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O mais conhecido programa de pesquisa em Ciências Sociais, baseado na Psicologia Comportamental, é a chamada teoria da troca social, iniciada no qüinqüênio final da década de 1950 e ainda muito atuante, especialmente no que tange à chamada microssociologia ou sociologia dos pequenos grupos de interação face a face (BREDEMEIER, 1980; EMERSON, 1969, 1972; HOMANS, 1958, 1961; MOLM, 1997).

Uma outra vertente de aplicação da Psicologia Comportamental à teoria social tem origem em setores da corrente multidisciplinar denominada neo-institucionalista, integrados, principalmente, por sociólogos e economistas que vêm se valendo crescentemente da Psicologia Comportamental para construir um modelo alternativo de indivíduo atuante, livre dos pressupostos cognitivos considerados demasiado implausíveis do modelo dominante, baseado nas teorias da escolha racional ou da ação racional176. A corrente neo-institucionalista

176 Para alguns autores, escolha racional envolve pressupostos cognitivos, como a capacidade de computar a

utilidade experada de um determinado curso de ação e os respectivos custos, etc., enquanto que ação racional é apenas o resultado de ações aleatórias, as quais, vistas em nível agregado, tenderiam à racionalidade, por efeito de algum mecanismo compensatório dos desvios em relação ao que seria o curso de ação mais racional (FRIEDMAN, 1953; BECKER, 1976). Outros ainda chamam de ação racional à simples alocação dos meios mais eficazes aos fins pretendidos. Do ponto de vista comportamental, no entanto, não existe propriamente um único padrão comportamental que se possa chamar de ação racional, mas padrões comportamentais diferentes, com base em contingências de reforço diferentes. Por exemplo, no caso de estrategistas militares ou de grandes corporações privadas e governamentais, o que se chama de comportamento estratégico tem muito de comportamento de resolução de problemas (problem solving behavior), o qual, na visão comportamental,

tem como um de seus principais objetivos construir uma ponte entre os universos macro e microssocial (ALEXANDER et al. (Eds.) 1987, HUBER (Ed.), 1991), representado em grande parte pela idéia de ordem institucional como fenômeno emergente (MACY, 1990, 1993; VANBERG, 1994; NEE; INGRAM, 2001).

Além dessas duas vertentes, a visão científico-comportamentalista de sociedade tem sido desenvolvida também pelos próprios psicólogos comportamentais, em colaboração direta com cientistas sociais (SUNAHARA, PIERCE, 1982), ou por meio de reinterpretações de teorias desenvolvidas na Antropologia, na Economia, na Psicologia Social, na Sociologia e na Ciência Política (KUNKEL, 1975, 1985, 1986; 1991; GLENN, 1991; GUERIN, 1994; LAMAL, 1991; ULMAN, 1998).

Não pretendemos neste capítulo revisar essa vasta literatura ou sintetizar os muitos caminhos trilhados pelos diferentes autores177, mas discutir seletivamente alguns temas da concepção comportamental de sociedade, que mais de perto interessam à pretendida fundamentação teórica da análise comportamental do direito, a que nos referimos no capítulo anterior.

Destarte, na seção imediatamente seguinte faremos um brevíssimo comentário sobre a teoria da troca social, destacando-se a questão do poder como dependência recíproca, ou seja, baseado no controle por parte dos membros de uma rede de relações sociais sobre os reforçadores e punidores contingentes ao comportamento dos mesmos. Em seguida,

envolve os chamados comportamentos precorrentes, basicamente, comportamentos que modificam o contexto (estímulos discriminativos), de modo a tornar mais provável a solução do problema (DONAHOE; PALMER, 1994). Já no caso das firmas em um mercado altamente competitivo, o processo, em nível agregado e de médio prazo, assume uma característica semelhante à seleção natural e operante (ALCHIAN, 1950; BOULDING, 1981) podendo-se incluir tal processo na rubrica da seleção cultural, ou, dadas as especificidades, estudá-lo separadamente, importando mais o enquadramento conceitual do que o rótulo para o processo em si. Quanto à alocação ótima de meios a fins, como Rachlin e outros autores comportamentalistas adeptos do modelo molar têm afirmado, além de sociólogos, cientistas políticos e microeconomistas, trata-se tão-somente do modelo lógico das funções retroalimentativas (feedback functions), que se usa para representar uma situação de equilíbrio dinâmico, como o de um pool genético em um dado ambiente natural, o repertório comportamental de um organismo e seu ambiente de vida, físico e social, enfim, qualquer sistema que seja capaz de aprender a partir das conseqüências (BAUM, 1973; RACHLIN, 1971, 1978; WILLIAMS, 1992).

177 Mesmo porque, eventualmente, esses não levam ao mesmo lugar, em razão de diferenças entre o que os

psicólogos comportamentais entendem como sendo uma concepção teórica de sociedade compatível com a ciência do comportamento humano (LAMAL (Ed.), 1991; BAUM, 1994), como também das distintas leituras que os cientistas sociais, por sua vez, fazem do que seja o núcleo fundamental da Psicologia Comportamental

dedicaremos duas seções à discussão do papel do contexto natural na caracterização de um padrão comportamental molar. Primeiramente, com relação ao comportamento das demais espécies animais, focalizando os chamados padrões fixos de ação; depois, com relação ao comportamento humano, tentando fazer uma síntese entre a noção de aninhamento de atividades proposta por William M. Baum e a perspectiva defendida por autores como Luiz Henrique de A. Dutra, entre outros, segundo a qual deve-se interpretar o comportamento humano, em termos molares, como comportamento inserido em um contexto social (BAUM, 2002; DUTRA; 2003a; LAMAL; 1991; KUNKEL, 1991). Na última seção, faremos uma ilustração dos pontos de vista defendidos neste capítulo, com base em três exemplos de estudos comportamentalistas de fenômenos sociais. Começando por um caso de terapia familiar de um menino que apresentava um comportamento autolesivo grave, seguindo-se um estudo histórico sobre a excelência musical em quatro orfanatos para moças na cidade de Veneza, no século XVIII, encerrando com um estudo sobre as contingências e metacontingências envolvidas em uma fase do processo de reforma econômica na ex-URSS, conhecido como Perestroika. Em nossos comentários a esses estudos, procuraremos ressaltar as contribuições e as limitações dos mesmos, no sentido da construção de uma teoria unificada do comportamento social humano, o que, para nós, é sinônimo de comportamento humano em condições naturais.