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Comunicação e Projetos Colaborativos para a Construção da Paz

Comunicação e Educação

Módulo 3: Comunicação e Projetos Colaborativos para a Construção da Paz

 Palestras sobre Eixos Temáticos  Oficinas de Práticas Radiofônicas  Oficinas de multimídia

Avaliação

Em cada escola, local onde ocorre a capacitação, há turmas, em média, de 25 pessoas, divididas entre:

 13 professores

 2 membros da comunidade  10 estudantes

Esses participantes são indicados pela escola – o que faz com que os grupos variem muito de perfil. Segundo coordenadores envolvidos, há escolas que encaram a participação no projeto como um prêmio; outras que colocam essa participação como a última chance para determinados alunos. Há professores que ingressam no curso pelos pontos na carreira; quando o projeto ganha visibilidade na escola, muitos estudantes se aproximam.

O número de escolas envolvidas aumenta a cada semestre; chegando em 2003 a cerca de seis escolas por pólo (são 13 ao todo).

Quando as escolas recebem o equipamento após o curso, o NCE oferece uma capacitação suplementar de 6 horas, onde são atendidas duas turmas de 10 a 15 pessoas. Há uma certa

circulação de público entre a primeira capacitação e esta, especialmente entre os estudantes. A escola recebe ainda dez exemplares do “Manual do Equipamento”.

O número 5 do boletim “O Educomunicador”, do NCE, ressalta em um artigo que “os 25 membros da comunidade escolar que participam do educom em cada uma das unidades de ensino formam o núcleo de multiplicadores que irá, com sua ação, determinar o sucesso ou não do projeto na escola”.

A formação dos professores da escola também é central para o sucesso do projeto. Nesse campo, surgem desafios relacionados à formação inicial desses professores e à formação oferecida pelo

educom.radio.

A formação que a gente recebe é tradicional. As faculdades precisariam também estar se renovando. (Assistente do educom.radio)

Com a formação inicial oferecida pela maioria das faculdades hoje, a tendência é a comunicação e as tecnologias serem, também, escolarizadas, ficando limitadas a certos horários e profissionais.

A escola ainda ocupa um espaço importante de construção de referências. A questão é como a escola pode usar outros meios sem escolariza-los. (Coordenadora do NCE)

O professor se espelha muito na questão do livro e do giz, porque é a alternativa de trabalho que ele tem. Mas tem professores que mesmo sem recursos conseguem fazer diferente. Tem que abortar o currículo pré-determinado, pegar a pauta do dia e trazer o currículo para isso. (Matias Vieira, coordenador do Projeto Vida)

Em relação à didática do próprio educom.radio, a coordenação do projeto detectou, por meio de avaliações, que alguns dos palestrantes estavam reproduzindo um modelo “bancário”, ás vezes até

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autoritário, de ensino. Em 2003 começou a haver reuniões também com esses palestrantes.

A origem essencialmente acadêmica do

educom.radio faz com que o processo educativo

seja sempre mais valorizado do que o produto de comunicação – ao contrário do que ocorre em muitas experiências de Educação, Comunicação &

Participação lideradas por jornalistas.

A educomunicação está sempre ressaltando o processo. O produto deve favorecer o próprio processo. (Coordenadora do NCE)

O produto na verdade é o resultado de um processo afetivo. Perde a característica de um produto obrigatório. Criatividade, negociação, gestão, isso é que é importante. É um processo coletivo de produção de sentidos, que pode até ser refletido lá no programa

de rádio. (Coordenadora do NCE)

Se há foco no produto, o risco é ter um uso mecanicista da comunicação, uma relação autoritária. O produto é resultado, é lúdico. (Formadora do educom.radio)

Atingir a qualidade é uma questão de evolução do

processo do grupo. (Coordenadora do NCE)

O grupo coordenador pensou em criar uma rede de radialistas amigos da criança, para apoiar o projeto nas escolas, levando a elas seu know-how. Mas a idéia não progrediu. Para envolver radialistas voluntários seria necessário capacita-los – caso contrário, haveria o risco desses voluntários também reproduzirem modelos funcionalistas de educação, dificultando mudanças no ecossistema comunicativo da escola. O forte foco no processo também potencializa conflitos entre os educadores do NCE e do Projeto Vida com alguns comunicadores – em geral, mais focados no produto.

O tratamento dado aos erros tem certa semelhança com a idéia da adequação usada pela Cidade Escola

Aprendiz – para quem, na aprendizagem da leitura e da escrita, não há erros, mas usos adequados e inadequados da linguagem, dependendo do contexto, do suporte, da mediação, e a questão é perceber essa adequação. No caso do educom.radio, a proposta é que a correção seja negociada.

Todas as correções têm que ser negociadas pelo

grupo. (Formadora do educom.radio)

PARTICIPAÇÃO

A educomunicação pressupõe e promove a participação.

A qualidade do ecossistema comunicativo da escola é central. Se é mais aberto, tem pais participando, grêmio estudantil, há grande possibilidade do projeto se enraizar. A questão

é das pessoas envolvidas. (Articulador do

educom.radio)

A entrada de uma tecnologia de comunicação em uma escola, como uma rádio, embora possa ser escolarizada (como vem acontecendo com os laboratórios de informática), tende a favorecer

ecossistemas comunicativos mais participativos.

A rádio promove a democratização do espaço escolar [...] estimula a criação de grêmios estudantis. (Matias Vieira, coordenador do Projeto Vida)

Pelo menos duas questões são centrais para essa transformação: a ressignificação da identidade dos envolvidos e a construção de novas relações, principalmente, entre professor e aluno.

A grande sacada é fazer do aluno um sujeito da educação. Com rádio, ele é um sujeito pleno. Ele faz a pauta, ele fala, ele avalia [...] Na escola o professor em geral fala, fala, fala, e não tem discussão. Não há o exercício da participação. Muitas concepções de educação defendem a dialogia. A rádio proporciona

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isso. Não é o professor que cria. É o estudante que cria. (Matias Vieira, coordenador do Projeto Vida)

Isso de fato aumenta a participação estudantil. Em um caso, alunos do projeto discordaram de uma decisão da diretora. Foram até ela e a entrevistaram sobre o assunto, e puseram suas explicações no ar. Nesses lugares, os educadores participantes afirmam que há um incremento significativo de auto-estima entre as crianças e jovens envolvidas. Para alguns, isso se deve ao fato de que na educomunicação “as pessoas se sentem capazes, se vêem presentes naqueles produtos”. (Mediadora do educom.radio)

O acesso dos estudantes aos equipamentos, às informações sobre a escola e às instâncias de decisão e poder aparece na experiência do educom.radio como um fator central para o sucesso do projeto, no campo da participação:

O projeto funciona melhor quando há o

movimento de soltar o equipamento. (Coordenadora

do NCE)

A gestão participativa, para ocorrer, necessita que se disponibilize as informações e se envolva na tomada de decisões. (Assistente de coordenação do educom.radio)

Se fizermos uma gestão participativa, se nós ao definirmos um conteúdo ou uma linguagem para o programa de rádio fizermos isso coletivamente; discutimos e, se houver discordâncias, fazemos uma votação, em que todos têm igual direito, professor ou aluno, independentemente de sua posição social, nós introduzimos uma prática que quebra as hierarquias, em função de uma comunicação não hierarquizada. (Ismar de Oliveira Soares)

RELAÇÕES

Considerando que um de seus principais objetivos é quebrar hierarquias e paradigmas pedagógicos mais tradicionais e autoritários, o conflito é inerente

à educomunicação e ao educom.radio. Assim, a gestão comunicativa, mais do que uma metodologia de superação de conflitos, é uma maneira de estar lidando permanentemente com o cotidiano essencialmente conflituoso da educação.

Se nós temos 12 mil pessoas envolvidas, temos 12 mil expectativas. E você tem que gerenciar as expectativas. (Ismar de Oliveira Soares)

É interessante notar que, nesse aspecto, o projeto lida com duas questões centrais no campo da administração contemporânea: relacionamentos e mudanças. O educom.radio, além de envolver uma variedade enorme de relações, propõe processos de mudança nesses relacionamentos.

“[A educomunicação] trata-se, na verdade, de uma perspectiva de análise e de articulação em permanente construção, e que leva em conta o contínuo processo de mudanças sociais e de avanços tecnológicos pelos quais passa o mundo contemporâneo.”11

Apesar dos conflitos, há também belos encontros no educom.radio, com destaque para os momentos em que pessoas de extratos e idades diferentes se reúnem na salinha da rádio e produzem um programa ao vivo, para toda a escola.

Mudou a nossa relação com os professores. Agora

a gente é mais amigo. (Aluna da Escola Municipal de

Ensino Fundamental, Professor Pasquale)  REGISTRO, SISTEMATIZAÇÃO, AVALIAÇÃO E DISSEMINAÇÃO

O fazer da universidade e, conseqüentemente, do NCE, envolve essencialmente registro, sistematização, avaliação e disseminação. Assim, é grande a diversidade de materiais nessas áreas relacionadas ao educom.radio.

Um dos pontos altos são os “Cadernos de Educomunicação”, publicados pelo NCE em

11“Caminhos da Educomunicação na América Latina e nos Estados Unidos”, Ismar de Oliveira

Soares, Cadernos da Educomunicação, 1. Caminhos da Educomunicação, Editora Salesiana, 2002

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parceria com a Editora Salesiana. Reúnem textos conceituais abrangentes e didáticos, que fazem uma boa introdução acadêmica ao tema. São distribuídos para os participantes do curso.

Outro destaque é o site do educom.radio (www.e ducomradio.com.br), que disponibiliza a bibliografia básica do projeto, artigos e reportagens, entre muitos outros textos e ambientes de encontro, formação e discussão virtual (o próprio NCE mantém um site, com artigos e bibliografias, e publicações acadêmicas associadas à Escola de Comunicações e Artes da USP e a outras instituições da área).

No NCE há pelo menos três pós-graduandos da equipe desenvolvendo teses em torno da experiência do educom. Mais de dez pesquisadores de outras faculdades e universidades também têm demandado informações – além de estudantes de dois trabalhos de conclusão de cursos de graduação.

O ponto ainda falho, como apontado acima, é a falta de uma avaliação externa. Esse tipo de informação é fundamental para o planejamento e a disseminação da educomunicação e de outros projetos de Educação, Comunicação & Participação por meio de políticas públicas.

O projeto também carece de recursos para sistematizar a enorme quantia de registros que está acumulando – textos, vídeos, depoimentos etc.

Entre os principais instrumentos de registro e avaliação do educom.radio, estão:

 Fichários individuais, com vários formatos

de registro

 Ao final de cada dia do curso, os

participantes preenchem fichas relatando as aprendizagens e impressões. Esse material é usado no final para avaliar o andamento das atividades

 Relatório por turma, escrito por um

mediador

 Relatório de avaliação final do curso, feito

por todos os educadores envolvidos

 Registro inicial de expectativas dos diversos

atores

 Relatórios das equipes do NCE  Atas de reuniões

 Roteiros para entrevistas  Sugestões de dinâmica

Além disso, todos os articuladores e mediadores acompanham as atividades desenvolvidas nos cursos, produzindo relatórios semanais e discutindo-os nas reuniões de formação e avaliação com a equipe do

NCE. Já há mais de 1.200 desses relatórios escritos.

RESULTADOS E PRODUTOS

Os resultados e produtos do educom.radio se multiplicam na proporção das comunidades formadas em educomunicação e das rádios instaladas nas escolas. O projeto terminou 2003 com 264 das 455 escolas cobertas e 6.580 pessoas inscritas nas formações – o que significa que praticamente 40% do trabalho será realizado em 2004.

Em novembro de 2003, o educom.radio também promoveu o I Simpósio Brasileiro de Educomunicação, interligando os 13 pólos de São Paulo, com uma rede de comunicação composta de diversos meios – rádios, vídeos, internet, boletim – produzidos por crianças, adolescentes, educadores, pais e mães, entre outros atores das comunidades escolares.

Em 2002, além do simpósio e do educom.radio, o NCE executou um programa em parceria com o governo do Estado de São Paulo, o Educom.TV. O objetivo era semelhante ao do educom.radio: “Motivar os professores a reverem suas práticas educativas à luz da teoria da educomunicação”. Teve a inscrição de 2.240 professores, coordenadores pedagógicos e diretores de 1.024 escolas estaduais de São Paulo. O curso foi semi-presencial, com a maioria das atividades desenvolvidas a distância. Resultou em 980 projetos de educomunicação, elaborado por duplas de cursistas, envolvendo a utilização de materiais produzidos pelo TV Escola do MEC.

O boletim “O Educomunicador”, editado pelo

NCE, inicialmente com apoio da Editora Salesiana,

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páginas coloridas, a publicação traz matérias sobre as atividades do núcleo, crônicas dos educadores sobre suas experiências no educom, artigos sobre a história do rádio, resultados das avaliações, orientações para participantes dos cursos, entre outros assuntos de interesse para educomunicadores.

Esses são alguns dos resultados e produtos do

NCE, sem considerar a produção propriamente

acadêmica, que cobre de teses de doutorado a dissertações e cursos de extensão. A tendência é de ampliação significativa dessas atividades, tendo em vista a demanda crescente na área, a nova parceria com o MEC, entre muitas outras oportunidades que vêm surgindo para o grupo que coordena o

educom.radio.

Mas talvez o produto ou resultado mais

importante do projeto seja o que acontece com as crianças que realmente se envolvem nas experiências educomunicativas. Ao criar seus meios de comunicação, mudam a relação com os meios de comunicação de massas e com a aprendizagem e o conhecimento, se apropriam mais de seus próprios destinos.

A criança, no início, até reproduz a linguagem conhecida . Mas como ela é muito criativa recria, ressignifica. (Formadora do educom.radio)

Com isso, essas crianças vivenciam o que é ser cidadão.

É com a prática que se aprende. Não se chega à

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Dados - NCE

Nome Núcleo de Comunicação e Educação

Natureza da

organização Núcleo de Pesquisa e Extensão da USP

Missão

Realizar pesquisas com temas referentes à interface entre os campos da

comunicação e da educação, aplicando os resultados em projetos que possibilitem o repensar das práticas pedagógicas à luz da necessária confluência com a chamada idade mídia, apoiando-se no conceito de educomunicação.

Endereço Av. Prof. Lucio Martins Rodrigues, BL 22, Sala 26. Cidade Universitária. São Paulo/SP (CEP: 05508-900) Telefone (0xx11) 3091- 4784 / 7716-5698

E-Mail secretariaeducom@yahoo.com.br

Site www.educomradio.com.br;

Responsáveis Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares (coordenador)

Infra-estrutura Sala com computadores, arquivos, material de consumo, gravadores, vídeo, tv, acervo de fitas, projetos e pesquisas, papers, etc.

Principais

Programas/Projetos educom.rádio – educomunicação pelas ondas do rádio – em andamento. Números de

atendimento

até dezembro de 2004 deverá atender às 455 escolas de ensino fundamental do município de São Paulo, perfazendo cerca de 11.000 cursistas, entre funcionários das escolas (professores e outros), alunos e membros da comunidade do em torno.

Equipe/Formação/

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Formas de Contratação

Mediante contrato de prestação de serviço firmado entre a pessoa física e a Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (FUSP), entidade que é

contratada pela Secretaria Municipal de Educação – Projeto Vida – para executar o curso.

Produtos Durante o curso são feitas principalmente produções radiofônicas, mas também algumas produções em vídeo e jornais murais.

Orçamento R$ 5,8 milhões em três anos e meio

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Anexo I - NCE

Alunos da rede municipal de ensino fundamental se reuniram no último dia 6 de dezembro, em treze locais diferentes de São Paulo, nas regiões leste, oeste, norte e sul, para redigir um manifesto sobre a rádio que desejam construir em suas comunidades escolares. Foram, ao todo, 780 estudantes de 80 escolas que trabalharam na elaboração do Manifesto “A rádio que queremos”. O documento a seguir contém as idéias que crianças e adolescentes defendem para uma nova forma de comunicar e entender o espaço de ensino. Veja e opine!

“Queremos uma rádio que tenha a participação de todos, seja livre para a gente dizer o que pensa e dê transparência ao que se faz na escola. Antes de serem tomadas decisões que mexem com a gente, queremos que elas sejam apresentadas e discutidas na rádio, e que ela convide toda a comunidade a se manifestar.

Queremos uma rádio que não fira ninguém com nenhuma forma de discriminação, que ajude a nos prevenir contra a ameaça das drogas e da violência. Queremos uma programação escolhida democraticamente por todos nós, com muita música, que divulgue as bandas novas que tocam na escola e o teatro que fazemos; que tenha notícia e que politize, mas sem ser chata.

A rádio da gente precisa de humor, esporte e, uma coisa muito importante: precisa divulgar o ECA para os 4 cantos do mundo porque muitas pessoas não sabem ainda o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente. Nós já sabemos com certeza que educação depende de comunicação. Talvez, um slogan legal para a rádio que queremos seja este: os incomodados não se mudem, os incomodados que façam mudar!”