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Cidadania no Brasil Pós Constituição Federal de 1988

CAPÍTULO I ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS DA CIDADANIA

1.3 CIDADANIA NO BRASIL: CONSTRUÇÃO HISTÓRICA

1.3.1 Cidadania no Brasil Pós Constituição Federal de 1988

O que vimos até aqui diz respeito ao processo de construção da cidadania no Brasil, no período que antecede à Constituição Federal de 1988. O período pós Constituição Federal de 1988 dá ao país um novo jeito de construir e de consolidar a

cidadania. A Nova Carta Magna, denominada de Constituição Cidadã, caracteriza-se pela existência de importantes avanços de modo especial em relação aos direitos sociais, os quais são conhecidos e reconhecidos também como direitos de cidadania.

Os avanços, antes de serem inscritos na Nova Lei, que por si só ainda não é garantia de efetivação, estão diretamente relacionados ao processo de mobilização social que perpassou por todos os setores da sociedade brasileira. De alguma forma, fizeram com que a Nova Constituição trouxesse ao país novas perspectivas em relação à sua (re)democratização e ao processo de conquistas relativas aos direitos sociais, políticos e civis. Carvalho (2005, p. 199) afirma: “a constituinte de 1988 redigiu e aprovou a constituição mais liberal e democrática que o país já teve, merecendo por isso o nome de Constituição Cidadã”.

Isto pode ser observado a partir do destaque e da amplitude que tanto os direitos políticos, como civis e sociais ganharam na Constituição e, de alguma forma, foram ampliados, no Brasil, após a Constituição Federal de 1988. Tal amplitude, porém, não pode ser simplesmente concebida como uma vontade do legislador. Ao contrário, mesmo que muitos dos Constituintes tenham sido eleitos, a partir de sua militância em movimentos sociais, sindicais, categorias profissionais, associações e partidos políticos de esquerda, a Constituição Cidadã foi possível em função da histórica mobilização social que atingiu a sociedade brasileira. Isto tanto na perspectiva de superar o regime de governo ditatorial, quanto na necessidade de avançar em relação à ampliação da cidadania propriamente dita, para além da conquista de direitos políticos. E, segundo Corrêa (2006), historicamente no Brasil a cidadania relativa aos direitos sociais constituiu-se como algo regulado e impositivo, uma vez que sua origem é burguesa. Neste sentido, os movimentos sociais tiveram papel preponderante à medida que se constituíram, a um só tempo, como força de resistência e reivindicação diante da necessidade de construir um país politicamente democrático e socialmente justo.

A democracia e a justiça social, assim como a paz, os direitos humanos, a igualdade, o respeito às diferenças, a valorização das diferentes culturas, ou qualquer coisa que se queira imaginar, como se sabe, não são frutos construídos sem a participação e a vontade popular. É por isso que a característica que norteia todo e qualquer movimento social diz respeito à busca por mudanças e a denúncia das contradições da sociedade capitalista: as desigualdades sociais. O processo de

denúncia das desigualdades sociais e os movimentos de resistência em relação a elas e a necessidade de seu enfrentamento, deixam à mostra uma sociedade que, ao ser desigual, desrespeita o direito a cidadania. Esta se fundamenta nos princípio da dignidade humana, da igualdade e da liberdade.

A história tem mostrado que tanto às denúncias, quanto às reivindicações dos movimentos sociais, geralmente resultam em conquistas sociais, civis, econômicas e políticas. Elas, efetivamente, contribuem no processo de construção e consolidação da cidadania. Pode-se observar, tanto ao longo da história, como na história recente do Brasil que os movimentos sociais têm sido fundamental em relação à conquista e ampliação de direitos. A força do estado, em um primeiro olhar, quase sempre se mostra como algo demasiadamente resistente e, por isso, praticamente intransponível.

É possível observar consideráveis avanços em relação ao processo de construção e consolidação da cidadania no Brasil. Tudo isso ocorreu a partir da mobilização da sociedade brasileira no período que antecedeu a Constituição Federal de 1988. (Carvalho, 2005, p. 224) afirma que: “a frágil democracia brasileira precisa de tempo” para se consolidar.

No que se refere àquilo que se conhece, como direitos de cidadania, a Constituição Federal de 1988, no seu Art. 6º, assim os caracterizam: “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. São concebidos como direitos de cidadania porque se compreende que, a partir dos mesmos, o cidadão acessa àquilo que é considerada necessidade básica à vida humana. Contudo, é importante notar que a cidadania, evidentemente, para que seja integral, deve considerar também o acesso do cidadão aos direitos civis e políticos.

A consolidação da democracia, segundo Carvalho (2005), exige um aprendizado de séculos. Acredita-se que seja possível fazer à mesma afirmação em relação à consolidação da cidadania, mesmo que no Brasil pós Constituição Federal de 1988, pode-se observar avanços em relação à ampliação de direitos sociais e ao dever do estado para com seus cidadãos. A incapacidade do sistema representativo de produzir resultados que implicam na redução das desigualdades sociais, torna lenta a marcha da cidadania no Brasil. As desigualdades, do mesmo modo, hoje

“são câncer” que impedem a constituição de uma sociedade democrática (CARVALHO, 2005).

Corrêa (2006) corrobora com este pensamento:

No atual momento de crise, de modelos globais de sociedade é preciso fazer com que o novo “horizonte de sentido” no campo do simbólico possa vir acompanhado de um igualmente novo projeto político capaz de provocar a superação dialética das contradições vigentes. Eis o grande desafio para os que ainda acreditam ser possível a construção de uma cidadania capaz de oportunizar a todos o acesso ao espaço público (CORRÊA, 2006, p. 232).

O processo de construção e consolidação da cidadania constitui-se como algo que vai sendo produzido pelas diferentes experiências humanas. Experiências que não nascem prontas em algum lugar e, que podem ser reproduzidas em outros. Ao contrário, cada povo precisa construí-las a partir de suas vivências, processos que o leva a construção e consolidação da cidadania. Neste sentido, faz-se necessário observar o quão determinantes são os movimentos da sociedade organizada, pois para que haja cidadania faz-se necessária a efetiva participação da população, tanto na sua concepção, quanto na sua materialização.