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CAPÍTULO 2: ASPECTOS HISTÓRICOS DA EVOLUÇÃO URBANA DE MACEIÓ

2.2 A cidade no início do século XX: Maceió chega aos tabuleiros

O período republicano apresentou um crescimento demográfico significativo, em virtude do desenvolvimento econômico que se deu. A população que era de 27.708 habitantes em 1872, aumentou para 36.427 em 1900. Maceió cresceu e

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novas ruas e palacetes foram construídos nos bairros existentes, representando os primeiros sinais de inovação (DIEGUES, 1939, p.10).

Formaram-se os novos núcleos urbanos de Mangabeiras, Ponta da Terra e Pajuçara, situados na direção norte da planície litorânea. Na direção oposta observou-se o tímido crescimento do Pontal da Barr a. A ocupação da planície que acontecia nas suas duas direções se fazia em decorrência do Centro, desenvolvendo principalmente as regiões situadas no seu entorno. Essa dependência acabou gerando uma estrutura urbana radiocêntrica nesta área.

A área do tabuleiro teve seu crescimento urbano impulsionado e direcionado pela construção da Avenida Fernandes Lima, em 1917. Mas também é importante salientar que a configuração do relevo também contribuiu para a concentração da expansão urbana ao longo deste eixo, devido à presença de encostas a leste e oeste da avenida. A avenida foi criada com o intuito de interligar a capital a alguns centros produtores mais próximos, como os situados nos povoados de Bebedouro, Fernão Velho, Cachoeira e a cidade de Rio Largo, que sediavam importantes indústrias fabris. Constituía mais uma opção de deslocamento juntamente com a já existente via do bairro do Mutange.

Ao reduzir em muitos quilômetros este percurso, criou-se nova opção aos deslocamentos. Naquele momento este projeto era claramente desligado de uma proposta urbana de expansão do perímetro urbano da capital na direção norte (CAVALCANTI, 1998, p. 58). Entre 1900 e 1940 verificou-se uma intensificação do processo de ocupação do espaço urbano decorrente, entre outros motivos, das imigrações. A população maceioense cresceu 154% entre os anos de 1890 e 1940 (PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE MACEIÓ, 1981, p. 45).

Foi neste período que começaram a surgir as primeiras preocupações com o planejamento urbano, sobretudo no que diz respeito à higiene e salubridade dos espaços públicos e privados, que acontecem principalmente durante a administração do prefeito Moreira Lima, no ano de 1927. Essas preocupações já eram observadas desde o início do século em muitas cidades brasileiras e consistiam, principalmente, em alargamento e alinhamento das ruas e higiene dos espaços abertos. As ordenações urbanas existentes, embora ainda incipientes, já demonstravam interesse em se controlar a produção urbana no período. Essas medidas resultaram

em grandes reformas do espaço urbano: ruas e praças foram equipadas e os projetos de arborização difundiram-se como necessidades de higiene pública. A imagem mostra a importância do emprego de árvores nas ruas da cidade, na primeira metade do século (Fig. 14).

Fig. 14: Rua Augusta, Centro. Início do séc. XX.

Fonte: Arquivo fotográfico do Instituto Histórico de Alagoas, disponível em: http://gazetaweb.globo.com/Canais/Maceio

Reformas urbanas que possibilitaram o uso crescente de automóveis e a distribuição diferenciada dos recursos para implantação de infra-estrutura urbana reforçaram, durante as primeiras décadas do período republicano, a discriminação entre os diferentes bairros existentes em Maceió. As intervenções públicas privilegiavam os bairros ocupados pela população mais nobre, deixando em segundo plano os bairros mais populares e mais necessitados.

Na década de 30 as praças começaram a ser implantadas mais regularmente (Fig. 15). Foi nessa época que as famílias maceioenses passaram a procurar mais as ruas, e foi observado o hábito de cadeiras nas calçadas para conversas entre vizinhos. As festas das igrejas foram responsáveis em parte pela aproximação das pessoas com a rua, principalmente quando havia procissões, os grandes acontecimentos da cidade. Desde o século anterior, era na igreja, sobretudo na capela de N. S. dos Prazeres, atual Catedral Metropolitana, que a população se encontrava e principalmente durante as festas da padroeira que ainda hoje acontecem durante o mês de agosto (DIEGUES, 1939, p. 32) .

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Fig. 15: Praça D. Pedro II, vista a partir da Catedral. Início do século XX.

Fonte: Arquivo fotográfico do Instituto Histórico de Alagoas, disponível em: http://gazetaweb.globo.com/Canais/Maceio

Em 1932 a cidade está visivelmente ampliada, sobretudo pela ocupação das áreas mais próximas às lagoas e pela ocupação do bairro de Jaraguá, como mostra a planta relativa a este ano (Fig. 16). A malha desses locais caracteriza-se pela irregularidade com que são dispostas no plano, em contraste com a previsão de crescimento da cidade, demonstrada no plano em linhas tracejadas. A planta também apresenta um espaço destinado à povoação existente no bairro de Bebedouro em um pequeno retângulo à esquerda do desenho. A Avenida Fernandes Lima, aberta no ano de 1917 está representada no mapa abaixo por um traçado em vermelho.

Neste período, que pode ser citado como anterior à intensificação da ocupação dos tabuleiros da cidade, Maceió já apresentava bairros consolidados e uma forte tendência de expansão. Até então o litoral norte da cidade não era valorizado e sua utilização restringia-se a alguns sítios e local de veraneio pela população mais nobre. Com o grande número de imigrantes oriundos do campo que chegariam à cidade na segunda metade do século, os bairros localizados na orla lagunar passariam a apresentar uma situação precária. Bebedouro, anteriormente conhecido como bairro das elites maceioenses, por possuir grandes áreas de encostas, passou a dar espaço também à ocupação irregular.

Fig. 16: Plano de Maceió, 1932. Intervenção da autora: Avenida Fernandes Lima em vermelho.

Fonte: CAVALCANTI, 1998.

Às margens da Avenida Fernandes Lima formaram-se e densificaram-se os bairros que compõem a parte alta de Maceió. Entre 1931 e 1934 a zona residencial do Farol desenvolve-se e surgem novas edificações. É no Farol, no fim da década de 30, que a expansão da cidade torna-se mais significante, tornando-se uma das áreas residenciais mais elegantes da cidade. A imagem abaixo mostra o chamado Planalto da Jacutinga, mais tarde bairro do Farol, nos primeiros anos do século XX, quando sua ocupação ainda era restrita (Fig. 17).

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Fig. 17: Alto da Jacutinga, Farol. Início do séc.XX.

Fonte: Arquivo fotográfico do Instituto Histórico de Alagoas, disponível em: http://gazetaweb.globo.com/Canais/Maceio

O conjunto de mapas abaixo mostra a evolução aproximada da mancha de ocupação de Maceió desde meados do século XIX até o ano de 1932 (Fig. 18). Percebe-se a expansão em direção ao tabuleiro e a formação dos eixos de crescimento, principalmente na região das planícies litorânea e lagunar, que iriam consolidar-se na segunda metade do século. No mapa referente ao ano de 1932 a Avenida Fernandes Lima está representada pela linha vermelha.

Fig. 18: Evolução da ocupação de Maceió.