4.1 DA BIOÉTICA
4.1.2 Chip em uniforme controla frequência de alunos em escolas do Brasil
Na Bahia, os alunos da rede municipal de ensino de Vitória da Conquista são os primeiros a se adaptarem ao fardamento digital, conforme a prefeitura da cidade.
Na última avaliação do MEC (Ministério da Educação e Cultura), para medir o índice de desenvolvimento da educação básica, a escola recebeu a nota mais baixa do país entre as redes municipais de ensino. Por isso, a Secretaria de Educação no Centro de Educação Paulo Freire (CAIC) foi a propulsora do projeto de inserção chip em uniformes, com o objetivo de controlar a assiduidade de alunos nas escolas (NASSIF, 2012).
O referido projeto se encontra em fase experimental de adaptação e deve ser expandido para 25 das 203 unidades escolares do município, de acordo com a estimativa da Secretaria (NASSIF, 2012).
Nota-se que, o chip é inserido, ou melhor, embutido na manga da camiseta escolar ou onde está o escudo da escola (brasão), pelo qual monitora a frequência de cada estudante e gera o registro do horário em tempo real aos pais através de SMS (Serviço de Mensagem de Celular). É nesse sentido que, crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos são os alvos para início do projeto. Logo, será incluso todos os demais alunos (NASSIF, 2012).
Quanto a transmissão da informação aos pais, um sensor é instalado no portão da escola que funciona como uma espécie de antena, que emite ondas de frequência, e aciona o chip num raio de até cinco metros. Os pais ao cadastrarem seu telefone na base de dados da escola, recebem uma mensagem via celular trinta segundos após a entrada de seu (s) filho, e outra após a saída deste da escola (NASSIF, 2012).
Para o sucesso do projeto, foi adotada a tecnologia por rádiofrequência, sendo desenvolvida pelo núcleo do Serviço Nacional de Aprendizagem (SENAI) e geralmente empregada por empresas privadas para o controle de trabalhadores. O sistema faz a captação por meio de sensores que são instalados nas escolas e assim fazem a leitura dos chips que repassam a informação via mensagem de texto aos pais.
O chip custa em torno de R$ 5,00 (cinco reais) e para se cadastrar no serviço, a família paga uma mensalidade de R$ 19,00 (dezenove reais). A camiseta escolar pode ser lavada e passada normalmente, porém não deve ser retirado o chip para que o objetivo do projeto seja atingido (NASSIF, 2012).
A partir de então, outras escolas públicas e também privadas aderiram à inserção do chip como medida de aumentar a permanência dos alunos em sala de aula, uma vez que costumam chegar atrasados, sair antes do término da aula e também pelo alto índice de abstinência (SILVA, E., 2012).
Muito embora a notícia tenha ganhado destaque nos meios de comunicação, por tratar do aspecto positivo, a questão encontra-se controvertida. Para alguns professores, o sistema poderá futuramente aperfeiçoar o tempo de estudo nas salas de aulas, eis que, perdem aproximadamente vinte minutos para realizar a chamada durante as aulas, e com a vinda do chip será registrada automaticamente. Ainda, entendem que o sistema deve contribuir com os programas de governo, no intuito de acelerar a divulgação de dados (SILVA, E., 2012).
Por outro lado, como o pedagogo Claudio Nunes, especialista em educação fundamental, o controle eletrônico ajuda, mas não resolve todos os problemas. Vale citar seu ponto de vista: “educação de qualidade significa qualificação dos professores, estrutura física adequada, instrumento didáticos pedagógicos favoráveis ao ensino. Então há também uma contrapartida da própria escola em parceria com a família”. (SILVA, E., 2012, p. 1).
Esse posicionamento é apoiado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, que bem observa a presidente Ione Helena Bernardo, acredita que “o ideal seria educar e conscientizar o aluno sobre a importância de frequentar a escola”. (SILVA, E., 2012, p. 1).
Há ainda àqueles que não têm opinião formada sobre o assunto, é o caso do professor Jaime Leitão, que é contra o chip em situações extremas, ou seja, quando ocorre fuga dos alunos para outros locais, antes, durante ou após as aulas. Em contrapartida, se coloca a favor, mas não de forma generalizada, só em casos específicos (SILVA, E., 2012).
Tal dúvida é fortalecida pelo advogado Peterson Santilli, presidente da Comissão dos Direitos da Infância, Juventude e Adoção da OAB de Rio Claro, ao esclarecer que em tese o uso do chip fere os direitos de liberdade e de ir e vir do estudante. Por outro, quem responde pelos direitos da criança e do adolescente são os pais, e, se eles concordarem com a medida, o ato se reveste de legalidade (SILVA, E., 2012).
De fato, é uma forma de fiscalizar o cumprimento da obrigação do aluno de frequentar a escola. Ainda ressalta que o assunto envolve a questão dos direitos humanos, sem contar que o uso do chip no uniforme não está regulamentado por lei, portanto quem se sentir prejudicado poderá acionar a Justiça (SILVA, E., 2012).
Por amor ao debate, constatou-se o caso de uma escola no Texas de ensino médio, denominada John Jay em San Antonio, que igualmente implantava a tecnologia de chip em uniforme, e por se tratar também de um projeto piloto e estar em fase de experimentos, não se encontrando regulado por lei, teve que interromper preventivamente o projeto (ARAGÃO, 2013).
A interrupção ocorreu pelo fato de uma aluna de sua escola ser cristã e não aceitar ser monitorada por meio de chip, motivo este pelo qual foi expulsa da referida escola. A aluna recorreu por meio judicial e em sua defesa exigiu que fosse readmitida para que possa concluir os estudos. Com isso, em primeira instância teve sua vitória. Porém o Tribunal de apelações não aceitou o argumento religioso (ofensa ao seu direito de expressão e liberdade de crença) e deu ganho à escola. Por esta razão, a escola de maneira preventiva decidiu interromper o projeto até a decisão legal definitiva (ARAGÃO, 2013).
Com a repercussão do caso, motivou outros alunos a não quererem ser monitorados pela escola (ARAGÃO, 2013).