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Cestos utilizados para processar a mandioca

3.4 Tipos de cestos e materiais empregados

3.4.1 Cestos utilizados para processar a mandioca

FIGURA 8 - Tingkui

a) Suporte shaada na parte frontal do gancho superior b) Parte traseira do gancho superior; c) gancho superior d) Abertura

e) Ponto de partida para a tecitura do cesto f) Tecitura trançada em detalhe

g) Ponto em que o cesto começa a romper, após três meses de uso h) Nó de reforço

i) Gancho inferior Fonte: HAMES; HAMES, 1976.

aberto no topo. Possui um gancho em cada uma de suas extremidades. Com o gancho superior, fixa-se o tipiti em um suporte para que, no gancho inferior, seja preso a um mastro que esticará o cesto, exercendo-lhe tensão para espremer o ácido prússico e a água da mandioca ralada ainda fresca. Essa é a função exclusiva do tingkui. Dizem os Ye’kuana que

tingkui é o cesto que mais exige esforço físico de seu artesão durante sua tessitura, causando-

lhes frequentemente dores nas mãos e nos dedos após trabalho com um deles.

Deweke humudu (tipiti), 1,2 m x 7-10 cm — A versão de aprendizado do tingkui.

Considerando a dificuldade implicada pela tessitura de um longo tipiti, os garotos ainda jovens primeiramente aprendem a técnica para a tessitura do deweke humudu.

! FIGURA 9 - Matidi e seu trançado hexagonal Fonte: HAMES; HAMES, 1976.

Matidi (cesto-recipiente), 22 x 44 x 30 cm — Matidi (FIG. 9) é um cesto de

trançado hexagonal em formato de um largo vaso produzido para o armazenamento de farinha de mandioca (mañoco). Para que possa abrigar a farinha solta, é necessário revestir sua superfície interior com folhas para evitar o vazamento da farinha através dos orifícios formados pela tessitura hexagonal. Uma vez que tenha sido utilizado como recipiente para farinha, pode adquirir novo uso e, amarrado a uma das vigas no interior da maloca, passar a guardar bens sortidos. Neste caso, não retornará a ser usado para o armazenamento de farinha. Responsável por uma função essencial à subsistência no dia a dia, um matidi sempre era carregado quando os Ye’kuana partiam para caçadas ou longas viagens, abastecendo-os imediatamente. Assim como outros cestos tecidos, que outrora caracterizavam o modo de vida ye’kuana presenciado por seus pesquisadores, sua utilização parece decrescer devido à introdução dos recipientes de plástico adquiridos no comércio com os brancos.

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FIGURA 10 - Detalhe do trançado de sehecha e manade Fonte: HAMES; HAMES, 1976.

Sehecha (cesto-tamis), 60-100 cm de diâmetro — É um largo cesto platiforme,

aberto, de trançado vazado (FIG. 10), utilizado pelas mulheres para pescar em lagoas ou correntes de águas rasas, sobretudo na estação seca, quando os cursos fluviais têm seu volume reduzido. Para obter sucesso nesse tipo de pesca, grupos de mulheres cercam os peixes em pontos de águas rasas e então os capturam com os sehecha. Não menos importante, é o uso do

sehecha para peneirar a mandioca ralada aglutinada em blocos secos depois de todo líquido

ter sido extraído pelo tipiti.

FIGURA 11 - Manade Fonte: GUSS, 1989.

Manade (cesto-tamis), 40-80 cm de diâmetro — Manade (FIG. 11), assim como sehecha, é um cesto platiforme, aberto. Seu trançado, entretanto, é mais cerrado e mais

apropriado para peneirar a mandioca ralada logo depois de ter sido apertada no tingkui. As mulheres peneiram a mandioca arrastando com as mãos os blocos de mandioca espremida e

aglutinada contra o manade em movimentos circulares. Os pedaços maiores que não passam através da malha são descartados. A farinha pode ser peneirada diretamente sobre a chapa no fogo para ser transformada em uu, o beiju assado, ou pode ser peneirada sobre um waja, onde é mantida por um breve tempo antes de ser utilizada na preparação do uu.

! FIGURA 12 - Waja tingkuihato

Fonte: GUSS, 1989.

Waja, 80-100 cm de diâmetro — É um cesto platiforme de trançado fechado

utilizado para depositar a farinha de mandioca crua enquanto esta é peneirada através de um

manade – antes de ser tostada para o preparo de mañoco ou uu – ou de um sehecha – antes de

ser cozida para o preparo do mingau wookö. Neste caso, trata-se de um waja tingkuihato (FIG. 12), um nome que enfatiza sua relação de afinidade com o tipiti, tingkui, tecido em

kaana ou wana, cujo traçado desvela uma série de padrões simples, sendo-lhe mais comum

um motivo de quadrados concêntricos conhecido por fahadifedu, “a face do tatu” (GUSS, 1989, p. 72). Waja é utilizado também como recipiente para o beiju, uu, logo quando estes são retirados da assadeira e levados do rancho em que se prepara a farinha tostada e o beiju para a maloca.

Waja tomennato, 8-80 cm de diâmetro — “Waja pintado” em tradução literal, o waja tomennato é, conforme dissemos, um cesto platiforme, bicromático, de trançado cerrado

e com motivos zoomórficos ou antropomórficos. É utilizado como um recipiente em que uu é servido durante as refeições. É um item envolvido no comércio interétnico; outrora com os Pemon, atualmente com os brancos venezuelanos e brasileiros, que os apreciam como “artesanato”.

Kumukö, 20 cm de diâmetro — É utilizado em contextos semelhantes aos de waja tomennato, possuindo forma e trançado semelhante àquele, do qual difere por ser

monocromático e tecido com fibras mais finas de wana (Guadua latifolia). Por ser monocromático, os únicos motivos que emergem da trama e da urdidura são konoho kudö ou

fahadifedu, os quais são utilizados também nos waja.

FIGURA 13 - Wuwa Fonte: GUSS, 1989.

Wuwa (cesto-cargueiro), 25-74 x 20-45 cm — Trata-se do cesto cuja tessitura

demanda o maior investimento de tempo, além de ser o único a ser tecido pelas mulheres (FIG. 13). É um cesto fundo, em formato de jarro, tecido com a técnica de entrelaçamento radial, na qual os elementos flexíveis da trama do cesto são amarrados horizontalmente aos elementos verticais, estáticos, da urdidura. Para o reforço dessa estrutura, ambos os elementos são fixados por amaamada (espécie não identificada), uma videira resistente, que é enrolada ao longo de todo revestimento do cesto. É utilizado principalmente para carregar os tubérculos de mandioca das roças para o rancho do fogo e para a coleta de lenha. As mulheres carregam-no suspenso às costas por meio de uma alça apoiada contra a testa. Os homens, quando o utilizam (eles raramente o fazem), apoiam a banda em seus ombros. É visto como uma extensão do corpo feminino, sem o qual raramente uma mulher é vista deixando a aldeia. Esses cestos variam consideravelmente de tamanho, a depender da força daquela que o porta. Um cesto decorado portado por garotas pequenas, que assim ajudam as mulheres mais velhas a buscar lenha, por exemplo, tem apenas 10 cm de altura.

caixa, tecido de trançado em espinha de peixe. O cesto é um receptáculo utilizado para armazenar a mandioca ralada fresca e a farinha de mandioca tostada. Sua tessitura era incomum quando os Hames visitaram a aldeia Toki.