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6 A NATUREZA COMO SUJEITO DE DIREITOS?

6.1 A ciencia joga de qual lado?

parte é financiada pelos governos, o que significa que os cientistas devem ser ou ter lobistas. A ciência produz tecnologias que são vendidas no mercado, o que significa que os cientistas precisam de seus advogados de patentes e seus especialistas em marketing. Os produtos da ciência levantam dilemas éticos, que evocam preocupações religiosas. O autor de forma alguma é reducionista, mas é enfático e direto ao dizer que não acha que a Ciência seja pura política ou ideologia. As coisas científicas acontecem na Ciência. Mas, na realidade, simplesmente não existem domínios separados que acontecem para se colidir um ao outro de vez em quando. A ciência moderna não poderia existir como "espaço puro", inevitavelmente ela seria "contaminada" pela política, pela economia, pelo direito e pela religião.

A "purificação" é apenas a metade reconhecida do nosso mundo. A outra metade é um processo de "hibridização". Modernos tentam fazer uma nítida distinção entre natureza e sociedade, mas tudo de importância histórica acontece no "reino médio" que é tanto a natureza como a sociedade.

6.1 A ciencia joga de qual lado?

A crise ambiental colocou o discurso cientifico na mesa de negociações em uma posição de destaque, com ares de neutralidade e superioridade. Até o texto instrumental e calculista tem sua razão de ser quando levantado numa mesa de negociações como a que se tornou o debate ambiental na atualidade. Os termos técnicos parecem confundir e realmente iludir os ouvintes de que o texto é científico, mas outros dirão que ele é eminentemente político. Latour (2013) não deixa espaço para conjecturas quando diz que as pesquisas não dizem respeito à natureza ou ao conhecimento, tão pouco às coisas-em-si, mas antes de tudo dos sujeitos e da sociedade.

Para Latour (2004), o poder iluminador da ciência como fonte inesgotável de conhecimento e que subjaz certa crença como eficiente, decorre da seguinte peculiaridade: mudanças radicais impedem o surgimento de seu exato contrário, os contrários se combinam em uma mesma figura heroica, a do Filósofo-Cientista que é ao mesmo tempo Legislador e Salvador. Embora o mundo da verdade difira

absolutamente, não relativamente, do Mundo social, o cientista pode voltar e avançar de um mundo para outro.

Assim, o cientista é como um passagem fechada para todos os outros personagens, sua aparente neutralidade faz com que a suposta tirania do mundo social fosse milagrosamente interrompida, contemplando, ilusoriamente, o mundo objetivo. Paradoxalmente, sem esta interrupção não pode haver Ciência, nem epistemologia, nem política paralisada, nem conceito ocidental da vida pública.

Ao longo dos séculos, o destino do filósofo-cientista melhorou muito. Atualmente, existem orçamentos consideráveis vastos laboratórios, grandes empresas e equipamentos avançados que permitem que pesquisadores circulem com segurança entre o mundo social e o mundo das ideias. Dessas ideias para a caverna escura28 onde eles encontram a luz.

Não se trata de uma redução simplista e descuidada, mas como os resultados da ciência geram negociações que afetam diretamente as pessoas em seus territórios? O discurso cientifico muitas vezes chega às populações tradicionais para lhes ensinar o que já fazem ao seu modo há séculos ou os cientistas vão até às comunidades para lhes ―roubar‖ seus conhecimentos tradicionais quanto às propriedades medicinais ou outras qualidades de seus saberes como uma ―pista‖, uma indicação de alguma propriedade de uma planta ou raiz natural, por exemplo. Essa é uma realidade rotineira na Amazônia, por mais que não pareça verdadeira de tão antiética e desrespeitosa que é. Este é outro ponto sensível quando discutimos criticamente sobre ciência: ética.

No que tange às pesquisa sobre a natureza, os pesquisadores parecem desconhecer os códigos básicos de ética. A aceitação social de uma pesquisa científica requer uma reflexão sólida, a complexidade das ciências e os rápidos resultados de investigação apresentados à todo momento exigem essa disponibilização de informações atualizadas para tornar possível as pesquisas. No entanto, devemos lembrar da rica pluralidade de tradições éticas, jurídicas e culturais que envolvem os múltiplos campos de pesquisa. Esta pluralidade, ainda mais, exige um intenso intercâmbio sobre os aspectos normativos da ciência.

28 O mito da caverna é uma das passagens mais clássicas da história da Filosofia, sendo

parte constituinte do livro VI de ―A República‖ onde Platão discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na formação do Estado ideal.

Quando partimos para o debate ético, ressalta aos olhos o papel do direito neste contexto, pois novamente ele se presta à legitimar e legalizar processos de acesso privilegiado à informações. A ética na ciência tornou-se cada vez mais importante nas sociedades democráticas, muitos debates voltaram-se para a ética ambiental, ética animal que pode ser subsumida sob uma compreensão mais ampla da bioética. Experimentos com animais, sacrifício de animais para pesquisas, coleta ilegal de sangue em comunidades tradicionais na África e na Amazônia, entre outros abusos são relatados dentro deste debate. No entanto, aspectos religiosos parecem ser os argumentos que ainda tornam as pesquisas vulneráveis de julgamentos e bloqueios. Mas que não parecem impedir a produção dos resultados, pois altos investimentos estão em jogo na corrida cientifica.

Neste campo de forças, é o capital que mexe as peças no tabuleiro mais uma vez. O lobby dos grandes laboratórios escapam através de manobras jurídicas dos vários impedimentos legais impostos para algumas pesquisas. No entanto, especializam-se de forma eficiente à reprodução deste capital, instalam-se onde não possam ser impedidos de desenvolver seus experimentos, à revelia dos costumes, hábitos e cultura local, como também ao arrepio da lei.