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Direito à proteção da integridade física

3.3 DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

3.3.1 Direito à proteção da integridade física

O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana engloba o respeito e proteção da integridade física da pessoa, de não ter seu corpo deteriorado por objeto ou ato alheio, uma vez que há limites morais e éticos recepcionados pelo direito (CUPIS, 1961).

No âmbito do Direito Civil, mais precisamente em seus artigos 13 à 15, pode-se constatar a proteção jurídica do corpo humano, enquadrando-a nos direitos da personalidade:

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio

corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.

Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica (BRASIL, 2013a, grifo nosso). Diante do exposto, oportuno frisar que o artigo 13, veda os atos de disposição do corpo humano que gerem “diminuição permanente da integridade física”. (BRASIL, 2013a).

No texto constitucional, o direito a integridade física, encontra-se de forma indireta no caput do art. 5º, sob a expressão “segurança”, que garante as pessoas o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Essa segurança não tem conteúdo exclusivamente patrimonial mais principalmente pessoal. É o corpo da pessoa, sua incolumidade, que deve ser protegido, em primeiro lugar, contra atos de terceiros que possam lhe causar lesão (BORGES, 2007).

Percebe-se, então, que a noção de integridade física integra e complementa o conceito de saúde, de vez que a proteção da saúde consiste no desenvolvimento de sua personalidade (SZANIAWSKI, 2005).

Diante do exposto, vale mencionar que confere ao Sistema Único de Saúde controlar, fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, executar ações de vigilância sanitária e epidemiológica, da execução das ações de saneamento básico, bem como incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico entre tantos outros (SZANIAWSKI, 2005).

Ressalta-se que a saúde constitui-se em uma cláusula geral protetora da população, visando garantir uma boa qualidade de vida. É o que se extrai do art. 196, da Constituição brasileira: "a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação". (BRASIL, 1988).

Tem-se sustentado que a integridade física é um direito que todo o indivíduo tem sobre seu próprio corpo. Isto significa dizer que os poderes que cada pessoa teria sobre seu corpo seriam os de um proprietário sobre seu bem material. Essa concepção de intangibilidade do corpo humano, pelo qual somente pode sofrer violação por meio de consentimento expresso de seu titular, chegou a ponto de se tornar um dogma, o dogma da intangibilidade absoluta do corpo humano (SZANIAWSKI, 2005).

Ultimamente, este ponto de vista não encontra mais apoio entre autores, que não aceitam que cada um possui um direito de propriedade sobre seu próprio corpo. A título exemplificativo, no caso de destruição ou mutilação do próprio corpo por completo, estar-se-

ia autorizando a diminuição permanente da integridade física, com a perda da própria vida e bem assim autorizando o suicídio (SZANIAWSKI, 2005).

Nesse panorama, o direito de disposição encontra-se subordinado à regra que determina que o uso das coisas deva ser feito de acordo com sua natureza e finalidade, conservando o ser humano em relação a isto o seu livre arbítrio e a sua responsabilidade moral. O legislador apenas intervirá a fim de vedar a prática de atos materiais ou jurídicos que se constituam num perigo social (SZANIAWSKI, 2005).

Há que ressaltar, a integridade física é disponível, sob certos aspectos. Esses limites encontram-se na lei, na ordem pública, na moral e nos bons costumes. Assevera que o ingresso desse direito na circulação jurídica deve obedecer a certos “limites naturais”, que são: o direito à vida e o direito à integridade física (BITTAR, 2002).

Não obstante, autores como Gagliano e Pamplona Filho (2002), caracterizam o corpo como inalienável, muito embora se admita a disposição de suas partes. Se enquadrando ‘o corpo’ nos direitos da personalidade e por considerar esses direitos como indisponível, (DINIZ, M., 2010), ressalva que “há temperamentos quanto a isso” e exemplificou com o direito ao corpo, concluindo pela relatividade da indisponibilidade dos direitos da personalidade.

Sobre a indisponibilidade dos direitos da personalidade assevera Cortiano Junior (1998, p. 40):

A tradicional teoria sempre os classificou [os direitos da personalidade] como direitos indisponíveis (porque necessários), mas os avanços científicos e as novas necessidades humanas demonstram a imperiosidade de se repensar esta indisponibilidade.

Nessa linha de raciocínio, entende-se que em qualquer das hipóteses de disposição de partes do corpo os limites da autonomia privada devem ser observados, ou seja, o ato não pode ultrapassar o que é permitido pela Constituição Federal, pelas leis e pela ordem pública, além de observar a dignidade da pessoa humana como valor fundamental de todos os atos jurídicos (BORGES, 2007).

No que tange a experimentação de dispositivos em seres humanos, é preciso que as pesquisas tenham sido exaustivas antes de partirem para esses procedimentos. Além disso, é necessário que um comitê de pesquisa tenha aprovado o protocolo de respectivo experimento, bem como os resultados esperados da pesquisa ou experimentação sejam benéficos para a saúde humana em geral (BORGES, 2007).