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HISTÓRIA

O surgimento da Internet e as expectativas criadas acerca de seu potencial transformador tiveram estreita ligação com a criação da Cidade Escola Aprendiz. A impressão geral, quando a Internet começou a fazer parte da vida de pessoas, Universidades e organizações, era de que nada mais seria como antes. Estudantes abriam empresas de Internet. Algumas delas, bem sucedidas, passavam a ter suas ações negociadas em Bolsas de Valores. Rackers desafiavam esquemas de segurança de grandes multinacionais. Previa-se uma reviravolta no mundo da Educação.

Neste momento tem início o Cidadão na

Linha, uma experiência inovadora reunindo

jornalistas, educadores e alunos de três escolas públicas e do tradicional Colégio Bandeirantes em São Paulo. Juntos, produzem um website sobre temas de interesse dos jovens, como educação sexual, música, jogos, cidadania, entre outros. A partir da experiência do site, o jornalista Gilberto Dimenstein, responsável pela iniciativa, lança o livro “Aprendiz do Futuro” (Editora Ática, 1997). Dirigido a professores e estudantes de ensino médio, o livro fornecia informações e dicas para a realização ações que explorassem o potencial da internet no exercício da cidadania e da educação. Algumas das inquietações daquele momento são explicitadas na fala do próprio Gilberto:

Até que ponto poderíamos refazer o olhar e a prática do professor, tão acostumado à feudalização educacional, cada qual dono de sua matéria? E, mais ainda, ensiná-lo a manejar o desconhecido instrumento da Internet para facilitar a comunicação e a obtenção de dados? Será que existe papel mais relevante ao professor do que ser um administrador de curiosidades? (trecho de artigo publicado na Revista Educação, Out/2000)

O website www.aprendiz.org.br foi criado com a mesma linguagem jornalística adotada no livro, facilitando e enriquecendo a navegação de internautas recém-chegados à rede. A constatação de que todos os estudantes de ensino médio envolvidos na produção do site ingressaram em boas universidades e ampliaram seus horizontes pessoais, sociais e profissionais deu ainda mais fôlego à realização das atividades. O tema da cidadania e a conjugação dos mundos da comunicação e da educação foram motores das ações que desembocariam na criação da ONG.

O jornal é ágil para retratar o cotidiano, o tempo real. Mas se perde na avalanche do presente, do imediato. A educação lida melhor com o perene, o essencial. Mas tropeça para embalar

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A riqueza de uma cidade não está nas belezas naturais, mas na quantidade de pessoas interessantes fazendo coisas interessantes, compondo paisagens de incessantes inovações.

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a atualidade (...) fazendo da escola um exercício

aborrecido do passado. (Gilberto Dimenstein,

Revista Educação, Out/2000)

Foi produzindo o site, ainda em seu início, com uma equipe que reunia adolescentes e jovens, educadores e comunicadores, entre outros profissionais, que se formou o “DNA” da pedagogia Aprendiz: criar produtos de comunicação e de arte com equipes multidisciplinares e intergeracionais e utilizar a comunicação e as novas tecnologias como instrumentos pedagógicos.

Em pouco tempo, o www.aprendiz.org.br tornou- se referência no campo da educação, trabalho e cidadania. Além do espaço para a divulgação dos projetos da ONG, o site conta com colunas de jornalistas, intelectuais e políticos de grande expressão como o próprio Gilberto Dimenstein, Rubem Alves, Antonio Gois, Cristovam Buarque, entre muitos outros e é atualmente o mais visitado do Brasil entre os sites de educação contando, em 2003, com cerca de oito mil visitantes únicos por dia. Pesquisa recente mostra que o público que acessa o site Aprendiz é formado por estudantes de ensino fundamental e médio (17%), estudantes de ensino superior (31%) e profissionais liberais, principalmente na área educacional (51%) tendo, portanto, um impacto significativo na área da educação.

Durante os seis anos que seguiram a criação da ONG, o que se viu foi uma explosão de criatividade no desenvolvimento de programas e projetos. Cada idéia originava uma nova ação que, por sua vez, se transformava em nova parceria, fazendo com que a ONG crescesse num ritmo bastante acelerado. O atendimento direto passou de 10 jovens em 1997 (o grupo pioneiro) para 530 aprendizes em 2003.

A Oficina de Sites e o Cem Muros foram projetos1 que contribuíram para o amadurecimento

do trabalho e das relações da ONG com a comunidade, o primeiro no campo da educação pela comunicação e o segundo, da arte-intervenção [mais

informações sobre estes projetos estão na “Ficha de dados da organização”]. Dessa constelação de programas e projetos também fazem parte o

Aprendiz Comgás, o Beco Escola, o Escolinha da Rua, o Café.Aprendiz, o Garagem Digital, o Expressões Digitais, o PraTiCidade, o Histórias de Vida, a Incubadora, o Rádio Escola, o Rádio Ativo entre outros.

A evolução das ações levou a ONG ao desenvolvimento do conceito de Bairro-Escola, um laboratório de pedagogia comunitária que integra agentes sociais diversos em prol da melhoria da comunidade e da educação. Desde o início, a idéia de transformar “um bairro inteiro numa escola” move educadores e aprendizes, que lançam mão das diferentes linguagens – internet, rádio, jornal, revistas, fotografia, grafite, mosaico, cerâmica, televisão, blogs – para promover a melhoria das condições de vida da comunidade.

A atuação do Aprendiz no bairro da Vila Madalena vem criando uma comunidade educativa que experimenta programas de arte-intervenção urbana, expressão corporal, comunicação, tecnologia e geração de renda numa construção de parcerias que compõe redes de aprendizagem.

No Bairro-Escola, a idéia de bairro vai além dos limites geográficos e administrativos: diz respeito às relações de aprendizagem e ao diálogo que se estabelece entre as pessoas e entre pessoas e espaços. Assim, ainda que grande parte das ações ocorra na Vila Madalena, bairro conhecido por reunir um grande número de artistas, intelectuais e universitários de São Paulo, o trabalho do Aprendiz atinge um universo mais amplo, pois se dirige aos problemas e às potencialidades que o espaço público urbano apresenta – espaço público entendido não apenas como espaço físico, mas como espaço ocupado pela mídia2 e por fluxos de comunicação diversos.

A organização de incubadoras e cooperativas, os problemas do transporte público, o desemprego juvenil e as novas modalidades de trabalho como a profissão de DJ, o papel do grafite e dos murais

1O Oficina de Sites teve duração de quatro anos e o projeto Cem Muros durou dois anos e meio 2Para Jürgen Habermas, a esfera pública é o ambiente dentro da vida social onde ocorrem processos

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na revitalização de áreas deterioradas da cidade, a veiculação de programas de rádio feitos por estudantes, o mundo dos blogs e a inclusão social e digital de idosos são todos temas que fazem parte do trabalho da ONG pois permeiam a vida e o espaço público da metrópole.

A agilidade e a flexibilidade para mudanças na

Cidade Escola Aprendiz (ou no Aprendiz, como

também é chamado) tem, assim, relação com o dinamismo do espaço em constante mudança. Para acompanhar esse ritmo, o desenho dos programas evoluiu de uma estrutura composta de núcleos e programas para a idéia de percursos formativos a serem trilhados pelos aprendizes.

A idéia desses percursos é fazer com que as crianças e jovens participem da escolha dos programas como parte de sua formação pessoal e comunitária. Por meio de parcerias, a ONG compõe redes de aprendizagem na comunidade, disponibilizando programas com os quais os aprendizes trilham uma trajetória em arte-intervenção urbana, comunicação e tecnologia. Os percursos pretendem que as crianças e jovens adquiram:

 Alfabetização e fluência digital

 Habilidades de expressão e comunicação oral, escrita e artística

 Capacidade de leitura crítica da mídia  Capacidade de transformar informação em

conhecimento

 Capacidade para atuar na melhoria de suas comunidades

 Capacidade de re-significar o espaço urbano

 Habilidades e competências requeridas pelo mundo do trabalho

A integração entre casa, rua, escola, estabelecimentos comerciais e pessoas da vizinhança que permeiam o conceito de bairro-escola sempre esteve presente nos programas e projetos da ONG. Um exemplo é o Oldnet, projeto em que estudantes ensinam idosos a navegar na Internet e a buscar, na web, sua história e seus antepassados. As ações

contribuem para reduzir o isolamento dos idosos, muito comum nas grandes cidades e promovem sua inclusão digital. O projeto também desenvolve solidariedade intergeracional, fazendo com que o jovem compreenda o mundo do idoso e as questões que envolvem o processo de envelhecimento, o que contribui para sua convivência familiar e para a maior tolerância em suas relações.

Estimular a participação social e a cidadania, propor o trabalho coletivo em um ambiente de competição e individualismo exacerbados como a cidade de São Paulo é um desafio a mais enfrentado pela ONG. Em cidades menores, o impacto das ações tende a ser maior. Projetos que ocorrem em grandes cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro lidam com um ambiente complexo e uma realidade mais difícil de ser transformada.

GESTÃO

Como o próprio nome e o conceito bairro-escola sugerem, a ONG investe contra a “atual geografia da educação limitada aos muros da escola”3, alheia ao

que ocorre no bairro e na cidade. Valoriza o encontro e a troca de idéias, inspirando-se na estrutura de uma redação de jornal: um ambiente aberto que estimula os fluxos de comunicação. Alguns projetos e ações, sempre apoiados sobre o tripé educação, trabalho e cidadania, nascem de conversas informais no Café

Aprendiz, local de encontro para uma boa refeição

e cybercafé pedagógico cujos recursos gerados contribuem para a sustentabilidade financeira da ONG, e na Praça Aprendiz das Letras, revitalizada pela ONG com murais de mosaico e grafites feitos pelos aprendizes. Os muitos eventos e festas, as sessões de cinema ao ar livre, as oficinas de grafite e as apresentações a visitantes são momentos de encontro que ampliam o fluxo de comunicação, favorecendo o desenvolvimento das atividades.

A gestão da Cidade Escola Aprendiz é relativamente descentralizada. Enquanto as decisões sobre gestão financeira e parcerias são tomadas em reuniões deliberativas com um grupo

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representativo de cada um dos programas Aprendiz, formado de 15 pessoas, as questões pedagógicas são definidas pelas coordenações dos projetos. Foi criado também um espaço ampliado para a troca de informações e qualificação da equipe, em reuniões semanais abertas a todos. Assim, os dois momentos de encontros e trocas instituídas pela ONG são:

1) Reunião de colegiado e gestão, de caráter deliberativo e freqüência quinzenal, na qual decide-se sobre a criação de novos programas, planejamento, recursos humanos, administração financeira (desde a captação até a gestão dos recursos), comunicação institucional, relações públicas e algumas questões pedagógicas.

2) Reunião pedagógica, de caráter formativo e freqüência semanal. É um momento de compartilhar experiências dos diversos programas e projetos e questões do dia-a-dia, aberto a todos os educadores da ONG, às escolas e outros parceiros. Recebe convidados que desenvolvem experiências ligadas ao Aprendiz ou que possuem conhecimentos em áreas afins ao trabalho da ONG. Nessas ocasiões as reuniões são realizadas na Praça Aprendiz das Letras.

Os coordenadores dos projetos foram assumindo, cada vez mais, as funções de gestão (orçamento, captação de recursos, material, questões jurídicas, contato com os parceiros) além da responsabilidade pelos aspectos pedagógicos dos projetos (desenho do projeto, seleção, formação dos educadores, avaliação).

Os projetos estão localizados em endereços diferentes (quatro casas na Vila Madalena e uma no Brás), o que faz com que a Internet (email e site) seja um importante veículo de comunicação da equipe e entre ONG, parceiros e comunidade.

SUSTENTABILIDADE

A imagem da constelação de programas e projetos ajuda a compreender o espírito, a cultura do Aprendiz. Cada

ação gera novas idéias que, por sua vez, encontram um campo fértil e recursos para serem postas em prática em função da proximidade do Aprendiz com educadores, financiadores e comunidade, gerando assim novos projetos. Cria-se um grande “mosaico” de ações e projetos nos mais diversos campos: pintura, grafite, expressão escrita, rádio, incubadora de empresas juvenis, sempre articulando comunidade e escolas públicas e particulares.

O espírito empreendedor e uma certa descentralização da estrutura ajudam a formar essa cultura interna. A existência de um líder de grande visibilidade e carisma na mídia, reconhecido e influente no campo das empresas e da educação, imprime essa dinâmica possibilitando a ampliação do trabalho da ONG, que já conta hoje com mais de cinqüenta parceiros entre pequenos doadores e uma parcela significativa das grandes empresas que atuam no país: bancos, empresas de telecomunicações e informática etc. Portanto, se comparada à maior parte das ONGs que atuam no chamado Terceiro Setor, a Cidade Escola Aprendiz tem certa facilidade na captação de recursos.

Esse fenômeno também se deve à existência de um grupo de pessoas que, sintonizadas com as atuais tendências no campo do jornalismo, design, arquitetura, educação, arte e tecnologia, formam uma rede em torno dos projetos, agregando valor aos processos e produtos de comunicação do Aprendiz. Conhecida dentro e fora do mundo da educação e da sociedade civil organizada, a ONG mobiliza os mais diversos atores sociais, entre artistas, empresários e educadores. Também faz parceria com outros grupos e veículos de comunicação, como o Canal Futura, a Revista Educação e a MTV. A proximidade com a cultura das empresas e a elaboração de produtos de comunicação atraentes, que sabem transmitir aos parceiros as mensagens e idéias dos projetos, aumentam o impacto social das mensagens.

Todavia, o problema da curta duração das parcerias, que atinge o Terceiro Setor em geral, também impõe barreiras à continuidade de

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projetos no Aprendiz. Os mundos das empresas e da educação caminham em ritmos diferentes. Os processos educativos, de maneira geral, exigem um período de tempo maior para se obter resultados consistentes. A etapa da disseminação – que constitui um dos maiores desafios nos projetos de

Educação, Comunicação & Participação – muitas

vezes tem que enfrentar o problema da renovação da parceria já que é complicado planejar a fase de disseminação (seus custos, sua duração) já no momento da concepção do projeto, antes do desenvolvimento da metodologia.

As fundações e organismos internacionais, talvez por sua natureza, demonstram maior entendimento da exigência de mais tempo para se obter resultados consistentes em projetos de educação.

Os projetos da Cidade Escola Aprendiz são, muitas vezes, concebidos em conjunto com os parceiros. Um exemplo é o Rádio Ativo, uma parceria entre a Fundação BankBoston e a Rádio 89FM. Nela, os parceiros criaram, em conjunto, o projeto e o planejamento pedagógico. A Rádio 89FM “entra” com a estrutura e o apoio de funcionários responsáveis pela trajetória dos jovens. Com duração de um ano, o Rádio Ativo tem uma característica comum aos projetos voltados à mídia de massa: o atendimento direto é numericamente reduzido, mas o público indiretamente atingido, que recebe o impacto das ações, é bastante numeroso: um programa na 89FM pode chegar a ser ouvido por um milhão de pessoas.

A Agência.Aprendiz é um núcleo fundamental na gestão e sustentabilidade da ONG. Formado por três funcionários, um estagiário e dez voluntários (dados de 2003), é responsável pela comunicação da

Cidade Escola Aprendiz, produzindo informativos

para a equipe e os parceiros da organização. A

Agência organiza eventos que reúnem a comunidade

e os parceiros, além de desenvolver produtos que aumentam a visibilidade do trabalho educativo.

A ONG também desenvolve parcerias com o setor público. O projeto Eu escrevo alguém

responde foi uma oportunidade de parceria com

a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, dirigida a adolescentes em liberdade assistida. As atividades consistiram em trocas de cartas entre amigos, famílias e envio de cartas para autoridades públicas sobre questões que os jovens consideravam importantes.

Os projetos de atendimento direto demandam uma equipe multidisciplinar – o que em geral é mais oneroso. O Histórias de Vida, por exemplo, que atende diretamente 30 jovens, conta com coordenador, uma psicóloga, professores de Língua Portuguesa e História, um webmaster e um webdesigner, uma antropóloga, além de monitores que são, em geral, ex-aprendizes.

PARCERIA COM A ESCOLA

A mudança curricular, especialmente em escolas das redes públicas de ensino, constitui um dos maiores desafios enfrentados pelas ONGs que fazem parte deste Relatório. A disseminação do projeto Expressões Digitais, por exemplo, enfrentou barreiras tais como a rotatividade de professores, coordenadores e diretores das escolas envolvidas, a falta de tempo para o trabalho coletivo dos professores no planejamento e avaliação das atividades, a dificuldade de trabalhar metodologias mais participativas, diferentes da aula tradicional à qual o professor está habituado, bem como barreiras para o uso da sala de informática.

A parceria com a Escola Estadual Prof. Antonio Alves Cruz, na Zona Oeste de São Paulo, enfrentou todos estes problemas. Ainda assim, a experiência vem mostrando que a inserção de programas de educação e comunicação em meio escolar, ainda que enfrentem diversos desafios para transformar a escola de maneira mais orgânica, trazem mudanças positivas em certas dinâmicas escolares. A atuação do Aprendiz e do Projeto Fênix, duas ONGs que desenvolvem projetos no Alves Cruz, contribuiu para impedir seu fechamento e provocou um aumento da

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procura de vagas por alunos de várias partes da cidade, o que rendeu, à Cidade Escola Aprendiz, uma menção honrosa no Prêmio Itaú-Unicef 2003 e fez com que a Associação Fênix fosse uma das vencedoras deste mesmo Prêmio.

Outra questão importante, visto que a ONG atende grupos formados por alunos de várias escolas – cada projeto recebe cerca de três ou quatro alunos de cada escola –, é como capacitar e motivar os aprendizes para replicar a metodologia do projeto em suas escolas frente a todas essas barreiras da estrutura escolar: faltas freqüentes de professores, sobrecarga de trabalho, pouco tempo de planejamento na escola, dificuldades dos alunos de se organizarem para superar problemas de infra-estrutura e para mobilizar a comunidade escolar. O Inconformáticas, iniciativa de alunos da Escola Estadual Godofredo Furtado que participaram da Oficina de Sites e decidiram, a partir da experiência, desenvolver um projeto educativo voltado a seus colegas e a professores da escola é um exemplo de superação destas dificuldades. O projeto liderado pelos jovens viabilizou a abertura da sala de informática que permanecia fechada até aquele momento. Os alunos, como apoio das coordenadoras da Oficina

de Sites, organizaram oficinas na escola entre os

anos de 2000 e 2001, cujo objetivo era estimular o debate sobre os problemas do sistema de ensino e sobre como inserir práticas pedagógicas inovadoras na escola. A aprendizagem do computador seria um coadjuvante neste processo. Segundo dados publicados em um site feito pelos alunos (www.i nconformatica.cjb.net), os jovens desenvolveram competências importantes como o trabalho em equipe, a condução de dinâmicas participativas e a avaliação das atividades. Foram produzidos fanzines sobre temas como as novidades na escola, política, música e sexualidade. Após cerca de dois anos de atividades, o projeto acabou, com a formatura dos “inconformáticos” e mudança na direção da escola.

É importante também lançar um olhar sobre as escolas que vêm obtendo bons resultados com projetos de educação e comunicação. Como observamos em outras experiências presentes neste Relatório, o sucesso de um projeto está fortemente ligado às condições de funcionamento da escola e da rede de ensino. Na Escola Estadual Pedro Alexandrino, Zona Norte de São Paulo, o projeto

Expressões Digitais vem colhendo resultados

significativos. Ao contrário do que ocorre em muitas escolas públicas, esta conta com uma equipe estável com baixa rotatividade. Grande parte dos alunos mora nas imediações e o projeto conta com o apoio da diretora da escola.

A Cidade Escola Aprendiz trabalha grande parte do tempo no ambiente externo à escola, trazendo os atores – adolescentes, professores – para a formação no espaço da ONG, o que ajuda a preservar a proposta original e a estrutura do projeto, mas dificulta a integração das ações à grade curricular. Com o objetivo de buscar maior sinergia com a escola, a ONG criou o projeto

Histórias de Vida. Nele há um esforço por maior

integração à cultura escolar, com a adaptação da