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3. COMO PESQUISAR O IMPACTO EMOCIONAL DO TIMBRE

3.1. Centrado em responder aos meus questionamentos

Com o intuito de satisfazer as indagações que me levaram à pesquisa, busquei voluntários para que dessem os seus respectivos pareceres aos trechos musicais escolhidos por mim. Independente de gênero, grau de escolaridade, nível social, profissão e contato com música, os participantes, entre a faixa etária de 18 e 70 anos, ouviram os trechos propostos e em seguida preencheram o questionário (Apêndices A e B).

Os trechos, em geral, trasladam por diferentes gêneros musicais: do erudito ao popular. Essa diversidade foi intencional para que eu pudesse verificar a influência do timbre em diferentes músicas com maior ou menor aproximação do público-alvo. A seleção utilizada nos seis experimentos foi Concerto Italiano- 971 (Johann Sebastian Bach, que denominei ConI-971), Nubes (Pedro Javier Gómez Jaime) a que contribui ao caráter inédito da pesquisa tendo em vista que foi criada exclusivamente para o terceiro experimento, O cravo brigou com a rosa (cancioneiro popular brasileiro) e Wave (Tom Jobim). Nesta seleção, foi

feito um reconhecimento dos fragmentos que subjetivamente identifiquei como pontos de destaque.

A escolha de Bach (1685-1750) é devido à sua obra fazer parte da maioria dos programas de concerto de formatura de estudantes de instrumento de todo o mundo, o que de alguma maneira o converte em uma referência como compositor em nível internacional. Sendo assim, esta pesquisa não pretende atingir unicamente participantes locais, mas abranger outros espaços e culturas, propiciando a possibilidade de conhecer a influência que o timbre tem nas emoções desencadeadas durante uma escuta musical.

Algumas das razões que me fazem afiliar a obra de Bach e, em particular, ao seu Concerto Italiano-971 são que as peças dele estão em domínio público e as músicas, disponíveis gratuitamente tanto em partituras já impressas e digitais como em gravações no YouTube. Além disso, os trabalhos de recuperação da obra de Bach são extremamente maduros. Segundo Grout e Palisca (1994), as obras já foram levantadas, classificadas e catalogadas. Os fragmentos analisados do Concerto Italiano-971 de Bach – com tempos de duração de 33, 34 e 33 segundos para cravo, piano e violino (cordas) respectivamente – foram identificados levando em consideração o instrumento da execução: Teste1 (ConI)-cravo; Teste2 (ConI)-piano; e Teste3 (ConI)-violino (cordas). Ainda que os tempos possam parecer pequenos, o número de dados é significativo para um estudo sobre os componentes harmônicos do espectro associado a cada trecho musical.

Tais trechos constituem frases inteiras dentro das músicas em questão e na sua escolha foi considerada a evolução temporal como elemento que intervém na percepção do timbre. Daqui a necessidade de definir os trechos musicais que foram utilizados.

No que diz respeito ao ConI-971 o fragmento utilizado coincide com o intervalo da música executada em piano por András Schiff e que vai dos 10 segundos até os 44 segundos (34 s) e que pode ser encontrada pelos interessados no seguinte endereço: http: // www.youtube.com/watch?v=Jb6UHOex4_g

Por sua vez os fragmentos de “Wave” coincidem com o intervalo que vai dos 26 segundos até 42 segundos do vídeo desta música interpretado por Tom Jobim e Toquinho cito em: http: //www. youtube. com/watch?v=dwLJhBzs-Jo. E no caso de “O Cravo brigou com a Rosa” o trecho escolhido foi o que vai dos 5

segundos até os 19 segundos da execução em teclado e que pode ser encontrado em: http://www. youtube.com/watch?v=EdnfBmDK8Fg.

Esse processo de fragmentação da música possibilitou a aplicação da análise espectral a partir da Transformada Rápida de Fourier (FFT – Fast Fourier Transform) e ver nos espectros o comportamento dos harmônicos em relação a valores de frequência e amplitude. A Transformada Rápida de Fourier, segundo (ROVATTI, 2011), permite colocar um sinal que está no domínio do tempo no domínio da frequência.

Utilizo a FFT, neste estudo, devido à nossa sensibilidade auditiva ter uma relação explícita com a frequência e implícita com o tempo, no momento em que o sinal acústico de um tom chega ao nosso ouvido. Tais oscilações da membrana basilar, segundo Roederer (2009), estimulam as células pilosas que estão na zona de ressonância que corresponde a essa frequência, estimulando a atividade neural.

Os intervalos de frequência a seguir são apresentados relativos aos instrumentos característicos e os prováveis efeitos que podem induzir no ouvinte. Foi a partir desta caracterização que fixei valores de frequência sobre as que foram determinadas as contribuições harmônicas desses fragmentos musicais: 32 Hz, 64 Hz, 125 Hz, 250 Hz, 500 Hz, 1k250 Hz, 2k500 Hz, 5 kHz, 7k500 Hz, 10 kHz, 16 kHz. Uma vez determinadas as contribuições para cada intervalo de frequência em cada um dos fragmentos, elas foram somadas e divididas pela largura que separa cada um dos intervalos de frequência acima: 32, 61, 125, 250, 750, 1250, 2500, 2500, 2500, 6000.

Dessa forma, tendo em vista o que denominei Soma dos Componentes Parciais (SCP), dividi as três execuções do Concerto Italiano-971 de Bach em três fragmentos (Frag1_1, Frag1_2 e Frag1_3), somei-os e obtive os gráficos de contribuições harmônicas para o cravo, o piano e o violino (cordas). O meu intuito foi visualizar o comportamento dos harmônicos pelas faixas de frequências previamente estabelecidas.

Analogamente, foi aplicado esse procedimento a outras músicas que foram utilizadas na pesquisa. Os espectros acústicos contribuíram para uma melhor visualização do comportamento harmônico. Eles foram obtidos a partir das

Transformadas de Fourier, levando em consideração os valores de amplitudes e frequências relativas aos espectros acústicos audíveis pelo ser humano. Acredito que não faz sentido ter que resolver tais problemas musicológicos apenas para satisfazer os meus próprios desejos nacionalistas como cubano ou talvez daqueles existentes em alguns colegas, pessoas ou acadêmicos brasileiros. Dessa forma, priorizo o conhecimento que envolve este estudo ao redor da Física do timbre e as emoções musicais.