalmente, a explicação para esta figura dificilmente se encon- trará nos princípios informadores dos contratos civis, devendo antes pro- curar-se na especificidade das relações laborais.

No documento Direito do trabalho: notas sumárias (páginas 151-154)