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PAULO FREIRE, AS PRÁTICAS EDUCACIONAIS E A CIDADANIA

CAPÍTULO III PAULO FREIRE E AS PRÁTICAS EDUCACIONAIS: UMA

3. PRÁTICA EDUCACIONAL EM PAULO FREIRE

3.3 PAULO FREIRE, AS PRÁTICAS EDUCACIONAIS E A CIDADANIA

Ao tratar especificamente da relação das diferentes práticas educacionais em

relação ao processo de construção e consolidação da cidadania, inicia-se a reflexão com algo que, mesmo que já se tenha feito referência acima, a partir de Paulo Freire, constitui-se como fundamental neste processo. Trata-se da concepção de prática educacional como instrumento de conscientização, liberdade, emancipação, construção e exercício da cidadania.

Práticas educacionais não são aqueles que dizem respeito somente ao trabalho dos professores, mas àquelas desenvolvidas cotidianamente por profissionais, de um modo geral que, - se concebe a educação, como Paulo Freire, que “os homens se educam entre si” -, se constituem a partir e nas diferentes relações sociais que as pessoas estabelecem com as outras.

As práticas educacionais que pretendem contribuir com o exercício da cidadania não podem simplesmente estar imersas em conceitos e fazeres fundamentados apenas na “boa intenção”. Em relação a isso, Paulo Freire (2000) ao dizer que é preciso assumir a politicidade da educação, chama atenção para a questão de que toda e qualquer prática educativa, mesmo tendo uma dimensão individual, acontece a partir das condições históricas da sociedade. Também, nelas não há espaço para voluntarismo ou para o espontaneísmo, uma vez que estes “se constituem como obstáculos à prática educativa progressista” (2000, p. 46).

No que tange às práticas educacionais, as quais envolvem, de modo especial, o trabalho dos educadores, em Paulo Freire encontra-se várias referências relacionadas a uma profunda reflexão. Não admite sua neutralidade, partindo o autor do princípio de que, o educador tem o dever de não se omitir.

É o uso da liberdade que nos leva à necessidade de optar e esta à impossibilidade de ser neutros. Agora bem, a impossibilidade total de ser neutros em face do mundo, do futuro – que não entendo como um tempo inexorável, um dado, mas como um tempo a ser feito através da transformação do presente com que se vão encarnando os sonhos -, nos coloca necessariamente o direito e o dever de nos posicionar como educadores. O dever de não nos omitir. O direito e o dever de viver a prática educativa em coerência com a nossa opção política. Daí que, se a nossa é uma opção progressista, substantivamente democrática, devemos, respeitando o direito que têm de também optar e de aprendera optar, para o que precisam de liberdade, testemunhar-lhes a liberdade com que optamos (ou os obstáculos que tivemos para fazê-lo) e jamais tentar sub- repticiamente ou não impor-lhe nossa escolha (FREIRE, 2000, p.69). Pode-se ver, assim, que neutralidade profissional é algo que não existe. Não existe quando se quer trabalhar em uma perspectiva de mudança, ou mesmo, na perspectiva de manutenção do status quo. É possível dizer que a neutralidade não existe porque o próprio ato de não optar pela mudança já é uma opção pela não mudança, conforme se vê em Freire.

A não omissão diz respeito exatamente à opção. Ao dever de conscientemente optar pelo processo de mudança, ou seja, pela compreensão de que a partir de uma prática educacional progressista: crítica, reflexiva e propositiva é possível contribuir para no processo de superação daquilo que impede o exercício da liberdade, da dignidade humana, da autonomia. Em uma palavra, o efetivo exercício da cidadania. Por outro lado, a omissão, ou então a não opção, implica no ato de aceitar a ordem vigente e, a partir disso, contribuir para sua estabilidade.

Todo educador deve ter presente a ideia de que, conscientemente, tem a obrigação de viver sua opção política com coerência e, na mesma proporção,

compreendê-la em relação ao direito que o educando – o outro – tem no sentido de fazer suas próprias opções. Cabe, portanto, ao educador o papel de problematizador desta opção para que a mesma seja de fato uma opção e assim esteja fundamentada em concepções políticas, e, por consequência, por prática coerente. A partir disso o que se pode notar é que as práticas educacionais estão intimamente relacionadas ao processo de opção que o educador faz. Isto é, ao “dever de não se omitir”, de desenvolver práticas coerentes e comprometidas com a democracia e com a cidadania.

Consciente dos limites de sua prática, a professora progressista sabe que a questão que se coloca a ela não é a de esperar que as transformações radicais se realizem para que possa atuar. Sabe, pelo contrário, ter muito o que fazer para ajudar a própria transformação radical (Freire, 1996, p. 99).

Deste modo, pode-se dizer que as práticas educacionais, conforme Freire as concebe, à medida que são instrumento de politização, conscientização e emancipação contribuem com o processo de libertação dos oprimidos. Ou seja, com os processos de construção e consolidação da cidadania. Contudo, o que se observa, de modo geral, nas diferentes práticas educacionais, é que bom número de educadores não se apropriam das contribuições de Freire, no sentido de fazer com que os mesmo se sintam comprometidos com a mudança.

Nota-se, também, que a elite opressora continua oprimindo e, que, por consequência, os oprimidos continuam marginalizados em relação às suas manifestações, sua participação e ainda em relação à possibilidade de sua libertação. Neste sentido, não se consegue observar que sejam muitas as práticas educativas, assim como Paulo Freire as concebe. Concorda-se, que podem ser identificadas como impactantes, no que diz respeito à sua contribuição no processo de construção de mudanças socioeconômicas, necessárias ao enfretamento às desigualdades sociais. Assim como, aos processos de construção e consolidação de uma sociedade democrática e, para além de direito, de fato cidadã. Parece que, por sua obra, Paulo Freire não deixa dúvidas quanto às diferentes possibilidades que, as também diferentes práticas possuem no sentido de contribuir com uma educação para a liberdade. Ou seja, aquela que gera politização, conscientização, emancipação e, em última análise, cidadania.

Sendo assim, como se pode observar, buscou-se fazer uma leitura das práticas educacionais e de sua contribuição nos processos de construção e consolidação da cidadania, a partir da obra de Paulo Freire, uma vez que o autor,

pela fundamentação teórico-metodológica que faz em relação ao que pensa e sente, em momento algum dissocia o discurso da prática, nem o compromisso do educador com a mudança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os aspectos históricos e teóricos de construção e consolidação da cidadania, desde seus tempos mais remotos, apontam para processos sociais que, longe de serem pacíficos ou de considerar toda e qualquer pessoa como igual, são movimentos que apontam as contradições históricas de cada sociedade em seu tempo. As contradições econômicas, sociais, culturais, políticas, religiosas e ambientais, assim como de concepção de ser humano e de sociedade, constituem- se como elementos para observar que, ao longo da trajetória humana foi necessário criar mecanismos para se chegar a ideia de que entre as pessoas há princípios.

Estes, por sua vez, precisam ser considerados para que as pessoas sejam concebidas como seres iguais. A liberdade, a igualdade e a dignidade humana, assim, caracterizam-se como princípios fundamentais da cidadania. Aliás, uma cidadania que, como os conceitos, nunca dados, prontos ou acabados, mas historicamente sempre em construção, ainda precisa ser construída e consolidada.

A trajetória histórica que contempla os diferentes movimentos da sociedade no processo de construção e consolidação da cidadania, aponta elementos capazes de indicar a presença deste conceito ainda nos primórdios da humanidade.

Considerando os princípios fundamentais da cidadania: dignidade Humana, liberdade e igualdade, se observa que ela é fruto dos movimentos políticos, econômicos, culturais, sociais, religiosos e ambientais que a sociedade faz e que a mesma se constitui como um conceito sempre em construção.

A cidadania no Brasil construída por movimentos de “avanços e recuos”, em seu processo de construção e consolidação, deixa em enidência os elementos históricos anteriores e posteriores a Constituição Federal de 1988, considerada marco legal na conquista de direitos sociais, civis e políticos, compreendidos como condição para acesso à cidadania. Não é por acaso que a Constituição Federal de 1988 é denominada Constituição Cidadã. Contudo, ressalta-se que disreitos inscritos em uma Constituição ainda não são garantia de cidadania propriamente dita.

Os conceitos, para além de expressar concepções, a partir de diferentes modos de ver e sentir a realidade, são categorias que permitem analisar e compreender os processos históricos de constituição da sociedade, assim como o que constitui a realidade. Partindo desta ideia observa-se que os conceitos em Paulo

Freire, assim como expressam suas concepções, materializam-se naquilo que o educador propõe e faz.

Os aspectos gerais da obra de Paulo Freire, enfatizando os conceitos teórico- metodológicos: conscientização, liberdade, educação, cidadania e emancipação, os quais, articulados a uma concepção de educação comprometida com a mudança, vão servir de fundamentos para práticas educacionais transformadoras que, ao provocar transformação social, contribuem com o processo de construção e consolidação da cidadania. Para Freire, cidadania resulta de justiça social e não de práticas caritativas.

Práticas educacionais, segundo Paulo Freire, são propostas de emancipação, à medida que o educador opta por uma postura profissional político-progressista. Freire considera a opção política uma exigência para ser um educador comprometido com a mudança. A opção política do educador/profissional determina a contribuição do mesmo com os processos de mudança ou com a simples reprodução da ordem vigente Sem opção política não há contribuição no processo de construção e consolidação da cidadania.

A conscientização, liberdade, educação, emancipação e a cidadania, em Freire são conceitos teórico-metodológicos que articulados ao conceito de prática educativa. Caracterizam-se como proposta de construção de cidadania à medida que são capazes de provocar no sujeito uma postura política reflexiva, crítica, propositiva, autônoma. Em última análise, uma postura que deseja e provoca mudança. O desejo por mudança, em Paulo Freire, é resultante do processo de conscientização, pois se não há “consciência” – ciência, saber, “saber-se” com o outro -, não há compreensão acerca das diferentes ideologias que, ao serem simplesmente propagadas e não questionadas, produzem alienação dos sujeitos.

A obra de Paulo Freire é vasta. Ainda assim, a revisão de parte de sua literatura que se fez na busca por sua contribuição às diferentes práticas educacionais, no sentido de serem as mesmas, de alguma forma, promotoras e construtoras de cidadania, aponta para duas questões importantes. Primeiro a partir de sua concepção de educação como ato político e instrumento de liberdade (libertação) de conscientização, liberdade e emancipação, como elementos desejantes de mudança. Assim como, a prática educativa, propriamente dita, como algo que perpassa pelo compromisso consciente do educador em optar ou pela mudança, que a sua contribuição existe, à medida que muitos educadores buscam

em sua teoria ponto de apoio: a fundamentação teórica - prática para aquilo que fazem.

Neste sentido é possível observar em muitas práticas educacionais elementos que perpassam pela “ação-reflexão-ação”. Como também, pela opção política e o compromisso com a mudança. Além do mais, pela concepção de ato de educar como instrumento de conscientização e liberdade, por uma prática progressista e por uma prática educacional que trabalha na perspectiva de provocar autonomia.

Por outro lado, verifica-se a necessidade de avanços em relação às práticas educacionais. Avanços porque ao observar a obra de Freire e as práticas profissionais educacionais, nota-se que parte dos educadores ainda acreditam que há neutralidade no ato de educar. Fazer uma opção política constitui-se em optar por este ou por aquele partido político e que a mudança já não é mais possível diante de tantas contradições políticas, econômicas e sociais.

Em relação à cidadania, propriamente dita, Freire concebe-a, como direito de ter vida digna: alimentação, trabalho, habitação, vestuário, educação (iniciando pela alfabetização), saúde, poder expressar os sentimentos, chorar, sentir raiva, amar ou ser afetivo e participar ativa e conscientemente da vida da comunidade. Percebe-se que nisto também há necessidade de muitos avanços. São muitíssimos os cidadãos que não usufruem dos direitos de cidadania: saúde, educação, moradia, assistência social, trabalho e lazer.

O exposto indica que as práticas educacionais se operacionalizadas conforme as concebe Paulo Freire, elas são instrumento capaz de contribuir significativamente no processo de construção e consolidação da cidadania. Aliás, cidadania se faz urgente e necessária.

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Paulo Freire: uma breve biografia

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921, em Recife, Estrada do Encantamento, bairro da Casa Amarela. Joaquim Temístocles Freire, natural de Rio Grande do Norte, Oficial da Polícia Militar de Pernambuco e Edeltrudes Neves Freire, natural de Pernambuco, são seus pais. Em abril de 1931 a família transferiu-se para Jaboatão ainda em Pernambuco. Aos 15 anos de idade Paulo Freire fez seu exame de admissão e iniciou o curso ginasial; aos 20 anos fez o curso pré-jurídico e em seguida formou-se em direito e trabalhou como professor de Português.

Em 1944, aos 23 anos, casou-se com Elsa Maria Costa Oliveira e com ela teve cinco filhos, sendo três moças e dois meninos. Freire diz que foi a partir do casamento que começou a preocupar-se com os problemas educacionais e então estudava educação, filosofia e sociologia da educação e direito.

Paulo Freire, de 1946 a 1954, foi Diretor do Departamento de Educação e Cultura do SESI, em Pernambuco. Já naquele espaço, Freire exercitava o diálogo. Aliás, conceito frequente em todas as falas do autor sempre que diz alguma coisa de si.

A experiência do diálogo naquele lugar fez com que mais tarde Paulo Freire cria o método de alfabetização que iniciou em 1961. Método que teve lugar no movimento de Cultura Popular do Recife, ele foi um dos criadores deste movimento. Pouco depois Paulo Freire foi diretor do Serviço de Extensão Cultural da Universidade de Recife, a qual deu continuidade à operacionalização do método criado por ele.

Fez parte do Conselho Estadual de Educação no governo de Miguel Arraes e em 1964, foi convidado pelo Presidente João Goulart para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização. Por seu empenho em ensinar os pobres, o golpe de Estado de 1964 levou-o à prisão por setenta dias. Ali foi submetido por quatro dias a intensos interrogatórios, os quais continuariam depois no IPM do Rio.

Em setembro de 1964, Freire refugiou-se na embaixada da Bolívia. Paulo Freire foi considerado pelos militares um “subversivo internacional, um traidor de Cristo e do povo brasileiro”. Em função disso ficou exilado até 1980, quando o estado brasileiro aprovou a Lei da Anistia. No exílio Paulo Freire produziu algumas obras, destacando-se entre elas o livro Pedagogia do Oprimido (1969).

Em 1969, lecionou na Universidade de Harvard (Estados Unidos), e, na década de 1970, foi consultor do Conselho Mundial das Igrejas (CMI), em Genebra (Suíça). Nesse período, deu consultoria educacional a governos de países pobres, a maioria, no continente africano, que viviam à época um processo de independência. No final de 1971, Freire fez sua primeira visita a Zâmbia e Tanzânia. Em seguida, passou a ter uma participação mais significativa na educação de Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe. E também influenciou as experiências de Angola e Moçambique.

Nos anos 1970-1980 foi o momento em que o pensamento Latino Americano teve sua maior expressão na Teologia da Libertação. Paulo Freire contribui significativamente com este debate e influenciou com sua pedagogia, a muitos pensadores.

Em 1980, depois de 16 anos de exílio, retornou ao Brasil, onde escreveu dois livros tidos como fundamentais em sua obra: Pedagogia da Esperança (1992) e À Sombra desta Mangueira (1995). Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 1989, foi secretário de Educação no Município de São Paulo, na administração de Luíza Erundina.

Após a morte de sua primeira esposa, Paulo Freire casou-se com a educadora Ana Maria, hoje Anita Freire, uma ex-aluna do Colégio Osvaldo Cruz. O educador foi Doutor Honoris Causa por 27 universidades e recebeu prêmios como: Educação para a Paz (das Nações Unidas, 1986) e Educador dos Continentes (da Organização dos Estados Americanos, 1992). Freire Faleceu em 02 de maio de 1997.