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3.4 Tipos de cestos e materiais empregados

3.4.2 Outros cestos

FIGURA 14 - Tudi Fonte: GUSS, 1989.

Tudi (cesto-cargueiro), 80 x 35 x 20 cm — Tudi (FIG. 14) é um dos cestos mais

difíceis de tecer por envolver três diferentes técnicas: hexagonal, espiral e vime. Os Ye’kuana utilizam-no como uma espécie de mochila. Uma alça que encaixa nos ombros é fixada à estrutura do cesto para que com ela os Ye’kuana possam carregá-lo às costas. Tudi é utilizado principalmente pelos homens – e pelas mulheres caso um wuwa não esteja disponível – para carregar pertences em longas viagens, transportar a carne de caça de algum animal morto num ponto distante e ocasionalmente coletar lenha ou produtos da floresta.

Tahiha e kodoma (cestos-cargueiros), 50 x 35 x 20 cm —Tahiha é idêntico em

tamanho e formato ao tudi. Difere daquele primariamente por seu trançado hexagonal não demandar uma trama secundária. Esse detalhe torna o trançado desse cesto mais veloz, embora menos resistente. Na região do Cunucunuma é mais produzido do que o tudi, podendo ser visto como uma variação regional. Kodoma, embora possua a mesma forma do tahiha e do

menor. Sua principal função é o transporte de uma rede quando de viagens.

Duma (cesto-cargueiro), 50 x 20 x 15 cm — Ao caçar, um Ye’kuana

eventualmente encontra na floresta frutas maduras desejáveis, tais como as da palmeira

kuhedi, patauá (Jessenia bataua), ele há de imaginar um modo de carregá-las consigo até a

aldeia. Duma, um cesto do tipo mochila, pode ser tecido rapidamente para esse propósito, caso haja, nas proximidades, folhas da própria kuhedi ou da palmeira kudai (Jessenia

policarpa). Com as fibras extraídas dessas folhas, é possível tecer um duma robusto o

suficiente para suportar uma carga até 30 quilos. Esse cesto é utilizado apenas quando um tudi não se encontra disponível. Após o seu primeiro e único uso, ele é descartado.

Ähaida’no, 25-30 cm x 8-14 cm — É um cesto cerimonial tecido de möñätä

apenas em ocasião de uma dança particular que ocorre durante a primeira manhã do festival

Wasai yadi, em que se celebra o retorno dos homens que estavam em uma expedição de caça.

Em determinado momento, a um dado sinal, os viajantes, dançando com os ähaida’no pendurados em seus bíceps, a enrolar, cada um, pedaços de carne de caça ou de pesca moqueados bem amarrados, são atacados pelas mulheres, que lhes tentam roubar os cestos. As mulheres obtêm os pedaços de carne por meio de ataques em grupos. Logo que o conteúdo dos cestos é consumido, estes são descartados.

FIGURA 15 - Cetu. Corpo tecido em vime e alça em bobina Fonte: HAMES; HAMES, 1976.

Cetu (cesto-recipiente), 28 x 3-11 cm — Cetu (FIG. 15) possui pouco valor

utilitário, embora venha a ser utilizado, às vezes, para o depósito de pimentas ou algodão. Trançado em vime com acabamento em bobina em sua boca e alça, esse pequeno cesto possui

um pescoço em formato de garrafa e é utilizado mais frequentemente como uma gaiola para os sapos kwekwe e komaka que cantam durante as noites da estação seca.

! FIGURA 16 - Kungwa. Motivos Woroto sakedi

(tuhukato) na parte superior e Ahisha na parte inferior

Fonte: GUSS, 1989.

FIGURA 17 - As duas metades de um

Kungwa. Na metade

superior, motivos

Woroto sakedi e Awidi;

na inferior, Mawadi

asadi

Fonte: GUSS, 1989.

Kungwa (cesto-recipiente), 8-18 x 10-16 x 20-38 cm — Toda magnitude da

cestaria ye’kuana se manifesta nesse cesto em formato de baú (FIG. 16 e 17). Sua tessitura é difícil por ser em formato de caixa e tratar-se literalmente de dois cestos. A metade superior, portanto, deve ser perfeitamente ajustada à metade inferior para que se obtenha um perfeito encaixe. Embora os motivos desvelados pela tessitura de um kungwa sejam os mesmos que aqueles dos waja tomennato, são mais difíceis de serem dispostos naquele. Quando tecidos para presentes ou para o comércio, são tecidos em conjunto de dois ou três, de tal modo que cada peça caiba no interior de uma maior, tal qual um conjunto de bonecas russas. Kungwa é utilizado para guardar diversos bens, tais como pigmentos, penas para flechas, resinas.

Mudoi, 1,8 m x 10-50 cm — É o cesto de pesca submergido na boca de pequenos

igarapés ou em pontos de baixa correnteza nos quais os peixes se alimentam. A orientação de sua boca depende do sentido para o qual os peixes se deslocam: quando a água está correndo do igarapé ao rio, a boca é direcionada a montante para capturar os peixes quando eles estão descendo o igarapé; durante os períodos de chuvas fortes, quando os peixes se dirigem às cabeceiras para se alimentarem, a boca do mudoi é direcionada a jusante. A boca do cesto é sua parte mais aberta e permite que o peixe entre em uma passagem que se estreita e facilmente conduz o peixe por meio de fios internos frouxos. Uma vez no interior do cesto, o

peixe não consegue sair, pois a tentativa de fuga pela boca aciona esses componentes internos a fechá-la. Mudoi raramente era tecido entre os Ye’kuana das cabeceiras quando os Hames realizaram sua pesquisa. Os que habitavam em aldeias a jusante diziam que já haviam esquecido como tecê-lo. Seu desaparecimento, assim como o desaparecimento de outros métodos tradicionais de pesca, provavelmente foi causado pela introdução e fácil disponibilidade de anzóis de ferro e linhas de nylon para a pesca com varas.

Guss (1989) também catalogou alguns cestos e apresenta-os em seu trabalho, alguns dos quais ausentes no registro de Hames e Hames (1976), razão por que os relacionamos a seguir:

FIGURA 18 - Warimari do tipo yamatoho Fonte: WILBERT, 1972 apud GUSS, 1989.

Warimari (cesto-abanador) — É o cesto utilizado para abanar fogueira e controlar

o preparo do beiju assado sobre a chapa. Assim como todos os cestos tecidos com entrançamento, é tecido de finas tiras de kaana, warimari, passando tiras do mesmo tamanho umas sobre as outras, por cima e por baixo, perpendicularmente. Embora monocromático, padrões podem ser derivados da alternância na regularidade com a qual elementos da trama e da urdidura passam uns sobre os outros. Diferentemente dos cestos tecidos com a técnica do entrelaçamento, não há estrutura interna ou costura e a tensão do conjunto trançado é mantida apenas pelo aperto de uma tessitura que não permite a um elemento da trama atravessar por mais de três urdiduras. Existem dois tipos de abanadores: U yanakato, a variedade larga e em

formato quadrado, é o preferido, porquanto sua borda reta é capaz de deslizar por baixo das enormes peças de beiju para virá-las e retirá-las da chapa; Watto Yamatoho, traduzindo-se, significa literalmente “batedor de fogo”. Trata-se do abanador em formato triangular, com um punho para o manuseio (FIG. 18). Por ser menos versátil, pode ser limitado para o controle do fogo doméstico. Devido à simplicidade, warimari são frequentemente os primeiros cestos que um rapaz ye’kuana aprende a tecer quando se aproxima dos dez anos de idade e ele começa a contemplar a vida no círculo restrito aos homens adultos (GUSS, 1989, p. 71-72).

Fwemi — É um cesto-ornamento. Trata-se de uma coroa de penas usada pelos

homens durante a festa na roça nova, adahe ademi hidi. Sua estrutura reitera o simbolismo encenado na dança anual dessa cerimônia. A transformação pela qual passaram Wanaato46 e o

povo pássaro responsável pelo plantio da primeira roça, dando origem aos primeiros Ye’kuana, é tecida nessa coroa que celebra exatamente esse evento. Tal qual uma roça e uma

ättä, conforme vimos acima, o cocar fwemi consiste em dois círculos concêntricos: o mais

externo é manufaturado com matéria não trabalhada: penas de arara, papagaio, gavião-real e mutum; o mais interno, com matéria modificada: talos de kaana, rígidos, cuidadosamente torcidos.

Maahi — Utilizado tanto em Wasai yadi ademi hidi e em Ättä ademi hidi,

respectivamente – festas de retorno à aldeia daqueles que estavam em viagem e festa de inauguração de uma nova maloca –, quanto na celebração por ocasião do nascimento de uma nova criança e da colheita recente de uma roça. Maahi é, portanto, um cesto cerimonial, pequeno, em formato de pacote, tecido diretamente envolvendo a caça ou o peixe obtidos por aqueles que retornam à aldeia e trazem os cestos pendurados em seus pulsos como uma prova do sucesso de suas jornadas.

Amoahocho, 13-18 cm — É uma réplica menor do tipiti tingkui. Embora não seja

requisitada para nenhum fim ritual, essa miniatura é responsável por momentos de diversão durante as festas, quando os jovens, com amoahocho, brincam de capturar pessoas do sexo oposto. O gracejo consiste em sugerir a alguém que enfie o dedo no interior do cesto. Quanto mais o gracejado tenta retirá-lo, mais difícil se torna a tarefa. Essa situação recapitula o modo por meio do qual Wanaadi capturou a própria esposa, Kaweshawa, a filha do dono dos peixes, explicando, assim, por que o amoahocho também é referido como Wanaadi hinyamo otohüdi, ou seja, “capturar a esposa de Wanaadi”.

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