• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2: ASPECTOS HISTÓRICOS DA EVOLUÇÃO URBANA DE MACEIÓ

2.3 Maceió em 1940

Com base nas informações obtidas através das plantas elaboradas desde o início do desenvolvimento da povoação, em 1820, até a década de 1930, foi possível reproduzir aproximadamente, sobre a malha atual da cidade, o que seria a mancha urbana correspondente à cidade de Maceió no ano de 1940 e seus principais eixos de crescimento, indicados no mapa (Fig. 19). A seta maior, representada no mapa, corresponde ao eixo de crescimento da cidade sobre o bairro do Farol, que teve como principal vetor, a Avenida Fernandes Lima, situada na mesma direção de tal eixo.

Fig. 19: Mancha de ocupação, Maceió 1940.

60

No ano de 1940, segundo dados do IBGE, a cidade de Maceió já possuía mais de 80.000 habitantes. O traçado observado no tecido mais antigo de Maceió apresenta características semelhantes ao de muitas cidades brasileiras de cariz colonial. Ainda no século XVIII, a povoação de pequenas proporções possuía poucas ruas e construções, dispostas sem um alinhamento definido devido à topografia acidentada e à ausência de ordenações que definissem diretrizes para o desenho da povoação. As principais ruas do Centro ainda denunciam esta tendência. O crescimento observado no século seguinte, norteado pelo desenvolvimento econômico da cidade iria atingir novos bairros, mas a irregularidade continuou a estar presente no traçado, sobretudo nas áreas mais populares. Esta forma de traçado persistiu apesar das intenções já atestadas de planejar e ordenar o crescimento futuro, como mostram as plantas desenvolvidas durante este século.

Apenas nos últimos anos do século XIX, provavelmente seguindo as novas definições da Lei de Terras de 1850, que estabeleceu uma nova relação entre os proprietários de terras e o Estado, o traçado de novas áreas passa a seguir formas ortogonais, em busca de melhores condições para o retalhamento e venda da gleba em forma de parcelas (MARX, 1991, p. 120). Esta ortogonalidade pode ser percebida, por exemplo, nas áreas mais recentemente ocupadas do bairro do Trapiche da Barra.

A abertura da linha férrea na cidade, ainda durante o século XIX, também contribuiu para a ocupação de novas áreas. As estações de Bebedouro e Fernão Velho, que correspondiam a povoados e só mais tarde foram incorporados à cidade como bairros, foram responsáveis pela fixação da população ao longo dos trilhos, oferecendo oportunidade de locomoção para área central.

A ocupação de algumas quadras e lotes de Maceió até o ano de 1940 não era diferente daquilo que predominou nos fins do século XIX. As quadras, quando completamente edificadas, eram ocupadas por lotes estreitos e compridos, com quintais nos fundos, característica, durante muitos anos, da estrutura urbana brasileira, estendendo-se ainda por décadas após o fim do período colonial. As edificações das famílias mais abastadas, situadas no Centro e em Jaraguá, eram os sobrados de estilo português. A imagem abaixo corresponde à Rua do Comércio, onde se multiplicavam tais edificações (Fig. 20).

Fig. 20: Rua do Comércio, Centro. Início do século XX.

Fonte: Arquivo fotográfico do Instituto Histórico de Alagoas, disponível em: http://gazetaweb.globo.com/Canais/Maceio

As residências populares possuíam um sistema construtivo simples. No início da povoação, a maioria possuía cobertura de palha e paredes de taipa. Mais tarde foram substituídos por tijolos e os telhados de duas águas, que caíam para a rua e para o interior dos lotes. Embora, segundo Reis Filho, diversas cidades do Brasil já estivessem utilizando uma nova forma de ocupação dos lotes nesta época, buscando o deslocamento de um dos lados do terreno (REIS, 1978, p. 1978), a imagem da Rua do Sol, no Centro, referente à primeira metade do século XX, ilustra muito bem o tipo de edificação que ainda persistia em Maceió: a que ocupava todo o limite dos lotes (Fig. 21).

62

Fig. 21: Rua do Sol, Centro.

Fonte: Arquivo fotográfico do Instituto Histórico de Alagoas, disponível em: http://gazetaweb.globo.com/Canais/Maceio

Até meados do século XX, o parcelamento do solo de Maceió realizou-se baseado em ordenações que não acompanhavam os novos paradigmas modernizantes, e no controle de uma Prefeitura que, pela falta de preparo, acabava permitindo certas irregularidades. Segundo Walcacer, durante o início do século XX era comum que as Prefeituras não exercessem adequadamente sua função em relação à aprovação e fiscalização dos parcelamentos. Acontecia de as Prefeituras só tomarem conta da existência de um loteamento quando muitas casas já estavam construídas. Ainda segundo o autor, em finais de ano aumentava o número de projetos aprovados, devido à necessidade de pagamento de funcionários possibilitada pelos recursos advindos das concessões de licença (WALCACER, 1981, p. 150).

A economia de Maceió continuou a se desenvolver segundo o ritmo dos engenhos de cana-de-açúcar. Isto representou uma fragilidade acentuada de sua economia, diante das flutuações do mercado. É importante lembrar que a monocultura existente no estado foi responsável pela concentração de renda observada, gerando uma cidade com uma grande mancha de ocupação popular e

em condições precárias de vida, devido, principalmente à ausência de infra-estrutura (PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE MACEIÓ, 1981, p. 47).

Em decorrência da proximidade com a Lagoa Mundaú e graças ao fluxo de mercadorias a serem transportadas, os bairros do Trapiche, Levada e Vergel do Lago acompanharam o desenvolvimento do restante da cidade. Um dos eixos indicados no mapa corresponde à tendência de ocupação desta área. O bairro do Mutange foi ocupado pelo fato de constituir o caminho em direção ao interior, mais tarde substituído pela Avenida Fernandes Lima. O bairro de Bebedouro, que não está indicado no mapa, desde o início da povoação de Maceió já possuía chácaras e também fazia parte deste trajeto em direção a outras cidades próximas.

O outro eixo indicado corresponde ao crescimento da planície litorânea na direção norte. Poço e Pajuçara desenvolveram-se como áreas residenciais e passaram a estimular a concentração urbana nos bairros próximos. Com a descoberta das condições ambientais da Pajuçara propícias para a habitação, o bairro passa a ser ocupado pelos representantes do poder político-econômico.

A partir da década de 40 Maceió apresentou grande aumento populacional e a procura por habitação agravou ainda mais a situação do parcelamento, que passou a ocupar também áreas de preservação. É característico também deste período a intensificação da ocupação dos tabuleiros, consolidando o vetor que já se apresentava no início do século. A ocupação do Farol, primeiramente restrita a alguns sítios, foi estimulada pela abertura da nova avenida e passou a atrair a ocupação de áreas mais próximas. No início da década o Farol era o único bairro dentre aqueles a serem analisados que apresentava uma ocupação concentrada entre seu atual limite sul e a Praça do Centenário, apresentando alguns poucos loteamentos esparsos. O vetor caracterizado já apresentava a ocupação futura dessa área como local de habitação que em pouco tempo iria consolidar-se e ampliar o mercado imobiliário na região. Principalmente graças à intensificação do processo de parcelamento do solo, o desenvolvimento dos bairros do Pinheiro, Pitanguinha e Gruta de Lourdes, além do Farol, protagonizou a expansão urbana de Maceió.

64

Fig. 22: Mancha de ocupação da área de estudo, Maceió 1940. Fonte: Intervenção sobre base cartográfica MAPLAN, 2000.

O mapa acima apresenta a área de estudo com a mancha de ocupação existente no Farol até a década de 1940, anterior ao período estabelecido para análise (Fig. 22). Deve-se salientar que esta mancha, ainda apresentava vazios e possibilidades de implantação de novos loteamentos. Até recentemente os limites desses bairros não estavam definidos oficialmente, e era comum que fossem chamados conjuntamente de “Farol” ou até mesmo de “Tabuleiro”. Apenas com a Lei Municipal nº 4.952 de 6 de janeiro de 2000 é que os bairros adquiriram seus limites oficiais. Pelo traçado existente até este momento e em comparação com aquele observado nas áreas a norte, percebe-se que o modo de ocupação mudou, bem como a forma de crescimento do território: a forma radiocêntrica e o traçado irregular das ruas deram lugar a um desenho mais ortogonal e estritamente relacionado com a Avenida Fernandes Lima.